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Revista Luz & Cena
Em casa
Dicas e técnicas de gravação em um home studio (Parte 10)
Técnicas de gravação de baixo elétrico
Lucas Ramos
Publicado em 01/01/2016 - 00h00
Na edição passada terminamos a série sobre gravação de bateria, e esse mês vamos falar sobre gravação de baixo - elétrico e acústico. O baixo é um dos instrumentos mais utilizados e importantes na música ocidental, pois é o elo entre a percussão e as partes melódicas e harmônicas de uma música. Junto com a bateria, o baixo forma a chamada "cozinha", que é a "espinha dorsal" responsável por sustentar a música e definir seu "groove". Por isso, é muito importante saber tirar uma ótima sonoridade na gravação do baixo... Então vamos aprender como!

SONORIDADE, RUÍDOS E ATERRAMENTO

O tipo de baixo mais usado nas últimas décadas é o baixo elétrico, pois é um pouco mais fácil de tocar, devido aos trastes e sua escala reduzida, mas também é menor e mais leve, o que facilita o transporte. Além de tudo isso, o preço de um baixo elétrico costuma ser muito mais baixo que o de um acústico, tornando o instrumento mais acessível. E, por essas razões, é mais comum se deparar com um baixo elétrico em uma gravação do que um baixo acústico.

E, como com todo instrumento e toda gravação, o elemento mais importante para se obter uma gravação de alta qualidade é um instrumento com uma sonoridade de alta qualidade (sempre em relação à sonoridade que você está buscando). Por isso, certifique-se de que o baixo a ser gravado está em boas condições, com cordas em bom estado, e sem muitos ruídos ou chiados no seu sistema elétrico. Se o baixo estiver apresentando muito ruído no seu sinal elétrico, é recomendável levá-lo num luthier para fazer a manutenção da parte elétrica e minimizar ao máximo os ruídos. Não adianta insistir - se o instrumento não soar bem por si só, a gravação não será boa nunca.

Não é tão comum trocar as cordas de um baixo, pelo menos não como uma guitarra ou um violão, pois não costumam quebrar ou gastar com tanta frequência. Mas é importante que as cordas estejam em bom estado, sem oxidação (ferrugem), e, acima de tudo, soando bem. Se for necessário trocar o encordoamento do baixo, faça isso sempre um ou dois dias antes da gravação, pois cordas novas tendem a desafinar rápida e constantemente. E se o baixo estiver desafinado, não adianta nada ter uma sonoridade boa, pois a gravação ficará comprometida.

Outro problema na sonoridade pode vir da indução de ruídos e chiados nos cabo. Como o sinal elétrico de um baixo é de alta impedância (e não-balanceado!), é muito suscetível à indução de ruídos eletromagnéticos ou de radiofrequência. Isso significa que é possível captar um chiado vindo das tomadas e fios elétricos, de equipamentos ou até de ondas de rádio (especialmente se o cabo fora longo). Para minimizar esse problema, utilize cabos curtos e posicione-os longe de tomadas e fios elétricos. E nunca mantenha cabos de áudio posicionados em paralelo com fios elétricos. Se for necessário, cruze o cabo de áudio a 90º do fio elétrico.

O posicionamento do captador do baixo em relação ao campo eletromagnético gerado pelo sistema elétrico da sala também pode induzir ruídos no sinal. A quantidade de ruído estará relacionada ao posicionamento do captador no campo eletromagnético, por isso, tente mudar o ângulo ou até a posição do baixo na sala até encontrar um ponto que gere o mínimo de ruído possível.

O aterramento do sistema elétrico ao qual o amplificador de baixo e o pré-amplificador estiverem ligados também pode gerar ruídos. Se houver um "loop de terra" (quando há diferença de potencial entre o aterramento de dois equipamentos), é provável que haja um ruído ("hum") no sinal, possivelmente comprometendo a integridade da gravação.

Para evitar isso (além de fazer um aterramento adequado para sua sala de gravação, é claro!), conecte o amplificador de baixo na mesma tomada que o pré-amplificador (use uma extensão, se for necessário). Também é importante se certificar de que o cabo do amplificador tem três pinos (incluindo o "terra"). E se você estiver utilizando uma direct box, é possível utilizar a chave "ground lift", que irá desconectar o aterramento entre o baixo e o pré-amplificador e, possivelmente, eliminar o ruído causado pelo "loop de terra". Por isso, muitas vezes pode ser útil o uso de uma direct box simplesmente por essa função.


Se quando o músico encostar nas cordas o ruído parar, então é porque o corpo dele está agindo como uma placa de um capacitor. A solução é simples: conecte um fio entre alguma parte do corpo do músico (na pele exposta) e o aterramento do cabo que estiver ligado ao instrumento. Assim o músico será "aterrado" no mesmo ponto que o instrumento, e o ruído deverá diminuir. Pode parecer estranho, mas funciona!

CABOS

Os cabos são geralmente o elo mais fraco na cadeia de sinal de uma gravação, e no caso de um baixo é a mesma coisa. A maioria das pessoas quer gastar o máximo possível na compra do seu instrumento para obter a melhor sonoridade possível, para depois passá-lo por um cabo que custe o mínimo possível! Com isso, o instrumento com uma ótima sonoridade fica à mercê de um cabo de baixa qualidade, sendo suscetível a ruídos e perdas de frequências.

Por isso, utilize sempre cabos de boa qualidade e que estejam em ótimo estado de conservação. Sem oxidação, e com as soldas firmes e sólidas nos conectores. Como o sinal é de altíssima impedância e não-balanceado, é importante que o cabo tenha uma blindagem de alta eficiência para minimizar a quantidade de ruído induzido. Evite "dobrar" o cabo e certifique-se de que não há rasgos ou rachaduras ao longo do cabo, pois pode comprometer a blindagem e o isolamento do sinal.

LINHA OU MICROFONE... OU OS DOIS?

O sinal de um baixo gravado "em linha" muitas vezes é capaz de satisfazer as necessidades sonoras, pois geralmente contém uma presença razoável do peso dos graves e também a definição dos médios e agudos (pelo menos se o baixo for bom!). Por isso, muitas vezes basta "plugar" o baixo em uma entrada de alta impedância do seu pré-amplificador e sair gravando. A maioria dos pré-amplificadores e interfaces de áudio hoje em dia dispõem de entradas nessas especificações, geralmente indicadas pela palavra "Instrument" ou "Hi-Z". Nesse caso, é possível ligar um baixo diretamente nessas entradas para gravação. Há, inclusive, alguns pré-amplificadores no mercado que são feitos especificamente para a gravação de baixos.

Também é possível ligar o baixo direto em um amplificador de baixo e gravar a saída de linha do amplificador (sem microfone). Muitos amplificadores de baixo dispõem de uma saída de baixa impedância especialmente para a gravação "em linha". Dessa forma, o baixo é ligado diretamente no amplificador, e a saída do amplificador é ligada a um pré-amplificador de microfone.

Porém, muitas vezes o sinal "em linha" sozinho não tem todas as características sonoras desejadas, especialmente em relação às frequências muito baixas. Nesse caso, utiliza-se uma direct box (veja box a seguir), que permite dividir o sinal em dois - um para ser gravado "em linha" e outro para ser ligado a um amplificador, que é, então, microfonado e o sinal dos microfones também é gravado.


Essa opção é a mais recomendada quando há um bom amplificador de baixo com um falante grande, capaz de reproduzir as frequências mais baixas, que às vezes faltam ao sinal de linha. Dessa forma você terá maior flexibilidade para conseguir a sonoridade desejada na gravação, pois além do sinal "limpo" e definido da linha, também poderá utilizar a escolha de microfones e seus posicionamentos para "lapidar" o seu timbre.

Para isso, é fundamental ter um amplificador de alta qualidade, com uma sonoridade que contenha todas as características que você deseja. Muitos baixistas dispõem de um amplificador "pequeno" (que já é bem grande!) com um único falante. Esses amplificadores são feitos mais para estudo ou ensaio, pois não reproduzem toda a extensão de frequências necessária, e geralmente o baixo soa "abafado" e, muitas vezes, sem "peso".

Esse tipo de amplificador pode até ser útil para uma gravação, especialmente se o falante for grande e tiver bastante grave. Mas, nesse caso, deve-se sempre gravar também o sinal do baixo "em linha" (através de uma direct box) para obter a "definição" que geralmente falta a esse tipo de amplificador.



Já os bons amplificadores de baixo incluirão múltiplos falantes com tamanhos diferentes para reproduzir toda a extensão de frequências necessária. Esses amplificadores são a melhor opção, pois você terá múltiplos tipos de falantes reproduzindo diferentes faixas de frequências, dos graves aos agudos. Porém, esses amplificadores são muito difíceis de transportar devido ao seu tamanho e peso, e também são bastante caros. Por essas razões esse tipo de amplificador é menos comum em home studios.


Direct box

Quando estiver gravando "em linha", é importante que o cabo do baixo esteja ligado em uma entrada de alta impedância (Hi-Z), própria para instrumentos elétricos. Porém, se não houver esse tipo de conexão, somente entradas de linha ou microfone, será necessário o uso de uma "direct box", um dispositivo que converte um sinal não-balanceado e de alta impedância em um sinal balanceado de baixa impedância. Dessa forma, o baixo é ligado na direct box e a saída de baixa impedância é ligada a uma entrada de microfone de um pré-amplificador.

Outra utilidade de uma direct box é que, além de converter, também divide (split) o sinal, com uma outra saída não-balanceada e de alta impedância (sinal idêntico ao que sai diretamente o baixo), além da saída de baixa impedância. Isso permite gravar o sinal da saída de baixa impedância em linha e ligar a saída de alta impedância em um amplificador de baixo para ser microfonado, e os sinais dos microfones também gravados.

Essa é a opção que dará maior flexibilidade, pois você terá o sinal em linha definido, mas também poderá trabalhar a sonoridade através do posicionamento e da escolha dos microfones.


POSICIONAMENTO DOS MICROFONES

1. Para captar as frequências graves, utilize um microfone dinâmico com cápsula grande e boa resposta de frequência nos graves. Posicione-o três a cinco centímetros de distância, procurando a melhor posição em torno do falante. Se estiver gravando um amplificador com mais de uma via, posicione esse microfone nos falantes maiores.

2. Para captar os médios e agudos, utilize um microfone dinâmico de cápsula pequena e boa resposta de frequência nos médios e agudos. Posicione-o três a cinco centímetros de distância, procurando a melhor posição em torno do falante. Se estiver gravando um amplificador com mais de uma via, posicione esse microfone nos falantes menores.


3. Tente sempre procurar a melhor posição para cada microfone em torno do falante. No centro do falante haverá mais definição e brilho (agudos), enquanto nas bordas haverá menos agudos e, proporcionalmente, mais graves. Experimente com posições e distâncias diferentes até encontrar a melhor sonoridade. Nessas horas um assistente é muito útil, pois ele pode ficar ajustando o posicionamento dos microfones enquanto você escuta o resultado sonoro.

Por isso, alguma pessoas constroem "robôs" de microfone, que permitem mover um microfone à distância enquanto você escuta o resultado sonoro (veja imagem). Seja com um assistente humano ou robótico, é bem mais pratico ter uma maneira de reposicionar os microfones enquanto você ouve o resultado.

4. Experimente acrescentar um microfone condensador um a dois metros de distância para captar as reverberações na sala. Essa técnica funciona melhor em salas grandes e em timbres de baixo mais "limpos".

5. Para um som de "metal", é comum passar o sinal do baixo por um amplificador de guitarra com distorção, além do sinal "em linha" e o amplificador de baixo. Os amplificadores de guitarra geram frequências médias mais "ríspidas" e muitas vezes proporcionam uma sonoridade mais "agressiva", apesar de ter menos grave. Para isso, será necessário dividir o sinal do baixo em três vias - uma "em linha", uma no amplificador de baixo e uma no amplificador de guitarra. Utilize microfones nos amplificadores para captar as diferentes características sonoras de cada e some ao sinal "em linha".


6. Quando estiver utilizando mais de um microfone, ou se estiver gravando o sinal "em linha" além dos microfones, é sempre fundamental checar a fase entre todos os canais do baixo. Ouça primeiro somente o canal do microfone que estiver mais afastado do amplificador (usando o "solo") e acrescente o microfone que tenha maior presença de frequências graves. Inverta a fase do segundo canal e ouça se há um aumento ou redução das frequências graves e escolha a opção que oferecer maior presença das frequências baixas. Repita esse processo acrescentando os outros canais um por um, invertendo a fase de cada e escolhendo a posição que proporcionar mais grave.

Vamos ficando por aqui nessa edição, mas na próxima vamos falar de gravação de baixo acústico e instrumentos de corda. Não percam!

Mês que vem tem mais...
Até lá!

Lucas ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC.
Formado em engenharia de áudio pela Sae (School of audio engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools certified operator, apple Logic certified Trainer e ableton Live certified Trainer.
e-mail: lucas@musitec.com.br
 
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