Lugar da Verdade
Alta resolução: pra quê? (Parte 1)
Enrico De Paoli
Publicado em 15/07/2012 - 19h39
Se esse não for o assunto mais debatido e perguntado, certamente luta por esta posição no ranking! Afinal, em que formato, sample rate e bit depth devo gravar meu projeto?
Ao iniciar uma sessão no Pro Tools ou em qualquer outra plataforma de produção de música, devemos decidir o formato dos arquivos de áudio a serem gravados. A regra é simples: quanto maior a frequência de amostragem (sample rate) e o bit depth (resolução em bits), melhor. Mas ainda há muito o que falar sobre isso tudo.
Pra começar: pra que gravar em alta resolução se a maioria das músicas hoje são ouvidas em formatos tipo MP3, AAC (formato Apple iTunes) ou, na melhor das hipóteses, os 44.1KHz/16 bits do antigo CD Audio? Simples: ainda que sua música acabe num CD ou em arquivos MP3 espalhados pela internet, processar, mixar, equalizar e comprimir arquivos bons, saudáveis, ricos em informações, cheios e lindos, rende resultados muito melhores. Vou fazer uma comparação que, se você tiver a minha idade, vai entender perfeitamente! Lembra daqueles gravadores Tascam de quatro canais de fita cassete? Pois bem. O que soava melhor: a demo que você gravava nele ou o cassete original do AC/DC que você tinha? Ambos os produtos finais eram em fita cassete, mas a produção do AC/DC era toda feita em fitas de duas polegadas e em equipamentos analógicos de altíssima qualidade.
Agora vamos a uma comparação pra moçada nova, que não viveu os porta-studios quatro canais cassete. Imagine que você tem um celular com câmera. Você tira uma foto com ele e, em seguida, pega, na internet, uma fotografia linda e profissional e transfere para o telefone. Ambas as fotos acabam na tela do mesmo aparelho, com a mesma resolução, mas a foto profissional passou por lentes muito mais claras e foi gravada em resoluções muito mais altas. Mesmo com as duas fotos no mesmo aparelho, a profissional vai apresentar uma imagem muito melhor.
Sample rate é responsável pela resposta de frequência. Ou seja, quanto mais alto, mais alta a frequência de captação e reprodução do áudio. Ainda que o ouvido humano só escute até 20 kHz, sabe-se que captar frequências que a gente não ouve pode influenciar, através de harmônicos, as frequências que ouvimos. Um sistema de gravação digital consegue reproduzir frequências até, aproximadamente, a metade do sample rate empregado. Uma gravação em 44.1 kHz reproduz até pouco mais dos 20 kHz que (teoricamente) conseguimos ouvir.
Bit depth é responsável pela dinâmica captada e reproduzida. Ou seja, quanto mais bits, maior quantidade de variação de volume é possível. Cada bit, em uma gravação digital, equivale a aproximadamente 6 dB de dinâmica. Logo, uma gravação de 16 bits consegue registrar aproximadamente 96 dB de áudio. Então, já dá pra ter uma ideia da diferença que faz gravar em 24 bits: 144 dB vs. 96 dB. Fazendo a conta, constatamos que gravar em 24 bits nos permite registrar 48 dB a mais de informações de áudio - 50% a mais do que gravando em 16 bits!
Ok... Agora que já separamos os ingredientes, mês que vem vamos ver o que fazer com isso tudo. Até lá.
Enrico De Paoli é engenheiro de música. Grava, mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio e fora do país. Créditos incluem Ray Charles, Djavan, Stanley Jordan, Al Jareau e outros. Conheça também os treinamentos Mix Secrets do Grammy winner engineer. Site: www.EnricoDePaoli.com.