No mês passado falamos da diferença entre masterizar uma música ou disco, e a polêmica mania de inserir plug-ins (ou processadores) no Master de uma mix.
Existem dois grandes perigos de se usar plug-ins no master de uma mix. Um deles, é que normalmente, o engenheiro ou produtor deixa pra inserir estes plug-ins na hora de fazer o "bounce" da mix. Ou seja, no fim da sessão, quando os ouvidos estão cansados e o cérebro acostumado com alguns possíveis "erros" da mix, que só serão percebidos no dia seguinte. ou no dia da masterização. O engenheiro então acha que pode "dar uma melhoradinha" inserindo um compressor ou eq no master, justamente na hora em que não tem mais capacidade de decidir nada, devido a fadiga. O outro grande problema é que, uma vez insertado e o bounce da mix feito. já era. Se no dia da masterização. lá em outra cidade, você chegar à conclusão de que aquele dia, de fato, você tava cansado quando "brincou" com esse plug-in. tarde demais. Portanto. pense três vezes antes de decidir que a mix toda vai passar por algum processamento extra. Ou então, prudentemente, faça também um bounce sem este plug-in insertado.
Mas. e que tal ir insertando algo no master fader DURANTE o andamento da mix ? Mas por que durante ? Não vai atrapalhar minhas decisões, automações, efeitos, que estou usando ? Bem. este é justamente o ponto. Quando insertamos um processamento no master fader de uma mix, temos a oportunidade de ir "mixando pra ele". Ou seja, nossas decisões durante a mix, são tomadas enquanto ouvimos o processamento atuando no master fader. Logo, se temos um compressor no master e "empurramos" mais voz na mix. esse compressor vai "segurar a voz", causando um leve "ducking" na base. Ou seja, afundando toda a mix quando a voz soa mais alta. E nosso cérebro percebe isso como ganho em volume. Quando tem voz, ela ta alta, empurrando a base pra baixo.. quando não tem voz.. a base volta a soar mais alta.. ou seja.. sempre tem volume nos nossos ouvidos. Se insertamos um limiter no master fader, e aumentamos a caixa da bateria. esta vai causar o limiter a atuar.possivelmente mudando um pouco o timbre da caixa, e a encaixando mais na base toda.
Agora. quando exatamente devemos começar a insertar essa"tralha" no nosso master fader ? Calma.. ninguém disse que temos que o fazer. a mix pode soar mais natural e respirando, sem nada no master. Mas, pode ser que nao desejemos uma mix leve e natural ! Bem, não há uma regra precisa de quando devemos insertar algo no master. Pode até ser no início da mix. mas isso pode fazer com que você voe muito cegamente. Então, eu particularmente acho mais prudente montar a estrutura da mix livre de qualquer processamento no master primeiro. Uma vez a mix soando decente e coerente, e com sua estrutura de ganho correta, sem que a mix clipe o master, pode ser a hora de brincar com um compressor ou limitador no master. E então podemos fazer toda a compensação da mix, ouvindo este processador atuando. aumentar a caixa. a voz. segurar o baixo.podem ser alguns exemplos. E assim seguimos na mix.
Este procedimento pode gerar texturas e ganhos na mixagem, antes inatingíveis. Porém deve ser lembrado que. se você desligar esse processamento, sua mix pode não mais fazer sentido. E. se você exagerar na compressão e limitação, entregando pra o masterizador um produto completamente processado e comprimido, pode ser um caso sem volta. Pode ser que o engenheiro de master consiga fazer pouca coisa na sua mix e ter dificuldades de corrigir algum problema técnico dela. Mas, feito com prudência e musicalidade, os resultados podem ser, no mínimo, novos.
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Enrico De Paoli é engenheiro de gravação, mixagem e masterização. Projetos recentes de seu Incrivel Mundo incluem, PC Castilho, Glaucia Nasser, Djavan, Stanley Jordan, Fred e Paulinho, Titi Walter, etc. cartas@enricodepaoli.com