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Revista Luz & Cena
Em Tempo Real
Kadu Melo
Márcio Teixeira
Publicado em 03/04/2016 - 00h00
Kadu Melo já nem atende mais quando o chamam de Carlos Eduardo. O nome pelo qual o pessoal do áudio conhece o técnico já merece parênteses em sua identidade. "Kadu é tão forte", diz ele, "que a diretora da escola não sabia o meu nome. Até na chamada meu nome era Kadu", recorda ele, que, apesar dos 38 anos e muito tempo de trabalho, afirma ter o vigor de um iniciante. "Atualmente tenho 38, mas há controvérsias... O 'hardware' parece bem mais antigo, a estrada acaba com a gente, mas o 'software' faz eu me sentir muito mais novo, graças a Deus", observa ele, bem humorado.

Marcus Vinicius, tio do técnico, além de audiófilo, tinha seu lado "Professor Pardal". Construía amplificadores e caixas acústicas, e o jovem Kadu amava ouvir Pink Floyd na casa do parente. "Eu queria muito viver mais momentos ouvindo aquele áudio cheio e envolvente, além de desejar entender o porquê disso tudo soar tão mágico na casa dele, mas não em outros lugares", recorda. Seu pai, que sempre o incentivou quando o assunto era música, era comerciante, não sendo difícil haver rodas de samba ou a presença de um sistema caseiro para tocar samba rock em seu estabelecimento.

"Eu prestava atenção em como o humor das pessoas mudava quando ouviam música, especialmente em um bom sistema", destaca Kadu, que ali já se conectava ao que seria sua carreira. "Na colação de grau da minha irmã Debora Cristina vi um sistema simples, com duas colunas de caixas acústicas e um rack com crossover e amplificadores. Disse ao meu cunhado Pithy, que é músico: 'Está vendo isso? Eu quero fazer isso e entender o porquê das coisas funcionarem assim. Quero saber tudo o que puder sobre sistemas de som.' Essa frase é sempre lembrada por ele."

Na área, Kadu começou mixando ensaios de bandas de garagem, e quando foi fazer um pequeno festival para uma delas, se deparou com a empresa Tukasom. "No sistema deles tinha um console DDA de monitor, e eu nem sabia que existia uma mesa de monitor e outra para PA. Graças à minha vontade de aprender, o Claudinho Rodrigues, responsável pelo sistema na época, me convidou para trabalhar com ele. Então, tive a oportunidade de entrar nessa empresa enorme, na qual atuei por dez anos. Sem dúvida, foi a minha melhor faculdade de áudio, com direito a pós-graduação", afirma o técnico, que também trabalhou na Waves Control, Piu Som e Muzik Produções.

Entre os artistas com os quais atuou estão a Bamdamel, Mafalda Minnozzi e Grupo Sensação, tendo trabalhado no PA deste último por quase um ano, além de também ter feito monitor. "Com o reencontro do grupo em sua formação original, o desafio era constante nos quatro shows por noite, sem passagem de som", recorda. Kadu também trabalhou com a dupla Pedro & Thiago, para depois cuidar do monitor de Fiuk ("todos com fone, backline próprio e bateria afinada - cheguei ao paraíso!", diz ele, sorridente) e de John Kip. De repente, surgiu a oportunidade de mixar o monitor de Jorge Ben Jor. "Esse, sim, era o desafio dos palcos que eu esperei a vida toda. Cresci muito com esse artista consagrado da música mundial", pontua Kadu, que há três anos realiza outro sonho: fazer o PA de Fabio Jr. "Tive que estudar muito. Imagem sonora, plano de mixagens, alinhamento de sistemas... Tudo para estar a altura desse cantor incrível!"

Perguntado sobre o que é necessário para ser um bom profissional e fazer seu trabalho com excelência, Kadu destaca o valor do estudo e revela uma de suas fontes de conhecimento. "Sempre soube que deveria estudar muito, que a leitura deveria se tornar uma paixão. Quando, ainda garoto, descobri a revista AM&T em uma livraria. Abri um sorriso como se estivesse ganhando um autorama. Eu deixava de gastar dinheiro com passagens de ônibus para juntar o valor da revista, e comprar mais uma edição era como ir ao shopping."

Sobre o futuro, Kadu, que hoje também atua como engenheiro de negócios na América Latina para a Allen & Heath, afirma que deseja compreender a tecnologia de forma mais profunda, bem como o mundo dos negócios, além de ampliar conhecimentos em idiomas como inglês e espanhol. "São motivos de sobra para entender que os meus horários livres estão cada vez mais escassos", concluiu.



BATE-BOLA

Console: Mesmo se hoje eu não trabalhasse mais na Allen & Heath, continuaria a escolher o DLive como meu console número um.

Microfones: Há pouco trabalhei com o dFactor, da DPA, e foi amor a primeira vista. Sonho em adicionar ao set da tour o MD 421, o MD 441 e um casal de AKG C 414. O KSM 9 da Shure pra voz também é um guerreiro. Ainda terei a experiência de trabalhar com um SM7 somado a um C 414 em um amplificador de guitarra.

Periféricos: Tenho duas máquinas de reverb da Lexicon montadas em um rack aguardando a hora de ir para estrada. Hoje, com o dLive ou um iLive, eu não sinto falta delas.

Melhor equipamento que já usou: Posso escrever um livro sobre isso... (risos) Mixar em um V-Dosc (L-Acoustics) é algo para você nunca mais esquecer, assim como foi com o Milo (Meyer Sound), no Credicard Hall. Recentemente fui apresentado ao sistema VUE Audiotechnik e usei o al4, estupidamente compacto. Fiquei de boca aberta.

Última grande novidade do mercado: O dLive. O protocolo Dante me fascina também.

Melhores casas de shows do Brasil: Gosto do Tom Brasil e do Credicard Hall, mas tenho um carinho enorme pelo Crevrolet Hall, em Minas Gerais, fora o respeito pelo sistema da Loudness, administrado pelo o Jair e alinhado pelo Berruga.

Melhores companheiros de estrada: Fernando Parizotto, o Pardal, engenheiro de monitor do Fabio Jr. há mais de dez anos. Sempre que preciso de ajuda, é só seguir o que ele fala que diminuo meus problemas em 90%. Outro grande companheiro é o Smaart7, que é, no mínimo, obrigatório pra mim.

Melhor sistema de som: Tecnologias como as da d&b, Meyer Sound, JBL, VUE e L-Acoustics, que através de software e uma plataforma de gerenciamento fazem com que o sistema como um todo seja inteligente, rápido e seguro.

Equipamento: Acordar e entrar no site da Meyer Sound para namorar um Galileo é coisa normal na minha vida... (risos) Sou fã incondicional desse processador.

Plug-in: Apesar de novato no mundo dos plug-ins, o H-EQ Hybrid Equalizer, com o qual posso mexer com a imagem sonora em uma faixa de frequência, é um que me atrai.

SPL alto ou baixo? Por que? Mixo em lugares fechados em torno de 103 dB SPL-C e em locais aberto em torno de 112 dB SPL-C. Quando realizo a minha mixagem "baixa", deixo um bom headroom para a dinâmica da banda e consigo ter mais espaço para os timbres. É inevitável que em algum momento da mix você tenha que escolher entre SPL e qualidade, pois tudo tem limite. Com o artista que trabalho hoje a minha escolha sempre será pela qualidade.

Melhor posicionamento da house mix: Assunto triste esse (risos). Com sistemas cada vez mais compactos, custa deixar dois metros quadrados para a house mix? Arrastar uma mesa um metro para a esquerda e outra um metro para a direita, mas garantir a qualidade do espetáculo, é tão difícil assim? Nossa cultura não enxerga qualidade como parte do lucro dos negócios.

Unidades móveis: mix2Go e ENG Audio

Técnicos inspiração: Ernani Napolitano, padrinho e eterno professor, e Clement Zular, "Deus" de todas as informações. Bruno Campregher, Luizinho Clement, Marcelo Salvador, Antonio Minami, Mauricio Pinto, Jaksandro, Beto Neves, Rabaço, Flavio Senna, Rodrigo Pimentel, Marcio Torres e o incrível Ronaldo Lima Valentim são, sem dúvida, fonte de inspiração. Vejo neles uma busca diária por uma mix melhor, com seriedade e respeito. Isso é lindo e prazeroso de se ver - e de se ouvir (risos).

Sonhos na profissão (1. a realizar 2. já realizado): 1. Viajar com um sistema de nove elementos de VUE al8 (por lado do PA). 2. Poder ensinar alguma coisa ao próximo. Trabalhar para a Allen & Heath e conhecer outros países também é algo que faz com que eu dobre meus joelhos, reze e agradeça muito.

Dicas para iniciantes: Abra a sua mente. Procure conhecer a maior gama de equipamentos possível. Respeite a opinião dos que têm mais tempo de estrada e crie a sua própria opinião sobre os equipamentos e conceitos de mixagens. Estudar uma segunda língua, sistemas de rede e TI fará com que você tenha mais conhecimento e tome decisões a partir de uma base mais sólida. Ouça muita música - de todos os gêneros - e estude música, caso tenha dom para tocar um instrumento. Aprenda a gostar de ler e prestigie os veículos que temos em nosso país. A leitura amplia os horizontes.
 
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