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Revista Luz & Cena
Notícias do front
O alinhamento dos sistemas de sonorização (Parte 2)
Mais pontos fundamentais, fórmulas básicas e ferramentas
Renato Muñoz
Publicado em 19/02/2013 - 16h26

Nesta segunda parte do artigo sobre alinhamento de sistemas, continuarei com alguns pontos que acho fundamentais para se executar este tipo de serviço, mostrarei algumas fórmulas básicas que normalmente são aplicadas, principalmente quando trabalhamos com sistemas maiores e mais complexos. Falarei também de algumas ferramentas que são muito utilizadas por profissionais mais experientes e que, nos dias de hoje, estão muito mais acessíveis do que há alguns anos. Falarei mais um pouco sobre alguns erros mais comuns encontrados no dia a dia dos sistemas de sonorização.

Como prometido no mês passado, começo, neste artigo, a trazer a participação e comentários de profissionais conceituados no meio do áudio brasileiro. Pessoas que, além de serem amigos próximos, se destacam em diferentes áreas do áudio nacional. Creio que estas participações (que serão variadas ao longo dos meses) poderão ajudar a ilustrar os temas escolhidos.

Para este mês, convidei dois técnicos com quem venho convivendo profissionalmente por cerca de 15 ou mais anos. São nomes que sempre admirei pelo alto nível de profissionalismo e com quem tenho tido também uma ótima convivência pessoal. Os dois são profissionais de áudio que, no momento, atuam em áreas um pouco diferentes, porém sempre voltadas à sonorização.

Leco Possollo, formado pelo Full Sail Center for Recording Arts, é técnico de PA do Gilberto Gil (desde que eu me entendo por gente!), trabalhou com artistas como Jorge Benjor e Robertinho de Recife e é um dos técnicos brasileiros com maior experiência internacional, tendo trabalhado em quase todas as grandes capitais mundiais, assim como nas melhores casas de espetáculos do mundo.

Fernando Frotes, formado em Engenharia Elétrica, trabalhou por muito tempo na empresa Loudness Sonorização. Hoje em dia, além de responsável pela sonorização de musicais nos teatros nacionais, é instrutor oficial do SmaartAudio no Brasil, assim como, certamente, um de seus maiores conhecedores.

TRABALHANDO PARA FAZER UM CORRETO ALINHAMENTO

Como vimos no artigo anterior, existem diversas perguntas que devem ser feitas antes mesmo de tocarmos em um equalizador ou um gerenciador. Além disso, dependendo de sua função, técnico do sistema ou técnico da banda, as suas ferramentas poderão ser diferentes umas das outras e com funções bem específicas dentro do sistema. Toda a parte teórica será fundamental no momento do alinhamento, sendo que algumas fórmulas devem estar prontas para serem aplicadas, como a que você vê a seguir, por exemplo.

PROCEDIMENTO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA TORRE DE DELAY

1. Descobrir o ponto na "sala" a partir do qual será necessário o reforço do sistema (alguns textos indicam que quando existe uma perda sonora de 10 dB SPL começa a haver a necessidade de um reforço sonoro).

2. Medir a distância entre este ponto e a fonte sonora "primária" do sistema de sonorização (como foi visto no artigo anterior, nem sempre o PA principal será esta fonte primária).

3. Aplicar a fórmula que vai calcular o tempo de delay que deverá ser aplicado:

 Delay = distância/velocidade do som
 O resultado deve ser convertido de segundos para milissegundos
 Acrescentar 20 milissegundos ao resultado final (efeito Hass)

- Exemplo: 100 m / 344 ms = 0,290 s (x1000) = 290 ms + 20 = 310ms

Vimos também no artigo anterior a importância da velocidade do som para todos estes cálculos, e, como sabemos, esta velocidade está ligada diretamente à temperatura ambiente. Alguns gerenciadores mais modernos já fazem os seus ajustes internos em relação à temperatura ambiente, porém, nunca é demais aprender uma nova fórmula:

 Velocidade do som = 331,4 + 0,61 x T (temperatura)

0º = 331 m/s
15º = 340 m/s
22º = 344 m/s
30º = 349 m/s

Veremos agora o bate papo com os dois técnicos convidados. Elaborei cinco pequenas perguntas, que têm como tema principal o alinhamento de um sistema de sonorização.

LECO POSSOLLO

Leco, qual é primeira providência que você toma quando vai alinhar um sistema de sonorização (em um show de música pop)?

Leco Possolo: Costumo tocar uma série de músicas com as quais estou bem acostumado com a sonoridade. Normalmente elas vêm numa sequência que, pra mim, tem todo o sentido. Começo tocando algo que vai me dar a noção do equilíbrio dos subs, e já a partir daí verifico a polaridade, a profundidade e a cobertura. Sigo com outras que me dão a referência das altas e do principal - os médios. Afinal, como já dizia o grande George Martin, os graves e os agudos são importantes, mas tudo acontece nos médios.


Qual a ferramenta que você costuma utilizar para ajudar no alinhamento do sistema? Por quê?

LP: Além das ferramentas mais importantes que tenho, meus ouvidos, dedos e o bom senso, uso também o Smaart 6.0 com uma MBox mini. Esse analisador de espectro possibilita fazer um ajuste muito mais preciso do que se fizesse apenas confiando no conhecimento de frequências. Com isso, tento manter o som o mais íntegro possível, com todos os harmônicos.

Quando você utiliza um equalizador, qual a sua preferência: gráfico ou paramétrico?

LP: Bem, depende da aplicação. Tenho sempre um equalizador gráfico insertado nas minhas saídas principais. Se estiver utilizando matrizes, terei um em cada saída, podendo assim fazer uma correção individual independente. Em alguns casos, um equalizador paramétrico pode complementar essa correção junto com alguma compressão do sistema. Isso tudo, além, claro, dos equalizadores paramétricos de cada canal e seus respectivos instrumentos.



Você tem preferência por qual tipo de sistema de sonorização: os "processados" (que não dão muitas opções durante o alinhamento) ou os "não processados" (que permitem acesso completo ao processamento do sistema)?

LP: Com os sistemas modernos e bem desenvolvidos, prefiro os "processados". Acredito muito nas pesquisas de desenvolvimento, nas dezenas de horas gastas em laboratório e na competência de seus programadores, sound designers e projetistas. A única opção que sempre peço é ter a possibilidade de ajustar os volumes das bandas de frequência.

Qual o erro mais comum encontrado nos alinhamentos de sistemas de sonorização
feitos por outras pessoas?

LP: Me assusta quando vejo um equalizador gráfico com curvas radicais se o sistema precisa de muita correção. Provavelmente alguma coisa não está no lugar ou está mal dimensionada. Por vezes, também vejo excesso de subs no equilíbrio das bandas de frequência. Já pedi, algumas vezes, pra tirar uns 6 dB. Na minha opinião, às vezes falta critério, deixando o gosto pessoal se sobrepor ao bom senso. Um outro item é o tráfego do sinal. Gosto de trabalhar com os prés dos canais bem quentes, e, às vezes, o Master precisa baixar pra -15 dB. Nesses casos, prefiro pedir pra que se abaixe a entrada no processamento, ou até, se for o caso, diretamente nos amplificadores.

FERNANDO FORTES

Fernando, quando você vai alinhar um sistema de sonorização (de um show de música pop), qual a sua primeira providência?

Fernando Fortes: Bem, depende. Vou pensar em um sistema que não foi projetado por mim e cujos detalhes não ajudei a escolher. Sendo assim, eu me preocupo primeiro com o posicionamento e ligações, para poder entender como tudo está ligado. Depois, tento testar o sistema por partes para garantir que não há equipamento defeituoso ou mesmo cabeamento errado. Dentro do possível, sigo um passo a passo para me assegurar de que o sistema está "funcionando" corretamente.

Que ferramenta você usa para auxiliar no alinhamento do sistema?

FF: Uso várias, dentre elas trena laser, trena convencional, inclinômetro, transferidores, ponteiras laser, testador de cabo da Hosa (não vivo sem), além do meu notebook com o Smaart v7, minha placa de áudio e meus microfones de medição. Fora isso, alguns sinais de teste padrão e minhas músicas preferidas.


Equalizador gráfico ou paramétrico? Por quê?

FF: Com certeza, o paramétrico. Nunca gostei de equalizador gráfico. Só usava quando não tinha um paramétrico por perto. Para mim, o paramétrico é a ferramenta. Nada se compara a ele.



E quanto aos tipos de sistemas de sonorização? "Processados" ou "não processados"?

FF: Prefiro os sistemas processados. Tento usar caixas de fabricantes que possuem sistemas processados de qualidade, o que é uma raridade. Nem todo fabricante sabe o que fazer com os parâmetros, e eu parto do princípio que ele deveria saber melhor do que eu.

Qual o erro mais comum no alinhamento de sistemas?

FF: Falta de conhecimento do que se está fazendo. Alinhar um sistema requer um estoque muito grande de conhecimentos e de experiência, além de um bom gosto musical. Nem todo mundo se preocupa com isso.



CONCLUSÕES

Como ficou bem claro desde o artigo anterior, existem diversos parâmetros que devem ser verificados antes de começarmos o alinhamento do sistema em questão, e quanto maior for o nosso conhecimento técnico e quanto maior a nossa experiência, mais fácil será o nosso trabalho (ou pelo menos deveria ser assim).

Muitos profissionais, principalmente lá fora, se especializam em apenas alinhar o sistema (como técnicos de sistema) e não desenvolvem o costume de alinhar o sistema para a banda ou vice e versa (nada contra, porém acho que este tipo de profissional acaba ficando limitado). Devemos estar preparados para fazer as duas funções.

Como podemos ver, os dois técnicos convidados têm noções bem definidas do que pode levar a um bom alinhamento, como a necessidade de conhecimento técnico e bom senso por parte de quem está alinhando, assim como a utilização de ferramentas de precisão e de um bom par de ouvidos para que se possa chegar a um bom resultado.

Ou seja, para mim a conclusão é bem simples: o conhecimento técnico é fundamental para a execução deste trabalho, porém, tão ou mais importantes são a experiência profissional e, certamente, o bom gosto, que nos ajudarão a alinhar um sistema de sonorização da melhor forma possível.

Renato Muñoz é formado em comunicação Social e atua como instrutor do Iatec e técnico de gravação e Pa. Iniciou sua carreira em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank.
e-mail: renatomunoz@musitec.com.br
 
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