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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Aprenda com os DJs
Enrico De Paoli
Publicado em 24/06/2015 - 00h00
Tendo começado minha vida musical aos dez anos de idade sendo um "DJ mirim", me juntando a amigos e pegando os equipamentos de som de nossos pais para prestar serviços de sonorização de festinhas em playgrounds, posso dizer que eu já fui DJ! E então veio o Rock in Rio 1, em 1985, e eu quis também aprender um instrumento, formar uma bandinha e seguir na música, sem nunca ter abandonado a paixão pelo som e pelos equipamentos.

Com o passar da vida, da idade, e das mudanças de mercado na nossa música mundial, temos visto os DJs, que na minha época eram "os garotos que colocavam som em festinhas" (e muitas vezes tinham que ficar escondidos para não atrapalharem o visual das mesmas), se tornarem artistas. E muitas vezes artistas que atraem públicos gigantescos em festas e eventos ao redor do planeta. Esse sucesso mostruoso certamente gerou, em muitos casos, partes e lugares, antipatia, inveja, discórdia ou qualquer outra palavra que sugira reprovação da classe DJ.

Vou fazer uma breve analogia. Um dos maiores produtores de discos da história do mundo, Sir Richard Perry, com quem trabalhei na gravação e produção de um álbum do Ray Charles em 1992 e 1993, não era instrumentista. Sim, eu disse, este que foi considerado o maior produtor de hit singles com artistas (grandes) diferentes, não tocava nenhum instrumento. Ué... mas como assim? Ele era um megaprodutor sem tocar nenhum instrumento? Sim. E não fui eu quem deu este título a ele. Ele foi reconhecido pela indústria desta forma. E trabalhando com ele eu aprendi a diferença entre músico e instrumentista.

O fato do Sir Richard Perry não tocar nenhum instrumento não o fazia deixar de ser músico. Com seus ouvidos ímpares e sensibilidade musical rara, ele alcançou resultados sônicos e musicais em seus álbums com cantores como Barbara Streisand, Carly Simon, Rod Stewart, Art Garfunkel e Ray Charles (estes dois últimos discos em que eu tive a sorte de ser seu engenheiro de música e programador de synths). Tendo dito isso, vemos diversos bons músicos, ou melhor, bons instrumentistas, que produziram discos e talvez não tenham conseguido a magia dos projetos deste "produtor que não sabe tocar nada".

Voltando ao "caso dos DJs", claro que em todas as áreas no mundo existem profissionais, marcas e produtos que se destacam, e outros que talvez não impressionem muito. Mas se analisarmos os avanços da música pop mundial, e, com isso, o surgimento de novas sonoridades e métodos de produção de música, mais do que definitivamente não podemos desconsiderar os DJs. Fingir que eles não existem é algo no mínimo não inteligente de se fazer. A música pop tomou novos caminhos, gostemos ou não. Tomou novas formas e alcançou novos sons.

"Sim, mas os DJs não tocam!" Bem, poderíamos ficar horas aqui. Tá... eles não tocam um instrumento como um violino ou um piano. Mas, e se seus Macs e Launchpads forem considerados instrumentos? Ok... mas não saem notas dali! Ué, saem colagens! Saem bumbos, caixas, baixos eletrônicos e, por que não, riffs de pianos e outros mil eventos musicais e sônicos. Sim, sim, sim, mas alguns DJs não fazem nada além de apertar o play em um CD. Concordo, mas quem aqui disse que todos merecem o mérito de produtores? Fato é que, se ouvirmos a música pop de hoje em dia, veremos que ela tem um mar de informações sônicas e musicais, seja por notas de uma guitarra, seja por baterias tocadas em pads com as pontas dos dedos, seja por vocais gravados, regravados, processados e modificados, e então encaixados naquele lugarzinho da música que finalmente vai levantar os pelos dos braços ou botar milhares de pessoas em estado de êxtase em uma festa de grande porte.

Da mesma forma que há produtores que são instrumentistas virtuosos e outros que não tocam, existem discos que têm resultados incríveis e outros que nem tanto. Existem shows que acontecem, outros que não dizem por que estão alí. Existem técnicos de som que apertam botões e olham o relógio loucos pra irem logo embora, e outros engenheiros de música que, talvez sem tocarem uma nota, fazem aquelas notas gravadas ganharem vida, ouvintes e arrepios! Existem os DJs que apertam o play, e outros que fazem colagens com uma musicalidade tão moderna talvez jamais ouvida antes. E quem trabalha para a música, seja engenheiros de música, produtores ou DJs, merece todos os créditos das emoções que suas músicas geram nos braços arrepiados ao redor do mundo.

Divirtam-se! Até mês que vem.

Enrico De Paoli é músico, ex-DJ (por que não?!) e engenheiro de música. Grava, mixa, masteriza e produz com um único resultado em mente: o que os eventos sônicos da músicas causam em seus ouvintes. Para mais informações sobre sua discografia e seus treinamentos Mix Secrets, visite www.EnricoDePaoli.com.
 
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