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Revista Luz & Cena
No estúdio
Rappin' Hood
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 01/02/2005 - 00h00
Divulgação
 (Divulgação)
Rappin' Hood começou a construir sua carreira aos 14 anos, quando escreveu suas primeiras letras de rap, gênero musical que o tornou nacionalmente conhecido.
Também admirador confesso das obras de Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Jovelina Pérola Negra e do cantor Almir Guineto, ele conseguiu fundir, com sua musicalidade, o universo que o revelou - o rap - com a fina flor do samba, outra de suas grandes paixões.
Estreando na indústria fonográfica em 2001, lançou Sujeito homem, seu primeiro álbum solo, que ultrapassou os limites do gueto e atingiu com enorme sucesso a grande massa. O disco trazia uma parceria com Leci Brandão, o single Sou negão em versão samba-rap, além de canções como Rap du bom e Vida bandida (Culpa da situação).
De volta ao mercado, Rappin' Hood se prepara agora para lançar um novo trabalho, registrado pelo engenheiro de som Luiz Paulo Serafim no Estúdio Trama e complementado no estúdio particular do produtor musical Prateado e no Nas Nuvens, ambos no Rio de Janeiro.

CONCEITO SONORO:

Luiz Paulo Serafim: Estava finalizando o disco da cantora Fernanda Porto quando Rappin' Hood me convidou para assumir as gravações de seu trabalho. Já havia mixado discos dos Racionais MCs e tinha grande identificação com o tipo de sonoridade buscada. Rappin' é precursor da mistura do rap com o samba e sabe como poucos unir estes dois universos. Este disco é produto desta junção, fundamentado no peso das batidas e dos baixos, que, ao lado de outros elementos, compõem a sonoridade final.



CAPTAÇÃO:
Luiz Paulo: Para a captação de ambiência da sala utilizei o microfone Earthworks e, vez ou outra, um Neumann estéreo. Quando trabalhava com os dois, posicionava um pela frente e outro por trás do músico que estivesse gravando. Com a soma, utilizava, ainda, um gate que abria nos momentos certos, não eliminando por completo o atraso destas cápsulas. As percussões foram captadas por microfones Sennheiser MD 421 e os amplificadores de guitarras por um Shure SM7, que é um microfone de muita qualidade, apesar do baixo custo.
Para a gravação de vozes de Rappin' testei algumas marcas e modelos como o Neumann TLM 103 e o próprio SM7, mas acabei optando por um CAD M9, que tem uma timbragem bem transparente. Utilizei ainda, neste caso, um pré da SSL 9000, que tem compressor e gate. Já para gravar a voz de Caetano Veloso, que participou de uma das faixas, utilizamos o TLM 103 mesmo. O violão do cantor foi captado por um AKG C414. Os demais violões utilizaram um Neumann M 149, entre outros modelos.
Para a gravação do cello de Jaques Morelenbaum, usei dois microfones: um RCA de fita, da década de 50, e um TLM 103, ambos em close. Na mixagem, optei pelo RCA, que me trouxe um som mais aveludado deste instrumento.

PLATAFORMA:
Luiz Paulo: Gravamos este disco em dois estúdios, além do registro de vozes de Gilberto Gil feito no Nas Nuvens, no Rio. No Estúdio Trama, em São Paulo, utilizamos um Pro Tools 24/48 e uma poderosa mesa Neve. Algumas das faixas registradas, que utilizaram poucas pistas, foram passadas para a fita analógica. Esta medida tinha como objetivo esquentar o som das canções. Já as faixas que não receberam tal processamento foram mixadas com uma equalização extra.
Particularmente, gosto muito do som analógico, que marcou o início de minha geração como engenheiro de áudio. Hoje, trabalhando com plataformas digitais, procuro splitar o máximo de canais possíveis para uma mesa analógica. Não gosto de trabalhar somente dentro do software e acho isso um erro cometido pela maioria dos técnicos em atividade. Então me pergunto: para que deixar o som com uma cara pequena, se podemos deixá-lo grandioso?

INSTRUMENTOS:
Luiz Paulo: Para as canções em ritmo de samba, utilizamos cavaquinho, banjo, guitarras, baixos, teclados, cuícas e saxofones. Nas demais faixas utilizamos a tríade de baixo, guitarra e bateria, além de cordas e samplers. Dentre estes, tivemos o de História de um homem mau, música cantada por Roberto Carlos. Essa mostra foi aprovada e liberada pelo próprio cantor.

EDIÇÃO:
Luiz Paulo:Tivemos algum trabalho de edição, que fiz em parceria com Ronaldão, engenheiro de som do Estúdio Trama, mas prefiro sempre valorizar os takes a manipulá-los. As vozes do disco não foram editadas, apenas refeitas nos trechos em que havia tal necessidade. Os sambas, que foram registrados no Rio de Janeiro, sob produção de Prateado, sofreram alguns processamentos, principalmente nas baterias, que foram filtradas para que soassem mais pesadas. É difícil equilibrar os graves em canções do gênero, que contam com bumbos pesados, surdos e baixos, além das tan-tans e outros instrumentos, mas priorizei os momentos de solo vocal, colocando o grave em seu lugar.

PARTICIPAÇÕES:
Luiz Paulo: Este disco tem uma ficha técnica riquíssima. Nomes como o de Gilberto Gil - que cantou em Andar com fé -, o da cantora Zélia Duncan e do Grupo Fundo de Quintal foram alguns deles. Cláudio Zoli ainda contribuiu para o enriquecimento da obra gravando guitarra e voz em uma faixa, assim como Caetano Veloso gravou violão ao lado de Jaques Morelembaum e seu cello.

MELHORES MOMENTOS:
Luiz Paulo: A dupla de competentes músicos Doug Wimbish e Will Calhoun, respectivamente baixista e baterista do grupo Living Colour, participaram de duas faixas do disco de Rappin'. Durante as sessões de gravação, Doug, que já trabalhou até mesmo com os [Rolling] Stones, ficou encantado com a sonoridade do rapper e o presenteou com uma canção inédita e instrumental. Essa música não entrou no repertório, pois já tínhamos um número grande de faixas para a seleção de canções, então será guardada e possivelmente lançada numa próxima ocasião.
Outro grande momento foi a gravação de guitarras de Cláudio Zoli. Ele ficou muito satisfeito com o som de guitarra que tirei no disco. Zélia Duncan gravou sua participação numa faixa que, de primeira, mistura rap com chorinho.

 
 
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