RSS Facebook Twitter Blog
Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Afinal, com que volume devo entregar a mix para o masterizador ou para o cliente?
Enrico De Paoli
Publicado em 05/05/2016 - 00h00

Essa é uma das perguntas que eu recebo quase todas as vezes em que um cliente vai me enviar uma mix pra ser masterizada por mim. E é também uma questão que durante um bom tempo me acompanhou todas as vezes em que eu ia enviar uma mix minha para o meu cliente audicionar. Afinal, qual volume deve estar essa mix? Essa questão obviamente esbarra no assunto loudness war, tão falado nos últimos anos. Uns dizem que volume é um assunto a ser tratado na etapa de masterização, o que é obviamente verdade. Os puristas acreditam que uma mix profissional não deve ter nenhum processamento no master do console. Vamos debatendo isso tudo agora, até o fim desta última página da nossa AM&T , aqui embaixo...

Em primeiro lugar, lembremos o principal: engenharia de música é o encontro entre a física do som com a arte da música. Tendo dito isso, toda a teoria que conhecemos serve à nossa arte. Ao longo do tempo de prática e estudos vamos desvendando o maior de todos os mistérios por trás disso tudo: como nossos ouvidos escutam. Isso é o que realmente importa. Como nossos ouvidos reagem a uma música mais alta ou mais baixa. Ok, quando falamos isso, muita gente diz: "quer ouvir uma mix ou master mais alta? Aumenta o volume!". Correto, em partes... Só temos basicamente um jeito de fazer uma mix (ou master) soar mais alta: diminuindo a variação dinâmica da música. Quando usamos um limiter tipo o famoso Waves L2, limitamos os picos mais rápidos e musicalmente imperceptíveis aos ouvidos, ganhando, então, aquele "espaço comprimido" para que a música ganhe volume proporcional.

Mas se os picos de áudio limitados pelo L2 são tão rápidos e inaudíveis assim, por que a música soa tão diferente com e sem esse limiter? Dois motivos: primeiro, normalmente fazemos comparações injustas, ou seja, ouvimos a versão sem o limiter muito mais baixa do que ouvimos a versão com o limiter, e somos induzidos a gostar muito mais da versão mais alta. Se abaixarmos o volume de reprodução da versão com o limiter na mesma proporção que ele nos permitiu aumentar o ganho da música, temos uma comparação mais justa e real. Então, vamos perceber que, em alguns casos, a música é sacrificada pra ganhar volume, ficando mais áspera, mais nervosa, mais sem vida. Porém, em outros casos, vamos perceber o oposto, que o processamento do L2 (ou limiter similar) fez com que a música soasse mais interessante com os picos mais limitados e/ou comprimidos. E quando sabemos se vai melhorar ou piorar? Bem, esta é a arte!

Tendo dito isso tudo, eu uso limiters e compressores com um único fim: fazer a música soar mais bonita, e não necessariamente mais alta. Volume é uma consequência do processamento pra eu chegar no timbre perfeito para aquela música, no caso de uma mix, ou aquele disco, no caso de uma master. E então? Com que volume enviamos a nossa mix para o cliente? Bem, já que entendemos que o volume de uma mix é parte do timbre e do impacto da música, eu envio minhas mixes nos volumes próximos aos que eu gostaria que a música tivesse depois de toda pronta e masterizada. Mas... sim, enviar para o "mastering engineer" uma música muito limitada, altíssima, pode algemá-lo para trabalhar. Se suas mixes estão muito altas, eu enviaria duas versões - uma com e uma sem o limiter -, para o que engenheiro de master possa conhecer a sua referência de volume. Mas, ao mesmo tempo, tenha espaço de trabalho para que ele chegue aonde você deseja de uma forma ainda melhor.

Não é de hoje que muitos engenheiros de mixagem usam um compressor no buss master do console. Algumas mesas de grande porte incluem um compressor em seus designs há décadas. Esses compressores agem de forma um pouco diferente da dos limiters tipo L2, pois são normalmente mais lentos e comprimem o áudio mais em sua faixa dinâmica mediana (RMS) do que em picos, como o L2. Os efeitos sônicos e musicais soam um pouco diferentes, não sendo possível artisticamente dizer qual é o melhor pra você usar. Cada caso é um caso! Use os ouvidos para esta decisão.

Fecho, então, a nossa página deste mês concluindo a minha opinião de que todas estas decisões devem fazer com que a mix soe o melhor possível musicalmente. E enfatizo: uma mix muito, muito limitada pode atrapalhar, sim, o espaço de trabalho do masterizador. Se sua mix soa assim por conceito, vale a pena, neste caso, enviar duas versões para a master: uma como você a imagina soando depois de masterizada e outra sem os inserts de limitação no buss master, para que, novamente, o mastering engineer tenha espaço para trabalhar e, quem sabe, chegue a um resultado ainda mais musical para a sua mix.

Até mês que vem!

Enrico De Paoli é engenheiro/produtor de mixes & masters. Colunista da AM&T há mais de 15 anos, tem prêmios Grammy com artistas nacionais e internacionais. Visite o site www.EnricoDePaoli.com e conheça também seus treinamentos particulares Mix Sec
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.