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Revista Luz & Cena
Em casa
Dicas e técnicas de gravação em um home studio (Parte 5)
Técnicas de gravação de bateria: Parte B - Bumbo
Lucas Ramos
Publicado em 23/08/2015 - 00h00
Na edição passada começamos a falar sobre técnicas de gravação de bateria e sobre a preparação que deve ser feita antes mesmo de iniciar a gravação. Esse mês vamos seguir com o tema, agora falando sobre a gravação de bumbo. O bumbo é uma das peças mais importantes da bateria, pois forma, junto com a caixa, a base rítmica de quase todas as músicas modernas. Por isso é muito importante saber como gravar um bumbo corretamente. Então vamos lá!

SONORIDADE

Para poder gravar um bumbo com "peso" é necessário que ele esteja soando com tal "peso". A afinação é essencial, além de peles em bom estado. Não vou me alongar muito nesse assunto, pois abordamos esse tema em detalhe na última edição, mas não posso deixar de frisar que a afinação e o estado das peles do bumbo são essenciais para uma boa gravação. Não é possível fazer uma boa gravação de bateria sem uma boa bateria (soa até redundante!).



Para "abafar" um pouco o som do bumbo, utilize um travesseiro (ou algo parecido) posicionado dentro do bumbo de forma que esteja encostando em ambas as peles (será necessário remover a pele de resposta). Ouça o som do bumbo e, a partir daí, se quiser um som mais "abafado", empurre o travesseiro contra a pele de ataque, e ser quiser um som menos "abafado" empurre-o contra a pele de resposta. Há empresas que fabricam abafadores próprios para bumbos que funcionam muito bem, porém tendem a custar bem mais que um travesseiro, mas com resultados sonoros similares. Um travesseiro de penas ou fibras sintéticas mais pesadas (espuma geralmente não funciona tão bem) pode funcionar tão bem quanto, a uma fração do custo.


COMPRESSÃO NA GRAVAÇÃO

Muitas vezes o baterista toca de forma irregular, de maneira que cada vez que ataca o bumbo o sinal chega em um nível diferente. Isso é muito comum, especialmente com bateristas inexperientes, e pode trazer dificuldades na gravação. A utilização de um compressor para diminuir um pouco essa dinâmica indesejável pode ser útil, porém, deve ser evitado na gravação, pois se for mal utilizado não haverá como desfazer. Em casos extremos, em que a variação de nível dificulta a captação do sinal, pode-se usar um compressor com uma taxa de compressão baixa (em torno de 2:1), "attack" rápido (1 - 10 ms) e "release" rápido (menos de 100 ms). Mas, para isso, será necessário ter um compressor de hardware, pois os plug-ins não são processados na gravação.


TIPO DE MICROFONE

O tipo de microfone mais utilizado para a gravação de bumbo é o dinâmico de cápsula grande e com boa resposta de frequência nos graves. E, pela importância do bumbo, a maioria dos fabricantes de microfone produzem um modelo designado especificamente para a gravação de bumbos. Há diversos modelos que se tornaram famosos ao longo do tempo, como o AKG D112 e o Shure Beta 52, e outros modelos mais recentes que têm dado o que falar, como o AKG D12VR e o Telefunken M82. Há também alguns modelos de microfones condensadores no estilo "PZM" que também são fabricados para a gravação de bumbos, como o Shure Beta 91 e o Sennheiser e 901. Mas há muitos modelos diferentes de diversos fabricantes no mercado, como vimos na edição 267 da AM&T (dezembro 2013).


POSICIONAMENTO DOS MICROFONES

Microfone principal

Há diferentes técnicas de microfonação para um bumbo, dependendo do tipo de pele de resposta que for utilizada. Essas técnicas são a a base para a sonoridade e devem ser trabalhadas até encontrar o posicionamento ideal.

1. Se o bumbo tiver um buraco na pele de resposta - posicione um microfone dinâmico de cápsula grande no limite da pele com 30º- 45º de ângulo (apontando para a maceta).

2. Se não houver buraco na pele de resposta - posicione um microfone dinâmico de cápsula grande 3 a 15 centímetros à frente da pele, à meia altura, porém fora do eixo central (para o lado).

3. Se não houver pele de resposta - utilize a técnica anterior, porém posicione o microfone 5 a 10 centímetros para dentro do bumbo.


4. Existem também outros microfones especializados que são posicionados dentro do bumbo (como o Shure Beta91) e proporcionam uma sonoridade mais limpa e definida, porém geralmente com menos "peso".

5. Há também suporte especiais para posicionar microfones dentro e fora do bumbo, como o Kelly SHU, que podem ser bastante úteis na hora de posicionar o mic. Além de facilitar o posicionamento, proporcionam uma suspensão elástica para o microfone, minimizando a perda de frequências devido às vibrações.

Microfones de reforço

Quando um único microfone não é capaz de produzir a sonoridade desejada na sua gravação, é possível acrescentar outros mics (de reforço) para captar as diferentes características sonoras que precisam ser reforçadas. Essas técnicas devem ser utilizadas em conjunto com alguma das técnicas principais listadas anteriormente.

1. Para reforçar o "ataque" do bumbo, utilize mais um microfone dinâmico (com boa resposta de frequência nas médias) dentro do bumbo, próximo à pele de ataque e apontando para a maceta. Outra opção seria posicionar um microfone dinâmico (ou a condensador) na pele de ataque do bumbo, apontado para a maceta.


2. Para reforçar o "peso" do bumbo e captar frequências graves que o microfone mais próximo não captará, pode-se utilizar um microfone (dinâmico ou condensador) um a dois metros à frente do bumbo (apontado para o centro). Experimente com diferentes posições e distâncias até encontrar o posicionamento ideal. A dificuldade com essa técnica é o vazamento das outras peças da bateria no microfone do bumbo. Para minimizar esse problema é possível criar um "túnel abafador" (confira no box a seguir).


3. Há também microfones especializados em captar o subgrave (20-40 Hz) do bumbo, que podem ser usados como reforço (como o Sub-Kick da Yamaha, e o Moon Mic DK-27). Esses microfones devem ser posicionados três a cinco centímetros à frente do microfone principal, fora do eixo central do bumbo (para minimizar a captação de agudos). Também é possível criar o seu próprio "microfone" para captar subgraves utilizando um alto-falante. Esse "truque" é utilizado há décadas para reforçar os graves na gravação de um bumbo, e eu irei ensinar vocês a construir um desses em uma edição futura.



TÚNEL ABAFADOR

Para minimizar vazamento das outras peças da bateria no microfone do bumbo e também diminuir o vazamento do bumbo nos microfones das outras peças, é comum o uso de um "túnel abafador" feito com algum material absorvente (espuma, cobertores, cases etc.) cobrindo os microfones.

Essa técnica pode ser especialmente útil quando há microfones posicionados a uma grande distância do bumbo, garantindo menos vazamento e menos problemas de fase. Também é possível utilizar um outro bumbo sem peles como uma "forma" para o túnel e preencher o interior com um cobertor (ou algo do tipo) para minimizar as reflexões internas. Quanto maior for o isolamento dos microfones, mais definido será a sonoridade na gravação.




Na próxima edição vamos continuar com o tema de gravação de bateria, seguindo com caixa e contratempo. Não percam!

Até lá!

Lucas ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC.
Formado em engenharia de áudio pela Sae (School of audio engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools certified operator, apple Logic certified Trainer e ableton Live certified Trainer.

e-mail: lucas@musitec.com.br
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.