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Revista Luz & Cena
Cartas
Consultório Técnico
Sólon do Valle
Publicado em 09/12/2010 - 00h00
Banheira de espuma
  
Montei uma salinha para gravações, com uma Digi001, e coloquei espumas de cima a baixo. Inclusive no teto. Isso é correto?
Abraços.
Airton S. da Silva

Nããããããoooo!!!!!!!!
A espuma só absorve freqüências médias e altas. Sua sala deve estar com graves demais! É preciso usar também materiais que absorvam graves, para equilibrar a acústica da sala.
Leia toda a série "Construindo seu home studio" em nossa revista, a partir da edição 151.
Bom proveito!
Sólon do Valle 


Reverb e Helmholtz

Olá Sólon,
Sou um grande interessado em acústica em geral. Tenho "brincado" bastante com a planilha Reverb, que baixei do site da M&T, para fazer uma previsão dos tempos de reverberação das salas do meu estúdio. Achei a planilha fantástica, com gráfico e tudo mais.

Na planilha, o item (n° 19): Painel espess. 4mm, a 20cm da parede, c/ 10cm lã, Perf. em 0,79%; traria um bom equilíbrio entre as freqüências para uma das minhas salas, só que aí pintaram algumas dúvidas de como seria e como funcionaria um painel como esse, e eu gostaria que você, por favor, conferisse o meu raciocínio.
Bom, eu pensei o seguinte:

- Uma chapa de compensado ou MDF geralmente tem 5,03m² (1,83 × 2,75) ou 5030mm²

- 0,79% dessa área (5030mm²) = 39,737mm²

- Se, por exemplo, fosse usada uma broca de 1/4" ou 6,35mm, cada furo teria uma área de 10,080625mm.

- Dividindo-se a área total de perfuração pela área de cada furo, chega-se à quantidade de furos para esse diâmetro de broca hipotético (6,35mm), que é igual a 3,942 e obviamente teremos que arredondar, ou seja, 4 furos.

- Concluindo, numa chapa de aproximadamente 5 metros quadrados eu teria aproximadamente 4 furos de 1/4  de polegada.

Esse raciocínio está correto? Somente 4 furos de 1/4" numa chapa de 5 metros quadrados parecem pouco, diante da minha inexperiência prática nesse assunto, para fazer o circuito funcionar com os coeficientes de absorção descritos na planilha!

Qual deve ser o parâmetro para determinar o tamanho da chapa, o diâmetro dos furos e a distância entre eles?

A resposta dessa última pergunta pode ajudar a sanar minhas duvidas relativas a sua outra planilha, que se refere aos ressoadores de Helmholtz funcionando como absorvedores.

Vamos tomar como exemplo um absorvedor tipo "de fresta". Na planilha Helmholtz, eu posso entrar com dados relativos à largura e espessura do painel (tábua ou outra peça), mas não ao comprimento. Isso eu acho que entendi por quê. Assim eu posso variar o comprimento do painel de acordo com a área que eu precisar, certo? Agora, como eu vou saber qual a área que eu necessito se eu não sei qual é o coeficiente de absorção de um absorvedor como esse?

Caso meus questionamentos estejam corretos, você poderia me dizer quais são os coeficientes de absorção para um sistema absorvedor desse tipo ou como determinar esses coeficientes?
Geraldo Salles

Caro Geraldo:

Existem dois tipos diferentes de absorvedor usando painéis de madeira, e a escolha dependerá do tipo de absorção de que você precisa: banda larga + média absorção, ou então sintonia fina + grande absorção.

1º - No absorvedor com painel não perfurado, a chapa funciona como membrana vibrante amortecida, e a freqüência de ressonância é calculada pela fórmula:

Formula

Onde fé a freqüência de ressonância do conjunto, M é a densidade superficial da membrana em kg/m² e d é a distância entre a membrana e a parede rígida atrás dela. É claro que a membrana não pode ser grossa demais, senão não vibrará nunca.

Por exemplo, para o absorvedor que você citou, com painel de 4mm, M é de cerca de 2,4kg/m².

Por trás da chapa, deverá ser colada uma camada de 25mm de lã de vidro, com densidade de 20kg/m³, para atuar como amortecedor. Portanto, esta lã acrescentará 0,5kg/m² a M.
Então:

Fórmula

Para montar este absorvedor, deve-se criar um "quadro" que mantenha a membrana afastada da parede sem permitir que passe qualquer som da sala para a parte de trás (oculta, forrada com lã) da membrana.

O índice de absorção nesta freqüência é da ordem de 70% e se estende por cerca de uma oitava - ou seja, de 55 a 110 Hz aproximadamente. Aumentando o amortecimento (quantidade de lã), a absorção máxima diminui e a largura de banda aumenta, e vice-versa. Escolha o que for mais adequado: se houver uma freqüência muito incômoda de ressonância, aumente a absorção e reduza a largura de banda (= use menos lã). Se quiser uma absorção mais distribuída sem uma freqüência em particular, aumente a lã e use umas 3 freqüências diferentes de sintonia, como, por exemplo, 45Hz, 79Hz e 130Hz.

2º - O painel perfurado cria o absorvedor de Helmholtz "clássico". Você se enganou nas contas! A chapa mede, na realidade, 1,83m × 2,75m = 1830mm × 2750mm = 5.032.500mm². Um painel de 4mm, perfurado a 0,79%, usando broca de 1/4" (6,35mm), poderá ter furos espaçados de 64mm na horizontal × 63mm na vertical. Se cada furo tem r² =  × 3,175² = 31,67mm², então a chapa terá 158,9 ou, arredondando, 159 furos.

Dentro da cavidade, geralmente se usa lã de vidro, colada à parede, ocupando metade do volume. No absorvedor acima, seriam tipicamente usados 100mm de lã de vidro de 20kg/m³.
A freqüência de ressonância será de 105,3Hz, e a largura de banda será bem estreita, dando coeficiente de absorção acima de 0,85.

Sobre o painel de frestas: no absorvedor de Helmholtz, a freqüência é diretamente proporcional à raiz quadrada da área da abertura, e inversamente proporcional à raiz quadrada do volume de ar na cavidade. Se você aumenta x vezes a altura do absorvedor de fresta (a fresta é vertical), aumenta também x vezes a área da fresta - e, assim, a freqüência não muda. Por isso, a altura do absorvedor de fresta não interfere no seu cálculo.

Aliás, no absorvedor de painel perfurado, as dimensões (largura e altura) também não importam e não aparecem também na planilha. O que importa são as distâncias entre os furos. Quando você aumenta as dimensões do painel, aumenta também a área total perfurada, e aquela proporção da área perfurada / área total (os 0,79%, por exemplo) não se altera.
Cuidado com as contas!
Um grande abraço,
Sólon do Valle


Mais veloz que o vento

Caro Sólon do Valle,

Parabéns mais uma vez pelos trabalhos seus e de sua equipe, e é por isso que continuo com a minha assinatura sempre em dia.

Há alguns dias estive conversando com um colega, e entramos no assunto de alinhamento de caixas acústicas. Eu mencionei que pela física, as ondas sonoras de todas as freqüências (agudas, médias e graves), estando alinhadas desde a origem do som (PA), chegarão ao mesmo tempo até uma distância audível devido à velocidade do som, que é a mesma para qualquer freqüência. E também que, quando estamos a uma distância muito grande do PA, ouvimos melhor as freqüências graves.

Depois que falei isso, ele me disse que não, que sempre o grave chega primeiro que o agudo, por ser uma freqüência mais "pesada". Eu discordei e continuo com minha tese. Será que estou sendo teimoso, "ignorante", ou não?
Obrigado pela atenção.
Janleque R. Miranda

Janleque:

Você está absolutamente certo.

A velocidade do som só depende da temperatura, sendo a mesma para todas as frequências. Mesmo para as frequências de ultra-som a velocidade é a mesma.
Veja que a fórmula da velocidade som não contém o termo freqüência:

 , onde T é a temperatura Celsius.

O que afeta a propagação do som à distância é a umidade relativa do ar. Com umidade baixa, a atenuação extra de altas freqüências é muito maior do que com alta umidade. Em Brasília, por exemplo, você vai ter que "empurrar" muito mais agudo no PA do que em Manaus. Em Brasília a umidade relativa do ar raramente passa de 15%, enquanto em Manaus chega fácil a 100%.

Um bom exemplo é a bateria de uma escola de samba. Quando ela está longe (a uns 200m), você só ouve os surdos. À medida que ela vai se aproximando, você passa a ouvir os repiniques, os tamborins, as caixas e a cuíca. Só quando ela está bem perto é que você ouve claramente os xique-xiques, ganzás, as platinelas dos pandeiros, etc..

A impressão de que os agudos chegam depois dos graves pode ser uma ilusão causada pelo vento, que, aliás, não "carrega" o som. O vento esfria o ar do local para onde ele sopra, e o som sofre difração pela mudança de temperatura. Essa difração afeta muito mais os agudos, devido à perda extra com a distância. Quando o vento muda de intensidade e de direção, aplica um "efeito" de modulação ao som agudo, que pode parecer defasado do grave.

Se você ouvisse primeiro os graves, seria "o samba do crioulo doido"!

Um abraço,
Sólon do Valle


De onde vem esse hum todo?

Olá amigos da M&T.

Sou músico e tenho um home studio. Por ser tecladista e produzir muita coisa no teclado, nunca tive problemas com ruídos. Até que um belo dia, fui gravar uma guitarra com distorção. Detalhe: a guitarra estava ligada em um Pod da Line 6, cuja fama é de ruido zero. Parecia que tinha um helicóptero dentro da sala, de tanta zoeira que fazia!

Gostaria de saber o que pode estar causando este ruído, já que o problema não é do POD, do meu equipamento, e ném de nenhuma outra distorção, porque recentemente descobri que várias pessoas estão reclamando do mesmo problema.

A guitarra, ou o baixo, ou qualquer "troço" que tenha captadores, funciona como se fosse uma antena, e dependendo da posição dá mais ou menos ruído.
Observação: Tenho aterramento em todos os equipamentos.

Me ajudem a solucionar este problema, pois mesmo sabendo um pouco de elétrica e eletrônica, não sei o que está acontecendo.

Gostaria de parabenizar a revista M&T pelo seu nível profissional. Comprei minha primeira revista em janeiro de 2002, e até hoje desconheço outra revista com o mesmo nível.
Luiz

Prezado Luiz:
A culpa não é da guitarra, nem do Pod, nem de sua instalação.

O captador, principalmente se for do tipo single coil (Stratocaster & cia.), é uma "antena" magnética que, além da vibração das cordas, capta qualquer campo magnético ao seu redor.

Provavelmente, o campo que ele está captando é o do monitor de vídeo do computador. Experimente ajustar a guitarra com o som que você quiser (alto ganho no overdrive), e em seguida, desligar só o monitor de vídeo. Se o ruído baixar radicalmente, está localizada a sua origem. O jeito é fazer como eu (também toco guitarra): prepare tudo, acerte o ganho, e na hora de gravar desligue o monitor de vídeo. Antes, trate de decorar qual é a tecla de Stop do software (geralmente é a barra de espaço), e quais são as teclas de retornar ao começo e de iniciar a gravação. Outra alternativa é usar um monitor LCD, como os dos notebooks.

Agora, se não for o monitor de vídeo, verifique se perto da guitarra há algum transformador grande de AC ou algum motor elétrico. Atenção, eles podem estar em outro cômodo ao lado ou mesmo em outro andar, pois o campo magnético não respeita paredes de tijolos.
Depois me conte se deu certo!

Sólon do Valle
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.