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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Avaliação de mixagens
Enrico De Paoli
Publicado em 06/12/2015 - 00h00
Muitos dos alunos que passaram pelos meus treinamentos Mix Secrets me procuram pra que eu "avalie" suas mixagens. O que exatamente seria avaliar uma mixagem? Ver se ela está "certa"? E o que a faria estar certa ou errada? O volume da voz? A quantidade de reverb? Talvez a quantidade de graves? Bem... Tenho certeza de que toquei em pontos comumente discutidos ou questionados aqui. Mas, então... Quanto é o certo?

É com frequência que vejo pessoas debatendo online assuntos como "qual o setting correto de um compressor para voz". Assim como também vejo grupos de Facebook para "avaliação de mixagens". E a minha opinião é que ambos não existem. Bem, se avaliar uma mix é algo que não existe, como pode existir o Grammy, que não apenas avalia, mas premia mundialmente discos e gravações? Pois, então... Chegamos no ponto. O Grammy basicamente premia fonogramas. Ou seja, as músicas estão sendo degustadas como um todo. E, com esses mesmos ouvidos, deveríamos gravar, produzir, mixar e masterizar música.

Outro dia compartilhei no meu Facebook um vídeo que vi em algum lugar, de uma banda que não conhecia. O ponto é que a tal gravação tinha um reverb que parecia um banheiro com a voz dentro. E o mais curioso é que aquilo soava muito natural. Natural a ponto de eu não conseguir imaginar ouvir aquela música de outro jeito! Era lindo! O disco A Time 2 Love, do Stevie Wonder, tem um grave pulsando mais alto do que os médios, e apesar de que se compararmos com outros discos ele talvez soe excessivo, na música e arranjos do disco aquela timbragem soa perfeita.

Um disco independente que masterizei há algum tempo, da banda Cabeza de Panda, tinha uma master alta a ponto de conseguirmos uma timbragem com um overdrive perfeito para o disco. Mas se tivéssemos obtido esse mesmo overdrive num disco do Roberto Carlos, talvez não teria sido muito bem-vindo... E por que não lembrarmos de um famoso efeito colateral dos compressores, chamado "pumping", que é quando ouvimos o compressor afundar um instrumento ou base e depois liberar? Tecnicamente, é tido como uma falha, mas se tornou uma marca registrada nos sons dos DJs mais ouvidos do planeta. Pois é... Continuo recorrendo à velha frase: "Não existe som feio. Existe som mal empregado".

E, então, como responder se uma mix é boa ou ruim? Vou começar lembrando uma coisa que falo sempre, aqui e nos meus treinamentos Mix Secrets: a mixagem não é nada mais, nada menos, do que a regência do arranjo. Uma música com arranjo mal resolvido gera uma mix difícil de soar. Se um arranjo bem feito é o casamento, o canto e contracanto, as frases e respostas, o encaixe perfeito dos instrumentos, então um arranjo falho deixa de ter tudo isso.

E esse encaixe perfeito é aquilo que existe quando você vai mixar uma música e tudo o que você faz nela soa bem. Ao contrário daquela outra mix, em que um canal bate com o outro, em que há momentos sem sustentação alguma, e o outro, em que você não consegue encaixar os graves de todo mundo que toca junto. Isso é culpa da mix? Obviamente não. Mas como não estamos na vida pra arranjar culpados, e sim soluções, muitas vezes durante mixagens somos mais do que arranjadores. Somos garis. Mineradores. Escultores. Somos mágicos.

Então, é praticamente impossível dar crédito somente à mixagem. Tanto o sucesso quanto o fracasso de uma mix leva juntinho consigo a qualidade do arranjo e - por que não - de tudo o que existe ali pra ser ouvido, como os músicos, captações, atmosfera, performance e, claro, a própria música. Demos uma pequena longa volta e chegamos novamente no fim da mix, em que "ruim" é quando torcemos o nariz ao percebermos que algo simplesmente soa estranho e "boa" é quando essa estranheza soa tão natural que a gente sorri, entra nela e, sem que percebamos, somos levados até o fim.

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Enrico De Paoli é engenheiro de música, synthesista e produtor fonográfico. Conheça sua discografia, ganhadora de prêmios Grammy, e seus treinamentos Mix Secrets visitando www.EnricoDePaoli.com.
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.