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Revista Luz & Cena
Análises técnicas
Equalizadores Pentacústica EQ 3002A × BSS Opal FCS 966
Clássico internacional termina em empate
Sólon do Valle
Publicado em 01/01/2004 - 00h00
Divulgação
 (Divulgação)
Não é muito comum promovermos jogos internacionais em nossa sede em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. No entanto, estas duas equipes - uma, brasileira, e outra, inglesa, se mostravam tão bem equilibradas, que o jogo prometia ser disputado. Como amantes do áudio-arte que somos, não pudemos deixar de sediar a partida.
Os times adversários saíram empatados, mas os muitos técnicos ganharam.
Palavra do juiz!




As equipes

A BSS, de Potter Bar, Inglaterra, entra em campo com o Opal FCS 966, equalizador gráfico de ? de oitava, 30 bandas (não há a banda de 20Hz), dois canais, filtro passa-altas e controles Contour. Sua adversária, a Pentacústica, subsidiária da Attack, de Apucarana, Brasil, joga com o EQ 3002A, equalizador de ? de oitava, 31 bandas, dois canais, filtros passa-altas e passa-baixas e controles Contour. A BSS se apresenta em verde escuro, com knobs pretos, e a Pentacústica se apresenta em alumínio escovado, também com knobs pretos. As leituras de ambos os painéis são boas.
No painel frontal do FCS 966 temos a partir da esquerda os 60 knobs deslizantes de equalização, em duas filas, uma por canal. À direita, temos os knobs dos ajustes de ganho, filtro passa-altas e Contour, todos rotativos; e mais as duas teclas vermelhas, iluminadas, de bypass. Não existe chave liga-desliga de alimentação.
Também o painel frontal do EQ 3002A começa com os 62 knobs de equalização, em duas fileiras. À direita, também em duas filas de controles deslizantes, temos o ganho, o Contour e os filtros passa-altas e passa-baixas. Seguem-se as duas teclas de bypass e, finalmente, à direita, a chave liga-desliga da alimentação.
No painel do BSS, os controles deslizantes de equalização ocupam uma parte bem maior do painel, o que facilita a operação, pois os knobs ficam mais afastados entre si.

Painel traseiro do BSS FCS 966


Painel traseiro do Pentaústica EQ 3002a

O painel traseiro do BSS possui entradas e saídas XLR e P10 TRS, todas balancea-das, e mais duas réguas de terminais Combicon, também balanceadas. A um custo extra, a BSS oferece a opção de entradas e saídas balanceadas a transformador. Na outra extremidade, estão o conector do cabo de AC, o porta-fusível e a chave seletora de tensão AC.
O painel traseiro do Pentacústica tem também as conexões balanceadas XLR e P10 TRS, mas oferece ainda a opção de Ground Lift (desconectar o terra, uma boa jogada da Pentacústica). Na extremidade oposta, ficam também o conector do cabo de AC, o porta-fusível e a chave seletora de tensão AC.

Mexendo & ouvindo
O teste de audição foi feito com muita atenção e carinho - afinal, são dois produtos de alto gabarito, e esperávamos mesmo o melhor de ambos. Curiosamente, eles são bastante diferentes entre si, apesar do patamar onde se encontram.
Ouvimos desde um CD dos Beatles até um DVD dos Eagles, passando por Gilberto Gil, Maria Rita e Miles Davis!
O teste foi do tipo A/B/C: sinal passando direto, passando por um, e passando pelo outro equalizador. A fonte de sinal foi o DVD do computador, através da placa M-Audio Delta 1010LT. A monitoração foi feita por caixas ativas Spirit Absolute 4 e por fones de referência Sennheiser HD580.
Em situação de resposta plana - ou seja, com a equalização toda flat, sem filtros e sem Contour, em nenhum dos dois EQs se nota qualquer diferença no som ao acionar a chave de bypass.

Contour
O Contour produz resultados bastante diferentes em cada equalizador. No BSS, a ação se estende bem mais até a região de médios, tanto para o controle de graves como para o de agudos, e a ação dos controles, mesmo nas posições de máximo e mínimo, é mais sutil. Já no Pentacústica, a ação do Contour é mais pronunciada, especialmente no controle de graves, onde acrescenta enorme "peso"; mas se limita bem mais aos extremos do espectro.

Filtros
Os filtros são eficientes nos dois equalizadores e não acrescentam problemas de fase ou "colorações" ao som. No Pentacústica, a gama de atuação do passa-altas se esten-de até uma oitava a mais que a do BSS - embora seja pouco provável que alguém venha a precisar disso. Como vantagem, o Pentacústica traz o passa-baixas, de corte enérgico porém macio, sem acrescentar artefatos desagradáveis ao som.

Equalização
A equalização de 1/3 de oitava - objeto básico destes aparelhos - mostrou qualidade em ambos mas, curiosamente, revelou sonoridades diferentes entre um e outro.
Ao se reforçar ou atenuar uma banda no BSS, sente-se que as bandas vizinhas são mais afetadas do que no Pentacústica. A impressão é de que o BSS "equaliza mais". Isto remete à tradição da British EQ ("equalização britânica"), onde as larguras de banda sempre são maiores que o valor teoricamente exato, mas que agrada ao usuário pelo seu poder de ação.
Um teste difícil consiste em elevar uma banda até o máximo, suas duas vizinhas até dois terços do curso, e as seguintes até um terço, formando um triângulo com o vértice na freqüência central. No caso, fizemos isso com 1kHz no centro e no máximo, com 800Hz e 1,25kHz um pouco abaixo, e 630Hz e 1,6kHz pouco acima do flat. O BSS "gritou" bem mais que o Pentacústica, embora ambos tenham produzido reforços monstruosos nessa banda. A bem da verdade, o Pentacústica produziu - apesar de sofrer o mesmo exagero - um resultado menos agressivo, mais próximo do natural, e com menor ringing (ressonância) do que seu oponente.
Na região de graves, o comportamento se repete. Reforçando-se toda a região abaixo de 125Hz até chegar ao topo em 40Hz, o BSS "deu muito mais grave", mas o Penta-cústica produziu graves mais "secos" e bem-comportados.
No extremo agudo, ao se realçar radicalmente todas as freqüências acima de 8kHz, notou-se um hiss bem audível no Pentacústica. Afinal, são quase 20dB de reforço nessa faixa, e este tipo de atuação nunca seria usado na prática. Mas o fato é que, no BSS, o mesmo reforço praticamente não produziu ruído algum.
Em compensação, este reforço radical (e improvável) produziu, no Pentacústica, uma sensação de brilho e de transparência que seria agradável não fosse o exagero, en-quanto no BSS soou de maneira bem mais metálica.
Deixando, agora, os radicalismos e exageros de lado, sentimos que para operações normais, com correções mais "civilizadas", o timbre das duas unidades é excelente, e em qualquer dos dois chega-se rapidamente ao equilíbrio desejado, pois não há ne-nhum problema de interação destrutiva entre as bandas.
A opção entre um e outro se torna, então, questão de gosto.

Medidas
Resposta de freqüências e ação dos filtros
O FCS 966 apresenta resposta de freqüências extremamente extensa. É perfeitamente plana de 10Hz até 20kHz, caindo menos de 3dB a 100kHz. O filtro passa-altas vai até 250Hz e tem queda de 12dB por oitava. Este equalizador não dispõe de filtro passa-baixas.
O EQ 3002A é um pouco mais modesto na resposta, mas ainda é excelente: perde uma fração de dB em 20Hz e em 20kHz, e só cai 3dB acima de 42kHz. Em compensa-ção, seu filtro passa-altas vai até 500Hz com 12dB por oitava, e tem filtro passa-altas, trabalhando com 12dB por oitava em qualquer freqüência a partir de 2,1kHz.



BSS: resposta de freqüências excepcional


Pentacústica: boa resposta de frequências, e filtro passa-baixas

Contour
O Contour é um controle de graves e agudos, atuando bem junto aos extremos do espectro audível, para modelar a sonoridade geral do programa sem precisar mexer nos muitos controles de equalização. A BSS trabalha o Contour de forma sutil, com atuações suaves nas pontas do espectro, enquanto a Pentacústica optou por imple-mentar um controle de graves mais generoso, atingindo ações um pouco mais acentu-adas na parte grave do espectro.
O Contour do FCS 966 atinge ±6dB em 20Hz e em 20kHz, chegando a ±4dB em 100Hz e em 6kHz.
Já o EQ 3002A atinge ±10dB em 20Hz e cerca de ±7dB em 20kHz, chegando a ±6dB em 100Hz e a ±4dB em 6kHz.


Acão do Contoour no BSS FCS 966: suave


Ação do Contoour no no Pentacústica EQ 3002A: mais intensa

Equalização
Ambos os equalizadores usam filtros de Q constante, que facilitam bastante o trabalho do operador, e não criam problemas de cancelamento da fase - o que se traduz, em última análise, em melhor qualidade sonora quando o assunto é equalização de siste-mas. Os filtros de Q proporcional, por outro lado, são melhores para uso em equaliza-dores de consoles, para uso com vozes e instrumentos.
Cada filtro do BSS atingiu aproximadamente ±14dB de ação. No Pentacústica, a ação chegou a cerca de ±16dB, ou seja, é ligeiramente mais poderosa.
No quesito precisão, a Pentacústica levou a melhor, pelo menos nesta banda: enquan-to a freqüência central real de atuação da banda marcada "1k" é de 1003Hz (apenas 0,3% de desvio), no inglês a freqüência real foi de 950Hz, um desvio de 5%.

BSS FCS 966: curvas de atuação da banda de 1kHz

 
Pentacústica EQ 3002A: curvas de atuação da banda de 1kHz

Ripple
Este é sempre o mais sádico teste para um EQ gráfico. Consiste em medir a resposta de freqüências com todas as bandas elevadas ou atenuadas por igual. Em valores extremos, a resposta apresenta uma ondulação (o ripple), tão mais sério quanto menor for a precisão dos filtros do aparelho.
Em um equalizador de ? de oitava, evidentemente a largura de cada banda deveria, em teoria, ser de ? de oitava, para que a superposição fosse perfeita. Bandas mais estreitas produzem maior ripple (o ganho cai muito entre bandas seguidas); bandas largas demais produzem menos ripple, mas o ganho sobe entre bandas consecutivas.
Calculando, a partir das curvas de atuação vistas acima, a largura de banda para a banda de 1kHz dos dois aparelhos, obtivemos, para o BSS, o valor de 0,41 oitava; e para o Pentacústica, encontramos 0,23 oitava. Enquanto o inglês usa uma banda mais larga que a teórica (de 0,33 oitava), o paranaense usa uma banda mais estreita!
Nesta disputa, os dois concorrentes - embora nenhum deles esteja dentro dos padrões teóricos - se saíram bastante bem, como se pode ver nos gráficos.
 
Ripple no BSS: ±4dB com controles no máximo


Ripple no Pentacústica: ±3dB com controles no máximo

Neste lance, o brasileiro levou clara vantagem: apesar de usar largura de banda bem mais estreita - o que, em princípio, pioraria o ripple - apresentou mais regularidade, mostrando novamente maior precisão nos circuitos que seu concorrente europeu.

Resposta de fase
A resposta de fase dos filtros de 1kHz complementa a resposta de freqüências na avaliação da qualidade dos projetos. Ambos os produtos mostraram precisão na res-posta de fase deste filtro. É interessante notar que, devido à diferença acentuada de largura de banda entre os dois EQs, as respostas de fase também diferem entre si: a fase no BSS varia mais rapidamente na vizinhança da freqüência central, enquanto no Pentacústica a variação se espalha mais aos lados da freqüência central. Além disso, a rotação de fase no BSS se manteve entre ±41°, enquanto no Pentacústica atingiu ±48°, em função daqueles ±2dB adicionais de atuação.

BSS: resposta de fase do filtro de 1kHz, no máximo reforço




A resposta de fase global foi levantada em três diferentes situações: com todos os filtros na posição central (flat), com reforço geral de 10dB, e com atenuação geral de 10dB. Nestas duas últimas situações, note que a resposta de fase também apresenta ripple.
Neste teste, o BSS levou ampla vantagem. Na posição flat, a fase global não variou mais do que +20° / 25°. No reforço geral de 10dB, a variação cresceu para +120° / 100°, e na atenuação geral de 10dB, ficou entre 80° / +50°.
Em comparação, o Pentacústica em flat atingiu +80° / -75°, no reforço geral chegou a +160° / 130° (quase inverteu a fase em 20Hz), e na atenuação geral ficou em ±30°. Isto é, certamente, causado pelos filtros que estão sempre ativos (mesmo quando deixando passar "tudo"), e pode facilmente ser solucionado com o uso de potenciôme-tros com contato de chave, como os utilizados pela BSS.


Distorção
Já estamos acostumados a procurar distorção e não encontrar - e, nesta peleja, foi mesmo difícil achar alguma. Os dois equalizadores se igualaram neste item. Em 1kHz de freqüência, a níveis altos de saída, não "conseguimos" mais do que 0,004% de distorção harmônica. Para outras freqüências, e para a intermodulação, o resultado foi o mesmo.

Ruído
Nos dois aparelhos, o nível de ruído foi muito baixo, comparável ao dos melhores sistemas digitais de gravação. A relação sinal/ruído foi de mais de 106dB para o BSS e de 103dB para o Pentacústica.

Crosstalk
No item crosstalk, ou seja, vazamento de sinal entre canais, os dois concorrentes empataram. A 1kHz, os vazamentos em 1kHz variaram pouco entre 100 e 105dB, baixando para algo entre 80 e 85dB em 10kHz.
Nestas curvas, aparece para o canal esquerdo do BSS um leve ruído em 120Hz, e para o Pentacústica, ruído em ambos os canais em 60Hz e 180Hz. São interferências da fonte de alimentação, a níveis tão baixos que jamais serão ouvidas em qualquer situa-ção.

Nível máximo de saída
Os níveis máximos de saída, a 1kHz com distorção harmônica de 0,1%, foram:
BSS FCS 966: 9,50Vrms ou +21,8dBu sobre 10k ohms
Pentacústica EQ 3002A: 8,96Vrms ou +21,3dBu sobre 10k ohms

Conclusão
Após o que vimos, a conclusão é de que escolher o melhor é questão de gosto ou de conveniência.
Cada um dos equalizadores testados excedeu o outro em algum detalhe, mas sem ficar muito atrás em outros. A sonoridade dos dois é ótima, e a operacionalidade também.
O acabamento do BSS é mais elaborado, mas o do Pentacústica também é agradável de se ver. As leituras de escala do Pentacústica, especialmente nos dB de atuação dos controles de equalização, é bem mais exata que a do BSS. Em compensação, no BSS esses controles ficam mais afastados entre si e são mais fáceis de operar.
Em outras palavras, os times empataram nesta decisão internacional - quem ganhou foi você.

Sólon do Valle, engenheiro eletrônico, é editor técnico de M&T e professor do IATEC.
 
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