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Edição #96
julho de 2007
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Teatro: A tecnologia sobe ao palco
Peça com celulares e computadores é transmitida em tempo real pela internet
por Tatiana Queiroz 14/07/2007
foto: Tatiana Queiroz
A relação do teatro com a tecnologia costuma se limitar a projeções de imagens previamente gravadas e que pouco interagem com a dramaturgia. No entanto, durante o mês de junho, quem compareceu ao centro cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro, pôde conferir uma montagem onde nada foi gravado, tudo aconteceu ao vivo, em tempo real. Celulares, computadores de mesa, laptops, internet e telões são a alma de Essencial.

Escrita e dirigida por Demetrio Nicolau, a peça é um verdadeiro espetáculo multimídia que envolve mais de 10 computadores, sete câmeras, celulares com sistema localizador, um telão, três telas de plasma e um sistema de pay-per-view próprio. É a única peça de que se tem notícia que teve o palco principal iluminado apenas por LEDs. É também a primeira cuja temporada inteira foi transmitida pela internet em tempo real. E mais: Essencial não foi representada apenas em um palco, mas em dois. O público pôde escolher entre assistir à peça dentro do teatro da Oi ou numa sala desativada de um prédio da companhia telefônica localizado na mesma rua.

COMUNICAÇÃO EM TEMPO REAL VIA CELULAR, COMPUTADOR E VÍDEO

Tudo isso para contar a história do seqüestro da filha de um casal de atores, que se divide entre a cena e os bastidores, de onde falam com a menina, parentes e amigos via celular ou msn. A vozes do outro lado da linha são de atores que não aparecem para o público. Fazem sua parte de casa, através do celular, e sabem a hora de entrar em "cena" graças à transmissão pela internet.

Quando não está nos bastidores, o casal encena Quem tem medo de Torquato Neto?, inspirada no clássico Quem tem medo de Virginia Woolf?. "Não se pode chamar de adaptação porque é muito diferente. O texto é bastante modificado, mas com a sua característica principal, que é a de um casal se agredindo. Na peça original um casal jovem é usado como platéia. Nesta, eles usam o público do teatro", ressalta Demetrio.

Só que na verdade o casal de atores atua em direção às câmeras, que acabam fazendo o papel da platéia. Já o público assiste a esse processo sentado na lateral do teatro, que teve a sua configuração totalmente modificada para que pudesse ser mostrado tanto o que se passa no camarim cenográfico quanto no palco. O palco original foi inutilizado e escondido atrás de uma parede preta.

"Era necessário que o público ficasse ao comprido para que visse as duas pontas [camarim e palco], pois não caberia todo o cenário em cima do palco tradicional do teatro", conta o diretor.

O público que esteve no teatro assistiu por telão a trechos captados e transmitidos ao vivo da encenação que se passou no cativeiro. A situação se inverteu para quem assistiu do cativeiro, onde estavam a menina e os dois seqüestradores. Além do cativeiro, do palco e do camarim, a ação também teve um momento na rua, onde havia uma câmera para filmar a libertação da seqüestrada e seu trajeto até o teatro.

Quem escolheu ficar no teatro, ainda pôde ver trechos de cenas de uma terceira peça e de um show que aconteciam simultaneamente em espaços culturais da cidade. Os eventos foram transmitidos ao vivo em uma tela de plasma, através de um pay-per-view diferente, em que a atriz em um determinado momento de Quem tem medo de Torquato Neto?, escolhe a qual programa vai assistir na televisão. "Ela alterna entre um canal que tem uma peça e outro em que passa um show. A pessoa que fica na sala de edição comanda essa mudança de canais", revela Demetrio.

Pela internet, ia ao ar, sempre ao vivo, a edição final das imagens captadas por todas as câmeras. Toda essa interação foi viabilizada pela empresa mineira VTM, que recrutou uma equipe com mais de 20 pessoas para realizar as idéias de Demetrio. Em uma sala externa ao teatro, foi montada uma central com computadores em que eram realizados corte, edição e transmissão de arquivos.

TECNOLOGIA EM CENA

Rodrigo Carneiro, da VTM, conta que foi utilizada a tecnologia CDN (Content Delivery Network) para que a transmissão fosse feita com uma qualidade maior do que a internet comum. "Não se podia ter um delay grande porque tudo acontece ao vivo. Com essa tecnologia o delay fica em menos de dois segundos, menor até do que uma transmissão internacional de TV", revela.

Segundo ele, a tecnologia utilizada no streaming de vídeo evita o buffering das imagens para quem está assistindo via web. "Buferiza quando é enviado uma quantidade muito grande de arquivo e o internauta tem um canal pequeno para recebê-lo. Essa é uma tecnologia inteligente que consegue enxergar qual é a capacidade do internauta de receber os dados. Para que não buferize, se reduz a velocidade do envio do vídeo", explica.

Com uma trama que só existe por conta da tecnologia, Demetrio queria que a iluminação fugisse do convencional, que fosse feita com equipamentos de última geração. Ele então convidou Rogério Wiltgen, sabendo que o iluminador é um aficionado por novas tecnologias.

A INVASÃO DOS LEDs NO TEATRO

"Queríamos usar uma tecnologia inédita no teatro. Mostrei um monte de novidades para a equipe e decidimos que o LED era a opção mais viável", conta Rogério.
No palco, onde o casal de atores encena a peça dentro da peça, a iluminação é toda feita por LEDs. No camarim, luz convencional de teatro. No cativeiro, luz caseira para dar um clima mais realista.

Para iluminar os bastidores, Rogério utilizou cinco projetores plano convexo; seis elipsoidais; 24 projetores de vapor de sódio de 400W e duas luminárias de camarim, cada uma com seis lâmpadas incandescentes leitosas.

Para o palco, ele usou no total 6.070 LEDs, distribuídos em dois brutes, oito projetores, 24 tubos de LEDs RGB, nove color wash PAR 36, 12 color spot PAR 36, 10 color tube RGB e 50 LEDs brancos aplicados diretamente no cenário ligados em fonte ATX . Tudo controlado por uma mesa Avolites Pearl com 2048 canais.

A grande maioria dos refletores do palco foi posicionada no chão, embutida nos elementos cenográficos criados por Mina Quental.

"A luz além de vir de baixo, é também lateral por causa dos dois eixos de visão que temos nos espetáculo: o da platéia verdadeira, que fica na lateral, e o da platéia fictícia, que são às câmeras", explica o iluminador.

O DESAFIO DE ILUMINAR UMA PROPOSTA INOVADORA

Rogério conta que teve quatro grandes dificuldades neste projeto com LEDs, mas "que foram o grande barato". A primeira foi a limitação, já que, segundo ele, são poucos os equipamentos de LEDs disponíveis. "No mundo todo há muita experiência e pouca coisa solidificada em termos de LEDs. São poucos os equipamentos adequados", diz.

A segunda foi a opção de posicionar os refletores de baixo para cima. Tudo no chão. "Isso dificulta muito. As pessoas estão acostumadas a ver a luz de cima para baixo. Além do que, como o teatro é pequeno, as pessoas ficam muito apertadas, então qualquer coisa que eu colocasse no meio do caminho podia atrapalhar. E mais: se o ator engordar acabou porque com barriga o ator não aparece tanto com a luz de baixo para cima", justifica.

A terceira é que o público estava de um lado e a peça era contada para um outro, em direção às câmeras. Rogério afirma que durante três meses fez estudos de posicionamento para achar o ponto ideal de cada refletor diante dessa configuração.

A quarta é a questão da luz para câmera e para o público. "A gente quis fazer um espetáculo que fosse para o olho humano, pois é uma peça de teatro e não um programa de TV ou cinema, mas ao mesmo tempo tinha que ter qualidade suficiente para a câmera captar", diz o iluminador.

As cores no palco principal seguiram a atmosfera do espetáculo. Foram usados tons de azul, vermelho e verde, que apareceram de acordo com a seguinte lógica: "Um dos atores está enfurecido e o outro está sacaneando. Quem sacanenea está sempre numa cor fria e quem está sendo sacaneado está numa cor quente. Essa situação se inverte ao longo do espetáculo e as cores também", explica Rogério.

ILUMINANDO TEATRO E VÍDEO COM LEDs

"Existem equipamentos que já funcionam muito bem para algumas coisas, como iluminar ciclorama, mas para iluminar gente é muito complicado, principalmente por causa da temperatura de cor. O LED tende a chamar para o azulado, mas isso já está sendo melhorado", conta Rogério.

Ele explica que alguns aparelhos têm os LEDs muito afastados uns dos outros, o que faz com que as cores nem sempre fiquem bem definidas. "O pixel não fica junto e como o teatro é muito pequeno, não dá tempo de misturar bem as cores até chegar ao ator".

Quando envolve captação de imagens, o LED dificulta um pouco a vida do iluminador e de quem trabalha com vídeo. É que quando o LED trabalha numa freqüência que casa com a da câmera, a imagem fica tremida. A solução, segundo Rogério, é aumentar os tamanhos dos frames para que essa freqüência desapareça. "Com o frame maior, o LED dá mais de um ciclo num mesmo frame", explica.

Outro problema é que o LED tende a tirar o contorno definido da silhueta humana no vídeo. "O contorno fica meio quadriculado. Tivemos que fazer presets na câmera até achar um meio termo para que isso não ocorresse", conta Rodrigo, da VTM.

A temperatura de cor é uma preocupação constante quando um espetáculo é filmado, mas em Essencial a linguagem foi diferente da usada na televisão, optando-se por cores saturadas. "Isso causa uma estranheza muito grande, mas essa foi a proposta", diz Rogério.

LUZ E CENÁRIO MAIS INTEGRADOS DO QUE NUNCA

As únicas determinações de Demetrio a Mina para o cenário foram que a platéia ficasse ao longo do teatro e que o espaço fosse dividido em palco e camarim, além, claro, dos telões. O diretor sugeriu algo futurista, mas Mina conta que saiu pela tangente, optando por usar elementos simbólicos no cenário.

O ponto de partida foi a idéia de que o espaço principal seria trabalhado como se fosse o "cativeiro" do casal de atores. "Eles vivem um casamento neurótico em que se destratam, mas ao mesmo tempo são completamente presos um ao outro. Trabalhei com esse conceito de prisão, de grades, de gaiola. É como se eles estivessem aprisionados em todos os sentidos", conta a cenógrafa, que teve ajuda do sócio Bernard Heimburger no processo de criação.

A maioria dos móveis do cenário (sofá, escrivaninha e algumas estantes) foi feita com base aramada, que permitiu que os refletores fossem embutidos neles. O tapete vazado, onde ficou a mesa de centro da sala do casal, na verdade era uma tela em que debaixo havia uma cavidade com projetores. As estantes laterais ao sofá foram revestidas de lâminas leitosas que permitiam o vazamento da luz dos projetores colocados em seu interior.

Os maiores destaques foram o bar e um painel composto por livros e garrafas de vidro vazias. Para fazer o bar, Mina usou uma espécie de telha translúcida, onde em algumas ondulações encaixou tubos de LED. Em cima ela colocou o maior telão do cenário.

Embutido em uma das laterais do teatro, o painel foi criado com caixotes gradeados empilhados, usados em contenção de encostas. "Só que em vez de pedras dentro, colocamos garrafas e livros", conta a cenógrafa.

São garrafas vazias e livros que remetem ao excesso de consumo e à profissão de professor de um dos atores. "As garrafas também fora escolhidas por uma questão plástica, para dar um efeito de luz, já que a gente sempre tinha a preocupação de a luz estar embutida no cenário", esclarece Mina.

Os livros foram encapados com papel vegetal para que a cor das capas não conflitasse com a luz.
Além de garrafas e livros, pilhas de jornais, restos de comida, e bebida nos copos são espalhados, dando a idéia da vida desorganizada em um cativeiro simbólico.

No teatro, Mina dividiu o camarim do espaço em que o casal de atores encena a peça com um biombo aramado, que possibilitou a visão dos dois ambientes, tanto para quem sentou mais perto dos bastidores quanto para quem ficou mais longe.

Se no cenário da peça dentro da peça Mina transitou no universo simbólico, no camarim e no cativeiro ela seguiu uma proposta realista. No primeiro, uma bancada com um enorme espelho emoldurado por luzes para os atores se maquiarem. Já a sala onde ficou o cativeiro foi delimitada por uma caixa, onde havia um colchonete para a menina seqüestrada e uma mesa com duas cadeiras. Nas paredes da caixa cenográfica Mina e sua equipe trabalharam com pintura artística para dar um aspecto envelhecido e detonado ao espaço.
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