Nada como as canções da carioca Francisca Edwiges Neves Gonzaga, digo, Chiquinha Gonzaga, para o burburinho dos musicais voltar aos palcos. O local de estréia não poderia ser melhor escolhido: a Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, cenário antigo do teatro de revista, operetas, comédias musicadas etc. Parece até que estamos vendo: auditórios lotados, estrelas nos bastidores, o frenesi dos fãs... Anos mais tarde, aqui estão novamente. Como diz o diretor geral de "Ô Abre-Alas" (nome mais sugestivo impossível), Charles Moeller, "teremos de volta nossos músicos no fosso, cantores no palco e música original". Só que agora, em uma superprodução envolvendo 72 profissionais, entre 22 atores e quatro músicos, e orçada em cerca de 350 mil dólares. Aos nacionalistas de plantão, um aviso: no melhor estilo "Broadway de ser", sim senhor. Mas por que, não?
Como uma das maiores preocupações sempre foi a de evitar um som pesado, optando mais pelo lado acústico, a escolha dos técnicos de áudio foi fundamental para se "manter o clima". Os irmãos Hugo e Fred Tolipan, já íntimos do meio teatral, encararam a empreitada. "Aqui, a atenção precisa ser redobrada, nada pode ser feito de última hora. Além disso, é necessário que a pessoa tenha a sensibilidade de cena", explica Hugo.
Com tantas mudanças de som ao longo de todo o espetáculo (45 no primeiro ato, e mais 30 no segundo), Hugo, que também é dono de uma firma de iluminação, conseguiu adaptar um mapa de luz para o de sonorização. "Isso facilitou muito o nosso trabalho. Assim, a gente opera som como se operasse luz, através de programação", explica o técnico. Apenas os solos recebem alterações.
Na Microfonação, Todos os Artistas são Protagonistas
Os técnicos contam que chegaram a pesquisar a respeito de quais marcas de microfones forneceriam uma melhor assistência técnica aqui no Brasil. Afinal de contas, seriam 22 microfones sem fio (um para cada ator). A escolha acabou recaindo sobre os Shure, o que resultou em um investimento de mais de 30 mil reais bancados pela produção. Eles são fixados na testa dos atores, deixando sempre uma "anteninha" por causa dos chapéus no figurino. Para as mulheres, foi confeccionado uma espécie de corpete com bolso por baixo da roupa e, para os homens, uma cinta de elástico na cintura. Para que fosse evitado qualquer tipo de problema com freqüência, 10 microfones são em UHF e os outros 12 em VHF, todos com cápsula WL-93. "Uma cápsula com bom resultado e custo-benefício bem legal", revelam.
Para os instrumentos, Shure SM57 fazendo a parte dos graves do piano e SM58 para a área de média para cima. No clarinete, o esquema é o mesmo: SM57 para as notas mais baixas e SM58 por cima. Quanto à bateria, SM57 na caixa e no bumbo para incitar ainda mais o efeito "de época". No tom e no surdo, outros SM58. Acompanhando, dois Direct Boxes "entram" num teclado, fazendo a ritmia sonora e "desenhando" a música. Há ainda uma trilha em MD, gravada pelo sonoplasta Nino Carlo.
Os técnicos explicam que, fora os microfones, o resto do equipamento é simples para que possa ser facilmente conseguido quando for a hora de viajar com o espetáculo. Locado há quase um mês antes da estréia, os artistas também tiveram que passar por 15 dias de ensaios com som. E os cuidados não param por aí. Um deles foi em relação aos amplificadores, que não poderiam ser do modelo atual vendido com ventoinha, mas sim com o antigo sistema de dissipador em placa. A razão é porque, como os atores ficam na coxia e estão sempre passando perto dos amplificadores, acabaria gerando um "barulhinho" que, definitivamente, não está escrito no script.
A Virada de Mesa
Para coordenar todo esse movimento, oito monitores Electro-Voice, divididos por setor: dois no fosso (para os músicos); e os outros em seis vias separadas pelas cortinas (fundo, meio e frente). Assim, conforme se diminui a área do palco, diminui-se também o número de monitores, e vice-versa. Todos eles estão posicionados por cima do palco para que a movimentação de elenco e cenário seja facilitada, já que o entra-e-sai não pára um minuto sequer. Também é utilizada uma mesa Mackie de 24 canais para os 22 microfones, e uma outra de 16 canais para a banda.
Hugo e Fred Tolipan, projetistas e operadores de áudio de "Ô Abre Alas
A mixagem é feita por cena. Na hora dos efeitos, um SPX990 é utilizado para a ambiência e nada no P.A.. Dependendo do número musical, pode ser usado um efeito diferente. É claro que, sob as rédeas do diretor musical Cláudio Botelho, nada que virasse rock'n'roll. Talvez este tenha sido o motivo da grande preocupação para a escolha dos músicos: Breno Lucena (piano), Zaida Valentim (teclados), André Góes (clarinete) e Márcio Romano (bateria). Todos, segundo o próprio Cláudio, com muitas afinidades com o teatro: "Existe uma fama de que músico dá problema em teatro, isto é mentira. O que dá problema é músico de show que vem fazer teatro, que odeia isso aqui. Você deve sempre chamar quem tenha a ver, senão, não adianta", diz.
Alfinetadas à parte, o fato é que o gênero musical mostrou não estar para brincadeira quando o objetivo é dar a volta por cima. Se nos "anos de glória", o jeito era cantar no gogó, por exemplo, hoje em dia a tecnologia já facilita as coisas. É claro que, até mesmo pela falta de costume, o momento é de aprender fazendo. Mas nada que seja desesperador, afinal de contas, sempre haverá como se beber da fonte. A Broadway é logo ali.
Cláudio Botelho: trabalho árduo para selecionar as músicas da peça
Com a Palavra, o Diretor Musical
"Ô Abre Alas / Que eu quero passar / Eu sou da lira / Não posso negar..." Esta era a única música que Cláudio Botelho, no ramo dos musicais há mais de 10 anos, tinha a certeza de que estaria no espetáculo. As outras foram sendo descobertas e conquistando o seu espaço. "Eu devo ter passado por cerca de 300 a 400 partituras de Chiquinha, entre originais, cópias e retrabalhos, além de umas 40 a 50 horas de gravações das mais diversas", explica. Um serviço que ele começou há uns seis meses antes do pano abrir, e que contou com a ajuda do pesquisador Calé Alencar, e da biógrafa de Chiquinha, Edinha Diniz.
Além das cerca de 30 músicas da compositora, entre instrumentais, incidentais ou cantadas, o diretor colaborou também com algumas composições próprias. "Eu fui pegando uma frase dela aqui e ali e criando canções novas. Até porque o que eu queria era montar um espetáculo onde a história fosse contada também com as músicas", diz Botelho. Ele, inclusive, fez questão das tradicionais audições para a escolha do elenco, selecionando sopranos, mezzo-sopranos, barítonos, tenores, todos na medida certa.
Um anárquico, como ele mesmo se intitula, Cláudio faz questão de dizer que nada aconteceu meticulosamente pensado. Nem mesmo o número de "Ô Abre Alas", no segundo ato, que considera a melhor coisa que tenha feito em teatro. Pela intuição e sem regras, tal como um artesão, foi moldando o espetáculo e mostrando uma Chiquinha de muitas faces. A lírica, a carnavalesca, a do chorinho, a moderna, e as outras mais. Outras que nem ele imaginava encontrar.
Relação de Equipamento de Som
Musical: "Ô Abre Alas - 150 Anos de Chiquinha Gonzaga"
Projeto e Operação de Som: Hugo Tolipan / Fred Tolipan
PA
Cerwin - Vega
L - 36 - PE
D-32D
Mixer- Allen & Heath GL-2000 - 40:4:2
1 SPX-990 Yamaha
1 Compressor dbx 166
3 EQ. Yamaha Q 2031
MiniDisc - MDS-S39 Sony
Monitor
E-V 15" = FM1502 ER (8 unidades)
3 EQ Yamaha Q 2031
1 Compressor Alesis 3630
Mixers - 2404 Mackie SR VLZ
1604 Mackie SR VLZ
Microfones
SM-57 - (04 unidades)
SM-58 - (04 unidades)
WL-93 - Shure (22 unidades)
U4-D-VA - Dual Receiver UHF
U1-U4 - Transmissor UHF
LX-4 - VHF
Distribuidor de Antenas
UA-840-U4 UHF
WA-405 VHF