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Revista Luz & Cena
Notícias do front
Equalizadores e equalização
Parte 1
Renato Muñoz
Publicado em 18/05/2015 - 00h00

Equalizadores foram desenhados para trabalhar diretamente no volume de frequências escolhidas pelo engenheiro de som. Diminuindo ou acrescentando volume das determinadas frequências, consegue-se chegar a um resultado sonoro desejado, mas estas alterações também podem afetar a relação de fase das frequências em questão.

Sendo assim, devemos levar em consideração que podemos estar consertando o sinal de áudio de um lado e estragando de outro. Sempre é importante checarmos como é a sonoridade do sinal em questão com e sem equalização, e a melhor maneira de se fazer isto é utilizando o Bypass do equipamento.

Podemos notar uma grande diferença de sonoridade entre equalizadores (sem levar em consideração ruídos ou outros problemas técnicos). Isto acontece porque o desenho do equipamento pode ser considerado mais "musical" ou mais "natural" do que outros.

A melhor maneira de sabermos o valor de um equalizador é quando depois de fazer mudanças radicais no som do sinal em questão o resultado sonoro não parece artificial e nem que foi modificado, além, é claro, de não termos problemas com ruídos ou perda no sinal.

Um outro aspecto importante quando falamos sobre equalizadores é a maneira como nós ouvimos os sons. É sabido que não ouvimos igual todas as frequências. Somos mais sensíveis às médias do que às baixas e altas frequências. Isto é algo ao qual nos acostumamos desde o nosso nascimento.

UM POUCO DE PRÁTICA

Quando você for utilizar um equalizador, sempre cheque a sonoridade do instrumento em questão dentro de um contexto geral, ou seja, você pode começar a equalização com o instrumento em solo, porém sempre é bom ouvir com todos os outros instrumentos tocando ao mesmo tempo dentro da mixagem.

Normalmente utilizamos o equalizador mais para tirar do que colocar volume nas frequências. O nosso ouvido é mais tolerante a cortes do que a acréscimos. Durante a mixagem podemos chegar a uma sonoridade mais agradável se no geral cortarmos mais frequências do que acrescentarmos.

A equalização, ou a falta dela, vai depender muito do estilo musical com o qual você está trabalhando. Na música clássica, que é mais purista, normalmente não se usa nenhuma equalização, enquanto que, no jazz, normalmente filtros são usados apenas para "limpar" o som. Já na música pop a necessidade de criar novos sons passa pela utilização do EQ.

Além de criar sons diferentes, a equalização também pode ser muito bem utilizada para distinguir instrumentos dentro da mixagem. Se temos, por exemplo, dois violões tocando a mesma linha, podemos mudar a equalização de um deles para que soem diferentes. Está técnica funciona tanto dentro do estúdio quanto ao vivo.

FALANDO SOBRE EQUALIZADORES

O equalizador foi desenvolvido pela indústria de telefonia, que, nos seus primórdios, tinha muitos problemas com a inteligibilidade do sinal de áudio. Grandes distâncias tinham que ser percorridas, e como os equipamentos eram muito rudimentares, a qualidade sempre ficava comprometida.

Desde então, o equalizador é utilizado basicamente com duas finalidades: a primeira continua sendo fazer modificações no sinal de áudio para melhorar a sua inteligibilidade, e a outra forma de utilização tem como objetivo modificar o seu som original, criando, assim, novas sonoridades.

Não importa para qual finalidade será utilizado o equalizador: primeiro temos que decidir com qual tipo de equalizador iremos trabalhar, e, mais importante ainda, saber como utilizar o equipamento escolhido. Como veremos, as possibilidades de escolha são grandes e os problemas também.

Uma coisa interessante sobre equalizadores é que nem sempre precisamos usar um quando queremos fazer algum tipo de "correção" sonora. Como veremos, existem algumas formas de fazer esta "correção", ou modificando diretamente na fonte sonora ou na escolha do microfone e definição de seu posicionamento.


EQUALIZANDO SEM EQUALIZADORES

Pode parecer um pouco estranho, porém, como estamos falando sobre equalizadores, é bom que fique claro que nem sempre precisamos de um equalizador para se chegar a um som desejado. Existem algumas técnicas bem simples que podem nos fazer economizar tempo e a utilização de um equalizador.

Estas técnicas vêm da época em que os equalizadores ainda eram muito escassos nos estúdios e, além do mais, inseri-los dentro do sinal de áudio podia gerar ou ruídos indesejados ou a própria perda no sinal de áudio. Sendo assim, os engenheiros sempre optavam por "equalizar" o som antes.

A afinação do instrumento (principalmente os de percussão) pode ser uma forma de equalizar sem utilizar equalizadores. Podemos conversar com o músico e passar as nossas necessidades de timbres, e com um pouco de experiência ele pode perfeitamente chegar a um resultado que nos ajude.

A escolha do microfone é muito importante quando estamos tentando "equalizar sem um equalizador". Microfones possuem características sonoras diferentes, que se aplicam a fontes sonoras diferentes. Se conseguirmos casar um com outro, certamente o resultado sonoro será mais fácil de ser atingido (sem a utilização do equalizador).

Finalmente, temos o posicionamento do microfone. Dependendo da posição (distância e angulação) do microfone em relação à fonte sonora podemos ter resultados sonoros bastante diferentes com o mesmo microfone. Por isso é sempre bom testar posições diferentes antes de usarmos o equalizador.



UM POUCO DE INTELIGIBILIDADE

A boa inteligibilidade permite que nós tenhamos um perfeito entendimento do que está sendo reproduzido pelo sistema de sonorização. A inteligibilidade perfeita é o que todos técnicos procuram atingir - caso contrário, a plateia terá dificuldades em compreender o programa que está sendo executado.

Nada mais problemático do que assistir a um show musical, uma palestra ou a um culto religioso sem compreender o que está sendo reproduzido pelo sistema de sonorização. Entre outros problemas decorrentes disso, a plateia pode simplesmente perder o interesse pelo que está acontecendo no palco.

Alguns fatores podem contribuir, e muito, para problemas referentes à inteligibilidade: uma fonte sonora ruim, uma microfonação equivocada, uma acústica ruim, a falta de habilidade do técnico em trabalhar corretamente com os equipamentos do sistema de sonorização etc.

Para mim, não existe exemplo melhor de problemas com a inteligibilidade do que assistir a uma missa celebrada por um padre já de mais idade, com um grande sotaque do leste europeu, dentro de uma igreja católica que foi projetada para missas cantadas, e não faladas.

Com um pouco mais de experiência, começamos a notar que uma determinada faixa de frequências influencia diretamente na inteligibilidade do programa. Se soubermos trabalhar da forma correta nesta região de frequências, certamente conseguiremos uma boa resposta do sistema.

O equalizador é o instrumento que utilizamos para fazer as correções necessárias no sinal de áudio para que a tal inteligibilidade seja atingida. Estas correções podem variar de um simples filtro até a utilização de mais de um equalizador para chegar à sonoridade desejada.

É bom que se fique claro que nem sempre a equalização será a salvadora da pátria. Existem problemas sérios, principalmente os de acústica, que podem ser até certo ponto "mascarados" com uma boa equalização e outras técnicas dentro do sistema de sonorização, porém nunca resolvidos por completo.

FREQUÊNCIAS

Se vamos falar sobre equalizadores é claro que temos que falar sobre frequências. Para os profissionais de áudio existe um pouco a mais do que graves, médios e agudos. Não podemos ser tão simplistas e ficar limitados a estas três regiões, porém é sempre bom sabermos por onde começar.

Nós só conseguimos ouvir frequências começando a partir de 20 Hz (20 vibrações por segundo), porém o nosso corpo pode "sentir" frequências mais baixas. As frequências mais altas que ouvimos chegam a 20 mil vibrações por segundo, 20.000 Hz, ou 20 kHz, de forma abreviada, utilizando o k como abreviação de "mil".

Todos nós ouvimos ou deveríamos ouvir sons entre 20 Hz e 20 kHz. É claro que isto vai depender da nossa idade, de como cuidamos da nossa audição e de outros fatores fisiológicos sobre os quais não temos muito controle. O que é importante é que os profissionais de áudio devem conhecer as frequências sonoras como a palma das suas mãos.



Isto significa que, ao ouvirmos um instrumento, uma ressonância ou uma microfonia, devemos automaticamente saber em qual região de frequência está atuando. Assim poderemos fazer as correções necessárias rapidamente, e só existe uma forma de fazermos isso: termos um ouvido bem treinado e experiente.

Existe uma divisão do universo de frequência que nós ouvimos em subgraves, graves, médios-graves, médios-agudos e agudos, o que facilita muito o nosso trabalho. As frequências escolhidas não seguem um padrão universal, porém são quase sempre as mesmas ou frequências bem próximas.

Além de um bom ouvido treinado, nada nos impede de utilizarmos algumas ferramentas para ajudar no nosso trabalho. Uma das melhores é certamente o Smaart, que entre várias de suas funções possui um excelente analisador gráfico, capaz de mostrar em tempo real como as frequências estão se comportando.

Renato Muñoz é formado em comunicação Social e atua como instrutor do Iatec e técnico de gravação e Pa. Iniciou sua carreira em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank.
e-mail: renatomunoz@musitec.com.br
 
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