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Revista Luz & Cena
Evento
Implantação de TV e rádio digital são foco da Broadcast & Cable 2005
Novos equipamentos são voltados para a transmissão digital
João Pequeno
Publicado em 30/10/2005 - 00h00
Divulgação
 (Divulgação)
Os painéis e equipamentos lançados por expositores da feira Broadcast & Cable 2005, realizada em São Paulo, em setembro, voltaram-se definitivamente para a transmissão digital de TV, prevista para fevereiro do ano que vem, e de rádio, que estreou no Brasil durante o seminário promovido pela SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações).
A implantação da TV por transmissão digital no Brasil deu o tom, neste ano, à feira e ao seminário Broadcast & Cable, promovido anualmente pela SET. Com permissão para operar em caráter experimental, a Kiss FM realizou, paralelamente ao encontro, as primeiras transmissões de rádio digital no país. A emissora paulistana, com programação voltada para o rock dos anos 60 e 70, demonstrou a transmissão pioneira no estande da Savana Broadcast Electronics, empresa de engenharia responsável pelo projeto de sua transição do analógico para o digital. Outras emissoras de rádio também obtiveram permissão do Ministério das Comunicações e da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para testar a transmissão digital.
A transição da TV analógica para a digital, que ainda depende da definição de padrão tecnológico e da assinatura do ministério, foi discutida em diversos painéis durante esta edição da Broadcast & Cable. No fórum deste ano, que aconteceu de 21 a 23 de setembro, no Centro de Convenções Imigrantes, em São Paulo, profissionais de rádio e TV brasileiros e estrangeiros expuseram suas experiências na área. Tanto na TV quanto no rádio, o padrão que servirá de referência para o SBTVD (Sistema Brasileiro de Televisão Digital) ainda não foi definido. São três sistemas possíveis para a TV e quatro para o rádio - a Europa usa um sistema para AM e outro para FM.
A sexta-feira, dia 23, marcou o encerramento com painéis que expuseram os primeiros passos do rádio digital no Brasil e a situação da TV digital no mundo, assim como as perspectivas de sua implantação por aqui.
No rádio, a palestra Implantação do rádio digital: experiências realizadas, coordenada por Ronald Barbosa, da SET e da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), teve a participação da Ibiquity, empresa norte-americana que desenvolveu a tecnologia Iboc (In band on channel), utilizada nas transmissões de rádio digital dos Estados Unidos.
Na parte da TV, os painéis de sexta começaram com TV digital: ao redor do mundo,  mediado por Liliana Nakonechnyj, da SET e da TV Globo, e fecharam com a B&C em TV digital: panorama brasileiro, comandado por Valderez Donzelli, da TV Cultura e também da SET, palestra que se alongou por mais de meia hora após seu horário oficial de término, 17h.
No primeiro desses dois painéis, técnicos, engenheiros e representantes de governo dos Estados Unidos, Europa e Japão discorreram sobre as características e o desenvolvimento de seus padrões de transmissão digital. No segundo, profissionais de emissoras comerciais e universitárias de TV do Brasil e da Anatel discutiram as nuances da implantação.
A Broadcast & Cable ainda tratou de assuntos como o cinema digital (já com algumas salas de exibição no Brasil),  técnicas de robótica, cenografia virtual, mídias de captação e arquiteturas de sistemas não lineares, além de abrir espaço para uma exposição de produtos do mercado de TV, cinema e vídeo.

Para especialista, padrão japonês é o mais completo
Mediadora do debate sobre a TV digital ao redor do mundo, Liliana Nakonechnyj aponta o padrão japonês de TV digital como o favorito entre os profissionais brasileiros de broadcast por sua maior versatilidade. Através da tecnologia ISDB, ele permite transmissão de um mesmo conteúdo para televisão fixa e para outras plataformas móveis, como o telefone celular, por exemplo.
O padrão DVB, europeu, no qual se basearam os japoneses, foi lançado em 1998 e também permitia a transmissão para plataformas diferentes de um mesmo conteúdo, mas por canais diferentes, causando a necessidade da abertura de muitos canais. O Japão aperfeiçoou o sistema, abolindo esta necessidade, resumiu Liliana.
Já o padrão norte-americano, ADSL, foi criticado pela mediadora por ser o menos flexível de todos. Primeiro a ser desenvolvido, entre o final dos anos 80 e o início dos 90, ele só foi lançado em 1998, quase junto com o europeu, e transmite apenas para aparelhos de TV fixos. Além da limitação de plataforma de recepção, ele vem enfrentado problemas ao longo desses sete anos, principalmente pela falta de receptores. O governo precisou tomar medidas, durante este tempo, para tentar aumentar o acesso à TV por transmissão digital.
"Aqui no Brasil queremos transmitir em alta definição, que será o normal em um futuro breve, com a opção da mobilidade", afirmou Liliana. "Por isso, o modelo japonês é o que mais agrada aos broadcasters brasileiros. Por desenvolverem seu padrão já tendo as experiências da Europa e dos Estados Unidos, eles conseguiram focar no que faltava nos sistemas ADSL e DVB", acrescentou, lembrando ainda que a transmissão digital, para ser implantada no Brasil, também precisará ser decodificada para o padrão PAL-M, utilizado na TV convencional aberta.


Estrangeiros expõem experiências em TV digital
Participante da primeira palestra da sexta, TV digital ao redor do mundo, Alan Stillwell, do governo norte-americano, explicou as medidas que o país, primeiro a pesquisar a TV digital, vem precisando adotar para que ela atinja, até o fim da década, um caráter de universalização. Além de o sistema ATSC permitir a transmissão digital somente para televisores fixos, a maioria dos aparelhos não possuía tecnologia para receber o sinal digital quando ele foi lançado, em 1998. Desde então, o governo norte-americano vem lançando uma série de medidas para reverter este quadro. O mais recente obrigou os fabricantes a equiparem as TVs com tamanho a partir de 36 polegadas com receptores digitais. A idéia é que, com medidas gradativas, todos os televisores dos Estados Unidos possuam receptores deste tipo.
Peter McAvock, da inglesa DVB Office, responsável pelo sistema europeu, destacou o sistema multicanais, que, no mesmo ano de 1998, possibilitou ao velho continente a transmissão digital de conteúdo televisivo em plataformas móveis, o que, segundo ele, sempre foi uma prioridade para o público, apesar de a Inglaterra também encontrar dificuldades para popularizar o sistema, no princípio. Também participaram dois representantes japoneses, que destacaram a maior flexibilidade de seu sistema e um francês, que dissertou sobre a crescente disseminação da TV digital em seu país.

Panorama da TV digital no Brasil
No seminário de encerramento, sobre a implantação da TV Digital no Brasil, Fernando Bittencourt, Diretor geral de Engenharia da TV Globo, ressaltou a queda que sofreu a televisão aberta nos últimos 15 anos, quando "deixou de ser a tecnologia de ponta em comunicação para ficar atrás de diversas mídias que surgiram nesse tempo". De lá para cá, lembrou o surgimento e/ou popularização de recursos como o VOD (video on demand), satélite, cabo e banda larga, todos digitais. Para ele, a implantação da transmissão digital é a oportunidade para a TV aberta se recolocar em um nível tecnológico satisfatório em relação aos demais meios de comunicação. A oportunidade, segundo ele, é boa também para o público, que vai ter acesso a uma mídia digital gratuita, uma vez que todas as demais são pagas. Bittencourt ponderou, entretanto, que a transmissão digital não deverá se traduzir em mais dinheiro para as emissoras. "TV aberta vive de publicidade, que independe de tecnologia", disse.

 
Vantagens e desvantagens para canais comunitários
Diretor da TV PUC e presidente da ABTU (Associação Brasileira das TVs Universitárias), Gabriel Priolli destacou, no mesmo painel de encerramento, pontos que considera favoráveis na televisão digital para os canais universitários e comunitários, mas, depois, admitiu a dificuldade que eles continuarão tendo e que pode ainda aumentar devido à carência de recursos financeiros.
Para Priolli, a maior possibilidade de "interação plena" com o público pode ser favorável ao que classificou como "caráter educativo" das TVs universitárias e comunitárias, assim como das estatais. Ele também é otimista em relação ao fato de a programação das emissoras universitárias e comunitárias poder ser transmitida em rede aberta com a implantação da TV digital aliada a um aumento de canais, saindo do "gueto do cabo, que as prendem a um público muito específico e limitado".
Por "interação plena", o presidente da ABTU classificou o tráfego de dados complementares à programação, como textos, fotos e softwares, possibilidade de o telespectador gerar conteúdo (sem especificar de que forma), acesso mais direto às ouvidorias das emissoras que as adotam e um espaço mais amplo para a educação à distância, desobrigando os estudantes que não possuem internet em casa de se deslocar até os centros de rede em que o sistema funciona. Ele também defendeu a adoção da tela com proporção 16 x 9, para maior interação entre TV e cinema - sem perda de imagens em filmes -, convergências de mídias e mobilidade.
Gabriel Priolli se confessou pessimista, entretanto, sobre as baixas condições financeiras de as TVs universitárias e comunitárias competirem na corrida tecnológica com as redes comerciais, o que deve ser agravado com a implantação da transmissão digital. "As TVs de universidades particulares ainda  têm um financiamento mais firme, das mensalidades, mas as de universidades públicas dependem de verba governamental, que é cada vez mais escassa. De fato, elas não têm condições de arcar com o aumento do padrão tecnológico", resignou-se.


Treinamento de profissionais
Na palestra dedicada ao áudio digital para TV, que aconteceu na quinta, dia 22, o seu coordenador - e assessor da áudio da Globo -, Carlos Ronconi ressaltou a necessidade de treinar os profissionais de áudio das TVs para o manuseio de equipamento digital. "São pessoas que trabalham, às vezes há décadas, com equipamento analógico e precisam ser orientadas para um sistema novo que está sendo posto em prática. Este cuidado com o pessoal não pode ser negligenciado", avaliou.
O pesquisador Régis Faria, da USP, discorreu sobre algoritmos de compressão e explicou detalhes da codificação para a língua portuguesa do sistema AAC, pelo qual deverá ser operado o áudio assim que o padrão digital for estabelecido para as transmissões de TV. Adinaldo Neves, da CIS e Digidesign, falou sobre o sistema integrado via Pro Tools HD que está sendo implantado na TV Globo, operando duas ilhas de edição na central de jornalismo, no Jardim Botânico (zona sul do Rio), e mais uma no Projac (complexo da Globo, na zona oeste). Até o final do ano, a emissora deve chegar a oito ilhas no Projac, ligadas às duas do Jardim Botânico por fibra ótica. O sistema foi concebido para funcionar como uma workstation em rede, com qualquer uma das ilhas de ambos os núcleos tendo capacidade para trabalhar e modificar material feito em qualquer outra ilha.


Rádio digital estréia no Brasil durante a feira
O estande da Savana Broadcast Electronics foi montado na 10a Broadcast & Cable com o propósito exato de demonstrar e divulgar as transmissões pioneiras em rádio digital no Brasil.
Para o engenheiro Alfredo Marconizus, consultor da Kiss e da Savana, que montou o sistema para a paulistana Kiss FM, as maiores vantagens da transmissão digital são a maior qualidade do áudio, em AM, e o som "mais cristalino, sem ruído de fundo quando começa a falhar", em FM.
Ele ressaltou o sistema escolhido para o Brasil, IBOC (In band on chanell), como vantajoso para as emissoras que já estão no ar. Esse padrão, desenvolvido nos Estados Unidos, pela empresa Ibiquity, permite às rádios manter as mesmas freqüências quando o sistema digital for definitivamente adotado. "Na Europa, pelo sistema DAB (Digital Audio Broadcasting) Eureka 147, as emissoras de FM tiveram que mudar e cada freqüência passou a receber até seis estações diferentes, em estéreo", disse, não obstante a maior oferta de espaços no dial permitida pelo sistema europeu.
Além da Kiss, o Ministério das Comunicações e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovaram transmissões experimentais para as emissoras do Sistema Globo de Rádio, Bandeirantes, Jovem Pan, RBS e Eldorado, para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, em um prazo de seis meses - contados a partir de 12 de setembro -, que pode ser prorrogado.
O Governo Federal não deverá definir o padrão de transmissão para o rádio digital, deixando a escolha a critério dos operadores, o que agrada aos empresários de rádio, justamente por poderem manter as mesmas freqüências, o que os ajudará a não confundir e, conseqüentemente, a manter os ouvintes.

Automação e integração entre mídias
A integração entre diferentes mídias também foi ressaltada em palestras como PC e Apple para aplicações em TV, mediada por Alex Pimentel, da SET e da Casablanca/Teleimagens, e O futuro do home entertainment, da SET e da Globo.com, em que se destacou, entre outros fatores, a influência na adoção do sistema de rede de telefonia NGN para outras mídias
Outros aspectos, mais voltados à produção cênica e de imagens na TV, foram abordados em painéis como Robótica e cenografia virtual, coordenado por José Dias, da TV Globo, em um tema também bastante aplicado ao cinema, por exemplo. O israelense Pablo Goldzeft, da ViZRT e da CIS Brasil, discorreu sobre o uso de recursos 3D em montagens de cenários virtuais na TV, utilizados largamente, por exemplo, em fundos virtuais e outros efeitos em apresentações de telejornais.
O cinema digital também foi objeto de discussão, através de painéis como Cinema digital: intermediação digital, mediado por Celso Araújo, da SET e da TV Globo, em que Flávio Longoni, da CIS  Brasil, destacou o uso crescente do digital em pós-produção de películas. Além de palestras, o cinema digital também teve uma sala de exibição montada pela Sony em um dos auditórios do centro de Convenções Imigrantes. O sistema já é adotado em algumas, embora poucas salas no Brasil.

Tecnologia e negócios
As palestras da Broadcast & Cable 2005 começaram, na quarta-feira, com duas palestras sobre negócios: Estratégias empresariais para mídia eletrônica e Convergência de negócios. O dia de estréia da B&C também teve discussões sobre jornalismo e produção (Arquitetura de sistemas de jornalismo e Mídias de captação, armazenagem e exibição), TV digital (medidas no mundo digital e Pesquisa e desenvolvimento STRL-NHK) e telecomunicações (TV por assinatura: redes de multiserviços e Satélites: tecnologias para serviços).
Na quinta, além do Áudio digital, foram realizados encontros sobre convergência de mídias (Gerenciando recursos em ambiente IP, O futuro do home entertainment e Infra-estrutura de redes para a próxima geração), produção (Displays para shows, PC e Apple para aplicações em TV e Robótica e cenografia virtual para produção) e telecomunicações (RF: preparação das emissoras de TV para simulcast), além de um workshop sobre o sistema europeu DVB-H de TV digital.
A sexta-feira fechou os temas com foco na TV digital (SBDTV:P&D Brasil, além das duas já citadas) e rádio digital (Implantação do rádio digital, dividida em três painéis diversos: As antenas, Experiências realizadas e Técnicas de modulação). Também na sexta, houve um ciclo de três palestras consecutivas voltadas a temas científicos (Testes, Distribuição de conteúdo e Usabilidade e aplicações em TV digital).

Expositores de áudio
A Broadcast & Cable deste ano contou com alguns expositores de áudio. A CIS Audio mostrou a mesa digital Venue, da Digidesign, específica para produções ao vivo (como a do Fama, da TV Globo, em que foi utilizada) e integração ao Pro Tools HD, possibilitando o uso de 128 canais.

A distribuidora Libor levou os processadores de áudio P2 Level Pilot, da TC Electronic, um limitador/controlador com conversores de 24 bits, desenvolvido para uso em pós-produção. Já a Music Mall mostrou parte do sistema Icon, também da Digidesign, em integração com o Mojo, da Avid, com funções como digitalização do vídeo, edição e mixagem de trilha sonora, em tempo real.

Rádios comunitárias criticam padrão digital dos EUA
Se as emissoras comerciais de rádio aprovam o padrão IBOC, quem não está gostando tanto são as rádios públicas e comunitárias - que não estiveram nos painéis da Broadcast & Cable. A razão é que, mantendo-se as mesmas freqüências, não se abrem novos espaços no dial. Os custos mais altos da transmissão digital também são citados como agravantes certos de um futuro aumento na diferença de qualidade tecnológica entre as rádios comunitárias/universitárias e as emissoras comerciais, conforme analisa o diretor-geral da Rádio MEC e vice-presidente da Arpub (Associação de Rádios Públicas do Brasil), Orlando Guilhon. "A aparente opção pelo padrão norte-americano IBOC parece privilegiar a lógica dos grandes empresários da comunicação, que querem garantir apenas a migração do sistema analógico para o digital, sem maiores discussões", conta, no site www.radiolivre.org.
A liberação para as empresas de rádio definirem o padrão não é unanimidade nem dentro do Governo, onde a Casa Civil, que vinha desenvolvendo convênios para testar o padrão europeu  DRM (Digital Radio Mondiale, para AM) se opôs ao Ministério das Comunicações, que liberou as transmissões experimentais com o IBOC. O sistema europeu, que estava na mira da Casa Civil, é o preferido pela Arpub. Além do padrão americano e dos sistemas europeus para AM (DRM) e para FM (DAB)m ainda há a opção do japonês ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting), que utiliza canal de TV digital.
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