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Edição #151
fevereiro de 2012
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Cinema: 2 Coelhos
Com um show de efeitos especiais, longa de ação é um marco do gênero no país
por Fernando Barros 19/02/2012
foto: Livia Rojas
Edgar é um homem traumatizado que se torna autor e executor de um plano que tem como objetivo colocar políticos corruptos e criminosos em rota de colisão. Essa é a história de 2 Coelhos, longa que promete ser um divisor de águas dos filmes de ação produzidos no país. O elenco, que tem Fernando Alves Pinto no papel de Edgard, conta ainda com Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Thogun e o Thaíde.

À altura deste time de estrelas está a equipe técnica, que tem feras como Márcio Faurer como coordenador de pós-produção, Sérgio Farjalla nos efeitos especiais físicos e o diretor de fotografia Carlos Zalasik. O filme também marca a estreia de Afonso Poyart na direção de longas-metragens.

Poyart optou por um texto de sua autoria. Para contar uma história fragmentada, cheia de surpresas, revelações e muita ação, utilizou uma série de efeitos especiais, físicos e gráficos, numa proporção inédita para as produções nacionais.

A obra é um quebra-cabeça não linear, com até quatro câmeras acompanhando os acontecimentos de diversos pontos de vista, o que tornou a montagem um desafio à parte. Tudo isso recheado de cenas eletrizantes, sequências de perseguição e mais de dois mil tiros disparados.

PÓS-PRODUÇÃO LEVOU DOIS ANOS

Se com meros 32 anos Afonso Poyart estreia no cinema, isso se deve aos caminhos que percorreu até agora e que tiveram início há vário anos, em Santos, cidade onde nasceu. Começou como artista de motion graphics, e após o sucesso dos primeiros comerciais utilizando efeitos gráficos, sua produtora, a Black Maria, passou por uma expansão e mudou sua sede para a cidade de São Paulo.

Hoje com 11 anos de existência, a produtora conta com nove diretores e, entre os clientes, destacam-se nomes como Itaú, Hypermarcas e Campari, além do próprio 2 Coelhos. Afonso, que também irá produzir Isto é Calypso - filme de Caco Souza que contará a história da dupla de músicos paraenses que levou o tecnobrega aos quatro cantos do país -, conta que durante estes anos todos de profissão sempre quiser fazer um longa.

"É uma vontade que eu tinha desde que trabalhava apenas com animação e pós-produção na Black Maria. Cheguei a pensar em textos para adaptar, mas fiquei com vontade de tocar um projeto em que eu pudesse me envolver cem por cento, inclusive no roteiro, estabelecendo uma conexão e uma crença profunda. Desde que escrevi até a filmagem foi um ano e meio. As filmagens duraram apenas dois meses, mas levamos ainda dois anos na pós-produção", recorta o diretor.



O roteiro, que começou a ser desenvolvido em 2008, foi concluído no ano seguinte. "Começamos a pré-produção em agosto de 2009 e filmamos em novembro e dezembro daquele ano na cidade de São Paulo. Fizemos poucas cenas no litoral, em Santos e Guarujá. Só a edição levou cerca de seis meses. Demoramos com a pós-produção, pois a Black Maria estava muito ocupada com filmes publicitários. Em julho de 2011, o filme estava pronto para ser lançado", relembra Afonso.

A ideia de realizar um filme nacional de ação com efeitos visuais surgiu a partir da feitura do próprio roteiro, não sendo um pré-requisito da produção. "Conforme eu fui escrevendo a história que eu queria contar, tanto a trama quanto a necessidade dos efeitos especiais foram se revelando. A maioria dos efeitos já estava prevista desde o roteiro e eu sabia que a única forma de fazer algumas das cenas seria com ajuda de efeitos digitais", afirma.

Ele explica que todos os diretores têm suas referências, mas que não buscou inspiração em nenhum filme específico para construir 2 Coelhos. "Até porque não temos recursos técnicos e nem dinheiro pra imitar filme de ação hollywoodiano. Eu tenho diversas referências, não somente no cinema. Um comercial, videoclipe ou mesmo algo do YouTube podem ser interessantes".

O diferencial de Poyart como diretor de cinema é sempre deixar uma brecha para a liberdade. "Tento não fazer uma direção amarrada. Quando vou pro set de filmagem, tento deixar perder uns dez ou 20% da preparação e estudo que tive da cena para que possa ser aproveitado o inesperado, o improvisado", ressalta o diretor, que costuma se valer das características presentes no local e no momento da filmagem.

"Você chega à locação e pensa em como pode usar os elementos disponíveis de uma maneira diferente. Isso pode ajudar a dar um toque despojado. Uma porção do meu cérebro tenta pensar fora da caixa."

EXPERIÊNCIA EM PUBLICIDADE

A carreira na publicidade ajudou bastante o diretor a se entrosar com o mundo dos efeitos visuais e seus profissionais. "Na publicidade, sou bastante conhecido por trabalhar com mistura, com animação, entre outros efeitos, na pós-produção. Então, essa parte foi toda feita na produtora. O Sérgio Farjalla é o melhor profissional de efeitos físicos, e é por isso que o escolhemos, mas não havia trabalhado antes com ele. Já a pós-produção é algo com a qual a Black Maria, em especial a Mary Post, braço de pós-produção da produtora, trabalha bastante. Inclusive, já havia trabalhado antes com praticamente todos os profissionais que participaram da realização do filme", conta Poyart.

Afonso revela que era uma preocupação não tornar o filme caro demais, o que inviabilizaria o projeto. "Como eu era produtor e diretor ao mesmo tempo, encarava o fato de eu ser o maior inimigo de mim mesmo. Como diretor, você se empolga e vai adiante requisitando coisas. A figura do produtor apara os exageros e segura a coisa toda", comenta ele, que completa dizendo que procurou se policiar o tempo todo e que teve a sorte de ter, ao seu lado, vários componentes da equipe tão conscientes em relação aos gastos quanto ele.



"Enfrentamos diversos desafios para realizar este projeto. Pouco dinheiro foi o maior de todos, com certeza, mas a construção do roteiro foi muito difícil também. Depois, filmar todas as cenas em ordem não cronológica e ficar atento para que tudo fizesse sentido no final também foi um desafio grande pra mim", admite o diretor.

Ele também aponta que os efeitos físicos demandaram muito preparo, testes e estudo, além da longa etapa de pós-produção. "A pós-produção foi intensa e cansativa e osound design foi especialmente desafiador. O filme tem uma quantidade de desenho de som inédita em filmes nacionais."

Para contar a história, foram necessários diversos equipamentos e profissionais especializados. "Tivemos quatro câmeras simultâneas em diversas cenas e muitas cenas com efeitos físicos e de pós-produção. Contamos com uma câmera Phantom também. Foram mais de 60 efeitos diferentes. Só na pós-produção, contamos com pelo menos 20 profissionais, inclusive fora do país. Uma parte de uma das cenas foi enviada para ser feita em Londres", revela Poyart.

Apesar de tantos efeitos digitais, quase não ocorreram movimentos de câmera produzidos digitalmente. "A gente tentou quase sempre mover a câmera real mesmo. Em alguns casos, aplicamos um camera shake, que é um efeito que simula o balanço e o tremor da câmera. Ele foi usado para dar mais tensão a algumas cenas de ação", explica o diretor.

ANIMATICS

Márcio Faurer foi o responsável pela coordenação de pós-produção. Em sua equipe estavam Xico de Deus, que cuidou das artes gráficas, e Carlos Faia e Gus Martinez, da coordenação de efeitos digitais, que cuidaram dos frames animados para frisar os personagens em ações específicas.

Márcio reforça que a equipe da produtora possui vasta experiência em pós-produção para o mercado publicitário. Entre os trabalhos de destaque, um comercial estrelado pelo piloto Felipe Massa para o desodorante Très Marchand. "O Felipe Massa tinha que dirigir um carro específico, que nem tínhamos disponível no Brasil naquele momento. Tivemos que criá-lo totalmente em 3D e incorporá-lo à cena anteriormente gravada. O resultado ficou muito bom. Filmamos no centro de São Paulo, e, depois, na pós-produção, tivemos que transformar o cenário no de uma cidade européia. Em Paris, pra ser mais exato."

Em 2 Coelhos, o planejamento de efeitos visuais foi crucial. Na pré-produção, foram desenhados vários storyboards para as cenas mais complexas, em que haveria interação dos atores com elementos de pós-produção. "Conforme os storyboards iam sendo aprovados pelo diretor, nós desenvolvíamos os animatics."



O animatic é basicamente um storyboard com movimentos. Nesta etapa, são definidas as durações de cada tomada, o movimento dos atores, posicionamento e movimentos de câmeras, enquadramento, entre outras coisas. Trata-se de uma mistura de computação gráfica, ilustração, animação vetorial e composição. É a montagem completa da cena antes de ser filmada.

Os resultados, por serem bastante fiéis ao objetivo final da filmagem, diminuem muito as chances de erro e a necessidade de refilmar alguma cena. É um recurso que deve ser pensado como investimento na segurança e na qualidade do projeto. "Aprovados os animatics, foram basicamente utilizadas as técnicas de fundo verde e tracking. A pós-produção foi feita em iMacs nas composições e em PCs na parte de 3D", conta o coordenador.

DIVISOR DE ÁGUAS

A personagem Julia, interpretada por Alessandra Negrini, sofre de síndrome do pânico, e um de seus delírios rendeu uma das cenas mais comentadas do longa. "Chamamos de 'Sonho de Julia'. Em uma de suas crises, ela se vê rodeada de bebezinhos bonitinhos que, na verdade, não são tão bonitinhos assim. A atriz teve que fazer um treinamento com espada e simular uma luta contra seus medos. A sequência, que tem um minuto, levou de cinco a seis meses para ser finalizada", comenta Márcio Faurer.

Outra cena de destaque em 2 Coelhos é a explosão da qual participa o deputado. Ela foi a única a ser feita fora da produtora Black Maria, com uma equipe de pós-produção alocada em Londres. O material teve que ir para o exterior devido à dificuldade de trabalhar com efeitos digitais complexos como fumaça e água.



Segundo Márcio, houve um cuidado especial na escolha de equipamentos, para que as imagens chegassem à pós-produção com o máximo de qualidade. "Foram utilizadas varias câmeras diferentes. No caso da Phantom, era necessário muito mais luz em função da velocidade que ela imprime, de até mil quadros por segundo. Além dessa, usamos RED, Canon 5D e a Lumix, da Panasonic."

O filme já está sendo considerado um marco no que diz respeito a cinema de ação e efeitos especiais em território nacional. "Com certeza, é um marco, mas os efeitos não foram gratuitos. Eram todos necessários na construção da trama", destaca Faurer, que afirma: o mercado nacional tem muito o que mostrar. "Temos profissionais excelentes, de alto nível, inclusive vários deles trabalhando nas grandes produtoras no exterior."

A interação dos efeitos de pós-produção com os físicos é um fator que contribui para o realismo do filme. "Muitas vezes conseguimos melhorar ou complementar os efeitos físicos para que fiquem mais realistas. Por exemplo, no caso dos tiros, não são todos que saem perfeitos. Alguns muzzle flash [o clarão que sai do cano na explosão da pólvora] saem fracos ou não aparecem com clareza. Nós colocamos um efeito de muzzle digital por cima e fica perfeito. Em uma explosão, é possível colocar um efeito secundário de explosão criada digitalmente para que se torne mais grandiosa", explica Márcio.

EMOÇÃO E REALISMO

Sérgio Farjalla é o profissional mais gabaritado em efeitos especiais físicos do país. Diretor da Farjalla FX, ele é responsável pelos efeitos da maior parte das produções nacionais, incluindo os de Carandiru e O Auto da Compadecida, além de assinar projetos internacionais como Velozes & Furiosos 5, Os Mercenários e A Saga Crepúsculo: Amanhecer. "No 2 Coelhos se encontra a maior cena de explosão já feita no cinema nacional e a segunda maior realizada em território brasileiro, perdendo apenas para uma cena de Os Mercenários, que foi filmada aqui", afirma Farjalla.

Ele reintera o que seu colega Márcio Faurer afirmou ao dizer que os efeitos físicos dialogam com os visuais em tudo. "Hoje, em todo o mercado americano, os dois departamentos trabalham juntos para obterem um melhor resultado. Existem algumas companhias de CGI que possuem setores de efeitos físicos ou practical FX. Os profissionais de efeitos gráficos trabalham em parceria com os de efeitos físicos, uns em prol dos outros."



A cena em que Alessandra Negrini aparece com uma explosão ao fundo é um caso típico da colaboração entre profissionais de efeitos físicos e gráficos. A onda de choque e a poeira que se levanta foram feitos fisicamente, mas os cabelos de Alessandra foram artificialmente deslocados em uma sessão no estúdio. A atriz não estava presente na filmagem da explosão. O que fica difícil de perceber graças à precisão na sincronia do movimento de ar feito pela pós-produção de 2 Coelhos com a explosão desenhada por Farjalla.

Mesmo na era digital, Sérgio considera ser de grande relevância a presença de efeitos físicos. "Diretores como McG e JJ Abrams adoram efeitos físicos. Basta você assistir o making of de Exterminador do Futuro 4 e o novo Star Trek. Quando bem executados, efeitos físicos trazem emoção e realismo ao set de filmagem. Acredito que sempre haverá espaço para eles", afirma Sérgio, que lamenta ainda não existirem cursos oficiais nesta área no Brasil. "No meu caso, cresci vendo e aprendendo com meu pai, um dos pioneiros no país", acrescenta, orgulhoso.

Segundo Farjalla, seriam necessárias várias páginas da revista para relacionar e explicar o funcionamento dos diversos equipamentos específicos para estes tipos de efeitos. "Usamos uma gama gigante de dispositivos, como torres de chuva, acumuladores de pressão diversos, blowers, controles de disparos pirotécnicos, canhões para capotagem de veículos, máquinas de fumaça e muito mais."

PLANEJAMENTO

Entre os muitos equipamentos surpreendentes aplicados no filme está um dispositivo sem fio criado para comandar os vários disparos físicos das cenas. Trata-se de uma maleta adaptada especialmente para 2 Coelhos, com um disparador especial de altíssima precisão e velocidade. A finalidade: sincronizar a velocidade dos disparos com a de seu registro pela câmera Phantom, pela primeira vez utilizada por um diretor brasileiro.

"Acredito que dois efeitos físicos realmente ganharam destaque. O primeiro é o dos vidros falsos projetados no acidente da Alessandra Negrini e do Nando Alves Pinto. O outro é a explosão do carro do Marat no final do filme. A câmera Phantom faz a diferença nessas horas. Nada em 2 Coelhos foi fácil ou simples. Não havia orçamento ou espaço para erros", revela Farjalla.



Outros detalhes devem ser notados, como as réplicas de armas, usadas com autorização especial do exército e da polícia. Entre elas, a produção contou com fuzis AK-47 e rifles AR-15, que disparam somente festim. Cortiças que simulam rochas e materiais implodidos, vidros de silicone e disparadores de balas que atingem até um quilômetro de distância também ajudam a dar realismo às cenas.



Toda tomada com efeitos especiais reais demanda uma enorme preparação, sem contar com todos os cuidados com a segurança. "Quando há fogo ou explosões, temos que isolar a área, ter uma equipe de bombeiros a postos, UTI móvel no set e sempre usar do bom senso", comenta. Comos exemplos, uma cena em que o fogo chegou a uma altura de 25 a 30 metros de altura levou cerca de três horas para ser montada, enquanto o tiroteio no "cafofo" do Velinha exigiu um dia inteiro de preparo, já que foi feita em uma locação.

"O maior problema que enfrentamos foi o destravamento do sistema de ancoragem do carro que explode no final do filme. A empresa contratada para este serviço não deu conta e o sistema destravou no momento da explosão. Mas graças à experiência de tantos anos de set, evitamos que alguém da equipe se machucasse ou que o equipamento fosse danificado. Salvamos o dia e algumas câmeras também", respirou aliviado Sérgio Farjalla.
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