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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Quanto de agudo?
Enrico De Paoli
Publicado em 03/10/2013 - 10h44
Um dos assuntos mais falados em engenharia e produção de discos há algum tempo é a "Loudness War", ou "Batalha do Ganho". Que volume o seu disco deve ter. Mas pouco se fala em "que equalização o seu disco deve ter". Como assim "que equalização"? Sim! Da mesma forma que para a maioria um disco mais baixo em volume "soa pior", muito provavelmente um disco menos agudo também vai "sair perdendo para o disco do vizinho".

Tive a ideia de escrever sobre isso ao lembrar de uma sensação que tenho algumas vezes que estou assistindo a um filme em um bom cinema e o soundtrack soa bem diferente do que estamos acostumados em relação a discos pop ou rock em geral. Essas músicas feitas para filmes soam orgânicas! Muitas vezes mais comprimidas, mais "veladinhas", mais "fita", mais analógicas. E com aquele suporte macio e preciso do pulso do sub. Como gosto e valorizo muito os contrastes, sei que esta sonoridade é feita assim propositalmente para não competir com o áudio principal do filme. Mas, ainda assim, quando o filme e a trilha são bem feitos, toda vez que a música começa o preenchimento contrastante do som é lindíssimo.

E se fizéssemos um disco com essa cor de sonoridade? Bem, existem álbuns assim. Randy Crawford, Katinka Wilson, Mark Knopfler, para citar alguns. O disco é todo velado? Não. Não é isso. Mas eles têm outra cor. Cada um com as suas características, mas são definitivamente mais fechados, orgânicos, e muito musicais.

Fazer um álbum assim é um verdadeiro desafio. Com o cliente. Com o mercado também, e até mesmo consigo próprio. O motivo é que, da mesma forma que um disco pode ser alto pelo simples motivo de ser, muito provavelmente vai comprometer negativamente o som da música ali contida, fazer um disco mais veladinho pelo simples motivo de ser experimental, ousado ou diferente não rola. As coisas soam boas quando não temos que nos esforçar para ouvi-las. Ok... E como faz, então?

Bem, em primeiro lugar, respeita-se o arranjo. Junto a isso, cria-se um terreno sônico. Ou seja, delimita-se como tudo deve soar para que os elementos combinem e se encaixem bem uns com os outros. E, então, a parte mais legal: trabalha-se os contrastes. Um som só soa de um jeito para os seus ouvidos por causa dos outros. Cada informação sônica e musical que os ouvidos captam, o cérebro registra e logo em seguida compara aquilo com os novos eventos sendo ouvidos. Não existe uma regra, mas o contraste deve soar natural, ou seja, para que quando um elemento entre no arranjo e apareça na mix, ele cause uma surpresa boa. Se a surpresa for estranha, o contraste é ruim.

Agudo é tão sedutor quanto volume. É muito difícil experimentar mais volume ou mais agudo e depois querer tirar. Mas ambos são uma brincadeira perigosa, pois um disco muito alto ou muito agudo pode ser muito cansativo aos ouvidos antes mesmo do fim da primeira música. E pra relembrar uma última vez: se combina com a música, vai soar natural aos ouvidos. E vai ser confortável, e vai soar bem. Se tivermos que fazer um esforço para nos acostumarmos... Volte ao início dessa página!

Até mês que vem.


Enrico De Paoli é engenheiro de música. Grava, mixa, masteriza e produz. Créditos incluem Djavan e Ray Charles. Conheça também suas clínicas e programas de treinamento Mix Secrets. Site: www.EnricoDePaoli.com
 
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