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Revista Luz & Cena
DVD
Raio-X Iluminado
DVD de Isabella Taviani tem cenário feito por fãs da cantora
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 01/02/2014 - 00h00
Glaucio Ayala
 (Glaucio Ayala)
Comemorando dez anos de carreira, a cantora e compositora Isabella Taviani gravou, no dia 26 de setembro passado, seu segundo DVD. Eu Raio-X, o show, que também dá nome ao CD lançado por ela em 2012, teve projeto de luz de Rogério Wiltgen, cenografia de Sergio Marimba, direção de imagens a cargo da Drive Filmes e será lançado pelo Canal Brasil.

Registrado no Centro Cultural João Nogueira - antigo Imperator, tradicional casa noturna situada no Méier, zona norte do Rio de Janeiro -, o espetáculo contou basicamente com o cenário que Isabella vinha utilizando na turnê do disco. No entanto, outros "setores" do espetáculo, tais como o roteiro e a iluminação, sofreram algumas modificações.

"Tivemos que interferir, ainda que em pequena parcela, na forma como a luz se comportaria durante o espetáculo. Afinal de contas, naquele momento, o motivo maior era o registro [do DVD]. Tentamos preservar as características originais, sugerindo somente o que fosse necessário para nosso trabalho não correr riscos", disse, na ocasião, André Aquino, um dos diretores do trabalho.

Para registrar o material foram utilizadas câmeras distintas, como, por exemplo, Canon 5D Mark III e Sony PMW-200, entre outras. Mas a diferença de fontes captadoras não foi, ainda de acordo com a direção do projeto, um problema. "Fizemos testes antes da gravação para entender melhor a relação entre essas câmeras e notamos que, apesar de diferentes, no geral, promoviam imagens semelhantes", completou Glaucio Ayala, diretor geral.

CENÁRIO CONSTRUÍDO "EM PARCERIA" COM FÃS

Além dos músicos que a acompanham na estrada, os fãs de Isabella também estiveram "em cima" do palco com a cantora. Criado pelo cenógrafo Sérgio Marimba, o cenário utilizado na gravação do DVD, bem como em todos os shows que antecederam o registro, foi composto por cerca de mil e quinhentas radiografias, cedidas por integrantes de fã-clubes e admiradores de seu trabalho.

De acordo com Isabella, que demonstrou grande carinho pelo "mobiliário", estes raios-X foram enviados à sua produção pelo correio, depois de uma campanha realizada em redes sociais.


PROJETO DE LUZ ADAPTADO PARA GRAVAÇÃO

O rider de luz do show, desenhado por Rogério e utilizado na gravação do DVD, foi alimentado por um mix de equipamentos que pertenciam ao Imperator e à locadora Cia da Luz. De propriedade da casa foram usados, dentre outros, 36 lâmpadas PAR 64 foco 1, 26 PAR 64 foco 2, 40 PAR 64 foco 5, oito elipsoidais ETC 19 graus, oito elipsoidais ETC 26 graus, 12 ribaltas de LED RGBW e dois canhões seguidores, além de um console Avolites Pearl 2010. Da locadora carioca, que cedeu os extras, foram usados quatro moving lights DTS XR 2000 Beam, dez DTS XR 1200 Wash, 11 VL 3000 Spot, dez ribaltas dicroicas e quatro pontos de raio laser azul 500 mW, além de gelatinas nas cores âmbar e azul, para as PAR, e quatro estruturas Q30 de um metro, cada.

O rider foi disposto da seguinte maneira: ao teto e ao fundo do palco, numa única vara, estiveram as PAR foco 1, que foram distribuídas em grupos de seis unidades cada. Em outras duas varas, à frente desta que sustentava as PAR, estiveram algumas unidades dos aparelhos DTS e VL 3000, além de alguns elipsoidais. Acima da linha de Isabella, à frente do palco, estiveram as PAR foco 2, distribuídas em quatro grupos de seis unidades cada, e outros elipsos, além de um único Beam DTS, enquanto que, acima da plateia, voltadas para a frente do palco, estavam mais quatro grupos, contendo, cada um, seis PAR foco 5 e oito elipsoidais. No balcão, mais quatro grupos de quatro PAR foco 5 completavam o "teto".

No chão, ao fundo palco, iluminando o cenário, foram posicionadas as ribaltas de LED, em uma única linha, enquanto que, ao lado de três praticáveis que sustentavam os músicos da banda de apoio de Isabella, outra "linha" de equipamentos contava com os já citados Wash DTS e VL. Por fim, à frente da cantora, estavam as ribaltas de dicroicas.

O projeto usado na gravação do DVD foi uma adaptação do mapa desenhado pelo próprio Wiltgen meses antes do registro. De acordo com ele, o rider anterior contava com elementos como minibruttes e aparelhos Wash 575, Giotto 400 e luz negra tipo wild fire, entre outros. Tanto na turnê quanto na gravação do DVD a predominância por luzes azuladas se fez valer. Presente na frente e no ciclorama, o tom se tornou praticamente uma marca do projeto.



SETUP E POSICIONAMENTO DE CÂMERAS BEM PENSADOS

Para captar as imagens do DVD, a equipe da Drive Filmes, que teve suporte técnico da Trovão Filmes, utilizou 11 operadores de câmera, que trabalharam com modelos como 6D e 5D Mark III, da Canon, e PMW-EX3 e PMW200, da Sony. As Canon foram distribuídas entre operadores que trabalharam em meio ao público, em cima do palco e em dois praticáveis de frente para ele, enquanto as Sony serviram ao travelling - o modelo PMW200 - e à cammate (EX-3).

Ferraro Borchetta, que operou a PMW200, destacou que a câmera tem importantes diferencias se comparada a modelos semelhantes. "A PMW200 gera um arquivo em ProReis 422 que contém mais informação que os demais, ou seja, tem mais textura e mais cor. É uma câmera de vídeo que, apesar de não estar ainda 'no mercado', é, indiscutivelmente, uma boa pedida", justificou, na ocasião, o operador de travelling.

"A EX-3, que foi usada na cammate, também cumpriu bem seu papel, sem maiores surpresas, afinal de contas, trata-se de uma câmera estabelecida, bastante usada em produções do gênero. A opção por ela se deu em função da possibilidade do controle de íris e zoom pelo operador. Sem contar que, por ter um sensor menor, oferece menos desfoque, o que é ideal para uso neste equipamento", completou ele.

Quem também emitiu sua opinião foi Alonso Martinez, que durante o show operou uma das unidades da Canon, captando imagens da coxia, especialmente do baterista e do baixista de Isabella. Segundo ele, "as 5D, principalmente, pela relação investimento/retorno, são as câmeras ideais para projetos desse tipo. Até mesmo pela ergonomia", disse.

"O legal de trabalhar com câmeras como a 6D e a 5D Mark III é que elas, além de terem um look interessante, que não entrega tanto o 'vídeo', gravam cerca de 30 minutos sem a necessidade de renovar o Rec. Essa função já as difere, por exemplo, das Mark II, que necessitam de maior atenção quanto a isso durante as filmagens", emendou Sergio Guimarães, que operou uma Mark III da lateral do palco.

Tanto as Canon quanto as Sony foram monitoradas pela direção da Drive Filmes por meio de um sistema de gerenciamento da BlackMagic via HDMI/SDI. "Algumas destas câmeras, como, por exemplo, as Canon tiveram seus sinais convertidos de HDMI para SDI, enquanto as Sony tiveram seus sinais enviados diretamente, sem necessidade de conversão", explicou Glaucio Ayala.

STEADYCAM EM LINGUAGEM DE VIDEOCLIPE

Além das imagens captadas ao vivo, após o show foram registrados, por meio de um steadycam, takes de Isabella. As imagens foram captadas para a edição da música Eu Raio-X. A necessidade de se fazer o registro depois da apresentação se deu em função de duas questões: o operador de steady precisou subir ao palco para captar a cantora bem de perto e os diretores do DVD queriam, para essa música, em especial, uma edição com uma linguagem de videoclipe.

"Era de nosso desejo um conceito diferente para essa faixa, pois achávamos que merecia esse 'acabamento'. Então, assim que acabou o show, aproveitamos a disponibilidade de Isabella e fizemos os takes", disse André Aquino.


"Com a mobilidade do steady, fizemos o operador rodeá-la durante todo o tempo em que fazia uma espécie de playback da música, pois, para registrar tais imagens, tivemos de usar, naquele momento, o áudio do show, que nos serviu como click para o futuro synch do material", encerrou ele.


Fala, iluminador!
Em entrevista à Luz & Cena, o lighting designer Rogério Wiltgen conta detalhes sobre o projeto de Isabella, para ele, "uma artista visceral, dramática, intensa, multifacetada e multitalentosa"

Luz & Cena: Rogério, fale sobre o conceito de luz do espetáculo. Do ponto de vista da iluminação, o que você, como criador, buscou?

Rogério Wiltgen: No dia em que Isabella me descreveu o projeto deste show, toda a atmosfera da luz me veio à mente. Percebi que ela queria se "descortinar" e expor as suas entranhas para o público, então, para que isso se realizasse, levei ao show movimentos de luzes marcantes e contrastados. Quem também soube tridimensionalisar o que Isabella tinha em mente foi Sergio Marimba, cenógrafo do espetáculo, que criou o fundo do palco com chapas de raio-x e placas de ferro trabalhadas, formando um espaço cênico muito instigante visualmente, que, na verdade, abria um naipe enorme de possibilidades para a iluminação.

Neste show, há muitos momentos visualmente interessantes. Em Eu Raio-X, por exemplo, Isabella queria um efeito de scanner em seu corpo. Tivemos, então, a ideia de usar lasers azuis, que passavam por ela em linhas horizontais. O resultado foi bem impactante. Na verdade, acho que mudanças de cena e movimentos de luz devem ter sempre uma razão para existir, uma contextualização com o espetáculo em si. Particularmente, não gosto de luzes "didáticas". Prefiro as cenas, as pinturas de luz que criam espaços e atmosferas diferentes, colaborando com o espírito do espetáculo. É isso que tento passar nos trabalhos que faço.

L&C: Que cuidados com a luz você teve que tomar por conta da gravação do DVD?

RW: Antes da gravação, tive várias reuniões com a equipe de direção do DVD, nas quais, juntos, buscamos uma linguagem nova para o projeto. Acho que conseguimos um resultado bastante interessante, esteticamente falando, ao optarmos por trabalhar a luz de frente para uma temperatura de cor de 3.200 K, pois quando ajustamos as câmeras para esta temperatura, o branco dos movings, que é de aproximadamente 5.600 K, já ficou com um azulado muito parecido com a cor das radiografias.

Também tivemos atenção com a questão dos movimentos. Explico: quando assistimos a um espetáculo na plateia de um teatro ou de uma casa de shows, nós mesmos somos os editores deste espetáculo, ou seja, decidimos para onde olhar, o que ver. E a luz tem papel fundamental no direcionamento desse olhar, pois é ela quem conduz os olhos do espectador. No caso de um DVD, cabe à edição determinar o que vai ser visto. E como o corte já oferece muito movimento e dinâmica às imagens, é preciso cuidado com os excessos de movimentos. Particularmente, quando se trata de uma gravação ou de uma transmissão, procure sempre ser econômico.

L&C: Fale sobre os equipamentos que utilizou em seu rider. Qual é a sua opinião sobre cada um deles?

Os equipamentos que escolho são somente minhas ferramentas, meus pincéis. O mais importante é como os utilizo. Gosto dos spots Varilite, que têm boa luz, bons gobos e principalmente CMY. Hoje em dia, realmente não consigo mais imaginar movings sem CMY. Quando preciso usar aparelhos com discos de cores, me sinto voltando para a idade da pedra. Não consigo mais ver uma troca de cores sem ser em fusão. E quando não é possível ter aparelhos com este recurso, tenho de ficar mudando minhas cenas para fechar o dimmer dos movings, trocar a cor e abri-los novamente. Não dá! Limita muito.

Gosto de ter beams, mas, na maior parte das vezes, os uso como canhões de contra. Legal tê-los para fazer fachos, como os Locolite e ACL que usávamos, mas, realmente, usá-los como contra é muito legal. Além disso, implico muito com aquela quantidade de fachos riscando o palco sem sentido algum. Me remete ao Pega-Varetas, um jogo de minha infância. Também gosto dos washes, como os DTS 1200; das ribaltas de LED RGBW, que tivemos no rider iluminando o fundo do cenário; dos SetLite e até mesmo das discriminadas PAR 64, ótimas para dar massa à luz, principalmente no preenchimento de contra do palco. Elas são bastante úteis para quem quer quebrar aquela sensação monocórdia de só termos pirâmides e mais pirâmides vindo dos spots.

 
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