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Edição #136
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galeria: A bEla da tarde
Ou como transformar um instante casual em um painel geométrico
por Flavio Colker 22/11/2010
foto: Arquivo Pessoal Flavio Colker
Encontrar o tom de verde que aparece pintado no fundo desta foto foi difícil. Foram várias misturas de restos de outros verdes até chegar a ele.  Não havia fórmula. Mas era o verde ideal! Duas semanas depois, o gesso no teto partiu e tive que repintar. No entanto, a mistura perfeita havia se perdido.

Minha casa sempre fez parte do meu trabalho: a parede, meu cachorro, meu cobertor, livros, plantas... Minhas fotografias nascem do acaso, do olhar. Não tenho planos. Reconheço uma ideia em algo que está lá, diante dos olhos, e fotografo. Às vezes, é bom. Outras, não. Edito muito. Me sinto um aprendiz de Cartier Bresson.

Esse torso, que chamo de Ela, é fragmento de uma tarde. A luz entrava diagonalmente pela janela, cortada pelas persianas, criando uma visão... Ela se dirigia à estante na sua camisa amarela, saia preta, pele branca. Eu fotografei com o flash da câmera, fill in; evitei, assim, o claro-escuro barroco.
 
Não gosto do drama realista. A luz fria do flash tensionou as linhas verticais da malha canelada contra a luz quente, em diagonais, do sol. O jogo geométrico esvaziou o volume das costas dela. O volume que restou foi o dos braços.  As grandes áreas chapadas e preenchidas com estampas/geometria lembram o Fauvismo (corrente estética na pintura que buscou explorar ao máximo a expressividade das cores na representação pictórica). A imagem se transforma, desenraíza do tempo-espaco de onde saiu para virar um jogo do olhar. Esse é o meu trabalho: desenraizamento de imagem.

Flavio Colker (www.flaviocolker.com.br) é fotógrafo profissional desde os anos 1980. Tem conhecimentos de design, sociologia e dramaturgia. Lecionou dois anos na PUC-RJ e dá cursos na Escola de Artes Visuais do Parqe Lage. Fez capas de disco para Caetano Veloso e já dirigiu um clipe de Marina Lima. Seus retratos fazem parte da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
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