Um dos mais bem-sucedidos nomes da atual música brasileira, Luan Santana encerrou recentemente a turnê do disco Quando Chega a Noite, iniciada em abril do ano passado, época do lançamento do CD. Em entrevista exclusiva à AM&T, Márcio Cardoso, produtor executivo do artista; Juliano Rangel, seu técnico de PA, e André Rosa, seu técnico de monitor, contaram detalhes sobre os bastidores desta produção itinerante.
SEM MISTÉRIO
A equipe de Luan levou para os shows, além do próprio backline, um console PM5D RH, da Yamaha, um sistema de microfone sem fio Shure UR4 SM87, usado pelo cantor, e alguns SM58, para participações especiais, backing vocals, e demais instrumentos, e um sistema de monitoração in-ear Sennheiser, disponibilizado para toda a banda.
Das locadoras que forneceram equipamentos para suas apresentações, foram solicitados itens como sistemas de PA completos, com side fills e subwoofers de bateria, amplificadores de baixo, cabos, multicabos, microfones para ambiência, microfones sem fio e fontes de alimentação de energia. Uma apenas para a amplificação de baixo e outra para o sistema.
A configuração dos sistemas usados na tour continha, geralmente, 24 caixas, ou seja, 12 por torre, e 24 woofers, também divididos em dois grupos de 12, tendo esses woofers falantes entre 18 e 21 polegadas.
O rider não previa monitores de chão, porém, se as locadoras não possuíssem subs de bateria com dimensões reduzidas, o pedido seria por caixas EAW SM400 ou similares. Para o side fill, por exemplo, a preferência era pelos modelos KF850 nos graves e KF650Z nas altas frequências. Para monitorar a banda, a opção ficava por conta dos ears Sennheiser EW300I G3, enquanto Luan ficava com o EW300 G2, da mesma marca.
Os instrumentos eram, segundo Márcio, captados por um mix de marcas e modelos. Além do Shure UR4 SM87 para o artista e dos UR4 SM58 para backing vocals, na bateria, por exemplo, eram usados os Shure modelos SM52, SM91A ou AKG D 112, entre outros. "Nas caixas, ficávamos com o Shure SM57. Nos tons, com os Sennheiser E604. No contratempo e os overs, o Shure SM81. Não usamos nem pedimos nada de especial ou diferente, apenas o compatível com o ambiente e o modelo de console no qual trabalhamos", disse o produtor.
SUAVE E TIMBRADO
Juliano Rangel, operador de PA do cantor, trabalhou em suas apresentações com cerca de 48 canais. "A bateria tinha 13 inputs, o baixo ficava com dois, os violões ocupavam quatro deles. Os teclados e o acordeom somavam mais oito. O Pro Tools, contendo bases, ficava com 12, e contávamos ainda com três canais de backing vocals, dois canais de convidados e dois para o Luan", disse.
Os alinhamentos dos sistemas eram, geralmente, feitos pelas empresas que os atendiam. "Com relação às correções", disse, "geralmente, não se conseguia fazer muita coisa, pois não havia tempo hábil para isso. Na maioria das vezes chegávamos com o horário muito apertado, sem tempo para muita coisa. O máximo que conseguíamos era fazer um rápido checkline, verificando se o PA estava todo funcionando. Com um microfone, promovíamos pequenos ajustes no alinhamento do PA para que a mixagem soasse de acordo com nosso gosto", explicou.
"Na estrada você encontra vários tipo de sistema. Na maioria das vezes, obtemos bons resultados, mas eu já tive dificuldade na hora do show e não pude chegar ao som esperado, por se tratar de sistema mal alinhado. Agora, eu sou da moda antiga mesmo: uso um microfone, um CD de referência, que já estou acostumado a ouvir, e, se for preciso, faço algumas correções para obter uma boa mixagem", acrescentou.
SEM FIO
Técnico de monitor de Luan Santana, André Rosa disse que a monitoração da turnê foi feita com 23 vias. "As vias um, dois, três e quatro eram para o Luan; a via cinco para o primeiro violão e a guitarra; a seis para o segundo violão; a sete e a oito para os teclados; a nove para o primeiro backing vocal e a dez para o segundo. A 11 era para o baterista; a 12 para o sub de bateria; a 13 e a 14 para o primeiro e segundo roadies, respectivamente. As vias 15 e 16 eram para o baixista; enquanto as 17, 18 e 19 eram dedicadas a três diferentes efeitos. A via 20 e a 21 eram para o operador de painel de LED; a 22, para o terceiro roadie, e a última para os efeitos pirotécnicos", listou.

Mas se as saídas eram muitas, os efeitos não seguiam a mesma filosofia. Trabalhando com um conceito mais enxuto, o técnico usava somente dois efeitos de hall, um delay e um chorus em sua mixagem. "Era feita uma mixagem estéreo, na qual cada um possuía uma mixagem individual", disse ele, acrescentando que, no começo, teve dificuldades para operar o sistema, pois utilizava 22 frequências diferentes. "Tivemos que chegar no ajuste e posicionamento certo. Ocorreram trocas de alguns microfones e instrumentos, pois cada músico tinha seu jeito particular de ouvir. O artista também mudou de fone - adquiriu um monitor universal UM3X RC Westone, com driver triplo, balanceado, crossover passivo de três canais, sensibilidade de 124 dB SPL (NPS), resposta de frequência de 20 Hz a 18 kHz e molde personalizado", acrescentou.
André ainda contou que utilizou por mais de um ano um sistema fornecido pela Toral Equipamentos, composto por in-ears Sennheiser EW300 G2, console PM5D RH, da Yamaha, side fill da Nexo, subwoofer da bateria RCF ativo, microfones Superlux, direct box ativa e passiva e microfones sem fio. Após a devolução, fez uma lista do que a produção deveria adquirir. Optou pelo mesmo equipamento completo.
"O artista já tinha um UR4 SM58. Além disso, eu incluí tudo: cabeamento, pedestal, sistema in-ears Sennheiser ou Shure, sistema UR4 Shure sem fio para voz e instrumentos, direct box ativo Klark Teknik e passiva IMP 2 Whirlwind. Também incluí um amplificador de guitarra Hiwatt, os instrumentos fornecidos por parceiros, como a Takamine, e compramos guitarras N. Zaganin e Fender, além de uma sanfona Roland, teclados Nord Stage 2 e baixos Warwick", disse.
GOSTO PESSOAL
A mixagem feita na turnê pelo técnico foi aquela que chamamos de "tradicional". Segundo ele, nos shows, os músicos de Luan Santana pediam para se ouvir em primeiro plano, deixando para o segundo as referências dos demais instrumentos.
"O baterista, por exemplo, escutava toda a sua bateria e usava muito o click como referência. Também escutava o baixo, um pouco de cada instrumento e a voz do artista", exemplificou.
O baixista, de acordo com André, seguia a mesma linha, destacando seu instrumento na mixagem, além do click de referência, bateria, um pouco dos demais instrumentos e a voz do artista. Já o tecladista, além de seu instrumento, dava preferência por ouvir, em destaque, o primeiro violão e a voz de Luan.
"O violinista e o guitarrista escutavam seus instrumentos, e tinham como referência o click, a bateria - principalmente bumbo, caixa e contratempo - e, claro, a voz do artista, enquanto a primeira backing vocal escutava sua voz e tinha como referência o primeiro violão, o click, um pouco da segunda cantora e, novamente, a voz de Luan. A mixagem é feita com base no gosto pessoal de cada um. Como viajamos com todo o backline, podemos atender tranquilamente às exigências dos músicos. Para evitar a realimentação, usei, em acordo com o operador de PA, o side fill", encerrou.