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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Quanto de grave tem a sua mix? E os seus monitores?
Enrico De Paoli
Publicado em 07/06/2016 - 00h00
As caixas de som, ou monitores de referência, mais famosos da história foram, indubitavelmente, as japonesinhas de falantes brancos: as Yamaha NS10. Curiosamente, uma das caixas com menos resposta de graves da história da engenharia de música. Então, por que essa fama toda?

Bem, ouvir música sem aquele grave pulsando e nos movimentando normalmente não é a experiência sônica mais emocionante de todas. Mas quando falamos em caixas com muito ou pouco grave, confundimos duas questões: a curva de resposta da caixa, ou seja, se ela responde frequências graves com mais volume (ou pressão sonora) do que as regiões de frequências mais altas, ou se as caixas têm de fato uma extensão nas respostas em baixíssimas frequências - ou seja, se elas são, de fato, capazes de reproduzir frequências subgraves que podem estar contidas nas gravações que estamos tocando, como é o caso de caixas de grande porte, ou também os subwoofers. E por que, então, as pequenas NS10 ficaram tão famosas? Sigamos...

Sabemos que ouvir música com aquele grave nos tocando o peito é algo que ajuda bastante em tornar a música mais emocionante e divertida. Sendo assim, quando estamos mixando e tomando as decisões sônicas de como nossos ouvintes ouvirão nossas músicas, é muito fácil acharmos que uma mix soa linda simplesmente porque ela tem aqueles graves todos ajudando, mas quando aquela mesma música é ouvida num sistema com baixa ou nenhuma resposta de baixas frequências (graves), como, por exemplo, o som de uma televisão, um fonezinho de telefone celular, uma minicaixa de som ou o próprio som de um computador, a mix pode revelar que ela está totalmente desequilibrada, com planos de volumes, pans e efeitos mal dosados para que ela envolva e puxe o ouvinte pra dentro de sua viagem sonora e musical. Por este motivo simples e esquisito, tornou-se padrão de indústria mixar em caixas pequenas, com limitada resposta de baixas frequências.

Anos se passaram... ou melhor, décadas... e o mundo continua mixando em caixas pequenas por puro paradigma. Muitas vezes nem lembramos o porquê de usarmos essas caixinhas em nossos estúdios, além do fato de elas ocuparem menos espaço e custarem menos dinheiro. E, então, mixamos nossas músicas querendo, naturalmente, que elas soem lindas. Emocionantes. Pulsantes. Poderosas e... graves. Então, ouvindo nessas pequenas referências, que, com muita dificuldade, tentam reproduzir as baixas frequências, equalizamos nossos tracks, nossos bumbos, nossos baixos, nossos teclados, violões, cordas e guitarras, e finalizamos nossas mixes felizes da vida.

A levamos para uma festa na casa de amigos, ou no carro de outros amigos que investiram milhares de reais em subwoofers na mala, ou no PA de um show antes do mesmo começar, e, enfim, tocamos nossa mix ainda felizes da vida. E somos surpreendidos por um bolo de graves e subgraves que torna difícil identificar que naquela música existe um cantor. E ali, a destruição de nossa autoestima é rapidamente demonstrada pelo semblante em nosso rosto. Nesse momento pensamos em abandonar nossas carreiras, porque mesmo usando equipamentos clássicos que o mundo inteiro usa (ou deseja usar), não conseguimos chegar num resultado sônico nem perto do aceitável. E por que isso acontece? Simples. Realmente simples. É definitivamente importante que saibamos as funções e motivos de cada uma de nossas ferramentas (leia-se "equipamentos").

Caixas pequenas existem para nos ajudar a ouvir nossas mixes sem a emoção nata dos graves e subgraves, e assim percebermos, de fato, como nossas músicas soarão quando reproduzidas em outros sistemas compactos com natural deficiência na reprodução de baixas frequências. E este hábito é de grande valia! Mas não devemos mixar em caixas pequenas querendo que elas soem como caixas grandes! Se não temos acesso a uma monitoração com reprodução full-range (caixas grandes ou subwoofer), vale verificar nossas mixes com um fone que reproduza bem as baixas frequências antes de enviar a mix para o cliente.

Enrico De Paoli é engenheiro de música e produtor. Conheça um pouco de sua discografia premiada visitando www.EnricoDePaoli.com. Neste site você também pode conhecer seus treinamentos Mix Secrets para engenheiros de música em desenvolvimento.
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.