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Revista Luz & Cena
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Equipamentos para um home studio
Conexões Digitais (Parte 1): Tipos de conexões
Lucas Ramos
Publicado em 01/02/2015 - 00h00
Na edição passada nós terminamos de falar sobre os cabos e conexões analógicas. Então nada mais natural do que seguir falando sobre as conexões digitais, para entender as diferenças, vantagens e desvantagens. Também vamos conhecer os diferentes tipos de conexões digitais encontradas nos equipamentos de áudio.

ANALÓGICO VS. DIGITAL

A primeira coisa a se indagar é "por que utilizar conexões digitais em seu home studio?". Qual a vantagem? Há duas características das conexões digitais que se sobressaem:

1. A capacidade de transmitir múltiplos canais de áudio em um único cabo.
2. A fidelidade da transmissão, pois sinais digitais não sofrem nenhuma perda.

Todos os tipos de conexões digitais permitem transmitir múltiplos canais simultaneamente em um único cabo (até 64!). Isso diminui a quantidade de cabos no estúdio, minimizando o risco de criar "ninhos de rato". Além disso, simplifica as ligações, pois você não precisará organizar tantas conexões.

A outra grande vantagem das conexões digitais é que não há perda na transmissão dos sinais. Como o áudio digital é codificado em bits (0 ou 1), não há como haver perda do sinal ao longo dos cabos, como pode ocorrer com as conexões analógicas. Isso significa que você pode fazer quantas conexões diferentes quiser com o sinal que ele continuará sendo fiel ao original.

Porém, nem tudo são flores, e as conexões digitais dependem de uma boa conversão de analógico para digital para garantir um sinal de qualidade. E conversores de qualidade costumam ser caros. Assim, se você tiver um pré-amplificador mais barato com saídas digitais (além das analógicas), a tendência é que o conversor não será de alta qualidade e o sinal digital será inferior em qualidade ao sinal analógico. Nesse caso, seria melhor manter o sinal analógico até a entrada da sua interface de áudio, que costuma ter conversores de melhor qualidade.

Mas as entradas digitais costumam ser utilizadas para ampliar o número de entradas e saídas de um sistema de gravação. A maioria das interfaces de áudio, hoje em dia, possuem entradas digitais além das analógicas, e com isso é possível obter mais entradas e saídas. É bastante comum, em home studios, o uso de um pré-amplificador de oito canais com saídas digitais, entrando na interface através de uma conexão ADAT Lightpipe (ou MADI). Assim você "ganha" oito canais de gravação com um único cabo fazendo a ligação.


Vamos, a seguir, conhecer melhor os tipos de conexões digitais mais utilizados nos equipamentos de áudio.

S/PDIF

O padrão S/PDIF foi criado pela Sony em parceria com a Phillips, e permite transmitir dois canais de áudio por cabo. Esse tipo de conexão é encontrada em muitos equipamentos de consumidor (CD player, DVD player etc.), mas também pode ser encontrada em equipamentos de áudio profissional, geralmente com o intuito de ser utilizado para a ligação de tais equipamentos de consumidor.

O cabo utilizado é não-balanceado com conectores RCA. Porém, apesar da aparência ser idêntica, não se dever utilizar cabos RCA para ligações S/PDIF. Os cabos S/PDIF têm uma impedância específica de 75 Ω (geralmente mais alta que os cabos comuns), e os conectores costumam ser de qualidade superior. Há também uma versão do S/PDIF que utiliza um cabo de fibra ótica e conectores Toslink nas pontas (assim como o padrão ADAT Lightpipe), e permite utilizar cabos mais longos sem a indução de ruídos no sinal.


AES/EBU

O padrão AES/EBU foi criado pela AES (Associação de Engenheiros de Áudio) em conjunto com a EBU (União Europeia de Radiodifusão) para padronizar um formato de transmissão de áudio digital profissional. Esse tipo de conexão é capaz de transmitir dois canais de áudio em um único cabo, e é encontrado em diversos equipamentos de estúdio - de interfaces de áudio a pré-amplificadores.

O cabo utilizado é balanceado, com conectores XLR nas pontas. Porém, apesar da aparência ser idêntica, não se dever utilizar cabos XLR para ligações AES/EBU. Os cabos AES/EBU têm uma impedância específica de 110 Ω (geralmente mais alto que os cabos comuns) e os conectores costumam ser de qualidade superior. Inclusive, por essas razões, muitos engenheiros de áudio preferem utilizar cabos AES/EBU para suas ligações analógicas, pois, apesar de mais caros, garantem um sinal mais limpo.



S/PDIF VS. AES/EBU

Ambos os formatos transmitem dois canais de áudio, porém há uma enorme diferença entre S/PDIF e AES/EBU. Primeiramente, os conectores e tipo de cabos são distintos. Além disso, AES/EBU é uma conexão balanceada, que minimiza a indução de ruídos no cabo, especialmente em longas distâncias.

Mas a maior diferença é que o S/PDIF respeita os sistemas de proteção anticópia (como SCMS), o que significa que não será possível copiar o sinal gravado (com esse tipo de proteção). Isso pode ser um problema para a maioria dos profissionais do áudio, e por isso o formato AES/EBU é considerado mais profissional.

Portanto, se a sua conexão for curta e não houver proteção anticópia no sinal, S/PDIF está de bom tamanho. Se a conexão for longa e/ou houver proteção anticópia no sinal, AES/EBU é mais recomendado.

ADAT LIGHTPIPE

O padrão ADAT Lightpipe foi criado pela empresa Alesis (criadora do ADAT) como uma conexão digital para as máquinas de ADAT, que gravavam oito canais em uma fita digital. Esse tipo de conexão é capaz de transmitir até oito canais de áudio em um único cabo (até 48 kHz). O cabo utilizado é de fibra ótica, com conectores Toslink nas pontas. Pela praticidade de transmitir oito canais em um único cabo, o formato ADAT Lightpipe se tornou o padrão para conexões digitais nos equipamentos de áudio, e pode ser encontrado em muitos pré-amplificadores e interfaces de áudio.


MADI

O padrão MADI também foi criado pela AES para padronizar um formato multicanal de transmissão de áudio digital profissional. Esse tipo de conexão permite transmitir até 64 canais em um único cabo (até 48 kHz). Há dois tipos de conexão MADI: um utiliza um cabo de fibra ótica com um conector especial e o outro utiliza um cabo coaxial com conectores BNC. Pelo alto número de canais transmitidos por cabo, o padrão MADI tem consquistado muito espaço no mercado, e hoje é comum ver esse tipo de conexão em mesas e interfaces com um número elevado de entradas e saídas.



Sincronismo Digital

Toda conexão digital necessita ser sincronizada para poder funcionar corretamente. Sem sincronismo, haverá muito ruído digital (clicks e pops) no sinal, impossibilitando a sua utilização. Mas não se preocupe, pois o sincronismo de sinais digitais é bem simples e fácil de executar.

Como todo sistema de sincronismo, é preciso designar um único equipamento como o "mestre" (ou master) do sincronismo. Os outros equipamentos ligados no mesmo sistema serão todos "escravos" (ou slave). Só pode haver um "mestre" por sistema. Para designar os equipamentos como "mestre" ou "escravo", é necessário localizar o botão de sincronismo (sync ou clock) e escolher a devida posição (mestre ou escravo). Algumas interfaces utilizam um software de gerenciamento, e muitas vezes essa escolha tem que ser feita no software (não há botão na interface em si). Seja como for, escolha como "mestre" o equipamento mais confiável e de maior qualidade do seu sistema (na maioria dos casos, a própria interface de áudio) e defina o resto como escravo.

Também pode ser necessário escolher o mesmo sample rate (taxa de amostragem) em todos os equipamentos do mesmo sistema digital. Se estiver trabalhando em 44.100 Hz, então todos os equipamentos devem estar selecionados em 44.100 Hz. Caso contrário, haverá ruído digital (clicks e pops) no seu sinal.


Até o nosso próximo encontro!

Lucas ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC.
Formado em engenharia de áudio pela Sae (School of audio engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools certified operator, apple Logic certified Trainer e ableton Live certified Trainer.
e-mail: lucas@musitec.com.br
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.