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Revista Luz & Cena
Em Tempo Real
Bernardo Pacheco
Marcio Teixeira
Publicado em 02/12/2015 - 00h00

O técnico Bernardo de Andrea Pacheco, profissionalmente conhecido como Bernardo Pacheco, mas também chamado aqui e ali de Berna, quando não só de Pacheco, pode olhar para trás e constatar que viveu boa parte de sua vida completamente mergulhado em som, e que hoje vive não só nisso, mas disso. Bernardo começo sua carreira no áudio como estagiário na Timbre, uma produtora de som de São Paulo. "Como técnico de PA, considero que o começo foi ter ido assistir a um show do Hurtmold [nota do editor: Hurtmold é uma já clássica banda de São Paulo que, se você ainda não conhece, precisa conhecer] num festival de hardcore e ter sido chamado na hora mesmo pra dar uma mão no som", recorda. "Foi o que puxou minha primeira sequência de trabalhos na área. Eu originalmente não queria realmente trabalhar com som ao vivo, mas acabei caindo de paraquedas e ficando", acrescenta o técnico, que, apesar de ter tido essa primeira experiência em shows em 2006, já vinha trabalhando em estúdio desde 1996.

Pacheco conta que nunca trabalhou com empresas de som ao vivo, tendo sempre sido chamado diretamente pelos artistas ou pelos produtores dos mesmos. "Na área de estúdio já passei por muitas empresas ao longo dos anos, mas como fixo mesmo trabalhei pela já citada Timbre, a Effects, o estúdio de música do Mega São Paulo, a Ludwig Van!, o estúdio El Rocha e a Casablanca Sound", lista o técnico, que atua como freelancer desde o meio de 2007. Desde 2010 ele possui um estúdio simples, em sua casa, chamado Fábrica de Sonhos, onde grava e mixa seus trabalhos.

Vale reforçar aqui que Pacheco gravou e/ou mixou alguns belos discos da cena underground nacional, dentre os quais podem ser citar Conta, de M. Takara, Calavera, do Guizado, Homem Inimigo do Homem, dos Ratos de Porão, Songs From the Night Shift, do Fish Magic, e Tudo Que Eu Sempre Sonhei, dos Pullovers, além de diversos trabalhos do Test, D.E.R., de sua banda, Elma (Bernardo toca guitarra), e de sua antiga banda, Are You God, entre outras.

Voltando ao live, outra boa lista de artistas alternativos já teve o som de seus shows controlado por Bernardo Pacheco. "Depois de começar trabalhando com o Hurtmold, logo na sequência emendei Holger, Lurdez da Luz, Guizado, Forgotten Boys, Elo da Corrente, Garotas Suecas e Mamelo Sound System, entre outros da cena independente." Já entre artistas internacionais em passagem pelo Brasil para os quais Bernardo já fez PA, destaque para Sebadoh, Anthony Braxton Quartet, The Eternals ("fiz três turnês deles"), Mac de Marco, Roscoe Mitchell, J Mascis, Matana Roberts, Dub Trio e Joan of Arc, entre muitos outros.

"Atualmente, trabalho mais frequentemente com Bixiga 70, Boogarins, Apanhador Só e Far From Alaska, e esporadicamente com Test, Thiago Pethit, Maglore, Inky e Jair Naves, entre outros", destaca Bernardo, que com o Apanhador Só atua há cinco ano. "Faço o PA dos demais há menos tempo", pontua.

E ser um integrante de uma banda trabalhando com PA pode beneficiar uma ou outra função? Antes de responder, Pacheco destaca que mesmo antes de trabalhar com PA já precisava se virar nos shows das suas bandas "para tirar um som decente nas condições mais adversas, o que chamam por aí de 'tirar leite de pedra', que ainda é muito útil até hoje", e acrescenta que, na sua opinião, muitas vezes é mais fácil tirar um som legal em lugar pequeno e com poucos recursos do que em uma casa de grande porte "com acústica esquisita e centenas de milhares de reais em equipamento".

"Mas enxergar um show do ponto de vista de quem está tocando certamente me ajudou muito a começar a atuar como técnico de PA. Acho que é uma das coisas que faz com que eu seja requisitado o suficiente pra viver disso. Já como músico não sei se há muita vantagem em ser técnico. Me vejo muitas vezes na função dupla de tocar e passar meu próprio som, ainda tendo que escutar de vez em quando a frase infeliz 'mas você veio pra tocar ou pra operar?'."

Quando perguntado sobre o que é necessário para ser um bom profissional do som, ele destaca algumas coisas. "É preciso tentar entender o ponto de vista do músico, procurar se antecipar aos problemas e não fazer corpo mole. Você sempre deve estar mais preocupado com a hora de chegar do que com a hora de ir pra casa. Isso tudo, somado a nunca usar um som de bumbo estilo o do Pantera pra banda nenhuma, garantiram meus primeiros anos no ao vivo, mesmo com pouca experiência", afirma. Sobre planos para o futuro, Bernardo foi objetivo. "Nunca fiz planos pra minha vida e ainda não adquiri o bom senso de começar", disse ele, misturando uma possível autocrítica e um fundamental bom humor.


BATE-BOLA

Console: Ao vivo, Yamaha CL5, pela flexibilidade e simplicidade que economizam o item mais precioso numa passagem de som, que é o tempo

Microfone: Electro-Voice RE20 e Sennheiser MD 441

Equipamento: O que está em perfeito estado de funcionamento

Periféricos: Ao vivo, na cada vez mais rara vez em que encontro uma mesa analógica, qualquer equalizador gráfico analógico 31 bandas de boa qualidade, e compressores versáteis em quantidade

Última grande novidade do mercado: A maior, mas no mau sentido, é a ideia de que um tablet é um substituto satisfatório pra uma superfície física com faders, knobs e botões de verdade

Melhor casa de shows do Brasil: Do ponto de vista da acústica, o Palace deixa saudades. Do ponto de vista da equipe e dinâmica de trabalho, o Cine Joia.

Melhor companheiro de estrada: Travesseirinho de pescoço da Nap

Melhor sistema de som: Qualquer um que já esteja falando de forma correta desde o início do horário marcado pra chegada da equipe técnica da banda

SPL alto ou baixo? Por que? Alto é o que funciona pra maioria das bandas com as quais trabalho, mas já houve exceções

Melhor posicionamento da house mix: Central, em local de referência idêntico ao do público

Técnico inspiração: No estúdio, Steve Albini.

Sonho na profissão: Sempre trabalhar com uma boa produção, que me permita me concentrar em tirar um som

Dica para iniciantes: Entenda a diferença entre ser um profissional e ser um funcionário
 
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