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Revista Luz & Cena
Show
Festival de Verão de Salvador
Novidade foi sistema de subgraves baiano
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 04/04/2007 - 00h00
O Festival de Verão de Salvador, maior evento musical do calendário cultural brasileiro, chegou a sua 9ª edição em janeiro deste ano. Mais uma vez, a sonorização ficou por conta da empresa local João Américo Sonorização, que aproveitou a ocasião para lançar seu novo sistema de subgraves, projetado por Carlos Correia, consultor técnico da Beyma do Brasil.

O recorde de público do evento, que, pela primeira vez, contou com atrações internacionais (Matisyahu, Gloria Gaynor e Ben Harper), se deu no segundo dia de festa, quando a combinação de artistas como Alcione, Jota Quest, Ivete Sangalo e Asa de Águia, entre outros, reuniu cerca de 70 mil pessoas.
Para 2008, quando completará dez anos de sucesso, a expectativa é de que pelo menos 250 mil pessoas compareçam ao festival. De certo mesmo é dada a presença da locadora baiana.

QUALIDADE DE VLA SURPREENDE ARTISTA INTERNACIONAL

Boa parte dos equipamentos utilizados no evento esse ano já havia sido usada em suas edições passadas. O sistema de PA do palco principal, o Palco 2007, foi o Fly VLA (Vertical Line Array), desenvolvido há alguns anos através de uma parceria da própria João Américo com profissionais da Selenium.

Ele foi composto de 24 caixas por lado, sendo duas torres principais, com 16 caixas cada uma - que sonorizavam a área da platéia -, e duas torres auxiliares, com oito elementos cada uma - que faziam o complemento da cobertura, atingindo os diversos camarotes, dispostos nas laterais da arena. Em cada caixa havia dois falantes de 12", dois de 10" e dois drivers de 2".

De acordo com Vavá Furquim, coordenador técnico da empresa, o dubman e judeu ortodoxo Matisyahu e seu operador de PA aprovaram a qualidade do sistema. Eles, que não sabiam de sua procedência, elogiaram o som e seu alcance, e chegaram a questionar se era um V-Dosc, da L'Acoustics. Bem humorados, Vavá, Carlos Correia e Fernando, sócio da locadora, brincaram com a dupla dizendo que se tratava de um PA modelo "Vatapá-Dosc", ou seja, "um sistema genuinamente baiano".

"É muito importante receber esse feedback, pois sempre valorizamos o produto exclusivo e nacional. Na verdade, nosso papel é vender um serviço de locação, mas sem deixar que a qualidade seja prejudicada. Estamos sempre buscando a excelência para nossos artistas e para aqueles que vêm de fora", disse o coordenador.

O VLA contou ainda com os processadores XTA 428 - que, segundo alguns técnicos, têm uma sonoridade bem mais interessante que os demais do tipo -, com os amplificadores Ciclotron série TIP nos modelos 5000, 3000 e 2000, e com o processamento externo, que foi feito pelos compressores dbx, os gates Drawmer e os equalizadores Klark-Teknik. As máquinas de efeitos Lexicon 480L e Yamaha SPX 990 e 2000 também estavam disponíveis.

Na house mix foram utilizadas duas mesas, uma Midas XL200 e a digital SY80, da InnovaSON. No entanto, a equipe técnica do cantor Ben Harper solicitou um console especial para sua apresentação, um Midas Heritage, além de um rack exclusivo com compressores e outros periféricos.

Para os monitores foram disponibilizados um console Yamaha PM5D, que foi utilizado por Paulinho PA, técnico de Marcelo D2, entre outros profissionais, e um Soundcraft SM16, utilizado pelo técnico de Matisyahu. Já na unidade móvel foi utilizado um console PM1D, da Yamaha, além de um sistema Pro Tools e aparelhos DA88, que serviram para registro do material em backup. O engenheiro de som Roberto Marques, proprietário da ARP, foi o responsável pela gravação.

TÉCNICOS APROVAM NOVOS SUBGRAVES

A grande novidade levada pela João Américo Sonorização para o Festival de Verão foi um novo sistema de subgraves, desenvolvido pelo guru Carlos Correia sob solicitação do proprietário da locadora baiana. De acordo com o projetista, há algum tempo o empresário desejava aumentar a quantidade de caixas desse tipo em sua firma.

No entanto, para esse sistema, em especial, ele sugeriu que fossem utilizados alto-falantes de baixa freqüência com ímãs de neodímio. Assim, Correia optou pelos modelos P1200 ND, de 18", da Beyma, além de cornetas dobradas.

Segundo o projetista, para utilizar falantes desse tipo, é preciso levar em conta algumas importantes questões. Uma delas, por exemplo, é a forma como são refrigerados. "O neodímio é uma espécie de material que não pode sofrer agressões das altas temperaturas, pois ele tem uma sensibilidade maior a elas. Logo, para essas novas caixas, desenvolvemos um sistema especial de refrigeração", contou.

Até ser utilizado no festival, o equipamento passou por minuciosos testes. Mesmo assim, ao longo dos próximos meses, ele ainda sofrerá algumas modificações em seu acabamento. Uma delas será a instalação de ganchos, que permitirão utilizá-lo em modo fly. A idéia é que os subs sejam erguidos com o PA VLA, o que, certamente, irá contribuir para uma melhor cobertura acústica das áreas sonorizadas, além de facilitar sua montagem e desmontagem.

Um dos operadores de PA mais animados com os subs era Ricardo Vidal, d'O Rappa. Presente no evento, ele, que é adepto confesso dos graves, fez questão de dar parabéns à locadora e aproveitou para rasgar elogios ao seu sistema. "As baixas são a alma da tríade grave-médio-agudo. Não há emoção em um show sem a presença delas, pois o som se torna magro e frio. Com esse novo sistema, a JAS e, naturalmente, o Festival de Verão estão muito bem servidos", garantiu.

Vavá Furquim também fez seus comentários. "A música brasileira, principalmente a música baiana, trabalha bastante com esse tipo de freqüência, que é a freqüência da emoção. Pensando nisso, mergulhamos fundo no projeto, muito bem coordenado por Carlos Correia, e o resultado não poderia ter sido outro. Estamos muito felizes", disse.

Profissional que escreveu história dentro e fora do Festival de Verão, Vavá não teve descanso durante os quatro dias de evento, quando auxiliou todos os operadores dos artistas nacionais e internacionais e também operou o PA dos shows de Ivete Sangalo - a pedido de Kalunga, que trabalha com a cantora baiana e assumiu o som da transmissão de seu show -, e Carlinhos Brown. Nessas apresentações, ele utilizou a digital SY80.

TÉCNICO DE IVETE TRABALHA COM VIAS REDUZIDAS

Em sua passagem pelo festival, o operador de monitor da baiana Ivete Sangalo, Lázzaro de Jesus, não utilizou o seu console próprio, uma SY40, da InnovaSON. Na ocasião, ele precisou usar a PM5D, da Yamaha, disponibilizada pela locadora. "Tive um problema com a mesa em nosso último show e não pude trazê-la para cá. No entanto, já conhecia muito bem a PM5D de João [Américo], que tem as funções intuitivas e claras", contou.

Usuário dos microfones Audiotechnica e dos in-ears Sennheiser (com fones E3) e Shure (com fones Westone, para Ivete), o profissional lembrou que, há algum tempo, vem trabalhando com um número reduzido de vias. Atualmente são apenas 18. O motivo, segundo ele, é bem simples: nem sempre é possível levar um console próprio para cima dos carros.

Além disso, diz Lázzaro, "trabalho com 15 músicos no palco. Se fosse utilizar vias em estéreo, precisaria de 30 saídas. Acontece que, nem sempre, em trios, encontramos consoles com essa quantidade de canais disponíveis. E nós, particularmente, fazemos muitos shows desse tipo. Por isso, é preciso trabalhar com uma redução nas vias".

O operador também contou que costuma usar poucos efeitos nos fones de Ivete e de boa parte dos músicos para criar um ambiente mais próximo do real. São efeitos como reverb e delays curtos, que amaciam o som, e um compressor que mantém o nível médio e segurar os picos, pois, de acordo com ele, "quem toca em shows longos, de quase três horas de duração, precisa se ouvir sem ser agredido".

MUDANÇAS NA EQUIPE DE MARCELO D2

Conhecido por cuidar dos monitores do rapper carioca Marcelo D2, Christian Almeida é agora quem opera seu PA. No seu antigo posto, atualmente, está Paulinho PA, profissional bastante reconhecido no meio, que também faz monitores para a cantora Fernanda Abreu.

A decisão de assumir o PA foi tomada depois de uma série de shows realizados na Europa, onde Chris viajou com D2 e cuidou sozinho de todas as operações de áudio do cantor. Manipulando os detalhados delays de sua voz com um pedal de guitarra da Boss, o DD20, ele acabou parando na house mix.

"Eu e Marcelo conversamos muito antes de tomarmos qualquer decisão, mas acabamos achando que seria muito mais proveitoso que eu mudasse de posição na gig. Foi uma troca natural, que beneficiou a todos, já que Paulinho PA também trabalha muito bem com os monitores", disse ele.

NA apresentação no festival, Christian utilizou 40 inputs no PA, sendo 10 para bateria e set eletrônico, dois para o MD, oito canais para a percussão, dois para os teclados, um para o DJ e um para a guitarra, entre outros.

Em cima do palco, o substituto Paulinho PA atuava como uma espécie de maestro, regendo o direcionamento das vias de cada músico de apoio da banda de D2. Ele foi ainda mais detalhista quando alinhou os sides do cantor, que funcionavam como um verdadeiro PA, com decibéis que ultrapassavam a casa dos 110.

No entanto, apesar do volume alto, o sistema soava muito claro sem nenhum tipo de agressão sonora. Quando isso acontecia era porque o DJ descia a mão nos beats mais graves, extraídos de suas pick-ups Technics MK II.

A mixagem do side, segundo Paulinho, é sempre feita com base na mixagem de um disco, "com planos formados pelos instrumentos, que, naturalmente, dão suporte aos vocais. As batidas ficam na cara, com os graves pulsantes, bem característicos do rap e do hip hop". Ainda de acordo com o técnico, os sides auxiliam os seis monitores de chão de Marcelo D2, que são dispostos à sua frente - dois deles - e atrás - quatro - e são divididos em duas vias.      
 
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