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Revista Luz & Cena
Análise
Behringer DDX3216
Digital e Gostosa
Sólon do Valle
Publicado em 01/07/2002 - 00h00
Divulgação
 (Divulgação)
"Danalog" é o título do anúncio da Behringer para sua primeira mesa digital, sugerindo, certamente, "Digital com cara de analógica". É engraçado alguém ainda buscar essa cara analógica, em plena era das consoles digitais e de suas múltiplas vantagens, especialmente no segmento a que se destina este produto: estúdios de médio porte.
A DDX3216 é bem digital, com bons efeitos, memória, automação dinâmica e muitos canais em pouco espaço ocupado, diferentes interfaces com o mundo exterior e... bons prés, analógicos, é claro.
Sua utilização é tão simples e intuitiva que levei um bom tempo até precisar abrir o manual de operação. O design é "clean", no estilo metálico da Behringer, a visualização dos controles é excelente e a construção, sólida.
Vamos então ao que interessa!

A Console
A DDX3216 é uma mesa digital, operando a 24 bits até 48kHz. Possui 12 preamps de microfone/linha com a qualidade típica Behringer, mais dois canais estéreo de linha; mais 16 canais de entrada digitais, acessíveis através de interfaces opcionais. Tem quatro efeitos simultâneos, cada um deles escolhido entre uma boa biblioteca que inclui reverbs (muitos!), delays, chorus, flanger, exciter, filtros automáticos e vários outros "brinquedos" (essa seção de efeitos parece mesmo um parque de diversões).
Cada um dos 32 canais possui equalizador paramétrico de quatro bandas, além de processamento dinâmico com compressor e gate.
As saídas são muitas. Além do master estéreo principal, a DDX3216 tem quatro saídas físicas, mais 16 saídas virtuais, que podem ser usadas com interfaces opcionais AES/EBU e ADAT. Somam-se a estas as quatro mandadas de efeitos internos, as saídas para monitoração de estúdio (Control Room) e para headphone.
 

O display central, bem iluminado e de boa resolução, fornece todas as informações sobre os muitos controles, quase dizendo ao operador o que ele deve fazer. A maioria dos controles da console é efetuada pelos seis soft knobs e as quatro chaves vizinhos ao display. Como já disse, é muito fácil dominar a DDX3216, apesar de seu considerável arsenal de funções.



O painel frontal tem, na parte superior, as entradas analógicas, com conectores XLR para microfones e P10 para linhas e para inserts analógicos. Cada canal tem um atenuador de entrada com range total de ganho de 10 a 60dB para microfone, e de linha de -40 a +10dB. Há ainda um pad adicional de 20dB. Dois LEDs sinalizam presença de sinal e nível de clipping. As entradas de microfone podem fornecer phantom power, mas o acionamento não é individual: pode ser ligado em conjunto nos canais 1 a 6 e/ou 7 a 12.

 
Entradas e controles de pré-amps ficam acima do painel

Área de Controle
À esquerda do display temos um dos pontos altos do design da mesa, que é o acesso às funções e efeitos dos canais. Dividido inteligentemente em setores de funções correlatas, começa no topo com a seção FADERS, com quatro teclas pretas (todas são sinalizadas com LEDs), que fazem aparecer no display as posições dos faders principais. Respectivamente a estas quatro teclas, temos: canais de entrada 1-16; canais de entrada 17-32; saídas virtuais 1-16; mandadas auxiliares A1-A4, mandadas de efeitos internos F1-F4, saídas estéreo 1-4. Em todos estes casos, sempre aparece à direita o master geral.
Em seguida, vem a seção Channel Control, com as teclas Aux 1-4, as teclas FX 1-4 e a tecla Pan. Cada uma destas teclas, ao ser pressionada, abre no display a tela correspondente.


Área de Controle é a "alma" da mesa

Mandadas Auxiliares e Efeitos
As teclas Aux fazem aparecer no display, acima dos knobs correspondentes, as quatro mandadas, o seletor de master e o volume do master selecionado. Pressionando-se o soft knob de cada mandada, pode-se alternar sua função entre pre-fade e post-fade. Pressionando o volume do master, este vai diretamente para 0dB. É interessante que as mandadas podem, alternativamente, ser controladas pelo soft knob do canal selecionado.
As mandadas de efeitos seguem o mesmo estilo de operação, mas com mais funções: pressionando-se cada tecla FX, alterna-se entre três telas. A primeira é idêntica à das mandadas auxiliares; a seguinte controla os quatro parâmetros de cada efeito (com dois presets A e B selecionáveis por tela); a terceira abre a tela LIB (library), onde se seleciona o efeito para cada mandada 1-4, e onde se podem salvar os presets do usuário e carregá-los, sempre através dos soft knobs.
A tecla Pan naturalmente aciona o Pan-Pot de cada canal. Como em várias funções desta mesa, o controle pode ser exercido no soft knob do canal selecionado, acima do fader, ou então no soft knob junto ao display.

Processamento de Canal
A seção seguinte é PROC, e engloba todos os processamentos individuais por canal: EQ, uma paramétrico de quatro bandas onde as bandas extremas podem operar, alternativamente, como equalizador peaking ou shelving, ou ainda como filtro de corte (de graves e de agudos). Cada botão produz uma leitura no display acima, e a precisão, em incrementos proporcionais de menos de 5%, é mais do que satisfatória.

 
 

O gate tem controles dinâmicos completos - Attack, Release, Hold, Threshold e Range - mas carece de acesso ao side chain, o que permitiria a otimização da sensibilidade. Em todo o caso, funciona bem, com a vantagem de, por operar dentro do ambiente digital, ter tempo de ataque zero, impossível para um gate analógico.
O compressor também tem ajustes completos - Threshold, Ratio, Attack, Release, Knee e Gain, oferecendo também a possibilidade de ataque zero. Tanto o gate como o compressor apresentam, à direita no display, um gráfico mostrando a curva dinâmica correspondente aos ajustes, facilitando muito a vida do usuário. Todos os parâmetros de equalização, gate e compressor podem ser guardados em presets, e carregados via automação.
A seguir temos o interessante controle de Phase/Delay. O controle de fase simplesmente inverte a pólaridade do sinal. O controle de delay (individual por canal) permite, além do alinhamento de tracks, pode ser usado como efeito simples de eco. Os ajustes são: Delay, de 0 a 300 milissegundos, em pequenos incrementos proporcionais; Feedback, de 0% a 90%; e Mix, que equilibra o sinal direto e o efeito, de 0% a 100%. Para efeitos mais sofisticados de delay, como por exemplo a simulação de eco de fita, é preferível usar o Delay da seção de efeitos.
A tela Routing permite o endereçamento de cada canal, como numa console analógica: pode-se rotear cada canal para quaisquer das saídas 1-2, 3-4, 5-6, etc. até 15-16, e/ou ainda para o master L-R.



Controles Gerais
A seção seguinte é a GENERAL, não envolvendo áudio e sim facilidades operacionais. A primeira tecla é Meters, que determina o que os medidores aos lados dos faders vão monitorar (o default é o nível do canal, mas podem medir também as mandadas/efeitos e os níveis dos buses 1-16). A seguinte, Monitor, determina quais as saídas que vão para os monitores, e o modo (estéreo, mono etc.). Em seguida, vem Copy, que permite copiar todos os ajustes atuais de um dado canal para outro à escolha. A seguinte é Pair, que associa pares de canais de modo que os moving faders sempre caminham juntos, assim como mandadas; os pan pots andam juntos, mas em sentido oposto, isto é, se o pan do primeiro canal do par é girado para a esquerda, o do outro canal gira simetricamente para a direita. Os botões de pan são soft knobs, de giro infinito. Depois vem a tecla Group, que cria grupos de moving faders: o movimento dos membros de cada grupo pode ser controlado por qualquer um deles, guardando a proporção em dB, e não modificando outros parâmetros a não ser o ganho. A útil função Isolate, enquanto ligada, permite o movimento individual dos faders de um grupo, retornando o movimento proporcional segundo a nova condição quando é desligada.
A tecla Setup/Osc, apertada repetidamente, abre três telas. A primeira permite escolher a sample rate, interna de 44,1 ou 48kHz, ou externa pela entrada de Wordclock ou ainda pelas interfaces digitais A e B. A segunda tela controla o gerador interno de sinais, completo oferecendo através do primeiro soft knob, ruído rosa ou branco, senóides nas freqüências ISO (20, 25, 31,5Hz, até 20kHz), ou ainda freqüências fixas de 100Hz, 1kHz e 10kHz. O segundo soft knob escolhe as freqüências ISO. O terceiro e o quarto botões determinam as saídas a serem alimentadas pelo oscilador. O penúltimo botão ajusta o nível do oscilador, e o último o liga e desliga.
A discreta tecla I/O guarda o enorme poder de uma mesa digital. Abrindo em seqüência cinco telas no display, permite conectar virtualmente qualquer módulo da mesa a qualquer saída. Ou seja, permite mudar totalmente a arquitetura do sistema, algo como um patchbay virtual muito abrangente.
A tecla Files permite a gravação e leitura de arquivos de configuração via MIDI em computador (com software específico), ou em cartão plugado no slot à frente da mesa.
A última tecla deste setor, MMC/MIDI, permite controlar gravadores e seqüenciadores a partir da mesa via MMC (MIDI Machine Control), além de receber dados via MIDI para automação dinâmica.
O último setor se chama AUTO, e contém quatro teclas. A primeira, Record, inicia o processo de gravação da automação. A seguinte, Play, faz que a automação re-execute dinamicamente as operações registradas, com base no clock interno, ou em SMPTE, ou em MMC. Todos os parâmetros podem ser determinados através das três telas abertas pela tecla Setup, a terceira do setor.

Memória e Automação por Snapshots
À direita do display temos os controles da memória. Cada configuração da mesa pode ser salva num dos 128 presets ou snapshots, com número claramente indicado no display numérico de grandes dígitos vermelhos. Ao mesmo tempo aparece no display gráfico o nome do snapshot, com até 14 caracteres alfanuméricos como, por exemplo, "MUSITEC ED.130". Todos os parâmetros e ajustes são memorizados, e a transição entre sua situação entre diferentes snaphots é feita de maneira suave, podendo-se regular o tempo de passagem entre 0.0 (instantâneo) e 30 segundos.
Muitas outras maneiras de operar vão sendo descobertas com o tempo, dando asas à imaginação do operador deste "brinquedo de gente grande". Quanto mais se busca, mais possibilidades aparecem!

Os Faders
Os 17 moving faders, com funções determinadas por software, são muito confortáveis, bem espaçados e com curso longo, permitindo ajustes precisos. Ao lado de cada um, há um meter com muitos LEDs, indicando o nível na entrada do fader (default) ou outros, escolhidos por software.

 

Medindo & Ouvindo
Os conversores Crystal, com 24 bits a 48kHz, dão à DDX3216 uma tonalidade brilhante. É estranho que a Behringer não tenha logo adotado a sample rate de 96kHz, numa época em que as gravações convergem para este formato. Mas, com 24 bits de resolução, a sonoridade da DDX3216 é agradável, tendo-se, por exemplo, mostrado uma boa companhia para a Pro Tools Mix Plus, que tem os mesmos parâmetros de quantização.
Nossos testes foram realizados, em sua maioria, usando o analisador Neutrik A2D, que tem entradas e saídas analógicas e digitais em 24 bits, podendo portanto comunicar-se com a DDX3216 de qualquer maneira. Para as medidas de fase, usamos o software SpectraLab 4.32.17.
As audições foram feitas a partir de música gravada em Pro Tools, reproduzida via interface AES/EBU e inteiramente processada dentro da mesa. Os monitores foram Spirit Absolute 4, e também foi usado o headphone "de confiança" Sennheiser HD580.
Os equalizadores são flexíveis e soam bem, devendo ser ressaltado que os reforços de agudos, que costumam ser fonte de distorções e asperezas, se comportam muito bem e produzem timbres brilhantes sem qualquer agressividade. Os filtros peaking também soam bem, sem "ringing" nos reforços. Os filtros bem poderiam ter opções de inclinações mais radicais, mas se mostram úteis para aplicações normais.
Os gates, com tempo de ataque zero, são excelentes, apesar de que a possibilidade de equalizar/filtrar o side chain os tornaria muitíssimo mais úteis nas aplicações mais complicadas como a isolação de peças de bateria.
Os compressores precisam de certo cuidado ao serem usados, pois em aplicações muito pesadas "mastigam" um pouco o som (produzem ataques distorcidos). Mas podem ser usados em aplicações gerais, usando-se talvez compressores externos para aplicações mais críticas. Aliás, é bom lembrar que a própria Behringer produz bons equalizadores analógicos, como o Composer Pro, o Tube Composer e outros modelos.
Os demais efeitos são bons, destacando-se o chorus e os vários reverbs, muito realistas e com grande quantidade de parâmetros a escolher. De fato, a menos que se queira sofisticar muito o trabalho, a DDX3216 é tudo de que um estúdio pequeno a médio precisa para "entrar no ar".
Já que sabemos como é o som, ou melhor, como são os muitos sons da DDX, vamos às medidas.

Resposta de Freqüências e de Fase
A resposta de freqüências é quase perfeitamente plana entre 20Hz e 22kHz, caindo menos de 2dB em 10Hz. Acima de 22kHz, a queda brusca é esperada, por ser esta uma mesa digital operando, no caso, a 48kHz de sample rate. A resposta de fase é excepcional, tendo-se notado apenas um avanço de cerca de 10° em 20Hz e de 1,5° em 20kHz! Os conversores da DDX3216 são muito bons neste quesito.

 

Latência
Chama-se latência ao atraso de tempo produzido pelo processamento de um sistema digital. Até 10 milissegundos de latência são totalmente imperceptíveis por um ouvido musical; 20 milissegundos são o limite tolerável. A latência medida da DDX3216 é de 1,7 milissegundo - praticamente resposta em tempo real.



Ruído
Usando-se a entrada de microfone e nível de entrada de -40dBu, obtivemos uma relação sinal/ruído, em relação à saída máxima com menos de 0,1% de distorção, uma relação sinal/ruído de 81dB. Não chega a ser maravilhosa para uma mesa digital, mas está longe de ser ruim. Com nível de +4dBu na entrada de linha, a relação sinal/ruído chega a quase 87dB, valendo o mesmo comentário.
Com todos os faders fechados, medimos na saída um nível de -93dB, um pouco mais alto do que "gostaríamos" de ter encontrado - algo em torno de -100dB.


 
 
 

Nível Máximo de saída
Com a distorção chegando a 0,1% em 1kHz, encontramos o nível máximo de saída de +14,9dBu. Nesta situação, o meter do master da mesa indica 0dB, ou fundo de escala. Isto significa que, para um headroom de 15dB, o nível médio de operação é de 0dBu.




Distorção
Para níveis típicos de sinal, a distorção harmônica é extremamente baixa, tipicamente 0,005%, independentemente da freqüência.
A intermodulação é igualmente muito baixa.




Equalizador
O equalizador é um paramétrico completo de quatro bandas. As bandas extremas podem funcionar como equalizadores peaking, shelving ou como filtros de corte. Neste caso, a inclinação dos cortes é de 12dB por oitava.
Como se pode ver, as indicações do display são bastante fiéis à realidade, e as curvas são praticamente perfeitas. Por exemplo, na curva de reforço de "8kHz +18dB", seria de esperar um reforço de 15 dB em 8kHz, tendendo para 18dB acima dela... e é exatamente o que acontece (veja figura).




Todas as quatro bandas se superpõem totalmente, de 20Hz a 20kHz, de modo que é possível fazer equalizações complexas e/ou "radicais".
Nas freqüências médias, temos duas bandas de equalização peaking, também muito precisas. As bandas peaking têm Q ajustável entre 0,1 (banda extremamente larga de 6,7 oitavas) e 10 (banda estreita, de 0.14 oitava). A atuação é de exatos ±18dB. As curvas demonstram, com Q de 1.0, equalizadores de Q constante.




Legenda: Equalizadores shelving: precisão e ampla gama de Q

Compressor e Gate
O compressor e o gate da DDX3216 têm todos os parâmetros relativos a nível e tempo de atuação.
No gate, o Attack varia de zero a 200ms. O Release também varia fartamente, indo de 20ms até 5 segundos. O tempo de Hold pode ser ajustado de 10 a 1000ms. O Threshold vai de -90dB a 0dB e o Range de 0dB a -8.
No compressor, o Attack vai de zero a 200ms, e o Release de 20ms a 5 segundos. O Threshold vai desde -60dB até 0dB, a taxa (Ratio) vai de 1:1 (sem ação) até 8:1 (limitador RMS). O ganho de saída (Gain) pode ser ajustado de 0dB até +24dB, e a curva pode ter seu joelho (Knee) ajustado desde hard (bem definido) até 5 (bem progressivo).



Tanto o gate quanto o compressor possuem um display que indica sua curva de atuação, facilitando muito os ajustes. Dois presets A e B podem ser rapidamente alternados por meio do penúltimo soft button, e o último destes permite ligar ou desligar o respectivo processamento.
Para completar, os ajustes podem ser memorizados criando presets com nomes de até 14 caracteres.


 

Conclusão

Depois do que foi mostrado aqui, tem-se a impressão de que a Behringer DDX3216 é um produto caro - e aqui vai a maior surpresa desta análise: esta mesa, com seus 32 canais, muitas entradas e muitas saídas, quatro processadores de efeitos, 32 equalizadores paramétricos, 32 módulos de dinâmica e tantas facilidades e atrações, é tão acessível quanto qualquer produto Behringer.
A qualidade de som é agradável e transparente. Mesmo o ruído sendo um pouco mais alto do que o esperado, não chega a ser audível em condições normais de uso.
A DDX3216 pode ser imediatamente integrada a sistemas analógicos sem lhes impor as limitações comumente encontradas em outras mesas digitais; e, mediante as interfaces digitais adequadas, pode integrar sistemas digitais bastante completos.
É uma gostosura!


Sólon do Valle, engenheiro eletrônico, é editor técnico de Música & Tecnologia e professor do Instituto de Artes e Técnicas da Comunicação - IATEC.

 
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