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Revista Luz & Cena
Estúdios
Uma aposta na boa acústica
Reuel Studios impressionam pela excelência
Catalina Arica
Publicado em 09/12/2010 - 00h00

Um estúdio com dimensões imponentes. Assim é possível definir o Reuel Studios. Localizado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, ocupa uma área de três terrenos no bairro totalizada em 1500m2. O Reuel  é a concretização de um sonho de dez anos de seu proprietário, o produtor e cantor Jairinho Manhães.

O novo Reuel - palavra que em hebraico significa amigo de Deus - é uma versão revisitada do antigo estúdio de Jairinho, que ficava em Nova Iguaçu, município na Baixada Fluminense. Mas não é só a extensão da área ocupada pelo novo complexo de estúdios que impressiona. A sala Vip, a principal do Reuel, tem nada mais e nada menos de 7m de pé direito. Fazer uma sala de gravação com essa característica foi possível graças a dois fatores: um projeto que partiu do zero - pensado pelo norte-americano John Storyk e executado pelo brasileiro Renato Cipriano - e o terreno em declive onde se encontra o complexo.

Mudanças que vêm para o bem

O primeiro Reuel ocupava apenas dois cômodos "improvisados", de acordo com o próprio Jairinho, em Nova Iguaçu. Lá o estúdio começou a crescer e conseguiu reunir boa quantidade de equipamentos de qualidade. Isso estimulou Jairinho, que viu a necessidade de procurar um projetista para colocar em funcionamento um estúdio que pudesse fazer diferença. Foi então que ele e Gerê Fontes Jr, técnico responsável pelo Reuel, pensaram no trabalho de John Storyk.

A construção do estúdio levou um ano e dois meses - e a idéia inicial do estúdio passou por algumas alterações. De acordo com Gerê, no começo o complexo de estúdios teria era uma sala principal, um estúdio de masterização e mixagem e um outro para ensaio. "Conforme as conversas com os projetistas começaram, a gente chegou à conclusão de que o estúdio de masterização e mixagem podia ser uma segunda técnica do estúdio principal. E o estúdio de ensaio deixou de ser simplesmente de ensaio, porque ficou tão bom que resolvemos aproveitar", detalha.

Jairinho conta que foi o próprio John Storyk que sugeriu que o estúdio de ensaio fosse transformado em um estúdio de gravação. "Se ele achava isso era melhor apostar, né? Hoje, pela sonoridade que a gente tira do estúdio Mix, é possível ver que ele estava certíssimo", afirma ele.

As salas

O estúdio Mix é a menor das salas. Ela mede 25m2 e tem como característica principal a excelente relação custo/benefício. A sala Master pode funcionar de duas maneiras: apenas como sala de mixagem de algo já gravado ou também como uma segunda sala de técnica para o que é gravado no Vip. "Lá tem uma Control 24, seis prés analógicos e mixagem com caixas Genelec", conta Jairinho.

A sala de gravação no Vip é a grande vedete do Reuel. O pé-direito de 7m e os 60m2 tornam o local o sonho de qualquer músico que deseje gravar uma bateria sem embolar os harmônicos. "Quando os projetistas comentaram sobre a altura da sala, eu pensei que fosse um pouco de exagero, mas nós visitamos um estúdio em Nova York cujo que tinha um pé direito de 12m e percebemos a grande diferença que ele faz", comenta Jairinho.

O conforto do estúdio Vip não se limita à sala de gravação. Com pé direito de 4,5m e uma sala que mede 42m², a técnica possui uma mesa Euphonix Total Recall CS3000 com 56 canais, bons prés - entre eles Amek, SSL, Mackie VoxBox e DW Feam -, bons efeitos - TC System 6000 e Lexicon 960L, por exemplo -, além das caixas Genelec 1037 e 1038 para monitoração em 5.1.

A mesa foi escolhida depois de muita pesquisa de mercado e pensada para ser um investimento a longo prazo. "Espero não ter que trocar de mesa nos próximos 15 anos. Se você tem uma mesa de 56 canais realmente com 56 faders, você perde o estéreo porque você tem que se mexer 1,5m para mixar. É claro que a mesa é ótima, é até pequena para ter 56 canais", diz Jairinho. Ele conta que outra das motivações para a compra da Euphonix foi que seu som já é conhecido no mercado. Ela acabou levando vantagem sobre a Pro Control, superfície de controle digital que chegou a ser cogitada por Jairinho. "Mas eu a acho cara para o que oferece", comenta. 

Sem planos de se tornar gravadora

Embora o Reuel não tenha vínculo com nenhuma gravadora e Jairinho seja produtor de sucesso - os artistas que mais lhe rendem lucros são a cantora (e esposa) Cassiane, a dupla Jairinho & Cassiane e a mirim Jaiane (sua filha) -, ele não tem planos de montar um selo, pelo menos não em curto prazo. "A gente tem algumas idéias, mas não de ser gravadora. Até porque a gente sabe que gravadora está com um tempo de vida curto. Essa história de baixar música pela Internet só vai acelerar o processo de morte das gravadoras", opina.

Hoje, o complexo Reuel de estúdios presta seus serviços a gravadoras gospel e também a artistas independentes. "Até porque acho que a obra hoje é mais importante do que pensar em um selo. Não penso em ter gravadora, até porque quem tem 10 cantores tem 10 dores de cabeça. Hoje nós gravamos pela MK", diz.

Embora a qualidade acústica impere em todas as salas de gravação do Reuel, é indiscutível o maior conforto apresentado na técnica do Vip em relação às outras salas. "O pessoal pergunta: qual é a vantagem de gravar no estúdio Vip se o Mix é um estúdio tão legal? É a forma como você ouve o som. Como a sala do Mix é menor, você acaba tendo que trabalhar com o som direto, sem interferência da acústica, então fica mais difícil aproveitar a acústica da sala", explica Gerê. No estúdio Master acontece algo muito parecido.

No Vip, no entanto, é possível trabalhar sem medo, de acordo com Gerê. "Você mexe em uma freqüência sabendo que é naquela freqüência que você está mexendo. Outra característica que me deixou impressionado é não se sente falta dos monitores nearfield. Uma vez eu li uma reportagem em que alguém dizia que o nearfield foi criado para utilização em salas deficientes. Aqui estou podendo comprovar isso", observa o responsável técnico.

O Reuel trabalha com Pro Tools HD de 24 canais de gravação e 48 de reprodução. Para mixagem os estúdios usam o Alesis MasterLink, de 96kHz e 24 bits. Mas, como não podia deixar de ser, está lá o velho ADAT também. "Às vezes vem alguém de fora e quer usar fita. Além disso, ao tentar vender um ADAT desses ninguém dá mais do que R$ 1 mil. Com ele no estúdio tenho duas vantagens: é possível fazer transcrições e, se você deixar ele ligado com as luzes acesas, já é um ótimo enfeite (risos)", diverte-se Jairinho.

Público alvo

Freqüentador da igreja da Assembléia de Deus, Jairinho faz questão de deixar claro que o Reuel não estará à disposição apenas dos artistas gospel. "Tivemos há pouco tempo uma proposta do [engenheiro de gravação] Flávio Senna para poder gravar um setup de cordas aqui", ressalta o produtor.

Aberto a todos, porém, com algumas restrições. "Quem dita as regras da casa é o dono da casa. Algumas coisas eu, como dono, tenho que limitar, mas também não posso simplesmente dizer que é só para evangélicos porque acho que todos merecem trabalhar aqui", opina.

Por enquanto, há dez trabalhos agendados no estúdio somente de produções do próprio Jairinho. Foi cogitado fazer a gravação de cordas de alguns artistas no estúdio Vip, mas ainda não foi nada acertado.

A verdade é que as pessoas não conhecem o estúdio a fundo, porque ele ainda não foi muito divulgado. "A gente ainda está começando e acredito que, com o tempo, mais pessoas vão querer gravar aqui", comenta Gerê.

Gerê analisa a situação de um outro ângulo também. De acordo com ele, ainda há pessoas que não percebem a diferença entre o som feito em um estúdio do porte do Reuel e outro conseguido em um quartinho no quintal de casa. Jairinho concorda. "Eu tive contato com alguns músicos que vieram para cá, viram o estúdio grande e disseram a seguinte pérola: 'mas hoje em dia você pode tirar o mesmo som que você tira aqui no banheiro de uma casa'. Fiquei horrorizado", diz. Jairinho continua: "comentei isso com Renato Cipriano e chegamos à conclusão de que o  preocupante é o ouvido desse cara, porque se ele ouve isso... (risos)".

Imagem é tudo

Para este ano, o Reuel tem trabalhos fechados até agosto, só com as produções de Jairinho. No começo de janeiro foram encerradas as mixagens do DVD de Ludmila Ferber em 5.1 e há ainda algumas bandas em trabalho de finalização. "Estou trabalhando com Fruto Salgado, Jaiane, Abraão Lima e Sara Silva", conta Gerê.

Como é a realização de um sonho de dez anos de Jairinho, não há porque ter pressa em correr para fazer um grande número de trabalhos. Foi escolha da direção do Reuel Studios segurar um pouco o número de discos feitos lá e aproveitar totalmente as possibilidades de mixagem do local. "Criou-se também uma expectativa muito grande em relação ao som que sairia daqui. Se sair um som bom as pessoas vão falar 'também, com um equipamento daqueles', e se sair um som ruim as pessoas vão falar 'pô, mas com esse equipamento?!' Então eu decidi que iríamos criar uma agenda com que pudéssemos preservar a imagem do estúdio", explica Jairinho .

Obs: A matéria continua na 2ª parte com a entrevista do projetista do estúdio - Renato Cipriano
 
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