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Revista Luz & Cena
Notícia
O áudio está de luto, Carlos correia nos deixou ontem
Vai deixar muitas saudades em todos nós, mas seu legado vai ficar. Em muitas matérias da AM&T ele foi citado. Leia a entrevista publicada na edição 165 e conheça um pouco de sua história
Redação
Publicado em 29/08/2016 - 11h55
Divulgação
 (Divulgação)
Nascido no interior da Bahia, Carlos Correia é um daqueles profissionais que podem ser chamados de gênio. Autodidata, é um dos maiores engenheiros de áudio do país, único no Brasil capaz de desenhar line arrays. Apesar de não possuir formação acadêmica no ramo, hoje é muito requisitado para desenvolver sistemas line array, e ainda atua como consultor técnico da Beyma.

O sucesso de seu trabalho é tamanho, que ele não descarta a possibilidade de seus projetos de line array serem copiados, da mesma forma que fizeram com as caixas que ele havia projetado especialmente para trios elétricos há alguns anos."O conceito atualizado dos line arrays chegou para ficar".

Em entrevista à M&T, Carlos contou como um DJ que fabricava suas próprias caixas se tornou um dos mais importantes nomes do áudio. Ele também comentou o atual momento do mercado brasileiro, sobretudo da sua região natal, apontando problemas como baixa remuneração e descaso com profissionais da área como os mais graves.

Quando foi despertado seu interesse em trabalhar com áudio?
Desde criança eu já estava envolvido com o áudio, pois minha família gostava muito de música. Até hoje existem em minha casa, no interior da Bahia, gramofones em perfeito estado de funcionamento, onde nós ouvíamos discos dos artistas da época. Meu avô materno tocava bandolim. Certa vez, ganhei de presente um gravador de fita magnética e comecei a fazer gravações. Quando quis ter equipamentos mais sofisticados, tive que começar a trabalhar como o que hoje as pessoas conhecem como DJ. Mais tarde comecei a trabalhar como técnico de bandas de baile junto a alguns amigos. Quando me mudei para Salvador, conheci pessoas como João Américo e Vavá Furquim, que me colocaram no caminho da perdição do áudio profissional. A partir daí vieram os trios elétricos - através de um amigo chamado Carlos Müller - e, por conseqüência, o trabalho como técnico de áudio de bandas etc. Não havia mais salvação. Eu estava condenado a permanecer no áudio para sempre.

Foto 2
Legenda: Desempenhando uma de suas atividades: Técnico de PA
Crédito: Arquivo M&T

Qual é a sua formação?
Eu até tentei uma vida melhor e mais respeitável [risos] estudando Administração de Empresas na Universidade Católica do Salvador, mas abandonei o curso quando faltavam oito matérias para me graduar, para me concentrar no vício do áudio profissional - digo trios elétricos e shows musicais.

Como autodidata, você sentiu falta de uma formação acadêmica? Você enfrentou muitos obstáculos por isso?
A formação acadêmica é de grande utilidade no desempenho de seu trabalho, principalmente na engenharia. Mas eu procuro ler e estudar primeiro e depois realizar os trabalhos que pretendo. Nunca me envolvo naquilo que não conheço ou conheço limitadamente. Quando não sei, pergunto a quem sabe e peço orientação para seguir com o trabalho. Se a pessoa é humilde, ela aprende com seus próprios erros e segue em frente.

Foto 3/ Foto 4
Legenda: Acima, Carlos Correia palestra em uma das edições da AES; à direita, na Expomusic 2003, ao lado de Sólon do Valle e integrantes da equipe Beyma José Vicente Farinos, Pablo Soannes e Nilson Bittencourt
Crédito: Arquivo M&T

Em que lugares você já trabalhou? Que função desempenhou?

Minhas atividades profissionais foram sempre como técnico autônomo, ao mesmo tempo em que prestava consultoria técnica a empresas como Selenium e, agora, Acústica Beyma e Beyma do Brasil.

Você não começou projetando line arrays. De que forma seu interesse por esse tipo de trabalho surgiu?

Quando comecei a trabalhar como DJ, já fazia reparos em caixas acústicas, modificando divisores de freqüência passivos e reprojetando as caixas para que suportassem mais potência elétrica e poderem trabalhar sob regime contínuo sem danos. Depois, amigos do interior da Bahia foram as primeiras vítimas dos meus projetos de caixas acústicas profissionais. Logo depois, João Américo, minha eterna cobaia, me encomendou um novo PA para sua empresa.

Em seguida fui trabalhar como técnico nos trios elétricos. Naquela época, os projetos usados não me agradavam; consegui convencer os donos do trio de que teríamos que fazer projetos novos, dedicados e otimizados exclusivamente para eles. O interesse pelos line arrays já existia, pois gosto muito de estar atualizado, dentro do possível, sobre as tendências de mercado. Logo após o Rock in Rio 3, consentimos - eu, João [Américo] e Vavá [Furquim]- que o conceito atualizado dos line arrays tinha chegado para ficar.

Olho: "Eu não tenho dúvidas de que o conceito line array aparecerá como uma solução vitoriosa no áudio profissional"

Os seus projetos daquela época ainda são usados nos trios?

Acho que consegui enganá-los muito bem, pois até hoje usam e copiam meus projetos de caixas para trios elétricos. Alguns ficam tão iludidos que até dizem que os projetos são de sua própria autoria (risos).

Que experiência adquiriu nesses lugares? De que forma isso influenciou nos line arrays que você vem desenvolvendo para Selenium e Beyma-Brasil?

Eu ainda estava prestando serviço para a Selenium, quando, em uma reunião com a diretoria, fui designado, juntamente com o professor Homero Sette, a servir um cliente nosso. Por coincidência, meu amigo Tuka, da Tukasom, desenvolvia um projeto de line array com componentes da empresa. Alguns meses depois, João e Vavá também me intimaram a fazer o mesmo para a empresa deles, também com componentes Selenium. Quando me transferi para a Beyma, os clientes logo pediram projetos de line array. Hoje já existem três clientes em fase de implantação de projetos de line arrays com componentes Beyma e vários outros em construção. Não tenho dúvidas de que o conceito line array aparecerá como uma solução vitoriosa na sonorização profissional.

Você acompanhou o desenvolvimento do setor de equipamentos de áudio nacional nos últimos anos. Acha que poderia ter crescido mais do cresceu?
O mercado do áudio profissional no Brasil cresceu e se sofisticou bastante, principalmente depois da concorrência com produtos estrangeiros. Poderia ter crescido mais caso não tivéssemos passado por tantas dificuldades e turbulências econômicas nos últimos tempos.

Foto 5
Legenda: "Durante a última Messe Frankfurt, em uma pausa fora do estande da Beyma
Crédito: Natalie Lima

Por você conhecer a indústria brasileira de equipamentos de PA, de que acha que elas carecem?
Acho que as indústrias brasileiras sérias sempre terão mercado para seus produtos. Os clientes podem ajudar muito com suas sugestões e reclamações para o aperfeiçoamento dos produtos, pois são eles que os usam no mundo real.

Olho: "O mercado do áudio profissional no Brasil cresceu e se sofisticou bastante, principalmente depois da concorrência com produtos estrangeiros"

Qual é o grande nicho para o mercado de áudio no Brasil?
No momento, acho que o grande nicho de mercado para o áudio profissional é a venda de componentes para sonorização de templos religiosos.

Você já trabalhou em outras áreas do áudio?
Eu fiz PA por muitos anos e ainda faço às vezes, principalmente quando me pedem ajuda quando um técnico falta a algum evento. Mas está difícil trabalhar como técnico de áudio, principalmente em minha região, pela baixa remuneração e falta de respeito com os profissionais de ramo. Quanto a trabalhar em estúdios, eu não tenho competência para tal atividade. Projetar um estúdio, então, seria muito mais difícil, pois eu teria que me superar como enganador técnico (risos).

Por quais equipamentos e softwares você tem preferência?
Eu tenho e uso vários equipamentos de medição. Ultimamente tenho usado muito o A-1 da Neutrik, o SMAART Live e o SpectraLab.

Os softwares condizem com os resultados práticos? Aquilo que o software mede realmente corresponde ao que você escuta?
O que você tem que fazer é, com a experiência adquirida no uso dos softwares, saber interpretar os resultados obtidos. Nas medições, capta-se, através de um microfone, o sinal que vai ser analisado. Esse sinal gerado tem curva de resposta muito plana em qualquer nível de pressão sonora até o seu limite operacional, e é neutro na questão de gosto. Quando você ouve, é através da nossa audição que uma curva característica é feita, dependendo do nível de pressão sonora e do gosto. Então é preciso fazer uma correlação entre o que você mede e que você escuta. Só experiência e muito trabalho farão você ter sucesso no seu trabalho.

Você acredita que seus line arrays possam vir a ser clonados?
Pode ter certeza que sim. Assim que alguém conseguir alguma caixa original com componentes similares existentes no mercado, este sistema será copiado e comercializado. Se irá funcionar a contento ou não, é outra história.

O line array pode ser usado em qualquer ambiente? Existe um meio mais próprio pra ele ser usado?
Eu acho que é mais vantajoso ser utilizado em ambientes grandes e com problemas acústicos.

Olho: "Está difícil trabalhar como técnico de áudio, principalmente em minha região, pela baixa remuneração e falta de respeito com os profissionais de ramo".

A tendência do line array é diminuir de tamanho com o tempo?
Essa tendência já acontece. Atualmente, os modelos de tamanho reduzido são os mais comercializados para uso em ambientes pequenos. A tendência do uso de line arrays como solução de sonorização consolida-se cada vez mais.
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