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Revista Luz & Cena
Em casa
Dicas e técnicas de gravação em um home studio (Parte 7)
Técnicas de gravação de bateria: Parte D - Tons e contratempo
Lucas Ramos
Publicado em 01/09/2015 - 00h00
A gravação de uma bateria é bastante complexa pelo fato de envolver muitas peças diferentes, com diferentes sonoridades. Com isso, envolve muitos microfones e técnicas de posicionamento diferentes. Na edição desse mês, vamos seguir com o tema de gravação de bateria, agora falando sobre os tons e o contratempo.

TONS

Sonoridade

Assim como qualquer instrumento, é essencial que os tons estejam afinados e soando bem antes de começar a gravação. Porém, no caso dos tons é talvez mais importante ainda, pois eles têm uma "tonalidade" muito presente na sonoridade, como uma "nota musical". Se a afinação não estiver correta, essa tonalidade não soará da maneira desejada. Além disso, como as notas dos tons são mais longas, também é importante que a tonalidade seja estável até o final da nota (sem "tremer"), e isso só é possível com uma boa afinação (em ambas as peles!).

Também é comum ter um excesso de ressonância nos tons devido a essa natureza tonal dos tambores. Se for necessário, utilize pequenos pedaços de fita crepe (mais ou menos 5 cm) colados próximos à borda para minimizar essas ressonâncias. Se estiver muito acentuada, um pedaço de fita crepe com uma ponta colada no casco da bateria e a outra colada na borda da pele irá diminuir a ressonância drasticamente (talvez até demais). Há também diversos tipos de dispositivos que são feitos para diminuir as ressonâncias e a duração das notas dos tons e que podem ser comprados nas lojas.


Tipo de microfone

Além da afinação, a escolha do microfone terá uma enorme influência na sonoridade da gravação dos tons. Escolha o microfone de acordo com a sonoridade que você deseja. Os dois tipos de microfones mais usados para a gravação de tons são os condensadores de eletreto (de "clip"), que geralmente captam mais "ataque" (agudos) e definição, e os dinâmicos, que captam mais "corpo" e "peso" (médio-graves). Também é possível utilizar um condensador de cápsula grande, que irá captar bem o "ataque" (devido à boa resposta de transientes), mas também será capaz de captar os graves e médio-graves.

O problema nesse caso é que geralmente a sensibilidade dos condensadores de cápsula grande é mais alta, o que pode gerar problemas de vazamento. Seja qual for o tipo de microfone escolhido, a direcionalidade utilizada deve sempre ser cardioide (ou supercardioide/hipercardioide) para minimizar o vazamento das outras peças da bateria.


A resposta de frequência também deve ser considerada. Escolha um microfone com uma melhor resposta de frequência nos graves e médio-graves se quiser mais "corpo" e "peso", ou um com uma melhor resposta de frequência nos médio-agudos se quiser mais "ataque" e definição.

Posicionamento dos microfones

Microfone principal:

1. Posicione o microfone 5 a 10 cm acima do tom, com um ângulo de 45º apontando para o centro da pele. Não aproxime demais o microfone, pois apesar de minimizar o vazamento, geralmente resulta em um som "morto" e sem "peso".

2. Aponte o microfone para o centro da pele para captar mais "ataque", ou mais para a borda para captar mais ressonância e "corpo".

3. Tente evitar posicionar o microfone sobre as "tarraxas" do tom, pois essas regiões tendem a ter muita ressonância, e qualquer falha na afinação ficará mais evidente. Por isso, posicione os microfones entres as tarraxas dos tons.

4. Quando estiver microfonando mais de um tom, tente posicionar todos os microfones apontados na mesma direção (pra trás da bateria) para minimizar problemas de fase entre eles.

5. Em kits de bateria com um número elevado de tons, pode ser útil utilizar um único microfone para cada dois tons. Isso diminuirá os "ataques" da gravação, mas minimizará os problemas de fase, aumentando, assim, a definição. Procure uma posição para o microfone em que há equilíbrio entre os dois tons (geralmente mais próximo ao tom menor).

Microfones de reforço:

1. Se for necessário reforçar as frequências graves de um tom (especialmente os surdos), acrescente um microfone com boa resposta de frequência nos graves na pele de baixo (cheque a fase!). Porém, essa técnica só deve ser utilizada quando não for possível captar graves suficientemente apenas com o microfone principal, pois as diferenças de fase irão diminuir a clareza e definição da gravação. Por isso é mais comum utilizar essa técnica somente para surdos e tons maiores.


Gates

É comum o uso de gates nos canais dos tons para remover o vazamento das outras peças quando os tons não estão sendo tocados. Como os tons geralmente são apenas usados como efeito e em viradas, tendem a ser tocados poucas vezes ao longo de uma música. Porém, os microfones continuarão gravando o "vazamento" das outras peças, e devido à natureza tonal dos tons, esse "vazamento" será acrescido de uma forte ressonância, que "suja" e "embola" a sonoridade da gravação. Os gates podem ser utilizados para cortar o sinal dos microfones dos tons quando o baterista não estiver tocando os tons, e abrí-los quando o baterista tocá-los.

Mas isso só deve ser feito na mixagem, pois pode ser difícil acertar o ponto exato do corte do gate. Se quiser, é possível utilizar um gate no formato de plug-in (software) na gravação, que irá surtir o mesmo efeito, porém atuará no sinal após ele ser gravado sem afetar a gravação em si.

Outra opção bastante comum é simplesmente editar a gravação dos tons, apagando todos os "silêncios" e deixando somente as partes em que os tons são tocados pelo baterista. Eu, pessoalmente, prefiro essa opção, pois apesar de mais demorada, permite maior controle e maleabilidade.


CONTRATEMPO

Sonoridade

Contratempos são pratos e por isso não há muito a se fazer a respeito de sua sonoridade, pois não é possível afiná-los, apenas escolher os pratos que têm uma sonoridade que agrade. Pratos mais pesados e espessos têm um som com mais médios e médio-graves, enquanto os pratos mais finos e leves têm um som com mais agudos. Os pratos mais pesados tendem a soar bem para shows devido a seu "peso", e por isso são bastante comuns. Porém, não funcionam tão bem para a gravação em estúdio, pois essas frequências mais graves tendem a "embolar" com o som dos tambores (tons e caixa). Por isso, pratos mais finos e leves geralmente funcionam melhor para gravações.

Tipo de microfone
Microfones condensadores (cardioide) são geralmente usados para gravar contratempos, pois captam melhor os transientes e as frequências agudas presentes. E dentro do espectro dos condensadores, os microfones com cápsula pequena geralmente captam menos graves e geram uma sonoridade mais "brilhante" e "fina", enquanto os de cápsula grande geram uma sonoridade mais "pesada" e "encorpada".

Porém, tome cuidado, pois os condensadores de cápsula grande tendem a ter uma sensibilidade maior, aumentando o "vazamento" das outras peças da bateria. Por isso, é mais comum o uso de um condensador de cápsula pequena para gravar um contratempo.

Posicionamento dos microfones

1. O posicionamento "padrão" para a gravação de um contratempo utiliza um microfone condensador posicionado 10 a 20 cm acima do contratempo (apontado para o chão, a 0º), no meio entre a "cúpula" e a borda do prato. Para minimizar o "vazamento" das outras peças, posicione o microfone no lado oposto à caixa e as outras peças da bateria.

2. Se quiser um som mais "pesado" e "cheio" (mais médios), posicione o microfone mais próximo ao centro do prato. Se quiser um som mais "brilhante" e "fino" (mais agudos), posicione o microfone mais próximo à borda.

3. Se o "vazamento" das outras peças da bateria estiver muito alto no microfone do contratempo, é possível angular o microfone apontando-o para a borda do contratempo (lado oposto à caixa), e assim utilizar a direcionalidade (cardioide) do microfone para minimizar o "vazamento". Porém, isso geralmente resulta em um som menos "brilhante" e com menos agudos, o que nem sempre funciona.


4. Para obter uma sonoridade muito "brilhante", posicione o microfone além da borda do contratempo (lado oposto à caixa), minimizando ainda mais a presença das frequências mais graves. A distância do microfone em relação às outras peças da bateria também irá ajudar a minimizar o "vazamento" das mesmas. Nesse caso, cuidado com o vento gerado quando o baterista abrir e fechar o contratempo, podendo até ser necessário o uso de um filtro "anti-puff" ou espuma.


5. Como geralmente os contratempos não produzem frequências graves "agradáveis", pode ser útil usar um filtro passa-alta (no microfone ou no pré-amplificador) para filtrar tais frequências indesejáveis, já na gravação. Porém, caso não seja possível, isso também pode ser feito na mixagem, sem muita diferença no resultado final.

Vamos ficando por aqui nessa edição da coluna. Mês que vem, em nosso próximo encontro, vamos finalizar essa série sobre gravação de bateria falando sobre os microfones de "overhead" e ambiente. Não percam!

Crédito das imagens: Lucas Ramos

Lucas ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC.
Formado em engenharia de áudio pela Sae (School of audio engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools certified operator, apple Logic certified Trainer e ableton Live certified Trainer.
e-mail: lucas@musitec.com.br

 
Conteúdo aberto a todos os leitores.