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Revista Luz & Cena
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
O volume do show
Postado por Enrico de Paoli em 10/06/2011 - 00h00
Há algum tempo a moda é falar dos volumes dos discos. Ou melhor, das masters das gravações. Porque a palavra disco saiu de moda. Então, estamos há alguns bons anos discutindo, lendo e debatendo a quantas andam esses discos altíssimos. Mas e o que ouvimos nos shows? Qual o volume certo do som de um show? Quando o PA está alto ou baixo demais?

Bom, não quero estragar meu próprio artigo, mas a resposta é bem simples: se você se pega pensando em "tá muito alto" ou "nossa, que baixo!", provavelmente tem algo errado. Assim como na masterização de um disco, a mixagem de um show deve ser feita para a música. Porém, diferentemente de um disco, o tipo de mixagem de um show ainda depende de outros fatores, como o ambiente acústico, os ruídos de fundo e o tipo de público. Sim: se o show é para uma platéia elegantemente sentada e silenciosa, que está lá para assistir a um "evento musical", o volume provavelmente não precisa ser tão alto quanto o de um show com milhares de jovens em pé, bebendo cerveja e falando alto. Bem alto.

Assim como em um carro a sensação de velocidade pode ser diferente da real, ou um dia de inverno pode causar a sensação térmica diferente da temperatura do termômetro, em um show a sensação do volume pode ser bem diferente do que o decibelímetro lê. De uma maneira geral, a meta é fazer com que o som tenha pressão, mas sem incomodar ou cansar os ouvidos. Mas, de novo, isso vai variar de acordo com o show, local, público e música. Esses elementos todos em uma equação equivalem ao que o público vai esperar do som.

Estou neste momento mixando a turnê Ária, do Djavan. Indubitavelmente, a tour mais difícil da minha carreira. Djavan, por natureza, apesar da origem voz e violão, gosta de espetáculos. Principalmente depois de ter provado dos megashows na turnê Ao Vivo, realizada entre 1999 e 2000. Este show, Ária, é concebido de forma enxuta, com apenas três músicos no palco, sendo baixo acústico, percussão e guitarra, além do artista e seu violão. Ou seja, naturalmente, uma concepção lounge. Porém, o modo de cantar do Djavan revela seu desejo de "showzão". Não apenas isso: os locais onde temos feito shows "pedem" pressão. Para confundir ainda mais, intercalados, no meio da tour, surgem uns shows em locais extremamente diferentes, como teatros com acústica perfeita e público em absoluto silêncio, tentando perceber cada respiração no palco. Então, como mixar essa turnê? Como sempre, o que me salva é fugir das regras. Quando falo "fugir", não quero dizer "não conhecê-las", mas, justamente por conhecê-las, driblá-las.

Existe uma interatividade muito grande entre o palco, a mix e a plateia durante um show. Um "puxa" o outro. Às vezes, mixando um PA mais baixo, você consegue conter o público, fazer com que ele amanse e preste atenção em nuances baixas do show. Porém, se o cantor ou a banda emitirem mais energeticamente, o público entende isso imediatamente e responde com energia em forma de barulho. É aí que o mixer deve ter a sensibilidade de perceber quando ele está no controle do público ou respeitando o que o show pede. Mas, calma - não vá mixar nas alturas e usar essa frase como desculpa! Por mais que o evento peça um som mais energético, lembre-se do início desse artigo... Queremos peso, pressão musical, mas nada que canse nossos ouvidos ou que dure o show todo. Deixe a música pilotar e, definitivamente, não tenha medo dos momentos de baixo volume. Eles podem ser os mais emocionantes, se combinarem com o todo.

Boa viagem.
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