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Revista Luz & Cena
Workstation
Facilitando seu Trabalho no Pro Tools
Cuidados Básicos Possibilitam Maior Rendimento
Fábio Henriques
Publicado em 01/02/2003 - 00h00
Mês passado falamos sobre a importância de gerenciar bem os seus dados para manter a eficiência dos trabalhos em Pro Tools (o que vale também para qualquer outra DAW). Vamos desta vez conhecer algumas técnicas para melhorar o desempenho de suas sessões.

O Primeiro Mandamento do Pro Tools
Já falamos disto aqui mas, como diz a TV Globo, vale a pena ver de novo:
"Nunca, jamais, em tempo algum, deixe um track com o nome de Audio 1, ou 2 ou 3..."
Dê sempre nome aos seus tracks, pois isso ainda vai lhe poupar muitas dores de cabeça.

A Janela de Comentários (Comments)
É inegável que a inclusão da janela de comentários nas sessões de Pro Tools foi uma importante ajuda em nossa vida, mas acho que ainda há um defeito. Os comentários ocupam um espaço apreciável da Edit Window e acabamos tendendo a deixá-los escondidos. Só que não existe nenhuma indicação visual de que há um comentário neste ou naquele track. Se não formos curiosos o suficiente para abrir a janela de comentários, nunca saberemos o que está lá escrito. Uma solução interessante é deixar os comentários visíveis na Mix Window, onde sua posição (abaixo do fader) não compromete a visibilidade.
O mesmo acontece com o campo Get Info, que fica constantemente escondido e se não for chamado esconderá suas informações para sempre. Muitas pessoas colocam neste campo os dados de tom da música, autor, descrição da sessão etc. Vale a pena conferir seu conteúdo ao receber uma sessão de outro estúdio.
Para um lembrete pequeno e que esteja sempre visível, crie um track e coloque-o em Voice Off (para não consumir recursos). Por exemplo, é uma boa maneira de deixar sempre visível o tom da música (criar um track cujo nome seja G# , Dm etc).

A importância do Click Track
No mundo da música pop moderna, a consistência do andamento é uma característica fundamental. Gravações com variações de andamento tendem a ser interpretadas como "mal tocadas" ou "mal editadas". Por mais que se queira uma certa humanidade na execução, ela é muito mais bem aceita quando se reflete em pequenas variações em torno de um andamento fixo. A melhor maneira de obter essa consistência é gravar usando um metrônomo (click), cujo áudio deverá chegar com abundância aos fones do baterista.
Deve ser escolhido com cautela o som a ser usado para o click. Tipicamente usam-se sons de claves, congas agudas ou cowbells. Recomendo algo menos sonoro e mais percussivo, como a batida de baquetas - sempre usadas em contagens de início de música. Um som bastante funcional pode ser obtido batendo-se levemente com um lápis na grelha de um microfone SM58 (de leve, é claro) e gravando o áudio deste mesmo microfone. Se for usar este som, equalize-o retirando todos os graves. Mais adiante veremos as vantagens deste tipo de som mais percussivo.
Qualquer que seja o áudio a ser usado, é importantíssimo que o Pro Tools seja o gerador do click, para que a sua sessão fique grideada. Quando o click é gerado pelo Pro Tools, fica muito mais fácil trabalhar na sessão, pois a medida de compassos e tempos (bars:beats) coincide com a da música. É possível gridear uma sessão gerada com click externo, usando o Beat Detective, mas dá um certo trabalho e você acabará com flutuações de andamento causadas pelo assincronismo entre clocks. Em outras palavras, se a música foi gravada em ADAT ou em fita analógica, por exemplo, as pequenas oscilações na velocidade de deslocamento da fita se refletem em variações no andamento. E que mesmo se não forem detectáveis pelo ouvido, provocam um desalinhamento do grid de uma sessão de Pro Tools. Através do Beat Detective é possível gerar um marcador em todas as cabeças de compasso, sincronizando a sessão com o click de áudio. Repare que mesmo neste caso as oscilações de andamento continuam existindo, dificultando os eventuais copy/paste que você fizer.
Se você decidir usar o Pro Tools como gerador do click, poderá usar um dispositivo MIDI externo para gerar o áudio. Recomendo que este áudio seja gravado para dentro da sessão, gerando um track de click. Além de dispensar o uso do dispositivo externo em etapas posteriores, ainda fornece o auxílio de um indicador visual do click. Lembre que o Pro Tools é uma ferramenta de áudio onde as informações visuais são extremamente importantes para o trabalho, assim como um track de click permite vermos facilmente se um determinado evento está ou não no tempo.
Como vimos acima, há vantagens em se usar sons mais percussivos e com ataque bem pronunciado para o click. Este tipo de som tende a vazar menos dos fones para os microfones, e interferem menos com o som dos demais instrumentos não percussivos. Como vantagem adicional, fornecem uma indicação visual mais fácil de onde é seu efetivo início, o que facilita as edições e permite que os deslocamentos através do TAB sejam precisos. Para isso, selecione o pequeno botão que tem uma onda desenhada na extremidade superior esquerda da Edit Window. Agora clique com o mouse em algum lugar do track de click. Teclando TAB, sucessivamente, você se deslocará para as bordas de ataque de cada batida do click, ou seja, irá andando em intervalos exatos de 1 tempo.
Quando gravar o áudio do click vindo de um dispositivo externo, repare que existe um atraso entre o envio da mensagem MIDI para o dispositivo e a saída do áudio de dentro dele. Normalmente, este atraso é fixo e pode ser compensado dentro do Pro Tools deslocando-se todo o track depois de gravado para que a borda do click coincida com o grid da sessão. Se o dispositivo externo apresenta atraso variável, mude-o para outro.
Uma outra opção para a geração de um track de click é pegar um som de click que você já tenha gravado anteriormente e usá-lo da seguinte forma. Separe uma região que contenha apenas uma batida do click e consolide-a para que seja gerado um novo audio file. Coloque a sessão em modo Grid e faça cópias deste áudio para as cabeças de tempo. Para diminuir o trabalho braçal, use o comando Repeat Paste to Fill Selection , do menu Edit. Se o andamento for alterado depois de criado este áudio, pode-se requantizá-lo. Uma vez definido o andamento, é fundamental que se consolide este áudio em um audio file contínuo, com o intuito de evitar travamentos por excesso de edições.
Para facilitar ainda mais sua vida, coloque o bpm no nome do track (por exemplo, click128) e de preferência renomeie o audio file para este mesmo nome.

As Músicas
Use markers para identificar a forma da música. Identifique a Intro, as partes A, B, refrões etc. Isto facilita muito tanto na hora da gravação quanto em posteriores edições. Use depois a janela de Memory Locations para deslocamentos rápidos para este ou aquele ponto da música.

Movimentos Automatizados
Uma das maiores vantagens do Pro Tools é a possibilidade de automatizar movimentos de faders. Isto se torna ainda mais prático quando se usam superfícies de controle tais como a Pro Control ou a Control 24. Estes movimentos, no entanto, consomem memória e recursos do sistema. Se você visualizar um movimento de volume feito automaticamente, verá uma linha irregular com dezenas de pontos sobre ela. No mínimo isto acaba provocando um certo congestionamento visual. Minha recomendação é que você automatize o movimento e depois o substitua desenhando uma linha mais simples que faça o mesmo movimento. Pode-se ganhar tempo também desenhando os movimentos e ouvindo o resultado pois, normalmente, gravar um movimento de fader tem dois inconvenientes: dificilmente se acerta na primeira vez e existe um pequeno atraso entre o movimento e o áudio resultante.
Esta questão é muito importante quando são usadas superfícies de controle. O processo de automatizar um movimento de fader implica num loop de realimentação, onde a mão faz o movimento e o ouvido julga se já está no ponto adequado. Ou seja, o atraso entre o movimento do fader e o seu reflexo no áudio prejudica este julgamento e leva às automações um pouco atrasadas. Lembre, porém, que este atraso só acontece na gravação de movimentos e não durante o play. O valor deste atraso depende de vários fatores, sendo maior para sessões muito carregadas.
Como conclusão podemos recomendar que sejam gravados apenas os movimentos mais complexos de fader, fazendo todos os outros diretamente através do desenho na edit window.
Antes que eu me esqueça: evite a todo custo gravar automação de Mute. Isto vai atrapalhar muito a mixagem. Em vez de gastar recursos do sistema automatizando mutes, use a função que muta uma região (no Mac, command+M). Além de facilitar a vida ainda dá uma indicação visual de que houve um mute naquele ponto.

Economize Recursos
Dizer que o Pro Tools (e as DAWs em geral) acabaram com todas as limitações é certamente um exagero. Se por um lado foi abolida dos estúdios a clássica pergunta "tem canal pra gravar?", esta acabou sendo substituída por "tem DSP disponível pra abrir mais um plug-in?". Quantas vezes você teve que desistir de usar um plug-in por não haver DSP suficiente? E a latência dos RTAS? Por isso tudo, vale a pena economizar ao máximo o uso de DSP, através de alguns procedimentos simples.
Antes de mais nada, evite insertar reverbs em tracks. Use-os sempre através de um send/return. Para isso, crie um Aux Input (mono, se quiser economizar buses) e nele inserte o plug-in do reverb. Coloque como entrada deste track um bus. A partir daí , sempre que quiser mandar o som de um track para o reverb, abra um send para este bus, ajustando a mandada com o fader de send. Os reverbs são consumidores vorazes de DSP e usá-los insertados é freqüentemente um luxo desnecessário. Uma dica importante é isolar o solo track que contém o reverb (no Mac, clique no botão "solo" com o command apertado). Assim você poderá ouvir um track solado com o seu reverb correspondente.
Outra maneira de economizar recursos é gravar o processamento realizado pelo plug-in. Se ele tem uma versão Audio Suite, é só copiar os parâmetros - na mão ou através de copy/paste - para ela e processar o áudio. Por precaução, faça um duplicate do áudio original para o playlist e também salve os parâmetros do plug-in, que agora já poderá ser dispensado. Este procedimento é útil quando se usa plug-ins que geram muito atraso, já que o Audio Suite, por não ser em tempo real, não atrasa o áudio. Cuidado quando houver mais de um plug-in no track. Se for fazer este procedimento, processe seguindo exatamente a ordem com que eles estão colocados no track, ou o resultado será diferente.
Se não houver a versão Audio Suite, grave o áudio deste track para um outro, da seguinte maneira. Mude a saída do track para um bus. Crie um novo audio track e escolha este bus para sua entrada. Grave este track. Por segurança, desligue os plug-ins do track original (no Mac, basta clicar no plug-in com as teclas command e control apertadas) e coloque-o em voice off. Ele não vai mais consumir nenhum recurso do sistema, a não ser espaço em disco. Repare que todo o atraso provocado pelos plug-ins e mais um pequeno atraso provocado pela passagem pelo bus será refletido neste novo áudio e poderá ser compensado deslocando-se o áudio tendo como referência o track original.
Faça o mesmo processo quando usar o Auto Tune ou similar. Evite deixá-lo insertado em um track, pois é também um grande consumidor de DSP. É muito melhor gravar o resultado da afinação em outro track. Cuidado, porém, para corrigir o atraso do áudio gerado, que neste caso é substancial.
Procure usar plug-ins da mesma família ou do mesmo fabricante. Eles costumam compartilhar recursos de DSP, diminuindo o consumo. Quase todos os da Waves trabalham assim. Os da Focusrite e da Digidesign também.

Facilitando o Recall
Alguns cuidados devem ser tomados se você usar um dispositivo externo durante uma mixagem. Ao final do trabalho, quando você tiver certeza de que o efeito usado está na dose correta e com os parâmetros adequados, grave a volta deste efeito em um track estéreo. Isto permitirá repetir a mixagem no futuro sem precisar do efeito externo. Coloque também nos comentários deste track informações sobre o equipamento utilizado e seus parâmetros. A idéia é permitir o Recall, ou seja, a repetição desta sessão exatamente como era na primeira vez.

Compensando atrasos
Já que mencionamos o problema acima, vale a pena tomar cuidado com o atraso provocado pelo insert de plug-ins em um track. Para verificar o quanto está sendo atrasado, no Mac, dê "command+clique" sobre o botão que indica o volume do track. O valor apresentado está em samples. Se for muito alto, este atraso começará a ser perceptível. Por exemplo, o Maxim atrasa 1027 samples. Em 44.1kHz, isto dá uns 23 milissegundos, o que já dá para se ouvir. A solução para este problema é fácil mas perigosa. Basta antecipar o áudio deste track do número de samples correspondente. O problema é que não haverá nenhuma indicação para outras pessoas ou para você mesmo no futuro de que este áudio foi adiantado em relação ao original. Isto é potencialmente perigoso e deve ser alertado pelo menos nos comentários deste track. Dê preferência para processar o áudio se o plug-in tiver uma versão Audio Suite (o Maxim tem).

Use Buses
Uma maneira simples de organizar melhor uma sessão é usar subgrupos. Vamos exemplificar com a bateria. Em todos os tracks da bateria, endereça o output para um bus estéreo, por exemplo, bus1-2. Crie um Aux Input estéreo e endereça seu input para este mesmo bus. Pode-se mudar o nome do track (agora um master de subgrupo) para Bateria, ou MasterBat. Agora podem ser colocados plug-ins, sends e automações que afetem a bateria como um todo neste track, economizando recursos. Lembre-se de isolar o solo deste track (como fizemos acima nos efeitos).
A única desvantagem deste procedimento é que a criação de buses também consome DSP, e talvez este inconveniente seja prejudicial em sessões onde o consumo é crítico. Criar um subgrupo em uma sessão surround 5.1 gera um gasto substancial de DSP.
Outra coisa importante é sempre dar nome aos buses (na janela de I/O setup), para ficar mais fácil saber a quem corresponde cada mandada. Em minhas mixagens costumo usar os buses de subgrupos começando do bus 1 em ordem crescente, e as mandadas de efeitos a partir do bus 32, prosseguindo de trás para frente, o que ajuda a organizar um pouco melhor a sessão. Assim, tenho sempre o meio dos buses como região para uso temporário em afinações e outras aplicações como compressões com side chain.

A Ordem dos Fatores
Procure ordenar visualmente os tracks de uma forma que lhe pareça lógica. Classicamente temos primeiro a bateria, depois o baixo, depois guitarras... E, por último, temos a voz. A ordem pode ser qualquer uma, desde que lhe ajude a se achar dentro da sessão.
Existe uma particularidade quanto à ordem dos tracks que pode ajudar o tempo de carga de uma sessão. Quando o Pro Tools está carregando os plug-ins, vai alocando o DSP à medida que os tracks vão sendo abertos e muitas vezes ele precisa parar para realocar os plug-ins de uma maneira melhor. Se ao abrir suas sessões você vir que o Pro Tools está realocando plug-ins, procure alterar a ordem dos tracks, colocando no topo os que consomem mais DSP, tais como reverbs. Com a ordem diferente dos tracks pode ser que o Pro Tools não precise mais passar pela etapa de realocação do DSP.
Boas sessões.

Se você tem dúvidas, sugestões ou comentários sobre este e outros assuntos, entre em contato através do fabhenr@openlink.com.br. Você pode encontrar maiores informações sobre meus trabalhos também na www.audio-online.com.br e www.musitec.com.br .

 
 
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