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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Flat
Enrico De Paoli
Publicado em 26/07/2013 - 17h32
Algumas palavras se fazem bem presentes no universo de quem vive em estúdios pelo mundo, ou fazendo discos dentro dos seus quartos. "Gigas", "plug-ins", "valvulados", "esquentada", "graves", "sobra", "saturado" etc. Mas talvez uma das mais antigas e imortais é a "flat". Traduzido para o português, flat significa plano. E no áudio significa quando a resposta de frequência é plana, sem ênfases em nenhuma região específica de frequências. Ou seja, o equipamento não adiciona ou atenua nenhuma frequência por conta própria. Sim, isso é muito desejado, mas vamos com calma...

Um dos elementos no estúdio que mais "se exige" que seja flat é o monitor de referência (caixas de som de estúdio). Motivos óbvios! Se o monitor é de referência, ele não pode (ou não deve) colorir o som, ou entortar a curva da resposta de frequência. Mas... se uma caixa de som com uma curva diferente de flat não servisse, só existiria uma marca e um modelo! Escutamos música em diversos lugares. Em casa, nos pequenos fones de iPod, na TV e naquele famoso local que tanto usamos como referência final: o carro.

Se o carro fosse tão perfeito assim, mixaríamos nossos discos lá! E, convenhamos: os falantes de um carro normal custam consideravelmente menos do que um bom monitor de estúdio. E, então... o carro é flat? Claro que não. E o monitor do estúdio? Depende. Qual estúdio? O meu? O seu? Daquele outro no Brasil, Estados Unidos ou Europa? Hoje em dia, cada estúdio tem um monitor diferente. E nem tente pensar que eles soam parecidos por serem "quase flat"... Cada um soa muito diferente do outro! E não é só resposta de frequência. Se você analisar o spec sheet, ou folha de especificações técnicas de cada monitor, você vai notar muito mais do que resposta de frequência. Vai ver também distorção harmônica, ruído de piso, slew rate e muito mais. Mas, ainda assim, por mais ricas que sejam, as especificações técnicas (apesar de importantíssimas) não dão a palavra final no som de um monitor. Claro! Som é algo complexo! Não é muito fácil relatar o comportamento de uma caixa de som em todas as suas possíveis situações, com meia-dúzia de medições. E o resto do estúdio? Sim, os microfones, pré-amps, equalizadores, compressores. E os conversores e interfaces?

Eu costumo dizer que o tamanho da diferença de qualidade de som não é o mesmo que o tamanho da diferença de preço. Mas, até aí, tudo bem. Quanto mais evoluímos, mais ficamos exigentes por perceber cada vez mais minuciosas diferenças. E, sim, tem detalhes que agradam a um par de ouvidos e talvez não agradem tanto a outro par. Estamos agora falando de equipamentos que são ótimos, mas que têm pequenas diferenças, que são perceptíveis o suficiente pra encantar um engenheiro de música e não encantar tanto um outro. E, por que não, um estilo de música e outro não? Parece papo de marketing? Ouça um bom disco de um quarteto de cordas e ouça um bom disco de rock. Com absoluta certeza, as sonoridades não se parecem. Nem a sonoridade dos instrumentos, nem os timbres dos equipamentos, microfones e eletrônica em geral que cada engenheiro optou por usar. E agora? Você vai comprar uma marca de equipamento para cada tipo de música que você vai gravar? Claro que não. Você vai moldar o seu som. O seu sistema. O seu estúdio. De forma que os equipamentos vão fazer parte do seu estilo de gravar, de mixar, de "engenheirar" a sua música. Estes equipamentos vão ser flats o suficiente porque eles simplesmente são, mas vão soar diferentes o suficiente entre eles para serem escolhidos pela personalidade sônica de cada engenheiro.

Até mês que vem.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Grava, mixa e masteriza em seu Incrível Mundo e onde estiver. Conheça também os treinamentos Mix Secrets. Site: www.EnricoDePaoli.com
 
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