É muito comum pensar em imagem quando se pensa em cinema. E imagem em movimento, com efeitos especiais e bela fotografia. O som acaba, na maioria das vezes, em segundo plano. Nomes de diretores, fotógrafos e editores são sempre lembrados, mas pouco se fala dos técnicos de som, microfonistas e assistentes, os responsáveis pela complicada tarefa de captar com qualidade o som direto das imagens, tão importante para a criação da história em um filme.
Quando o cinema surgiu, no final do século 19, sua grande novidade era a imagem em movimento. A simples fotografia estática deu lugar a fotogramas em seqüência, reproduzindo a ação das pessoas e objetos filmados. Até então, o cinema não contava com som direto, gravado e exibido junto com a imagem. Era a época do chamado cinema mudo.
No entanto, os filmes nunca foram mudos. Quando exibidos, eram acompanhados por trilha sonora executada ao vivo por orquestra. A música era composta para o filme, pensando na história contada. Os filmes possuíam som, só que não registrado diretamente na película. O que não havia era o som direto, de diálogos e de ambiente das cenas, em sincronia com as imagens. O som captado diretamente nas filmagens só surgiu em 1927, com o filme O Cantor de Jazz, graças à invenção dos irmãos Warner, da Warner Bros, produtora do filme.
Nele, e em outros filmes da época, há pouco som direto, contando ainda com muitas legendas em cartelas. Isso se dava pelo fato de as máquinas de registro de som terem um tamanho grande, e de as câmeras da época produzirem muito ruído. O som era possível, mas muito difícil. Com o decorrer dos anos, a técnica do registro do áudio foi sendo aprimorada e, nos anos 60, passou-se a utilizar gravadores portáteis, permitindo a captação do som em planos mais próximos, o ideal para documentários.
Muito mudou desde então. O que começou com gravadores enormes, que pesavam toneladas, de sistema óptico da RCA ou Weston Electric, e depois passou aos gravadores de rolo em mono, os antigos Nagra, hoje é feito em sistema digital, com gravação não-linear em arquivo, diretamente em HD. Os microfones também foram melhorados, permitindo que hoje se realizem captações de cenas e diálogos em locais em que antes não seria possível por conta do barulho.
Infelizmente o que não mudou muito foi a visibilidade dos profissionais do som no cinema, tanto no público leigo quanto no meio profissional. Há poucos cursos específicos para som direto, e ainda menos material didático, principalmente no Brasil. E os técnicos ainda sofrem com uma certa falta de atenção ao áudio

pelo restante da equipe de filmagem.
É procurando mostrar como funciona a captação do áudio em cinema, dando espaço para os profissionais apresentarem o seu trabalho, que M&T traz esta reportagem especial, dividida em duas partes: a primeira sobre a técnica, e a segunda sobre a carreira, na edição de março. Para tanto, conversamos com alguns dos principais profissionais do Brasil: Bié Gomes, Tide Borges, Romeu Quinto, Valéria Ferro, Zezé D'Alice, Sílvio Da-Rin, Juarez Dagoberto e Leandro Lima.
A equipe
Em uma produção de cinema, as áreas de atuação se dividem em departamentos. Há o departamento de direção, no qual se inclui o diretor do filme, o assistente de direção, o continuísta; no departamento de fotografia estão o diretor de fotografia, seus assistentes, o operador de câmera, o foquista, o eletricista etc.; o departamento de arte tem o diretor de arte, o cenógrafo, o figurinista, o maquiador; e por aí vai.
Geralmente cada departamento de um filme conta com uma média de oito profissionais. Na contramão vai o departamento de som, que tem uma equipe mais reduzida, de apenas três ou quatro pessoas. Dependendo do projeto, como no caso de um documentário, pode se resumir a apenas um profissional. Mas isso não significa que o trabalho seja pouco. Pelo contrário.
Como lembrado por Valéria Ferro, nos últimos anos as câmeras de cinema e vídeo e os equipamentos de iluminação têm evoluído bastante, possuindo hoje uma qualidade excelente em unidades de pequeno porte. Com o som essa portabilidade ainda não aconteceu. "Tudo bem, os gravadores HD são mais leves que os Nagras e DATs de antes, mas quando você coloca os receptores de lapela, o timecode para a câmera ter sinc, a bateria, tudo isso é muito mais pesado do que a câmera!", diz Valéria.
Então, além de fazer toda a captação do filme, o técnico de som precisa se preocupar com os seus equipamentos. Um departamento de som conta, em geral, com um técnico de som, que é o diretor da equipe, um microfonista (às vezes dois, dependendo do projeto) e um assistente/estagiário para carregamento de equipamento e auxílio ao microfonista com cabos, etc.
Tide Borges e Romeu Quinto preferem trabalhar com dois microfonistas, mas confessam que nem sempre isso é possível. O problema está na falta de pedido de orientação ao técnico por parte da produção do filme na hora de fazer o orçamento. "Quando a gente chega já está tudo orçado. Pior: sub-orçado. Então você tem que se virar com o que é possível ter", diz Romeu Quinto.
O avanço tecnológico, portanto, fez com que as equipes de som aumentassem de tamanho. Zezé D'Alice conta que "atualmente a gente está filmando em HD, e eu estou trabalhando com [um gravador] multipista, o que requer um pouco mais de gente na equipe. Quando trabalhava com DAT, eu tinha só um microfonista e um estagiário. Agora com multipista, tenho dois primeiros microfonistas e um estagiário".
Valéria Ferro confirma: "Com a questão do HD, do multipista, você tem que aumentar o seu parque de equipamento. Se você tem um gravador de oito pistas, para poder potencializá-lo é preciso ter vários microfones, de lapela a direcionais (shotgun)".
Assim, todos os membros da equipe de som direto de um filme têm sua importância, não somente o técnico em si. Para Sílvio Da-Rin, "é preciso reconhecer que os produtores de filmes de longa-metragem vêm compreendendo cada vez melhor o papel essencial que o segundo assistente desempenha na equipe de som, juntamente com o microfonista e o técnico de som direto. É o assistente que possibilita a agilidade necessária ao set, onde cada minuto é precioso. Ele opera um eventual segundo microfone, controla os cabos durante os movimentos do microfonista, substitui acessórios, cuida da troca de baterias e cumpre múltiplas tarefas da rotina do trabalho de captação de diálogos, ambientes e ruídos".
Evolução tecnológica
Até os anos 80, o som em cinema era registrado, principalmente, no gravador de fita de rolo de ¼" Nagra. Ele foi o equipamento que dominou o mercado do áudio cinematográfico durante cerca de 30 anos. A partir do início dos anos 90, começou a ser utilizado o DAT, um gravador digital, que se valia de fita magnética para gravação. Alguns anos depois surgiu o DAT com time code, ferramenta que possibilitava a marcação de sincronia entre o que era registrado na câmera e no gravador, isto é, entre imagem e som. Afinal, o som é gravado separado da imagem.
Com os anos 2000, uma nova tecnologia começou a ser implementada. Hoje os gravadores não usam fitas, mas gravam diretamente em disco rígido, o HD (hard disk), em arquivos de áudio, que podem ser gravados depois em CDs ou DVDs. Esse formato de gravação facilitou a pós-produção do filme, realizada há mais de 10 anos com computadores. Não se perde mais tempo digitalizando o conteúdo de fitas, já que o som já é captado digitalmente.
O trabalho dos editores de som e mixadores ficou mais rápido, mas no set de filmagem, o HD não é somente uma vantagem. "Ele te facilita o trabalho de não ter que mixar na hora, de saber que cada pista está sendo gravada independente. Por outro lado, você tem que fazer um investimento maior para poder ter mais opções e poder utilizar todos esses recursos que as novas tecnologias estão trazendo", opina Valéria Ferro.
As novas tecnologias fazem com que se necessite um maior número de microfones. E com os acessórios acontece o mesmo. Segundo Sílvio Da-Rin, a crescente sofisticação da edição de som requer o uso de microfones estéreo para gravação de ambientes, e a sincronização de imagem e som fez com que o técnico de som precisasse ter uma claquete eletrônica, o que antes era acessório do departamento de câmera.
Alto investimento em equipamentos
O problema está no fato de que no Brasil não há locadoras exclusivamente de equipamentos de som, somente algumas produtoras ou profissionais que alugam esporadicamente, sendo difícil encontrar toda uma lista de equipamentos para um longa. O costume é que cada técnico de som possua o seu próprio equipamento, tanto em gravador, quanto em parque de microfones, vara de boom, fones e demais acessórios.
Ainda segundo Da-Rin, "o equipamento necessário à gravação de um longa-metragem pode facilmente ultrapassar US$ 50 mil. Um valor patrimonial relativamente baixo para uma locadora, que o amortizaria em alguns meses de aluguel para clientes diversos, mas bastante elevado para o uso próprio de profissional autônomo atuante em uma indústria instável como a nossa".
Os técnicos de som direto, quando contratados, portanto, recebem por sua mão-de-obra e pelo aluguel dos seus equipamentos. Mas, como lembrado por Romeu Quinto, todo o equipamento é importado, comprado em dólar, enquanto a tabela de locação no Brasil é em reais, e cerca de 40% a menos do que se cobra no exterior. "Então, nós pagamos o dobro pelo equipamento e recebemos a metade pelo aluguel."
O gravador mais cobiçado
Dentre os entrevistados, há uma unanimidade na escolha de um gravador HD: o Cantar, da Aaton, famoso fabricante de câmeras de cinema. Para Tide Borges, o Cantar é uma unidade topo de linha, "atualmente o mais desenhado para som direto de cinema, que une maior quantidade de pistas. É possível armazenar um longa inteiro nele". Dentre os seus usuários estão Tide, Jorge Saldanha e Romeu Quinto.
Romeu explica uma importante vantagem do Cantar: "Ele tem um pré-roll de 35 segundos. Isso significa que você nunca perde nada. Porque às vezes os diretores nem dão som, daí não se percebe que a câmera começou a rodar. Mas, com esse pré-roll, eu pego desde o momento em que a câmera começou realmente a registrar. Não se perde nada. É importante ter um pré-roll grande, sempre, e também pós-roll razoável. É muito difícil conseguir isso, e isso significa tempo. E tempo no set é grana". Mas Bié lembra que "todos os gravadores HD têm pré-record. Não é uma vantagem só do Cantar".
O Cantar conta com mixer embutido e possui oito pistas, gravando o áudio em HD externo, cujo conteúdo pode ser exportado para um laptop ou computador comum, para aí sim ser gravado em um CD ou DVD de arquivo, que será levado para o telecine. (É a fase da pós-produção de um filme, quando se passam as imagens registradas em película para o formato digital. A película não armazena conteúdo sonoro. O som é adicionado e sincado à imagem neste momento.)
Além disso, Tide elogia o gravador pelo seu tamanho e leveza. "Para o nosso trabalho tem que ser um gravador portátil. É meio difícil ir com aqueles equipamentos de estúdio. Os equipamentos portáteis são mais caros, porque implicam uma outra tecnologia". E o valor é um limitante para sua aquisição pelos técnicos de som. Custando cerca de US$ 20 mil, o Cantar é um sonho de consumo para muitos técnicos.
Mas Bié lembra que tudo deve ser pensado quanto ao seu custo/benefício. Para quem trabalha com filmes publicitários, como ele, não é preciso ter um gravador de muitas pistas, pois são raros os diálogos em comerciais. "Se eu tivesse que comprar um gravador hoje, eu compraria o 744T, da Sound Devices, que é o que eu tenho. Ninguém pode, em hipótese alguma, comparar coisas diferentes. Não pode comparar duas máquinas, uma que custa 5 mil e outra que custa 10 mil. Tem que comparar máquinas do mesmo preço", ele disse.
Outro gravador bastante utilizado, que também já conta com mixer incluso, é o Fostex, nos modelos PD-04 e PD-06, utilizados por Leandro Lime, Valéria Ferro e Zezé D'Alice. Outras opções são os Deva IV e Deva V, da Trew Audio (com gravador de DVD opcional embutido), e o Nagra 5, versão digital do antigo gravador. Para Bié, o Nagra 5 é "um dos mais confiáveis", mas, por custar o mesmo que um gravador de mais pistas, acabou não conseguindo mercado.
Além de unidades hardware, é possível realizar gravações em software rodando em laptop, como o Metacorder, utilizado por Bié no início da gravação HD no Brasil. Mas este formato ocupa mais espaço, é mais complicado de transportar, e é menos confiável, devido à instabilidade costumeira dos computadores.
Juarez Dagoberto, veterano no som direto de cinema, prefere utilizar seu gravador DAT PDR1000, da HHB. "Ele ainda está atualíssimo, e é bom porque é prático e leve. Eu acho, inclusive, que o DAT é muito mais prático, porque o sistema de operação dele é mais simples, além de ser alimentado por pilhas, por baterias simples".
Para ele, a qualidade dos DATs e dos HDs é a mesma. Além disso, "ele é menos sujeito a variações de temperatura, de tempo. O Fostex e outros sofrem um pouco com temperaturas, como no Nordeste. Eles passam mal. Mas eu pretendo ainda comprar um HD. A gente tem que se atualizar sempre. Mas por enquanto acho o DAT uma máquina de respeito".
Se houve evolução tecnológica significativa na área do som de cinema, para Juarez foi na área da exibição. "O grande martírio do som, particularmente aqui no Brasil, foi o problema de exibição. Na época da Vera Cruz os filmes eram tecnicamente bem feitos, utilizavam toda a tecnologia da época. Quando a gente ia fiscalizar o filme no cinema, era cada coisa de matar. A reprodução do som era óptica, então dependia muito da qualidade do equipamento de reprodução".
Com a criação de novos cinemas nos anos 90, quando os cinemas de rua deram lugar aos cinemas de shopping, mais modernos e de grandes grupos internacionais, como o Cinemark, o som teria alcançado melhora. "Hoje o som já tem uma qualidade normal. O som que a gente grava no set, bem mixado, é exatamente o som que está aparecendo nas telas", diz Juarez.
Em microfones, variedade
Todos os entrevistados citaram três marcas como as principais para a captação de som direto: a Sennheiser, a Neumann e a Schoeps. Dentro desses fabricantes, muitas opções: microfone cardióide (os mais abertos), subcardióide (mais aberto que o cardióide), supercardióide, hipercardióide, shotgun curto e shotgun longo (os mais fechados), todos direcionais.
Em longas-metragens se utilizam microfones direcionais, chamados de boom, e os microfones de lapela. A escolha do modelo sempre é feita levadas em consideração a locação e a estética sonora proposta para o filme. "A coisa mais importante, depois de ler o roteiro, é uma discussão com o diretor para você entender qual a linguagem sonora que ele está querendo propor pro filme", opina Valéria Ferro.
É a partir disso que o técnico de som vai escolher os equipamentos a utilizar. Se o filme se passa em uma floresta, provavelmente serão utilizados microfones diferentes de uma filmagem no meio de uma grande cidade. Se há muito diálogo, e entre muitos personagens, um número maior de microfones lapelas será necessário, assim como será preciso usar dois microfonistas, e não apenas um.
Assim, cada técnico de som possui em sua maleta de microfones uma variedade de unidades para poder atender às diversas possibilidades do cinema. Os da Sennheiser são os mais presentes, com os modelos MKH 40, MKH 50, MKH 60, MKH 70 e MKH416 (direcional curto). Para os profissionais de documentário, o principal é o MHK 816, um microfone shotgun, portanto mais direcional e mais duro, ideal para situações em que não é possível tratar o som externo, como é o caso de um documentário.
Os Neumann são os preferidos de Romeu Quinto, e também elogiados por Valéria, por "ter um som mais encorpado, mais aveludado". Um dos modelos utilizados é o KMRi82, presente na maleta de Bié Gomes. Há ainda um modelo estéreo, o RMS191, que possui dois sistemas de cápsulas separados, um hipercardióide e um figure-8. Os dois sistemas juntos captam sinais das laterais e da ponta do microfone.
Valéria diz que este é um microfone também interessante para quem faz documentário, "porque documentário é sozinho, não tem assistente. Não dá para ficar trocando de microfone. Então muitas vezes é um microfone coringa". Ele ainda seria importante em filmagens documentais que possuam música ao vivo, pois com a cápsula frontal faz o som direto, e com as laterais registra o som da música.
Da Schoeps, um importante modelo é o MK41, utilizado por Bié e Valéria. Segundo ela, seu gosto pela Schoeps se dá por ele proporcionar uma espacialidade melhor. "Gosto muito de trabalhar a espacialidade no cenário", diz.
Microfones mais direcionais, como o shotgun e o shotgun curto, são preferenciais em filmagens em externas, por reduzirem a captação do som indesejável, focando na voz dos atores. Não há exatamente microfones para externas e para internas. Eles são cambiáveis, pelo tipo do projeto e pelo gosto do técnico. Mas nas externas há uma diferença, o uso de protetores para proteção contra o vento. São utilizadas espumas de diferentes espessuras, uma capa metálica chamada zepelim, ou uma capa de pelos, como de pelúcia, o softie (menos peludo) e o windjammer (mais peludo, também conhecido como cachorrão).
Para Romeu Quinto, hoje há um grande investimento na área do som. "Eu acho que a gente passou por um período grande da ditadura da imagem, em que todo o investimento era em função dela. Agora o próprio setor de entretenimento percebeu que o som é muito importante para o espetáculo, e hoje se está investindo violentamente em tecnologia de áudio".
A condensador ou dinâmico?
Todos os modelos citados são a condensador, por serem microfones mais sensíveis. Os dinâmicos, mais duros, são utilizados somente em situações muito específicas. Bié lembra que se valia de dinâmicos no começo de sua carreira. "Tive problemas, porque ele tem muito ruído térmico, é muito pesado, e só funciona quando você tem um diálogo com uma voz mais projetada, com um som mais forte. Já os condensadores funcionam tanto para sons bem fracos quanto para mais fortes".

Apesar de pouco utilizados, os técnicos continuam a ter dinâmicos em suas maletas. Afinal, eles podem salvar alguns trabalhos em certas ocasiões, como foi o caso de Valéria na filmagem de um documentário da BBC no Carnaval do Rio de Janeiro.
"Era para fazer entrevistas com foliões dentro de um bloco de carnaval. Só consegui pegar o som direto daquelas entrevistas por causa do mic dinâmico, que cortava todo o som da banda e da multidão que estava em volta. Para isso tive que deixar o mic bem junto ao quadro. O diretor de fotografia teve que fazer planos mais fechados, mas funcionou muito bem. Foi uma boa situação para um dinâmico", conta.
Outro bom momento para uso do dinâmico são os filmes que possuem playback, como Dois filhos de Francisco, em que Valéria fez o som direto ao lado do seu marido, Renato Calaça. "Para fazer um guia do playback, eu captava com um dinâmico posicionado próximo à caixa de som. Por ser duro, ele agüenta potência de som."
A polêmica do lapela
Não há técnico de som que prefira utilizar o lapela em filmagens. Os motivos são muitos: som chapado, sempre em primeiro plano, linear, sem ambiência, além dos ruídos causados pela roupa do ator e pelo sistema de transmissão sem fio. Para Bié, "a partir do momento em que se coloca o microfone embaixo da roupa do ator, você tem que pedir a ajuda de Deus. É algo que foge do controle do técnico".
Para ele, o microfone aéreo, o boom, além de ter um som melhor e mais cheio, é um equipamento que pode ser totalmente controlado pelo técnico. "Você não pode fazer quase nada quanto à posição. Precisa ter um pouco de sorte para poder usar e fazer um belo som, e também não vazar".
O lapela, por ficar fixo no ator, não acompanha seus movimentos, fazendo com que o som não fique num nível constante. Por isso, o melhor local para se posicionar um lapela é o cabelo do ator, porque assim ele fica sempre num mesmo eixo, além de não ter o problema de causar ruído com o raspar na roupa. Mas, para isso, o ator precisa ter certo volume de cabelo, para esconder o microfone.
Zezé D'Alice também prefere o boom, mas vê o lapela com outros olhos. "Em externa o lapela é fundamental, porque você reduz o barulho exterior. Com o boom você pega o som do ator e tudo o que está no fundo, agora no lapela o som fica muito melhor, elimina muito ruído do trânsito, barulho de rua. O segredo é saber colocar." A técnica usa um lapela digital, o que, segundo ela, faz com que a interferência de sinal seja quase zero. Trata-se de um Lectrosonics da série 411.
Para não correr risco, ela e os demais técnicos gostam de captar diálogo valendo-se dos lapelas e do boom. É uma possibilidade que só foi possível com a gravação em HD multipista. "Boto cada um num canal, na mixagem o cara resolve, se mistura ou não."