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Revista Luz & Cena
Técnicas de Estúdio
SOANDO CADA VEZ MAIS REAIS
Plug-ins que simulam processadores de efeitos, amps e pedais analógicos
Alexandre Cegalla
Publicado em 01/09/2012 - 00h00
Na terceira parte da série sobre plug-ins que simulam o som de hardware, vamos abordar aqueles dedicados a emular amplificadores, pedais e racks de efeitos, além de alguns processadores especiais responsáveis por efeitos únicos. Atualmente, quase todos os DAWs vêm com algum plug-in que simula efeitos, pedais ou amps. O Logic 9, por exemplo, conta com o Amp Designer, o Pedalboard, o Guitar Amp Pro e o Bass Amp (os dois últimos já existiam nas versões anteriores). Já o Pro Tools oferece o Amp Farm, o Sansamp e o Eleven, enquanto o Cubase possui o Guitar Amp Simulator e o Sonar tem o Audio FX-2 e o Amp Sim.

Não nos esqueçamos também dos amps e pedais virtuais do Garage Band e do TSE X50. Outros plug-ins à venda que costumam rodar nos principais DAWs são Amplitube (IK Multimedia), Guitar Rig (Native Instruments), Pod Farm (Line 6), Peavey Revalver, Waves GTR, iZotope Trash, Overloud TH1, Studio Devil, Kuassa Amplifikation, Nomad Factory Rock Amp Legends e muitos outros. Entre os gratuitos estão os da LePou (lepouplugins.blogspot.com), Ignite Amps (igniteamps.com), Nick Crow Lab (nickcrowlab.blogspot.com) e Aradaz (aradaz.blogspot.com).

AMPS E PEDAIS VIRTUAIS, SOM ANALÓGICO

Amplificadores e efeitos de guitarra e de baixo estão entre os mais modelados pelos plug-ins. No início, os "amps virtuais" eram uma boa maneira de o músico gravar rapidamente suas ideias musicais ou de fazer a pré-produção do seu CD. Hoje em dia esses plug-ins estão cada vez mais realistas e são usados até na gravação final de álbuns. Isso devido, entre muitos fatores, à qualidade do som, à versatilidade e à possibilidade de se mudar as configurações sempre que desejado, sem modificar o timbre original da guitarra - geralmente, nesse caso, gravada "seca".

Imagine tocar guitarra em um cabeçote Marshall ligado em um alto-falante 4X12 da Mesa Boogie e com uma meia dúzia de pedais vintage conectados no FX loop do amplificador? Ou, melhor ainda, imagine usar o exato setup do seu guitarrista favorito, com amps, efeitos e até posicionamento de microfones que ele utiliza, tudo isso dentro do seu computador? É exatamente isso que o Rammfire, da Native Instruments, faz. Desenvolvido em parceria com o guitarrista Richard Z. Kruspe, da banda alemã de metal industrial Rammstein, o Rammfire modela até os microfones Neumann e Telefunken que ele usa para captar o seu alto-falante, além de simular os prés da Neve utilizados em suas gravações. O Rammfire é um espécie de "plug-in dentro de outro plug-in", pois é carregado de dentro do Guitar Rig. Quem quiser saber mais sobre ele, pode fazê-lo no site www.native-instruments.com.

No exemplo 1, temos uma produção de rock pesado, com duas guitarras base, outras duas guitarras melódicas e a guitarra solo no final. Nas guitarras base usamos o Amplitube Metal (cabeçote Metal Lead W com alto-falante 4x12 Metal V3) no primeiro insert, seguido do Pedalboard do Logic 9 (com o pedal Heavenly Chorus) e um equalizador com high pass filter em 90 Hz (18 dB por oitava), corte de 1.5 dB em 174 Hz, ganho de 1.5 dB em 1.5 kHz, outro corte de 15.5 dB em 6 kHz e o low pass filter em 10 kHz (6 dB por oitava). Cada uma das duas guitarras estava com o pan 100% para um lado. Depois, gravamos as guitarras melódicas (pan em 45 para cada lado) usando o gratuito (e muito bom) cabeçote The Anvil, da Ignite Amps, no primeiro insert, seguido do Amplitube Metal com o cabeçote desligado. Do Amplitube Metal, utilizamos o alto-falante 4x12 Metal T1. Também usamos os efeitos de chorus, reverb e delay do Amplitube.



Na guitarra solo, foi usado o mesmo setup das guitarras melódicas, apenas com algumas variações de parâmetros, equalizador no penúltimo insert, deixando o som com mais brilho, e um delay no último insert com atraso de 990 samples, a fim de criar o efeito estéreo. As guitarras foram gravadas direto em linha, passando por um pré API 3124+ antes de chegarem à entrada da interface. Confira elas secas no arquivo MP3 guitarra_dry (que você pode ouvir em http://tinyurl.com/gtr-dry) e depois veja a diferença na versão guitarra_wet (http://tinyurl.com/gtr-wet). Os plug-ins usados apresentaram muita qualidade e um grau de realismo muito próximo dos amps valvulados. O Anvil, por exemplo, simula o Mesa Boogie Dual Rectifier, amplificador que temos em nosso estúdio. A emulação da Anvil não apenas é superior à de muitos plug-ins pagos do mercado, como também recria com fidelidade o peso do Dual Rectifier.

REVERB CLÁSSICO

Quando o assunto é reverb, a Lexicon é sempre lembrada como um dos maiores fabricantes de processadores desse efeito. A linha PCM de reverbs foi lançada nos anos 1980 como uma versão simplificada e em formato rack do caríssimo 480L (tão caro que podia custar mais do que um carro!), mas sem que houvesse perda da qualidade do som. Atualmente a Lexicon oferece diferentes tipos de reverb, chorus, delay, pitch shifter e outros efeitos da linha PCM em versão plug-in. No caso dos reverbs, os plug-ins recriam os parâmetros das versões em rack, incluindo pré-delay, difusão, tamanho da sala, tempo do reverb, equalização, mix e muito mais. Você pode adquirir os reverbs da linha PCM separadamente ou no formato bundle no próprio site da Lexicon.

No exemplo 2, temos esse ritmo percussivo com conga, chocalho e cerâmica. Sem ambiência, os três instrumentos soam bidimensionais e até um pouco embolados, mesmo usando-se o pan e equalização (ouça a versão percussão_dry em http://tinyurl.com/perc-dry). Mandamos, então, cada um desses instrumentos para um reverb diferente. A conga foi mandada para o Lexicon Vintage Plate, com uma cauda mais longa e mais brilho (preset "vocal plate"). Assim, o instrumento foi um pouco mais para trás na mix, criando uma dimensão de profundidade. Já a cerâmica percussiva foi para o Lexicon Room, com um reverb bem curto, mais abafado, a fim de deixá-la mais na frente e com uma certa ênfase nos graves. O chocalho, por sua vez, foi mandado para o Lexicon Chamber (preset "medium chamber 1"), cujo canal auxiliar acompanhou o pan de 40 para a direita da trilha de áudio. Escute o resultado em percussão reverb (http://tinyurl.com/perc-rev). Os instrumentos estão agora bem mais espaçados e a mix soa tridimensional.


No exemplo 3, temos esse piano soando seco demais (versão piano_dry em http://tinyurl.com/piano-dry). Dependendo da situação e do gosto do artista e do produtor, uma levada como essa até pode ter mesmo pouco reverb, mas decidimos adicionar uma boa dose de ambiência para dar-lhe um ar mais "sinfônico". Mandamos o som para o Lexicon Concert Hall, com um tempo de reverb de 1.4 segundos, difusão de 57% e um leve corte nos agudos. Os outros parâmetros não foram modificados. Confira como ficou em piano_reverb (http://tinyurl.com/piano-rev).

Música às vezes é difícil de descrever em palavras, mas nos pareceu que o reverb dá um toque de emoção à melodia, principalmente nas notas mais agudas. Outro detalhe percebido foi que, mesmo oferecendo vários parâmetros, os plug-ins da Lexicon são tão bons que poucos ajustes precisaram ser feitos. Isso porque os presets que vêm de fábrica já soam ótimos. Certamente é bacana vasculhar os parâmetros de um efeito e tentar obter diferentes resultados, mas muitas vezes o tempo é curto e o engenheiro de som precisa achar rapidamente um timbre que agrade a ele e ao cliente.

PEDAL DE CHORUS

Nem sempre os engenheiros de som precisam usar racks e equipamentos caríssimos para obter um determinado efeito de qualidade. Muitas vezes, pedais de butique para guitarra e outros instrumentos podem se tornar verdadeiras "armas secretas" na hora de tirar o som pretendido. Um desses pedais clássicos é o Boss CE-1 Chorus Ensemble. Desenvolvido pela Roland em 1976, o CE-1 foi o primeiro pedal de chorus fabricado e até hoje é usado em muitos estúdios não apenas na guitarra, mas também no baixo e nos teclados. E é numa levada de baixo elétrico que vamos conferir o plug-in UAD Boss CE-1, que emula, inclusive no visual, o original da Roland. Vamos aproveitar também e avaliar o Ampeg SVX, da IK Multimedia, que reproduz a sonoridade de vários modelos desse renomado amplificador de baixo.

No exemplo 4, temos o baixo tocando uma introdução em que a guitarra limpa também aparece, a partir do quinto compasso. O baixo foi originalmente gravado em linha (ouça a versão baixo_dry em http://tinyurl.com/bass-dry) e carece daquele som mais natural que só um amplificador pode lhe dar. Inserimos, então, o Ampeg SVX para simular um amplificador de verdade. Nesse exemplo usamos as emulações do cabeçote B-15 e do alto-falante BA-500. Assim como o Amplitube, o Ampeg SVX também permite inserir pedais virtuais ("stomp boxes", em inglês). Usamos o pedal de delay para dar uma leve profundidade ao instrumento e, em seguida, inserimos o UAD CE-1, selecionando a opções "chorus" e "dual". Reduzimos os níveis de intensidade e de volume do efeito e aumentamos o depth. O resultado (baixo_wet em http://tinyurl.com/bass-wet) é um som cheio e sombrio e que não apresenta perda de definição.


EFEITOS ESPACIAIS

De vez em quando é bom variar e usar efeitos diferentes na sua mix, caso não queira que ela soe muito "certinha". O UAD Roland RE-201 é uma boa ferramenta para conseguir isso. Baseado no Space Echo, que foi lançado pela Roland em 1973, esse plug-in é capaz de produzir spring reverb (também chamado de "reverb de mola"), tape delay e outros efeitos "espaciais". No exemplo 5, usamos o RE-201 no vocal, na bateria e na guitarra de um reggae. Na bateria, mandamos o sinal para um auxiliar com o Space Echo inserido e escolhemos o parâmetro "Retro Rocket", que produz um slapback echo. A sua intensidade começa bem sutil e é aumentada a partir do quinto compasso. A guitarra toca apenas um acorde, repetido até o final da melodia graças ao controle "Repeat Rate", que está no máximo. O controle "Intensity" adiciona uma distorção misturada com modulação e dá o toque psicodélico à produção.



Os diferentes tipos de echo do RE-201 podem ser acessados no "Mode Selector", que fica bem no meio da interface do plug-in. Automatizamos o plug-in de forma e selecionar o modo 9 (echo e reverb) na primeira e na terceira falas e o modo 12 (só spring reverb) na segunda e na quarta falas. Compare a versão dry_mix (http://tinyurl.com/dry-mix), sem o Space Echo, com a wet_mix (http://tinyurl.com/wet-mix), em que o efeito pode ser conferido.

Encerramos, com este artigo, a série sobre plug-ins que simulam o som de hardware. Existem muitos outros plug-ins modelando equipamentos analógicos e a internet é o espaço ideal para se pesquisar e escutar como cada um soa (em alguns sites é possível até comparar o original com o plug-in). Os exemplos mostrados nos três artigos dão apenas uma ideia do que essas emulações são capazes de fazer. Se algum dia elas irão igualar as versões analógicas, não se sabe, mas o fato desses plug-ins soarem tão bem já é excelente. Como dissemos no primeiro artigo: se eles fizerem sua mix ficar melhor, o investimento valeu a pena.

Até a próxima!

Alexandre P. Cegalla atua como engenheiro de som há mais de dez anos e já produziu artistas no Brasil e no exterior. É proprietário do Studio Bunker, em Curitiba (www.studiobunker.com.br).
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.