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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Precisa-se de engenheiro de som
Enrico de Paoli
Publicado em 01/06/2003 - 00h00
Bem, a verdade é que a frase acima não é lida com muita freqüência... Depois de muito falarmos sobre equipamentos, tendências da tecnologia, além de técnicas clássicas ou revolucionárias de gravação ou sonorização, trataremos um pouco sobre o lado de cá do jogo. Ou seja, nós.
Nossa profissão é mesmo diferente. Além de ela não ser reconhecida oficialmente, nós praticamente inventamos esse espaço no mercado e ensinamos a ele que somos necessários. Uma vez li em um livro de Philip Kotler, que "marketing não é apenas propaganda, e sim a entrada num mercado, o domínio ou até mesmo a criação de um nicho totalmente novo". Este último, talvez, seja o que mais se aplique a nós: engenheiros de som. Podemos não saber quem veio primeiro - o ovo ou a galinha - mas é nítido que o engenheiro de som surgiu antes da primeira vaga de emprego para ele. Tal tradição se mantém, e é raro surgir no mercado uma oportunidade para qualquer engenheiro como mera boa vontade. O que surge é alguém que precisa de você. Ou melhor, você faz algo tão particular, que torna-se indispensável e passa a fabricar sua própria vaga.
Até mesmo em testes vocacionais escolares, jamais surgiu o episódio de os pais serem chamados para que a direção lhes dissesse: "o filho de vocês daria um ótimo engenheiro de som... Já pensou em incentivá-lo a gravar discos ? Ou, quem sabe, mixar shows...". (risos) Na realidade, eles poderiam pensar em todas as profissões - Matemática, Medicina, Direito - mas para eles os discos já sairiam gravados e mixados, não precisaria de ninguém para fazer isso. Discos? Que discos? Nem sei se eles ouvem discos!
Sim, nossa profissão é realmente diferente. E nós nem mesmo conhecemos as ramificações dela. Quando pensamos em trabalhar com áudio, imaginamos apenas em gravar discos ou mixar shows. E o resto? O resto é amplo. Quem conserta equipamentos? Quem os fabrica? Por que é só nos EUA ou na Inglaterra que se fazem equipamentos? E os engenheiros eletrônicos? E a integração deles com a música e o nosso áudio? Aqui não se ensina isso. Mas quem ralou e aprendeu na raça, se deu bem. Assim como estão brilhando os que descobriram a área do ensino que, há poucos anos, só existia lá, onde se fabri-cam os equipamentos. Bem, nós estávamos falando das ramificações dos engenheiros de áudio... Ah, como eu poderia me esquecer dos computadores! Talvez hoje tenha mais gente aprendendo a usar o Pro Tools do que a gravar ou mixar. E eu vou dizer uma coisa: dá pra fazer os dois. O que é muito bom para todo mundo, pois quanto mais você sabe, mais você vale.
Tecnologia não é sua praia? Mas você ama música. Sempre ouviu música. Gosta de música. O que nos leva a crer, então, que você entenda de música. Você pode não saber programar uma Lexicon 480L, mas sabe o que é um disco bem mixado. Aliás, o que é um disco bem mixado? E o que fazer com um disco bem mixado? Ou quem chamar para ter um projeto bem mixado, bem finalizado ou, simplesmente, um disco bom? Talvez seu lugar seja em uma gravadora. Lá você nunca verá a plaquinha do "Precisa-se". Até por-que, segundo o que tenho ouvido, o mercado está em crise. Ou seria mais uma grande transformação? A realidade é que não estamos nem perto de perceber o tamanho dessas mudanças. Dê uma sacada nas diferenças dos hábitos de dez anos pra cá, e veja o que a Internet fez com o mundo, ou mesmo o que ela ainda fará. É muito radical, novo. Converse com alguém que faça parte da nova geração - em torno de 12 a 15 anos de idade - e veja o que eles ouvem, se compram discos, se vão a shows. É muito mais fácil chamar de crise, sentar, reclamar e esperar o tempo passar. Mas, cuidado, porque pode ser que isso demore. E nesse meio tempo, algum engenheiro de som, com certeza, estará desenvolvendo o seu método de trabalho. O seu som. A sua personalidade. Misturando tudo isso com música, eletrônica, marketing ou apenas carisma. Enfim, ele poderá estar ocupado trabalhando, enquanto essa crise não passa...

Enrico De Paoli é engenheiro de estúdio e PA. Além de inúmeros projetos indepen-dentes, é mixer da turnê e DVD Milagreiro, do Djavan.
Email:
enrico@rio.com.br

 
 
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