Gustavo Lenza, aos 40 anos, lembra que começou a gostar de música em casa, onde seus pais estavam sempre ouvindo MPB. "Meu pai tocava violão e me ensinou os primeiros acordes. Com sete anos eu ficava ouvindo as rádios com um gravador de cassete ligado a ele e fazia minhas primeiras mixtapes ou playlists analógicas", recorda ela. Desde então, a música nunca mais saiu de sua vida. E, apesar de bem novo, já estava ligado na parte técnica, preferindo fitas TDK e Sony às demais. "Já me ligava nas fitas importadas, e ia comprar na Santa Efigênica caixas delas." Depois, na adolescência, veio a banda montada no colégio, a Banda Toca, na qual pilotou a guitarra por dez anos. "Meu interesse pelo estúdio veio a partir das gravações e experiências com minha banda", explica.
Seu primeiro estágio foi em 1993, no estúdio Vice-Versa, que depois virou a Trama. "Foram seis meses colados no engenheiro Nico Bloise, meu padrinho profissional. Depois disso, entrei na faculdade de Admnistração e só voltei a trabalhar em estúdio em 1996. Mas continuei com a banda. No começo, achava que ia descambar para a publicidade, mas nunca me adaptei muito com o ritmo e com a vaidade que rola nesse meio", conta Lenza. "Me sentia muito mais realizado varando a noite gravando uma base do que fazendo duzentas versões para agradar o cara da agência, que estava querendo agradar o cliente... Só que a grana é inversamente proporcional ao prazer gerado. Daí, me liguei que não podia ficar só em estúdio e fui me aventurar nos PAs também."
Desde que começou na área, Gustavo atuou como assistente no estúdio RAC/Teclachordy ("que hoje é a YB", destaca), depois foi ser assistente no Mosh. Em seguida, atuou por seis anos na YB. "Na YB, eu era o cara do disco, junto com o mestre Cacá Lima. Esse sabe tudo e mais um pouco! Gravei muito para o selo e era o engenheiro da casa quando alugavam para outros projetos de fora. Foi uma grande escola! Por lá passou muita gente boa da 'cena' independente paulistana." Passado esse período, Lenza vem atuando como freela, sendo que desde 2013 ele pode ser encontrado em sua sala de mix, La Nave, atuando junto com o músico Chico Salém e o engenheiro de masterização Felipe Tichauer.
A lista de artistas com quem Lenza já atuou em estúdio é bem significativa e já rendeu trabalhos que lhe deram destaque na indústria. Entre o nomes, destaque para Arnaldo Antunes, Céu, Curumin, BNegão, Lucas Santtana, Criolo e Emicida, Zeca Baleiro, Racionais, Instituto, Mariana Aydar, Marcelo Camelo, Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik. Como técnico de PA, mais figurinhas carimbadas contaram com o talento de Gustavo: Nação Zumbi (e seu sensacional projeto paralelo Los Sebosos Postizos), Curumin, Instituto, Criolo, Bixiga 70, Anelis Assumpção e Iara Rennó, entre outros. Atualmente, Lenza faz o som ao vivo de Ná Ozzetti, Zé Miguel Wisnik e Céu.
"Tenho o maior orgulho de trabalhar com a Céu. Mixei dois discos dela mais o DVD ao vivo e coproduzi Vagarosa junto com Beto Villares, Gui Amabis e ela. Gravei a sessão com ela e Herbie Hancock no Mega, em São Paulo, e fiz muitas turnês internacionais, tocando em festivais como Coachella, Montreal Jazz Festival, Roskilde", lista o multiprofissional, destacando ainda seus trabalhos como produtor em um disco com Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e Toumani Diabaté, do Mali. "Fomos para a África e gravamos por dez dias a participação dele no disco. Uma experiência única!", pontua.
Lenza conta que a experiência em estúdio lhe ajudou e ainda ajuda muito quando faz um PA. "É verdade, pois me deu uma referência do que soa bem, as frequências que sujam, como comprimir corretivamente e artisticamente e, principalmente, na hora de alinhar um PA. E fazer PA também ajuda no estúdio, pois no estúdio a gente fica mais ágil e aprende a se virar com o que tem. No estúdio, qualquer 5 cm na posição do microfone faz uma diferença brutal, assim como um pré de microfone, um delay analógico... Na estrada você tem que lidar com outros fatores, como acústica da casa, qualidade do equipamento, condições meteorológicas e público, e os detalhes não interferem tanto no resultado. Mas, mesmo assim, tento fazer um PA como se fosse mais um músico da banda. Levo sempre meus efeitos comigo e gosto de participar do show."
Perguntado sobre o que é necessário para ser um bom profissional e fazer seu trabalho com excelência, Lenza nos passa sua própria receita. "Ouvir música, ouvir os músicos e outros técnicos e ouvir quem ouve música. Ter calma, paciência, estudar e ter um ouvido treinado. Também é muito importante saber lidar com as pessoas, principalmente os artistas, que são mais sensíveis por natureza. Não é puxar o saco, mas entender o que eles querem, pois muitas vezes não é exatamente o que falam", explica Gustavo, cujos planos para o futuro mostram seu amor pelo que faz. "Quero continuar trabalhando com música boa e pessoas legais. Produzir, mixar, viajar... Ainda não tenho nada muito fechado para o ano que vem, apenas sondagens e pedidos de orçamento. Mas é sempre assim, né? Esse ano, apesar da crise, trabalhei bastante! Espero que o ano que vem seja movimentado como esse, pelo menos!"
BATE-BOLA
Console: No estúdio, Neve. Na estrada, Soundcraft Vi6 (ainda não peguei as Vi3000) e as Midas analógicas.
Microfone: Neumann U47 no estúdio e Shure SM 58 na estrada
Equipamento: Roland Space Echo 201
Periféricos: Distressor EL8-X, da Empirical Labs
Processador: Galileo
Plug-ins: Slate, Kush UBK, Altiverb, Sound Toys - todos da UAD
Última grande novidade do mercado: Os plug-ins da Slate Digital
Melhores casas de shows do Brasil: Circo Voador, pela vibe, e Citibank Hall, pelo conjunto da obra. Gostava mais do finado Palace...
Melhor es companheiros de estrada: Fernando Narcizo, Gustavo Potumatti e Renato Coppoli
Melhor sistema de som: Os da d&b
SPL alto ou baixo? Por que? Depende de onde quando e por que
Melhor posicionamento da house mix: No meio da plateia, não tão longe nem embaixo de mezanino
Unidade móvel: Audiomobile e Mix2Go
Técnico inspiração: Evaldo Luna no PA e Victor Rice no estúdio
Produtor inspiração: Beto Villares, Daniel Ganjaman, Kassin e Mario Caldato Jr.
Sonhos na profissão (1. a realizar 2. já realizado): 1. Viajar com todo o próprio sistema de som 2. Gravar o Herbie Hancock e Tony Allen - mestres supremos!
Dica para iniciantes: Ame o que você faz e ouça música sempre!