Nos últimos anos, publicamos diversas matérias sobre a sonorização do carnaval do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí. Neste ano, no entanto, falaremos sobre o desfile das escolas de samba do carnaval de São Paulo, realizado no Sambódromo do Anhembi.
Responsável pela sonorização da festa, que em 2014 ocorreu nos dias 28 de fevereiro e 1 de março, a locadora paulista Tukasom Audio Systems, de Armando Baldassarra, o Tuka, disponibilizou alguns dos diversos equipamentos adquiridos em seu mais recente upgrade, feito há alguns meses.
Dentre as novidades, comentadas por Cotô Guarino, Fábio Bispo e Lucas Gondim, que fizeram parte da operação, gerenciada pelo próprio Tuka, estiveram os sistemas JBL Vertec VT 4889-1 e os consoles Soundcraft Vi6. Em depoimentos exclusivos à AM&T, o trio revelou detalhes sobre a mixagem e a distribuição de som, a captação de instrumentos e o gerenciamento de sinais RF.
CONCENTRAÇÃO E DISPERSÃO TÊM LINE ARRAYS JBL VERTEC
Para sonorizar a concentração - espaço também chamado de "esquenta" - e a dispersão, ou seja, extremos opostos da avenida, foram disponibilizados dois line arrays JBL, sendo cada um composto por 24 elementos VT 4889 DP-DA, sendo 12 por lado, empurrados por amplificadores Crown i-Tech 4x3500HD.
Voltado para fora do percurso, o line da concentração preparava e "chamava" os integrantes das escolas, que entravam em alas na avenida, enquanto que o sistema utilizado na dispersão, também voltado para fora da passarela, marcava as saídas das escolas, mantendo seus ritmos, para que seus integrantes não "desmontassem" na saída do percurso.
"Durante o desfile em si, esses sistemas, de grande potência por conta de sua construção [cada elemento conta com dois falantes de 15", quatro falantes de 8" e três drivers com membrana de beryllium], eram desligados. Na verdade, eles eram utilizados somente no início e no fim dos desfiles. Nada além disso", explicou Cotô.
DELAYS RECEBEM JBL E ARQUIBANCADAS FICAM COM DAS, EAW E FZ
Ao longo de toda a avenida, em colunas de sustentação, foram distribuídos 53 pontos de delay. Esses pontos, que se intercalavam entre os lados direto e esquerdo do percurso, tinham, entre si, dez metros de distanciamento, totalizando cerca de 600 metros de extensão.
Neste ano, cada um deles recebeu um elemento JBL Vertec VT 4889-1, voltado para a sonorização exclusiva da avenida, e diversos outros tipos de caixas, como as DAS Aero 50, utilizadas na cobertura da arquibancada monumental; as EAW KF760, para as arquibancadas menores, e as FZ J08A, para os camarotes da prefeitura e dos patrocinadores da festa.
"O distanciamento entre essas colunas, tecnicamente falando, não foi o ideal, pois oferecia risco de cancelamento de frequências, principalmente as baixas [frequências]. Seria melhor se fossem mais próximas umas das outras. No entanto, não tivemos grandes problemas, e com os delays bem alinhados, tudo saiu como o planejado", disse Cotô. "O mérito foi de Alexandre 'China' Choi, um especialista no assunto, que, diante de uma [mesa] PM1D, da Yamaha, fez ajustes preciosos, de cinco em cinco metros, totalizando cerca de 120 programações", completou.
CAMINHÕES UTILIZAM CONSOLES SOUNDCRAFT
Os desfiles das escolas contavam ainda com o som dos caminhões, que "passeavam" pela avenida em meio aos integrantes das agremiações. Os três veículos, que faziam uma espécie de rodízio - enquanto um preparava o "esquenta", outro desfilava e o terceiro "descansava" -, eram idênticos em suas configurações. Todos dispunham de dois elementos JBL VT 3889 DP-DA, posicionados às suas frentes, e um console Soundcraft Si Performer 2. Em cada carro havia uma equipe composta por um técnico de mixagem, dois assistentes, um supervisor de montagem e dois profissionais responsáveis pelo cabeamento das escolas.
"Foi preciso ensaiar muito para que, na hora dos desfiles, não houvesse nenhum tipo de problema. Com os assistentes, por exemplo, definimos a ordem do cabeamento, por exemplo, que começava pelo AC, passava pelo multicabo e terminava na fibra ótica. Se algo fosse ligado ou desligado fora da ordem estabelecida, poderia haver estalos, que se reproduziriam por toda a extensão dos delays, mas, felizmente, não passamos por isso", disse Cotô.
"As frentes dos caminhões, que entravam na avenida logo depois das baterias das escolas, atuavam como grandes monitores para os mestres [de bateria]. Já os instrumentistas, que desfilavam em cima dos veículos, se ouviam por meio de monitores de chão. Para que o som [dos caminhões] não se misturasse ao das caixas de delay, as caixas eram atenuadas nos pontos de passagem do veículo", completou ele.
CAPTAÇÃO TEM SENNHEISER, DPA E COUNTRYMAN
As mixagens de som dos veículos eram feitas a partir de oito canais destinados aos puxadores das escolas, que utilizavam microfones sem fio Sennheiser SKM2000; seis canais para instrumentos de harmonia, tais como violinos, violões, teclados e cavaquinhos, dentre outros, geralmente captados por direct boxes; sete canais para percussão, sendo três destes, em grande parte das situações, destinados aos surdos, captados pelos CountryMan B3, e quatro canais de over all, captados por microfones DPA IMK4061, instalados em varas de boom, além de diversos canais de standby para eventuais necessidades.
De acordo com Fábio Bispo, coordenador de captação de áudio das baterias, Tuka exigiu que os surdos tivessem captação close, por isso foi preciso prendê-los, juntamente a seus transmissores, nos corpos destes instrumentos. Por serem à prova d'água, os B3 resistiram perfeitamente às fortes chuvas que caíram durante os dois dias de desfiles.
"Quanto aos overs", disse ele, "os distribuímos da seguinte maneira: uma unidade à frente da bateria, captando tamborins e ganzás; outra contendo dois microfones, no meio dela, pegando repiniques, e, por fim, uma terceira unidade, ao fundo, captando das caixas".
CUIDADOS COM CAPTAÇÃO E TRANSMISSÃO ASSEGURAM QUALIDADE
Cotô disse ter sido importante manter a comunicação com os operadores de boom durante os desfiles, pois, segundo ele, qualquer descuido na condução das varas de sustentação dos microfones poderia prejudicar a mixagem dos instrumentos rítmicos, tradicionalmente em maior número que os de harmonia.
"Numa captação de over, às vezes chegar um pouquinho para o lado já muda o som por completo. É preciso estar atento a isso, pois é um tipo [de captação] diferente. Não é tão direcional. Com o contato direto com esses homens, poderíamos, se necessário, corrigir algo, como, por exemplo, uma falha de posicionamento. Mas não foi preciso nada disso. Deu tudo certo mesmo", disse.
SISTEMA DE RF RECEBE CUIDADOS ESPECIAIS
Em cada caminhão, havia, aproximadamente, 20 sistemas de transmissão sem fio, divididos entre microfones e IEM para os intérpretes e bodypacks para os microfones da bateria. Para que cada caminhão operasse em frequência diferente dos demais, foram utilizadas, ao todo, 60 frequências.
O maior desafio da operação, no entanto, foi, de acordo com Lucas Gondim, responsável pela coordenação dos RF, manter todas as frequências coordenadas livres de interferências externas, ou seja, livres de todos os sistemas sem fio que estivessem sendo usados nos diversos setores da avenida, como, por exemplo, camarotes, bares e cabines de rádio e TV, com exceção da Rede Globo, que forneceu as frequências da reportagem antecipadamente.
A solução encontrada, disse ele, foi triar, catalogar e coordenar, no dia anterior ao desfile, mais de 70 frequências distribuídas ao longo da avenida. "Isso nos deu uma maior tranquilidade e garantiu que os caminhões pudessem passar pela avenida durante o desfile sem o risco de sofrer interferência de outros equipamentos", contou.
NASA, OU MELHOR, CENTRAL TÉCNICA
Grande parte da operação de áudio do carnaval de São Paulo se deu no interior da Central Técnica Tukasom, carinhosamente apelidada pela equipe da locadora de "Nasa". Localizado bem próximo ao recuo de bateria, que fica no centro da avenida, o ambiente esteve munido, dentre outros equipamentos, de uma série de consoles Soundcraft.
Para a mixagem analógica da avenida, por exemplo, havia uma Vi6. Para a troca de multicabo, estava disponível uma Vi1, expandida com stage box da Vi6. Uma outra Vi1, expandida com um Compact Stage Box, destinava-se à gravação e mixagem de broadcast, enquanto que uma Vi4 servia, a todo tempo, de backup do áudio digital que trafegava via fibra ótica (MADI). Além delas, que contavam, ainda, com monitoração bi-amplificada JBL LSR2325P, duas Expression 1 eram usadas para a comunicação das equipes, a mix exclusiva dos camarotes e alguns trechos de arquibancada.
Acostumado a fazer o carnaval com as Yamaha, utilizadas em algumas das edições anteriores da festa, Cotô não teve dificuldades em operar as Soundcraft. Para ele, as mesas, donas de características britânicas, mostraram boa sonoridade e uma boa "pegada". "Foi ótimo! As mesas têm um jeito diferente de trabalhar, mas são muito práticas. Sem contar que têm uma excelente resposta e são bem intuitivas", afirmou.