Em tempo real
Chico Donghia
Fernando Barros
Publicado em 15/06/2011 - 15h28
O produtor musical Chico Donghia, como muitos de sua geração, entrou no universo do áudio profissional graças ao amor pela música. Filho de uma pianista clássica e também neto e sobrinho de músicos, o carioca ouvia uma grande variedade de estilos desde cedo. "Minhas tias compravam os discos da moda, e eu, muito enxerido, ouvia todos os lançamentos que elas adicionavam à farta discoteca durante a década de 1960", relembra.
A atração pela música o levou a estudar piano clássico, para, em seguida, fazê-lo cair de cabeça na beatlemania e nas guitarras elétricas que inovavam o som feito na época. O restante foi apenas consequência, como ele mesmo conta. "Sou formado em comunicação, mas deixei inclusive o cargo de chefe do departamento fotográfico de uma companhia de aviação quando a minha banda, Grafite, estourou em 1984 com o sucesso Mamma Maria". A partir daí, Chico passou a se dedicar integralmente à música.
"A coisa começou mesmo quando entrei nos históricos Estúdios Transamérica para gravar o primeiro compacto do Grafite, em 1983. Logo em seguida gravamos umas 30 músicas nos estúdios da Polygram e com o Lincoln Olivetti, em seu estúdio, ainda na Rua Triângulo Mineiro, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Tudo em fita de duas polegadas, muitas válvulas e monitores Yamaha NS10", conta.
Ele afirma que seu embasamento técnico foi adquirido graças ao estreito contato com profissionais dos inúmeros estúdios pelos quais passou durante sua carreira. "Alguns deles foram Paulo Debétio, Marcos Maynard e Ricardo Morais, o Ringo, além de técnicos de altíssimo nível, como Vânius, Miguel Rocha, Laci de Morais, Willian Luna Jr., Paulo Succar e outros mestres das técnicas de gravação e, principalmente, da arte de ouvir".
Chico considera que a "pós-graduação" de sua carreira foi a atuação, como técnico, nos cinco últimos álbuns de Tim Maia. Ele revela que, na maior parte do tempo, também trabalhava como produtor, além de ter atuado como diretor de palco de dezenas de show do cantor. "Tenho um número próximo a 1000 CDs gravados para centenas de clientes", destaca.
Nos dias atuais, o produtor tem recebido artistas em seu prático home estúdio. "É um estúdio feroz. Gravamos bateria acústica e tudo mais. Possuímos bons instrumentos, microfones e periféricos de alto nível, e com um baixo custo operacional", afirma. "Tudo aqui é feito com muita agilidade, sem cera e sem inventar moda. Por outro lado, buscamos timbragens específicas com muita calma", ressalta Chico, que atualmente está envolvido com diversas produções - entre elas, a do novo álbum do Grafite.
BATE-BOLA
Pré-amplificador: Rupert Neve
Processador de efeito: Lexicon 480L
Monitor: Yamaha NS10
Microfone: AKG 414 B-ULS
Plataforma de gravação: iMac
Software: Pro Tools
Estúdio: O meu home studio
Produtor brasileiro: Eu (risos)... Brincadeira. O Lincoln Olivetti é o melhor sempre.
Produtor estrangeiro: Paul McCartney
Melhor gravação em que trabalhou: Essa Tal Felicidade, de Tim Maia e os Cariocas
No estúdio, gosto de: Calma, muita ordem e objetividade
No estúdio, não gosto de: Gente que pensa que sabe tudo e gente sem educação. Aí eu paro.
O melhor do meu trabalho: Ver clientes satisfeitos, que se tornam amigos meus e que voltam ao estúdio para novos trabalhos
Planos para o futuro: Continuar tocando três horas de piano todo dia e gravar, mixar e masterizar até quando Deus quiser
Recado para os iniciantes: O fundamental é timbrar bem e, principalmente, saber ouvir. E não esqueça: a pressa é inimiga da gravação.