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Revista Luz & Cena
No estúdio
Rock em analógico
Banda independente Vitrolas gravou CD em formato vintage
Peron Rarez
Publicado em 01/05/2005 - 00h00
Divulgação
Instrumentos foram gravados com equipamento analógico (Divulgação)
Instrumentos foram gravados com equipamento analógico
O Vitrolas, um dos grupos de pop-rock independentes mais atuante e em ascensão em Minas Gerais, esteve em estúdio desde outubro do ano de 2004 até o final de janeiro deste ano, para gravar seu segundo disco. Cinco anos após o primeiro CD, a banda somou a experiência - adquirida num longo caminho em diversos shows e cidades - com força e um repertório cativante.

Em busca da sonoridade ideal para Somos um só, título do disco e da décima faixa do álbum, a banda testou uma grande variedade de formatos nas gravações. Entre Pro Tools HD, Mix Plus e outros programas de grande eficiência tecnológica, a resposta apareceu no modelo mais tradicional: a fita de 2".

Depois de definir o analógico como formato do novo CD, a banda - composta por Gustavo Felizardo (Loro) e Berna Dias nas guitarras; Fernando Persiano no baixo; Leonardo Felizardo na bateria; e Paulinho Rodriguez no vocal - precisava iniciar uma nova etapa: encontrar um engenheiro de som que soubesse valorizar as guitarras e baterias, base das músicas do grupo.

Foi então que entraram em contato comigo. Por causa do tipo de som que procuravam, o estúdio da gravação deveria abrigar uma sala ampla, com pé direito alto para captar a bateria e os amps de guitarra com bastante ambiência. Procurei um estúdio adequado às necessidades da banda e o escolhido foi o Estúdio 108 - um dos mais tradicionais de Belo Horizonte - que possui uma grande sala, com painéis variáveis, iluminação natural e uma técnica bastante ampla e confortável, além de uma completa linha de periféricos e microfones vintage.

Antes das gravações, sentei com a banda e procurei entender quais eram os desejos e as reivindicações para o trabalho a ser realizado. Inicialmente foi pensado o Pro Tools, depois sugeriu gravar em 2" e depois chupar tudo para o Pro Tools a fim de fazer mixagens mais rápidas e flexíveis. Mas, ao final do processo de captação do som, escolhemos utilizar a mesa convencional com periféricos físicos e vários patch cables. Afinal, as gravações estavam muito bem captadas e arrumadas, dispensando edições -  apenas alguns ajustes finos e equilíbrio de volume precisavam ser feitos. Mais uma vez foi empregada a velha máxima de "o som está na fonte sonora, pré-amplificação e microfones adequados e um musico competente".

Loro no estúdio com uma Tagima

zido pelo próprio Vitrolas, e atuei basicamente como engenheiro de som e conselheiro, já que a banda estava com o material praticamente definido. Fiz um trabalho de co-produtor, apenas dando dicas aqui e ali no intuito de chegarmos ao som desejado de maneira mais eficiente. Foi até bacana ver uma banda de meninos novos - pós-computador - querendo gravar como há alguns anos atrás.

Optei por utilizar totalmente a amplificação da mesa - uma Amek Big com pré-amplificadores e equalizadores de verdade (padrão inglês). Todos os sons de bateria têm muita microfonação ambiente. Utilizamos os bons microfones de sempre: Sennheiser MD 421 nos tons, AKG D112, Electro-Voice RE 20 e PZM nos bumbos, AKG C414 ou Shure SM57 nas caixas e para ambientação, Neumann U87.

Os guitarristas Loro e Berna utilizaram amplificadores valvulados, microfonados na sala do estúdio. Como optaram por não usar plug-ins, tiveram que encontrar o som da maneira tradicional, um pouco mais trabalhosa, mas que se encaixava bem à disposição das horas no estúdio e ao prazer em dar vida ao novo CD. Foram gastas em torno de 150 horas para gravar, mais umas 50 para mixar.

Fiquei satisfeito com os recursos do estúdio - um dos poucos do mundo que possui 24 canais de Dolby SR. Gravamos em fita Ampex 499, alinhada em 370nWb/m e rodando em 30ips. A mesa do estúdio possui automação muito amigável, então na mixagem não houve problema algum para pilotar volumes e mutes. Quando queríamos fazer um pan diferente, era só splitar os canais na mesa e pilotar o volume de cada canal.

A mixagem do álbum foi feita por Fernando Cabrito - profissional com 20 anos de experiência em gravação, show e manutenção. É imprescindível contar com os serviços de um profissional experiente quando se vai trabalhar em um projeto que demanda muitas horas de estúdio.

O estilo de produção seguiu o desejo da banda

onível em breve, foi feita na média de uma música por dia, padrão que considero ideal para mixar. Trabalhávamos das 9h às 15h. Geralmente as duas primeiras horas da manhã eram reservadas para fazer um recall da mixagem do dia anterior. Tinha de ser feito dessa forma para não perder o patchbay (cabeamento) de cada música. A banda levava a mix do dia para casa, ouvia e fazia uma avaliação. Depois trazia um relatório para o recall no dia seguinte.

Fernando Cabrito utilizou os Virtual Dynamics (compressores e gates da própria mesa), que soam bastante musicais. Também foram usados vários dbx 160, UREI 1167, Avalon e Lexicon 480L. Um dos periféricos mais interessantes utilizados foi o Distressor, da Empirical Labs (um super compressor com distorção harmônica selecionável) utilizado nas vozes e baterias, emprestado pela banda Jota Quest para a mixagem. A mixagem final entrava em um TC Finalizer e dele ia digitalmente para um L/R Pro Tools e fita DAT simultaneamente.

Ainda em busca da sonoridade ideal, o Vitrolas fez questão de masterizar o disco com um dos melhores engenheiros do país: Carlos Freitas, do Classic Master.

O resultado de todo esse trabalho foi um disco com uma sonoridade marcante. O novo CD dos Vitrolas possui 13 músicas inéditas e estará no mercado a partir do mês de abril. A banda produziu e custeou o disco de forma totalmente independente.

Peron Rarez é engenheiro de som e já trabalhou com artistas como Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes, Jota Quest, Pepeu Gomes, 14 Bis, entre outros.
 
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