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Yahoo/BR Plus
Músicos e produtores abrem as portas do estúdio/produtora e contam a fórmula do seu sucesso
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 03/08/2011 - 17h31
Nos anos 1990, quando desfrutavam do auge do sucesso, que começou a ser conquistado tempos antes com os hits Mordida de Amor, Anjo e Caminhos de Sol, Zé Henrique, Marcelão e Sérgio Knust - na época, contando com Val Martins e Marcelinho Azevedo (hoje produtor de sucesso nos EUA) -, integrantes do grupo Yahoo, resolveram montar um home studio. Para isso, contaram com o apoio de ninguém menos que Michael Sullivan, um dos maiores compositores do Brasil.
"O Sullivan tinha uma máquina Otari MTR90, de 24 canais, e nos propôs essa sociedade. Trabalhamos juntos por um tempo, até que ele se mudou para o exterior, para trabalhar com música no mercado latino, e tivemos de nos mudar", lembra Marcelão. "Com sua saída, fomos para um pequeno apartamento, mas nem mesmo o pouco espaço nos impedia de gravar discos inteiros. Nos divertíamos muito. Era voz [gravada] no banheiro, bateria na sala...", emenda Zé.
"Hoje em dia, todo mundo tem estúdio em casa, mas, naquela época, era um sonho. Lembro que compramos o que havia de mais moderno no mercado - os ADATs, impulsionados pelo fato de artistas como Phil Collins e Alanis Morissette terem gravado seus discos com eles. Depois compramos um módulo de 24 canais, um Meter Bridge, da Mackie", completa Knust.
O tempo passou e a necessidade de um lugar maior, para realizar suas produções com maior conforto, bateu à porta dos músicos, que não pensaram duas vezes e logo saíram "à caça". Por sorte, um ambiente da casa que abrigava o estúdio Gorila Mix - na época, propriedade dos engenheiros de áudio Walter Costa e Denilson Campos e do músico e produtor musical Miguel Flores - não estava sendo usado. Desse modo, pôde ser alugado por eles.
"Ficamos com o andar de cima, que era enorme, e começamos a trabalhar lá. As primeiras paredes foram pintadas pelo Marcelão com uma tinta 'azul calcinha' horrorosa, mas a sala soava bem. Tinha uma geometria boa e um som grandioso, apesar de, por vezes, o vazamento do cachorro do vizinho 'invadir' as gravações", conta Zé. "Quando isso acontecia, a gente dizia pro cliente: vocês estão com sorte! Cada vez que esse cachorro late, o disco que está sendo gravado vende milhões de cópias. Deixa o cachorro aí!", diverte-se ele.
ESTÚDIO SE TRANSFORMA EM PRODUTORA
Sem dúvida alguma, a maior "herança" que Michael Sullivan deixou para Zé Henrique, Marcelão e Knust foi a produção dos trabalhos da apresentadora Xuxa. Envolvido com diversos outros trabalhos, ele deixou a responsabilidade nas mãos do trio, que deu conta do recado e fez uma boa "poupança", mais tarde revertida em mais e mais equipamentos.
"Assumimos a gestão musical da Xuxa e, com isso, nos capitalizamos. Duas vezes ao ano, viajávamos para o exterior, de onde voltávamos com o que havia de mais moderno em termos de tecnologia aplicada em produção musical. Porém, mais importante do que isso foi a oportunidade de conquistar os Grammys Latinos com alguns de seus discos", gaba-se, no bom sentido, Marcelão.
Paralelamente ao trabalho que exerciam junto à "Rainha dos Baixinhos", os músicos se voltavam para o mercado independente na intenção de revelar novos nomes. Dessa busca surgiram artistas como o grupo LS Jack, entre muitos outros que, juntamente com Xuxa, totalizam mais de oito milhões de CDs vendidos. "Nós fazíamos de tudo um pouco. De composição a arranjos, pontos importantes na construção de uma carreira artística", diz Zé Henrique.
Além disso, os estúdios que pertenciam às grandes gravadoras estavam fechando suas portas e a sala de gravação do Yahoo passava a ser uma excelente opção para as companhias. Uma delas era a MK Publicitá, que chegava forte no mercado religioso, lançando artistas como Aline Barros, Fernanda Brum e Kleber Lucas, entre outros. "Eles levaram nosso nome para um público que não era nosso. Por isso, foram e são de extrema importância na nossa história", resume Knust.
TIME GANHA REFORÇO, MUDA DE NOME...
No início de 2007, quando se dividiam entre produzir outros artistas e selecionar o repertório daquele que seria o primeiro DVD do Yahoo, Zé Henrique, Marcelão e Sérgio Knust ganharam um novo sócio: Paulo Henrique Castanheira, diretor musical da Rede Globo e dono da produtora de conteúdo audiovisual BR Plus. Convidado para produzir o trabalho do grupo, PH, como é conhecido no meio, acabou aportando no estúdio com seu know-how e uma série de periféricos, incluindo pré-amplificadores e compressores.
"Primeiramente, o queríamos como produtor, por conta de seu expertise como tecladista e orquestrador, pois, entre outras coisas, naquele momento estávamos sem tecladista, fundamentando nossos arranjos em baixo, guitarra e bateria. Mas, durante a produção e por conta dela, nossa identificação com sua filosofia de trabalho cresceu ainda mais e a parceria acabou sendo consequência natural disso tudo", conta Marcelão, lembrando que hoje a empresa se chama Yahoo/BR Plus.
"Na verdade, nossa parceria se firmou mesmo quando ele [Marcelão] me convidou para coproduzir o CD de estreia do Ricky Vallen. No meio do trabalho, juntamos o setup da BR Plus com o que eles tinham no estúdio e montamos uma estrutura gigantesca. Além dos equipamentos, trouxe do antigo estúdio uma série de madeiras bacanas, que foram usadas na decoração dessa nova sala e em seu lobby, um ambiente aconchegante, ideal pra receber artistas e suas equipes", diz PH.
Com o negócio fechado, os sócios passaram a ter duas técnicas e duas salas de gravação, que, desde então, podem ser usadas de diversas maneiras, já que qualquer uma das duas técnicas opera a sala de cima e de baixo, separadas ou juntas.
"Tamanha mobilidade", explica Zé, "acaba por fazer alguma diferença, pois nos permite trabalhar com todo o aparato tecnológico sem ter que deslocar as coisas de um andar para o outro, por exemplo". "No entanto, para que isso fosse possível, tivemos que investir mais de 10 mil dólares em cabos top de linha da Mogami. Sem contar, claro, com os custos de instalação dos sistemas, trabalho realizado pela equipe da Ground Control", completa PH.
...E ADQUIRE SSL PARA NOVA SALA
A sociedade também foi responsável pela realização de um sonho antigo de Marcelão e de seus companheiros de banda. Apaixonados pelos robustos consoles SSL, eles adquiriram "na raça", como diz Sérgio, um modelo AWS 900+ SE. A compra, entretanto, "se deu por puro amor à música", segundo Marcelão.
"Se considerássemos apenas a relação custo-benefício, não valeria a pena comprá-la, mas deixamos isso de lado e nos voltamos para a real necessidade de termos um equipamento como esse à disposição, já que nosso objetivo é gerir trabalhos diferenciados, com qualidade. Vamos levar uns anos para quitar essa compra, mas, até lá, produziremos muito, tenho certeza", aposta ele.
Além da SSL, a sala principal do estúdio conta com um sistema Pro Tools HD3 e monitores Genelec 8040A - acompanhados de subgraves da mesma marca - e Yamaha NS10, sem contar o rack de periféricos com unidades de pré-amplificadores, compressores e distressors que atendem aos mais exigentes técnicos.
Na sala de baixo, outro Pro Tools HD3 é comandado por uma Control 24. No ambiente, o sistema 5.1 é composto de caixas Genelec 8030. Já o 2.0 é feito com elementos Mackie. Ainda no ambiente, estão disponíveis racks com equipamentos de diversas marcas, como Avalon, Amek, SSL e Focusrite, entre outras.
"Quase todos os projetos que têm bateria acústica são gravados na técnica de cima, onde fica a SSL, utilizando a sala de gravação de baixo, que é maior e nos permite microfonar o instrumento com maior conforto, valorizando os overs. Dependendo da sonoridade desejada, podemos, inclusive, microfonar o corredor, que dá um som legal, orgânico. Na verdade, como a mobilidade é grande, enquanto gravamos em um estúdio, podemos usar o outro para edições, ou usar os dois simultaneamente para uma gravação ao vivo mais complexa", explica PH.
Apesar de terem "munição pesada", quando o assunto é tecnologia, os integrantes do Yahoo e PH mostram que o grande diferencial da produtora é o domínio absoluto de todas as etapas da produção fonográfica, algo que começa no direcionamento artístico, passa pela composição e seleção de repertório, segue pela criação e gravação de arranjos e vai até a finalização do CD ou DVD.
"Nós temos uma história que não deixa dúvidas. Produzimos muita gente importante, revelamos outras tantas e fomos premiados, em todos os sentidos, pelo nosso trabalho", diz Marcelão, referindo-se ao Yahoo. "E o PH, que há anos trabalha na indústria do disco, coleciona experiências com artistas como Sandra de Sá, José Augusto, The Fevers e Leo Jaime e com diretores artísticos como Mariozinho Rocha e Miguel Plopschi. Não é pouca coisa não!", derrete-se ele, ao falar do sócio.
NO PROJETO DE ACÚSTICA E NO COMANDO DA SSL, UM VELHO CONHECIDO
As salas do Yahoo/BR Plus foram projetadas pelo engenheiro Walter Costa, um dos ex-sócios do Gorila Mix. Enquanto a sala de gravação que fica no primeiro andar da casa tem 7 m x 5 m, a técnica correspondente a ela tem 3 m x 4 m. No pavimento superior, a sala de gravação tem 15m². A técnica deste estúdio, que mede 36m² e abriga o console SSL, é a grande vedete do local. Bastante confortável, tem espaço de sobra para acomodar bandas, produtores, engenheiros e equipamentos. Nela, segundo o próprio Walter, são realizados registros simultâneos de diversos instrumentos.
"Quando fazemos gravações ao vivo, com as bandas tocando tudo ao mesmo tempo, gravamos teclados, baixos, tudo aqui dentro. No Rio de Janeiro, poucas técnicas contam com dimensões tão grandiosas. É possível que só o Mega tenha uma sala semelhante. Talvez até maior, mas com uma disposição de equipamentos não tão boa. Em São Paulo, o Mosh seria um exemplo de similaridade", compara ele.
Técnico renomado, Walter passou um tempo trabalhando em Salvador, gravando e mixando projetos realizados na capital baiana com artistas locais. Há um ano, no entanto, voltou ao Rio. Convidado pelos sócios do Yahoo/BR Plus, hoje ele é uma espécie de "coringa" da casa.
"Quando compramos a SSL, demos um passo enorme no que dizia respeito à tecnologia. Por outro lado, sabíamos que seria preciso investir em mão de obra especializada para 'pilotar' o equipamento. E o nome do Walter, por uma infinidade de motivos, foi o primeiro a surgir em nossas reuniões", diz PH.
"Sentimos, naquele momento, a necessidade de termos um engenheiro com uma linguagem analógica. Walter, que tinha afinidade com a gente, acabou sendo o cara ideal para assumir essa responsabilidade. Ele trouxe experiência e, acima de tudo, valor ao nosso investimento, afinal de contas, não adianta ter uma Ferrari se não se sabe pilotá-la", completa Marcelão.
Walter, por sua vez, comemora o convite e, de certa forma, sua volta à casa. "Trabalhar com pessoas sérias dá retorno financeiro, pelo volume de trabalho, mas dá, acima de tudo, satisfação. Os caras compraram uma SSL num momento em que grandes estúdios fechavam suas portas. Estou há 20 e tantos anos no mercado, e me deparar com uma atitude como essa só me faz acreditar que ainda é possível viver de música nesse país".
O técnico vai além e diz ainda que os amigos o deixam livre para opinar sobre as concepções musicais de seus trabalhos, exatamente como fazem produtores do exterior. "Lá fora, o engenheiro participa ativamente do processo. É mais do que um cara que aperta o Rec. Embora no Brasil nem sempre se trabalhe dessa maneira, no Yahoo/BR Plus isso é uma realidade. São caras musicais e criativos, que respeitam muito os profissionais que convidam para seus projetos", encerra.
RENOVAÇÃO DE MERCADO É PAUTA CONSTANTE ENTRE SÓCIOS
"Somos 'dinossauros', como dizem por aí, mas não paramos no tempo. Estamos atentos ao mercado, pois nosso maior objetivo é renová-lo. Gostamos de trabalhar com artistas consagrados, mas queremos sempre lançar novos nomes. E isso sabemos fazer muito bem", conta Marcelão.
"Quando paramos de trabalhar direto com a Xuxa e voltamos para o mercado, trabalhamos com diversos artistas que acabaram estourando. Nomes como Liah, Felipe Dylon, Tânia Mara e Pedro & Thiago, além do LS Jack, entre muitos outros. Isso mostra nosso know how para gerir novos produtos", emenda Zé Henrique.
"Além dos artistas que eles citaram, produzimos diversos trabalhos para programas como Criança Esperança 2010, Estação Globo 2009 e as novelas e minisséries Negócios das China e Maysa. Hoje, fora tudo isso, gerenciamos a carreira de artistas como Rude e Kandies, entre outros", completa PH.
Pelo bate-bola entre os sócios, é possível notar que a "máquina" Yahoo/BR Plus não para. Não bastasse a produção dos CDs, eles também têm produzido clipes desses artistas e DVDs de outros. Para isso, contam com uma invejável estrutura, que inclui câmeras e ilhas de edição de ponta.
"Fazemos a produção dos clipes e dos DVDs, bem como suas edições e autorações. Temos um sócio nesse departamento, o Beto Braga, que é quem cuida de toda a parte de finalização dos produtos. No novo formato de mercado, se mantém quem tem competência individual e não se fecha para parcerias", encerra PH.
LISTA DE EQUIPAMENTOS
PLATAFORMAS DE GRAVAÇÃO
Pro Tools HD Accell 6.9 com mesa Digidesign Control 24 + 16 prés Focusrite
Pro Tools HD Accell 9.0 com mesa SSL AWS900+ SE
COMPUTADOR
Apple Macintosh G5 Dual Processor 2.4 GHZ
MONITORES
Genelec 1031 com subgrave
JBL LSR 32
Yamaha NS 10
PRÉ-AMPLIFICADORES
Focusrite ISA 430
Universal Audio 2-610 (estéreo)
Amek 9098 (Neve)
Avalon VT 737
COMPRESSORES
Universal Audio LA2A
Universal Audio 1176
dbx 160A
Drawmer MX30
Empirical Labs FATSO
MICROFONES
Neumann U87
AKG 414
AKG 451
AKG D 112
Shure SM57
Shure SM58
Blue Dragonfly
Sennheiser 421
PRÉ-AMPS E PEDAIS DE GUITARRA E DE CONTRABAIXO
Full Tone OCD Overdrive
Ibanez TS9 Overdrive
Mesa Boogie V-Twin
Fulltone Custom Shop RTO Robin Trower Signature Overdrive
Boss CE-5 e CE-1
Line 6 DL4, FM4, DM4 e MM4
Chandler Flanger (vintage)
Soldano SLO preamp
TC Nova Modulation
TC Nova Delay
Marshall Guvnor
Digitech Whammy II
Line 6 Pod
Marshall JMP-1
Lexicon MPX G2
Boss GX-700
Rocktron Chameleon
BBE 411
Mesa Boogie Triaxis
Dunlop Cry Baby
Rocktron Intellifex
Korg SDD 2000
Lexicon PCM 80
SIB Varidrive
Alembic F-1X
AMPLIFICADORES DE GUITARRA
Laney LC30II e VH100
Crate Vintage Club 50
TC Chorus/Flanger
MXR Dynacomp
Caixa Crate 4x10
Caixa Marshall Vintage 1960A 4x12
Hughes & Kettner Statesman Quad EL84
Avalon U-5 (DI)
SansAmp/Bass Drive
Caixa Laney 4x12
Potência Mesa Boogie 50/50 Stereo Tube Power
Marshall Jack Hammer
DigiTech Wammy II
INSTRUMENTOS DE CORDAS
- Baixos:
Fender Precision
Zon-Sonus
Fender- Jazz Bass
- Guitarras:
Gibson Les Paul Gold Top 68
Gibson Les Paul Custom 64
Gibson Les Paul Recording 76
Fender Stratocaster Lonestar
Stratocaster John Sur
Stratocaster Tom Anderson
Gibson 335 Custom Shop
Paul Reed Smith EG
Ibanez JEM77
Sitar Jerry Jones
Fender Telecaster 52 Reissue
Fender Stratocaster SRV
- Violões:
Taylor 814ce
Yamaha APX 10 Nylon 6
Takamine TC135SC Nylon Valve preamp
John Price Nylon Concertista
Sergio Abreu 1980 Concertista
Gibson J-200
Taylor 312 12 cordas
Banjo Fender
Bandolin Godin
BATERIAS
DW Collectors Series
Yamaha Recording 9000
(bumbo 22", tons 10" e 12" e surdo 16")
Caixas DW, Ludwig, Tama, Pearl e Ayote
Pratos Paiste 2002, Zildjian e Sabian Paragon
FONES
Sony MDR 7506 e U700
AKG K301 e AKG K240
Pro Co Junction Box Headphone Model HJ4P