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Edição #153
abril de 2012
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Entrevista: O fabuloso mundo de Gustavo Carvalho
Designer de moda fala de sua relação com a arquitetura, a geometria, o cinema e a música
por Rodrigo Sabatinelli 18/04/2012
foto: André Batista
Gustavo Carvalho é um nome que vem despontando no universo das passarelas brasileiras. Mas, não, ele não é nenhum badalado modelo que atraiu os holofotes em alguma edição recente do Fashion Rio ou do São Paulo Fashion Week. Formado pelo SENAI-Cetiqt, o  jovem carioca vem sendo apontado como um dos grandes nomes do design de moda no pais.

Influenciado por Alexander Mcqueen e Gareth Pugh, ele tem, entre suas ambições, o sonho de vestir ninguém menos que Lady Gaga. E, para chegar lá, ele já começa a traçar planos.

"Minha ideia é cursar a Central Saint Martin, em Londres, considerada a melhor faculdade de moda do mundo, de onde saíram praticamente todos os gênios da moda contemporânea. Na verdade, quero estudar, mas, mais do que isso, respirar novos ares, já que a Europa é o berço maior da cultura e lá eu terei a oportunidade de pesquisar bastante tudo o que diz respeito a este universo pelo qual sou apaixonado", diz.

Em entrevista à Luz & Cena, Gustavo fala sobre o processo de criação de suas peças e de como a arquitetura e a geometria, assim como o cinema e a música, exercem influência sobre suas ideias.

Luz & Cena: Gustavo, as peças que você desenha têm uma ligação forte com a arte, em especial com o cinema e a música. Fale um pouco sobre o seu processo de criação.

Gustavo Carvalho: O cinema, sem dúvida alguma, tem grande influência em meu trabalho. A cartela de cores, a fotografia e a direção de arte dos filmes de Tim Burton, por exemplo, são sempre usados como fontes de pesquisa, assim como a estética de Xavier Dolan, jovem diretor canadense, que fez, recentemente, Amores Imaginários, e a música de Lady Gaga, entre outros. Na faculdade, tive a oportunidade de usar essas e outras referências como ponto de partida para alguns trabalhos, como no caso de um ensaio baseado no espetáculo Lago dos Cisnes, entre outros.





A geometria também é muito presente em seus projetos. Qual é a sua verdadeira relação com esta ciência?

Sim, sempre gostei de geometria, das formas geométricas, da matemática. Tive aulas de desenho geométrico no Colégio Pedro II, onde estudei, e, de lá para cá, busco sempre trazer para as minhas peças um pouco do que falávamos em sala. No fundo, eu vejo a moda como um desenho geométrico mesmo. Quando vou desenhar algo, acho interessante agregar formas que saem do corpo e que não são totalmente equilibradas entre si.



E a arquitetura?

Meu trabalho de conclusão de curso no SENAI-Cetiqt teve como tema a arquitetura, na verdade, a desconstrução arquitetônica. Nele, uma das abordagens tinha relação direta com a questão da identidade, algo também questionado no último filme do Almodóvar, A Pele Que Habito, outra fonte de inspiração. E esse questionamento me mostrou que tenho diversas "identidades", como a do estilista, do, do costureiro, e, claro, do espectador.

Aliás, modelar, cortar e costurar são etapas distintas de um processo que, geralmente, é realizado por diversas pessoas. No entanto, você se encarrega de fazer todos eles em suas peças. Porque algo tão incomum?

Acho que o envolvimento com todo o processo nos oferece resultados mais próximos daquele que concebemos inicialmente em nossas mentes. É uma maneira de a execução seguir, com grande fidelidade, a criação. Não é algo comum no universo da moda, mas é uma maneira segura de se trabalhar. Certa vez, assistindo ao programa Project Runway, vi que os estilistas trabalhavam dessa forma, então decidi fazer o mesmo.

E, na prática, como se dá essa centralização de tarefas?

Normalmente, quando tenho uma ideia para uma peca, ela já vem nítida na minha mente. Mais do que isso, eu vejo, na pré-produção, como quero passá-la ao público. Portanto, essa saudável ambição de participar de tudo acontece naturalmente, sem muito planejamento. No fundo, eu gosto de estar por perto para assegurar que aquilo que criei não vai ser dissipado de sua essência durante a execução.

E você costuma desenhar suas ideias no papel ou no computador?

Geralmente, uso folhas de papel no padrão A4; uma aquarela, que é bastante usada, pois permite aos estilistas visualizarem melhor suas obras, e tinta nanquim. A aquarela nos oferece a possibilidade de trabalhar com as cores, enquanto a tinta nanquim nos volta para o preto e o branco, monocromático. Desenhar é sempre bom para registrar a ideia, no entanto, como eu sempre corto e costuro as minhas peças, nem sempre é essencial ter um croqui. Por vezes, olhar para o tecido e imaginar a modelagem é o suficiente para sairmos cortando as peças.



Quais foram seus primeiros trabalhos encomendados?

A primeira peça que desenhei sob-encomenda foi usada pela cantora Pin Boner, vocalista da banda Tipo Uísque, daqui do Rio. Depois, produzi diversos figurinos para a DJ Giordanna Forte e para um grupo de bailarinos que dançam no Chá da Alice, tradicional festa, também realizada na cidade. Estes projetos foram especiais. Adorei fazê-los, mas, nesse momento, quero me voltar totalmente para a moda. Quero mostrar meu trabalho como estilista nesse meio. No futuro, possivelmente voltarei a criar figurinos como esses que fiz, mas, por hora, o foco é outro.

E que tipos de material você costuma utilizar em suas criações?
Eu tenho um gosto bem diferente para materiais. Adoro tecnologia e adoro experimentações. E a moda eu vejo como um projeto experimental. Quando crio um conceito, não tenho limite para o que vou fazer. É um momento em que posso buscar o inusitado para mostrar que sou capaz de criar em cima disso. Um momento em que posso mostrar para as pessoas em quantas coisas interessantes um simples tecido pode se transformar.
No dia a dia, costumo trabalhar com plásticos, acetatos, fitas e lonas, pois gosto muito do resultado proporcionado pelo uso desses materiais. E não tenho medo de usá-los. Quando vou criar algo, faço uma pesquisa pesada para chegar a determinada escolha. E sempre que vou às compras, procuro encontrar materiais diferentes, que nunca tenha utilizado, para que, com eles, possa chegar a "lugares" também não explorados anteriormente. Uma das minhas peças mais bacanas é um vestido de fitas de cetim, aquelas que são usadas para embrulhar presentes. A forma como o construí fez com que essas fitas, juntas, se parecessem a uma verdadeira engrenagem.



Quais são as suas fontes de pesquisa?

Dentro das minhas pesquisas, trabalho com referências para todos os meios. Não somente a moda, que é a maior expressão de individualidade de um ser humano, mas o vídeo, a fotografia, etc. Isso me dá a oportunidade de gerar produtos paralelos e complementares, como um vídeo-arte que fiz para mostrar algumas de minhas peças. Ao meu ver, imagens estáticas e em movimento dão "leituras" diferentes de uma mesma criação. Com elas, é possível mostrar a mesma obra de diversas maneiras.

Quais são os seus planos para o futuro?

Me formei em dezembro passado e, agora, pretendo fazer uma pós no exterior. Minha ideia é cursar a Central Saint Martin, em Londres, considerada a melhor faculdade de moda do mundo, de onde saíram praticamente todos os gênios da moda contemporânea. Na verdade, quero estudar, mas, mais do que isso, respirar novos ares, já que a Europa é o berço maior da cultura e lá eu terei a oportunidade de pesquisar bastante tudo o que diz respeito a este universo pelo qual sou apaixonado.

Morando no Rio de Janeiro, eu já tenho um largo acesso a arte, e isso me ajudou a criar peças que vêm sendo elogiadas por pessoas de todo o mundo. Estando na Europa, onde a cultura está em ebulição o tempo todo, certamente terei a oportunidade de ampliar meu senso criativo e, com isso, criar peças cada vez mais modernas e elaboradas. É inquestionável o fato de que, lá fora, as pessoas enxergam a arte de outra maneira.

Do ponto de vista da criação, você se sente compreendido ou incompreendido?

Olha, durante o curso, tive muitos problemas. As pessoas não entendiam muito bem as minhas ideias, os meus conceitos, e, por muitas vezes, duvidavam que eu fosse capaz de dar forma a eles. Tanto professores quanto companheiros de sala. No mercado, algumas pessoas também não conseguiam captar o que eu pensava e muitas delas diziam coisas como "seu trabalho é bom, mas precisa de uma identidade brasileira". Se eu desse ouvido a todas essas críticas, provavelmente já teria desistido, mas optei por seguir meu caminho e confiar em mim.

Sempre tive muita fé no meu trabalho. Não sou melhor que alguém, mas acredito que posso realizar tudo o que sonho. E eu trabalho muito para isso. Na verdade, sou muito grato àqueles que riram e duvidaram de mim. Graças a essas pessoas, sou o que sou. Mas eu entendo o lado delas. Nem todo mundo está aberto ao novo. Existe uma resistência tremenda ao inusitado, ao diferente. E quando você consegue ir além, quando consegue inovar, incomoda muita gente. Particularmente, sempre tive adoração pelo novo e é esse "novo" que quero mostrar para as pessoas.

 
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