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Revista Luz & Cena
Arte Eletrônica
Graves e subgraves
Limpeza e definição na mixagem
Edson Borth
Publicado em 19/01/2013 - 10h30
Cresce cada vez mais nos dias de hoje o número de produções musicais que são desenvolvidas em home studios, principalmente as relacionadas à música eletrônica. E o principal motivo desse crescimento é a facilidade que se tem atualmente de se conseguir os equipamentos necessários para desenvolver este tipo de trabalho. Hoje, com um laptop, um bom software e alguns plug-ins é possível fazer música de altíssima qualidade em casa, por exemplo.

Agora, o que realmente vai fazer a diferença no resultado final ainda depende de pelo menos dois fatores extras, que são essenciais: uma boa ideia, ou seja, a criatividade, e um bom conhecimento técnico de todo o processo, tanto musical quanto da produção de áudio. Neste caso, a tecnologia vai poder apenas auxiliar, e não resolver todas as questões. Pensando nisso, eu resolvi, no artigo deste mês, dar uma dicas "quentes" para aqueles que já estão com a primeira parte - a composição musical - resolvida, mas ainda têm certa dificuldade em conseguir aquele som bem equilibrado em uma mixagem, com graves limpos e definidos, por exemplo, e, sendo assim, fazer com que seu track soe "gringo", como se diz por aí.

Obviamente, seria muita pretensão minha abordar todos os problemas que envolvem uma mixagem em uma única matéria, pois o tema é bem complexo, por isso vou falar sobre a questão que considero mais importante, que é o equilíbrio e a limpeza dos graves de uma mixagem. Então vamos lá!

Darei exemplos utilizando um tipo de arranjo muito comum em música eletrônica: os pads, que, em geral, têm a função de dar uma sustentação harmônica num track. Esse tipo de arranjo é chamado de "cama harmônica" por ter essa característica de ser uma base sobre a qual todos os outros instrumentos e arranjos se desenvolvem. Esse arranjo pode acabar sendo muitas vezes um dos culpados pela falta de definição dos graves e subgraves de uma música. Isso porque, quando escolhemos um timbre para fazer tal função, geralmente optamos por timbres bastante ricos e que, na maioria das vezes, têm um espectro de frequências também bastante completo, soando desde os subgraves e graves até as frequências mais agudas.

Em algumas partes da música poderemos utilizar toda essa gama de frequências do timbre em um arranjo, como num "break", mas na maioria das vezes temos que filtrar boa parte delas para que não atrapalhem os graves que realmente vão interessar durante a maior parte do tempo, que são os graves do kick e do bass. Vale a pena dizer que os exemplos que darei aqui serão de grande importância não somente para a música eletrônica, mas também para o mesmo tipo de arranjo nos mais variados estilos musicais.

Para uma melhor compreensão dos processos aqui citados, os arquivos de áudio estão disponíveis para download tanto na forma de projeto do Ableton Live quanto na de arquivos de áudio em MP3, para quem não tiver como abrir o projeto do Ableton ou quiser somente ouvir os resultados sonoros em qualquer outro software. Utilizamos poucos elementos musicais para permitir uma melhor audição na comparação A e B dos resultados finais, ok?

No arranjo 1 temos três elementos, sendo um canal com um drum loop, sem nenhum tipo de processamento, um canal com uma bass line de um timbre também do próprio Ableton, sem nenhum tipo de processamento, e um terceiro canal com uma sequência de acordes com um timbre de pad do InstrumentRack do Ableton. Somente neste canal teremos um processamento, através de um plug-in equalizador também nativo do Ableton. E é este equalizador que será o grande responsável pela limpeza e definição dos nossos graves nesses exemplos.

Vamos começar ouvindo e comparando os arquivos "pad 1 não processado" (ouça/baixe em http://tinyurl.com/pad-1-nao-processado) e "pad 1 processado" (http://tinyurl.com/pad-1-processado). Quem está com o projeto do Ableton aberto (baixe o projeto em http://tinyurl.com/abletproj) pode deixar ligado somente o canal Pad 1, para ouvi-lo sozinho, e ouvir a diferença entre o pad 1 processado e não processado. É só ligar e desligar o equalizador que se encontra insertado nesse canal, conforme a figura 1.


Quem não estiver com o Ableton deve abrir os arquivos "pad 1 não processado" e "pad 1 processado". Percebam que existe uma diferença grande na região dos graves desses dois arquivos. O "pad 1 não processado" tem frequências graves que vão da região dos subgraves (até 60 Hz) até a região dos graves (de 60 a 250 Hz). Já o "pad 1 processado" não tem mais esses graves soando. Nesta fase da audição acontece um detalhe interessante, pois ao compararmos os dois, naturalmente gostamos mais do som do "pad 1 não processado", por ser um som mais completo em termos de resposta de frequências. O grande segredo aqui é que quando compomos um track, nem sempre podemos utilizar esses timbres como eles são naturalmente, pois vai acontecer um problema de acúmulo de graves na música, e, com isso, não teremos graves definidos, e sim embolados.

Antes de seguir em frente, vamos fazer o mesmo com os arquivos "pad 2 não processado" (http://tinyurl.com/pad-2-nao-processado) e "pad 2 processado" (http://tinyurl.com/pad-2-processado), que farão parte do arranjo 2. Quem está com o projeto do Ableton aberto, pode deixar ligado somente o canal Pad 2, para ouvi-lo sozinho. Para ouvir a diferença é só ligar e desligar o equalizador que se encontra insertado nesse canal, conforme a figura 2.


Quem não estiver com o Ableton, é só abrir os arquivos "pad 2 não processado.mp3" e "pad 2 processado.mp3". O processamento utilizado tanto no pad 1 como no pad 2 foi o mesmo, com a técnica do filtro passa altas (high-pass filter) que qualquer bom equalizador paramétrico possui, fazendo, então, um corte nas frequências graves. Eu escolhi cortar as frequências abaixo de 274 Hz exatamente para tirar desses pads as frequências que irão mascarar e também atrapalhar a clareza dos graves mais importantes, principalmente em música eletrônica, que são o kick e o bass. Na figura 3 temos o detalhe do gráfico do equalizador, mostrando como estão sendo cortadas essas frequências.



Agora que já ouvimos os pads 1 e 2 processados e não processados pelos equalizadores e também já vimos qual foi o processamento usado nos dois, vamos ouvir esse resultado dentro dos arranjos. Quem estiver com o projeto do Ableton aberto pode, na tela da "session view", colocar pra tocar a cena 1 e, com o canal do pad 1 selecionado, desligar e ligar o equalizador para perceber o efeito do corte de frequências do pad 1 no arranjo. Não esqueçam de ligar todos os canais para ouvir também o kick e o bass, ok? Quem não estiver com o arquivo do Ableton, é só abrir os arquivos "arranjo 1 não processado" (http://tinyurl.com/arranjo-1-nao-processado) e "arranjo 1 processado" (http://tinyurl.com/arranjo-1-processado).

Dá pra perceber muito nitidamente que quando o pad não está processado temos maior dificuldade em perceber a definição da bass line e do kick, e quando ligamos o equalizador que é utilizado para cortar as frequências graves do pad 1 tudo fica mais nítido. Este é o motivo pelo qual cortei as frequências abaixo de 274 Hz, pois é nessa região de graves e subgraves que a bass line e o kick têm suas características principais, e eles precisam de "espaço" no espectro de frequências para atuarem e serem percebidos mais nitidamente.

Vamos agora ouvir o arranjo 2, que é onde fica ainda mais nítida essa diferença. Podemos notar que quando o pad 2 não está processado pelo equalizador, praticamente não entendemos o que o bass está tocando, e o kick fica ainda mais confuso. Quando o pad 2 está processado, tudo fica muito mais claro dentro do arranjo. Então, quem estiver com o Ableton, pode, na mesma tela da "session view", colocar pra tocar a cena 2 e fazer o mesmo processo de desligar e ligar o equalizador do pad 2 para ouvir a diferença. Quem não estiver com o Ableton, deve abrir os arquivos "arranjo 2 não processado" (http://tinyurl.com/arranjo-2-nao-processado) e "arranjo 2 processado" (http://tinyurl.com/arranjo-2-processado).

Esta é uma técnica muito usada em mixagem e uma das principais responsáveis pela limpeza e clareza dos graves num track, podendo ser utilizada não somente nos arranjos de pads, como vimos aqui, mas também em vários outros arranjos que possuem muitos graves no seu timbre. Até mesmo violões podem emitir graves exagerados, e estes deverão ser filtrados quando estivermos mixando.

É isso aí, moçada. Espero que tenham curtido mais esta dica. Até a próxima e boa sorte!

Edson Borth é músico profissional desde 1989 e tem graduação em Produção Sonora pela UFPR e especialização em mixagem e masterização pelo IATEC. Fundou grupos importantes da cena musical paranaense, como Gypsy Dream e Nega Fulô, e atualmente ensina produção musical na Yellow.
 
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