Karla Costa Velho

Publicado em 01/12/1998 - 00h00

 Tendo à frente o nome do Rick Bonadio, produtor do meteórico grupo Mamonas Assassinas e sob a gerência do não menos conhecido Carlos Dutweller está o Studio Midas. O estúdio existe há seis anos, mas, há três meses, mudou-se para um prédio de quatro andares construído especificamente para ele em Santana, na  zona norte da capital paulista. Como o próprio nome sugere, o estúdio tem transformado em ouro seus trabalhos e, recentemente, está produzindo a música de fim de ano de uma grande rádio FM, reunindo músicos como: Zezé de Camargo e Luciano, Ivete Sangalo, a família Negritude e mais 50 cantores. Nós da M&T trazemos para nossos leitores tudo o que o Midas oferece aos seus clientes.
      
Estúdio Com Padrão Internacional

M&T: Quem são os proprietários dos Midas Studios?
Carlos Duttweller: MIDAS Studios pertencem a Bonadio Produções, empresa do produtor Rick Bonadio. Como muita gente sabe, o Rick é produtor e ficou conhecido por ter produzido o disco do Mamonas Assassinas, com mais de quatro milhões de CDs vendidos. É músico, guitarrista, tecladista e arranjador, além de engenheiro de gravação. Após ter trabalhado por mais de 20 anos em estúdios de gravação, eu havia decidido não voltar mais a fazê-lo, porém a partir da minha convivência com o Rick durante as obras dos estúdios, pude verificar a sua capacidade profissional e sua seriedade neste empreendimento, e acabei aceitando sua proposta para gerenciar o estúdio, que temos tudo para acreditar que será um grande sucesso.


A console SSL 4000 G-Plus Special Edition, no estúdio A

M&T: Qual a clientela esperada para um estúdio deste porte em São Paulo?
Carlos Duttweller: Foi devido à necessidade de ter um estúdio de padrão internacional para produções próprias e também colocar São Paulo no circuito das grandes produções que o estúdio foi criado, uma vez que a cidade representa 50% das vendas de discos no país, mas é sinônimo de gravação de música country. É claro que vamos gravar também música country, porém com maior qualidade técnica, além de outros estilos musicais.

M&T: Quantos estúdios tem o Midas?
Carlos Duttweller: Nós temos três estúdios de gravação, sendo um grande e dois pequenos, ou seja, um estúdio de pré-produção e masterização totalmente digital, um pequeno de gravação com uma console Soundcraft 2020, com automação e 32 canais de ADAT, e o principal equipado com uma console SSL 4000 G-Plus Special Edition com 48 canais.


Técnica: ao fundo, difusores tipo RPG

M&T: Por que a console SSL? Não poderia ser outra marca?
Carlos Duttweller: A decisão pela SSL foi simples e fácil: A SSL tem mais de 2500 consoles vendidas no mundo e é um padrão em mesas de gravação. Todo produtor com um mínimo de conhecimento de sonoridade procura em primeiro lugar saber qual é a mesa utilizada no estúdio. Se for uma SSL, já é uma garantia de que se trata de um estúdio de gravação de verdade. Outra razão é a confiança no suporte técnico oferecido pela fábrica e a confiança na sua solidez, pois as outras fábricas não demonstram tanta confiabilidade devido às constantes mudanças de proprietários. É como quando temos dinheiro para comprar um carro de primeira linha, o bom senso nos levar a pensar primeiro em um Mercedes.

A Mesa Escolhida é a Special Edition da SSL

M&T: Não levando em conta o custo, que sabemos ser exagerado, dos gravadores digitais de 24 bits, ainda assim os analógicos soam melhor?
Carlos Duttweller: O estúdio principal tem dois gravadores analógicos Studer A827 de 24 canais, com sincronismo Motion Works. Além disto, temos mais quatro gravadores de oito canais digitais ADAT XT 20.
 Quanto ao fator qualidade, eu não acredito que o gravador analógico tenha melhor sonoridade, mas com uma máquina Studer alinhada corretamente e Dolby SR, praticamente não existe nenhuma diferença. A grande maioria dos produtores até prefere a gravação analógica, pois acreditam que os harmônicos soem mais macios, principalmente nas regiões graves.


Estúdio A: muito conforto, espaço e amplos visores

M&T: Por que, nesta "era da gravação digital", os grandes estúdios preferem gravadores analógicos?
Carlos Duttweller: Devido a problemas ocorridos com os gravadores multipistas adquiridos por outros estúdios em São Paulo, criou-se um certo receio dos produtores de que estes gravadores não são confiáveis. Eu particularmente,  acho que os gravadores Sony DASH de 24 ou 48 canais são totalmente confiáveis. Eu já os utilizei várias vezes em estúdios nos Estados Unidos e Europa e gosto muito, principalmente dos novos gravadores de 24 bits. Vamos esbarrar no preço, mais de U$ 220,000 FOB mais impostos, o que inviabiliza o investimento.

M&T: Todos gostam de distorção macia 'soft distortion', tal como a produzida por gravadores analógicos e equipamento valvulado. Realmente esta distorção "amacia" a voz e os instrumento, dá mais peso à bateria etc?
Carlos Duttweller: Nós temos em disponibilidade, alguns equipamentos valvulados, como alguns pré-amps Avalon, TL Audio, Focusrite etc.. Na minha opinião, estes equipamentos, já fabricados com uma tecnologia atual, não distorcem o som do instrumento ou da voz, aquilo a que eles se propõem é manter a gama de freqüências harmônicas, o que provoca, segundo os ouvidos privilegiados, um som mais "encorpado" ou mais "pesado". Esta sensação desaparece um pouco no processamento digital devido à codificação, o que na realidade estreita  a faixa harmônica.

M&T: O Sólon (Editor Técnico da M&T) insiste em que amplificadores 'solid state' para guitarra não prestam...
Carlos Duttweller: O Sólon tem um conhecimento musical, acústico e eletrônico muito grande, pois é um bom músico, apesar de ter conseguido sucesso em outra atividade, onde provavelmente é melhor. Ele tem razão quando aos amplificadores solid state. Eu também, como técnico de gravação, acho o som um tanto plástico e sem corpo. Para que a guitarra soe como nós gostamos, nada como um bom valvulado.

M&T: Qual a explicação para estes conceitos?
Carlos Duttweller: A explicação para estes conceitos, é que existem ouvidos que preferem música com qualidade e outros que preferem volume sem considerar tanto a qualidade musical.

M&T: O Midas possui equipamento de última geração. Possui também equipamento 'vintage'? Qual?
Carlos Duttweller: Midas Studios possuem praticamente todos os equipamentos convencionais disponíveis nos estúdios de padrão internacional. O modelo de mesa escolhido, no caso a Special Edition da SSL, tem como característica um gerenciador de sistemas de sincronismo para diversos equipamentos e sistemas, além de poder realizar mixagens em surround, o que será necessário na era do DVD. Utilizamos monitores de áudio Genelec, Quested, Hafler, Dynaudio e Yamaha. Não temos nenhuma "coisa" fantástica que processe milagres e também não temos nenhum equipamento vintage.

Variedade de Microfones a Gosto do Cliente

M&T: Fale sobre microfones. Quais os seus favoritos para voz, piano, bateria, cordas etc.?
Carlos Duttweller: Temos uma diversificação grande de microfones. Os normais Sennheiser MD421, Shure SM57, Electro-Voice RE27, Audix, Audio Technica, AKG C414, CAD E300, Neumann, Bruel & Kjaer etc.
 Para gravação de voz,  eu particularmente gosto muito do Neumann M 149 valvulado e do Solidtube da AKG, também valvulado. Gosto muito do CAD E300 para alguns timbres de voz.  Para gravação de piano, no caso de um clássico por exemplo, eu gosto dos B&K 4007. Gosto também dos Neumann U87 ou U89, ou ainda dos AKG C414 e do Sony C-800G. Para a bateria, os melhores resultados são obtidos com os AKG D112 no bumbo, Sennheiser MD421 para os tons e surdo e AKG C3000 para caixa. Para os pratos e contra-tempo pode-se utilizar microfones a condensador, no caso o Audio Technica AT4041. Para over soam bem os B&K 4012.
 Dependendo da sala do estúdio, a gravação de cordas poderá ser feita utilizando-se microfones Neumann U87 ou U89, ainda os B&K 4007. Para os cellos eu gosto dos Beyer MC740 ou dos Sennheiser MD 441. Os Sennheiser MD 421 e MD 441 dão um resultado muito interessante para gravação de metais, pois suportam uma pressão sonora alta e têm uma excelente resposta.


Sala de masterização: workstation digital

M&T: O Midas possui piano acústico?
Carlos Duttweller: Ainda não temos um piano acústico, porém no projeto existe o local para futura aquisição. Nossa opção no momento é para o modelo C7 da Yamaha, pois é um piano com uma sonoridade muito boa e pode ser utilizado tanto para popular como para clássico.

"Já Fiz o Tratamento Acústico em Mais de 260 Estúdios"

M&T: Fale sobre o tratamento acústico. Foram usados materiais importados, como no AR?
Carlos Duttweller: O projeto de tratamento acústico foi realizado pela Walters/Storyk Design Group, Inc. de Nova York, com a responsabilidade de John Storyk. O estúdio principal tem uma área construída de aproximadamente 200 m². É um pouco maior que o Estúdio AR. Todo o isolamento acústico foi feito por três paredes em blocos de concreto cheios de areia. Foi construído um piso flutuante com acabamento em laje de 12 cm, sobre coxins de neoprene. As paredes de tratamento acústico são feitas em dry-wall importado da França. Os painéis acústicos foram construídos no Brasil pela minha equipe, utilizando as especificações do projetista. Eu consegui também um licenciamento junto à RPG para que pudéssemos construir os difusores e flutter frees utilizados para controle de reverberação. Para isso, a RPG nos forneceu o projeto detalhado e eu consegui fabricar as ferramentas para a produção dos difusores. Isso diminuiu drasticamente os custos, uma vez que estes difusores são muito pesados e enormes, o que encarece muito sua importação. A técnica é muito confortável e o equilíbrio sonoro é perfeito. Em qualquer ponto que você estiver, a resposta é igual. Não existem ondas estacionárias ou cancelamentos devido a grande eficiência dos difractais. A NC constatada na técnica, com todos os equipamentos a ar condicionado ligados, é 27, medida pelo engenheiro José Carlos Giner. O estúdio de gravação propriamente dito tem uma sala grande com capacidade para acomodar uma seção de cordas com mais de 24 músicos ou uma banda grande, e ainda uma sala isolada para gravação de bateria, percussão ou outros instrumentos. Temos ainda acomodações para o artista e produtores como três suites, sala de reuniões, sala VIP etc..
 O sistema de ar condicionado é composto de mini centrais independentes para cada sala, com controles individuais de temperatura, para maior conforto. O sistema de iluminação também é setorizado, o que permite programar através de dimmers, a intensidade de luz de cada ambiente.
 Foram importadas todas as luminárias com proteção térmica por sensores, isolamento de alta qualidade e o melhor, por um preço que corresponde a 20% do que custa uma luminária brasileira.


No estúdio B, a console Soundcraft 2020 com automação

M&T: É uma necessidade real trazer projetistas e projetos do exterior? Você mesmo é um projetista acústico. Será que neste país ninguém é capaz de fazer um bom projeto?
Carlos Duttweller: Quem conhece o meu trabalho e a minha dedicação à construção de estúdios, sabe da minha trajetória nestes meus 25 anos de trabalho na área de acústica de estúdio. Foram mais de 260 estúdios de gravação, de pós-produção e de rádio. Quando eu fiz o projeto e construí o Impressão Digital, o primeiro estúdio de classe internacional construído no Brasil, recebi muito mais críticas do que elogios. Muitas pessoas foram lá para procurar defeito e não qualidade, ou enaltecer a coragem do Mazzola de ter investido tanto para dar a estas pessoas um local com as melhores condições de trabalho naquele momento.
 O tempo provou que eu estava no caminho certo, e estão aí no mercado as centenas de gravações de sucesso feitas no Impressão Digital. Mas diante disso, eu tomei a decisão de fazer um acordo operacional com a Walters/Story Design Group, Inc., uma Empresa com sede em New York e mais de 900 projetos em todo o mundo. A WSDG ganhou  quatro TEC Awards e seus projetos vão desde o lendário Electric Lady até o Synchrosound Complex na Malásia, um projeto de US$ 16 milhões. É importante um projeto assinado pelo John Storyk, pois tem mais valor que um projeto meu, ele é considerado de classe mundial. Isso reverte em status para o estúdio. Se você tem um projeto WSDG, uma SSL e outras coisas para complementar, os gênios que levitam no meio artístico talvez não achem tantos defeitos no estúdio. Mas se esforçarão para isso.

Relação de Equipamento do Studio Midas:

Console SOLID STATE LOGIC - 4048 G Plus - Special Edition, com 48 canais, Total Recall e Ultimation (Moving Faders)
2 Gravadores STUDER A827 - 24 Canais
4 Gravadores ALESIS ADAT XT20
2 Gravadores DAT PANASONIC SV3800
1 CD Player TEAC CD201
Pre Amplificadores/Compressores AVALON mod. 737
Pré Amplificadores/Compressores TL Audio
Pré Amplificadores/Compressores AMEK 9098 RN
Processador FOCUSRITE Voicemaster
Processador DIGITECH
Processador LEXICON 480L com LARC
Processador LEXICON PCM 80
Processador LEXICON PCM 90
Processador LEXICON LXP-1
Microfones:
NEUMANN M149- U89
AKG C414 - C12VR - D112
SENNHEISER MD421
AUDIX
AUDIO TECHNICA AT4041 - AT4050
CAD E300
SHURE SM 57 - SM 58
ELECTRO VOICE RE27

Serviço  
Midas Studios - Pré-produção, gravação, mixagem e masterização
Rua Leão XIII, 116, Santana, SP.
Tel/Fax:  (011) 290-8885
Gerência Técnica: Carlos Duttweller
E-mail: midasstudios@uol.com.br
Hora de Gravação: 150,00
Equipe: mantém House Engineers e trabalhamos em sistema free lance para os técnicos de gravação.
Clientes: Midas Studio são estúdios de aluguel destinados a todas as gravadoras.