Há um tempo atrás, quando você ouvia falar em igreja, no que pensava? Silêncio, serenidade, corpos quase estáticos. Mas se você não vai a uma igreja há muito tempo e resolver assistir a um culto ou a uma missa hoje, vai ver que a história já é bem outra. Podemos dizer que os cultos e missas nas igrejas brasileiras tomaram uma proporção de show. De olho nesse mercado, que cada vez se torna mais promissor, M&T esteve conversando com Roque Souza Júnior, operador técnico, responsável pela sonorização do Centro Evangelístico Internacional, localizado em Niterói, cidade do Rio de Janeiro. Roque nos contou sobre o processo de sonorização e a visão da igreja diante da tecnologia de áudio.
Depois de rodar muita estrada, ter trabalhado em várias empresas de sonorização, como Embravisom e Embrasom, e atuar como roadie, Roque foi convidado pelo diretor de música da igreja para trabalhar como operador técnico do Centro Evangelístico. Ao chegar no local, Roque percebeu que a situação do som não era agradável, não havia peso nem retorno. Uma empresa de sonorização picareta iniciou o projeto, que não foi finalizado. Roque então assumiu a posição.
O primeiro passo foi dar uma detalhada em todos os equipamentos, ver o que precisava comprar, renovar, o que dava para aproveitar. "Cheguei aqui procurando saber sobre a parte acústica, quais eram os problemas, se havia lugares que pudessem ter absorção de graves, médios, para poder dar uma abertu-ra de caixa de som, tipo fly", afirma o operador.
Estética - Um Desafio Para a Acústica
O apoio técnico foi dado pela DiscoNildo. A parte de projetos, ângulos, caixas de som, equalização teve o auxílio de Genilson da Star Sound. Mas nem tudo são flores, quando o assunto é sonorização de igreja. Uma questão delicada dificulta o processo: A Estética. Mexer na acústica não é tarefa fácil, afinal o conceito de beleza é influente para os freqüentadores dos templos.
Segundo Roque, "Se você colocar um prego na parede, dá confusão. Se quiser mexer em alguma coisa, tem que fazer reunião. A gente tem adaptado o que dá pra fazer." Poucas igrejas, como a Renascer em São Paulo, fizeram realmente um tratamento acústico. Houve uma integração da acústica à arquitetura. Mas como seria possível conscientizar os fiéis de que um tratamento acústico é essencial para a qualidade sonora do ambiente?
A resposta para essa questão parece não ser das mais fáceis, mas Roque garante que vem fazendo o que pode para não ter problemas com a vizinhança, por exemplo. Se passar de um determinado horário, não pode mais ser utilizado o som alto. No caso do Centro Evangelístico a questão ainda complica mais, pois a igreja é toda envidraçada.
Uma visão geral da parte inferior do templo, que funciona diariamente
Tratamento Acústico - Auxílio e Conforto
Quanto às vantagens que um tratamento acústico pode trazer, o operador declara: "A pessoa entra na igreja e se sente confortável. Não há agressão para os ouvidos. É trazida comodidade. Se escuta melhor a parte instrumental, quem está cantando, o som bem mixado." Na busca do som ideal, Roque tentou acomodar o fly de uma forma que não ferisse os ouvidos e uma pesquisa com os freqüentadores foi trazendo idéias novas. O sistema de som foi então adaptado para agradar a todos.
"No início foi complicado porque a gente estava em fase de teste. Até chegar ao ponto que pudesse agradar, demorou um pouco. Foi feita pesquisa boca a boca mesmo. Perguntava a quem estava sentado na galeria, lá na frente, aos pastores. Perguntamos até achar a altura agradável e alinhar tudo: caixas de som, sistema delay", afirma Roque.
Roque Souza Júnior cercado por seus auxiliares Rubens Campos (à esquerda) e Fábio Spínola
Como maior dificuldade no processo de sonorização, o operador técnico aponta a interferência de membros da igreja, que por serem técnicos de eletrônica se achavam capazes de dominar a área de som. Sem contar com a resistência da tão valorizada estética, percebe-se assim que não foi tarefa fácil.
Sonorização - Passo a Passo
Foi montado sistema de palco e de P.A, caixas Fly com sistema delay, para que o som não ferisse os ouvidos e fly de frente. São utilizadas oito linhas de monitores, a equipe não trabalha com cubo no palco. É utilizado um monitor para cada músico. A escolha não foi aleatória, segundo o operador, quando usavam cubos, os músicos queriam volume total e o cubo do baixo ficava do lado da bateria, que realimentava os microfones, os cubos da guitarra e do teclado ficavam perto da percussão e também realimentavam os microfones. A solução encontrada foi um pedal de volume e um multi-efeito para cada um. A placa de acrílico que também seria uma solução, apresentou um custo muito elevado.
Segundo a DiscoNildo, a igreja teve um gasto acima de 100 mil reais com os novos equipamentos. Mas apesar do crescimento dos cultos e missas/cultos "estilo show", não são todas as igrejas que vêm investindo com tanta vontade. É o que garante Roque: "Para muitas igrejas, uma mesinha com oito canais e duas caixinhas são o suficiente. Existem pessoas que não têm visão de qualidade sonora. Saiu som, pra eles, está bom."
Mas se o investimento na tecnologia musical não chega a ser uma regra para os templos, não se pode negar de que estamos muito à frente em relação a um passado, nem tão distante assim. Numa igreja, o papel do pastor ou padre, é de extrema importância, e a dica para quem está comprando equipamento é a de conhecer melhor os microfones, com regiões graves, médias, médias-altas e conhecer melhor os palestrantes. No Centro Evangelístico são utilizados os microfones Senheiser E 845 para voz, Beta 58 Shure de fio e sem fio, e um processador de efeitos SPX 990 na voz, além do processador de efeitos da mesa Yamaha 02R.
Quanto às vantagens da mesa, Roque afirma: "Em muitas coisas, ela dá um suporte melhor do que se a gente tivesse uma mesa analógica com vários processadores. A mesa digital dá um processador, um compressor com gate e dois processadores de efeito por canal. Isso facilita bastante nossa vida."
Cabine de Som e Estúdio - Um Espaço em Comum
No Centro Evangelístico, a cabine de som fica na parte superior da galeria. O espaço também é utilizado como estúdio. Observando parece até impossível passar o som com alguém distante, a mais de 50 metros das caixas de fly, em sistema de delay. Mas foi composta uma equipe para trabalhar na galeria de baixo, outra na parte frontal do sistema de fly e outra na parte de cima da galeria. O som então, vai sendo passado com a igreja vazia, se avalia a altura dos decibéis, como as caixas estão se comportando, se o sistema de fly está alto.
É utilizado um padrão em cada culto. Terça e Quinta, por exemplo, o limite de decibéis é menor que Sábado, que tem uma programação jovem, conta com uma banda ao vivo. É utilizado som e PA aberto. Na parte de monitor da house mix são utilizadas duas caixas Apogee para dar um sustento na parte de solo e monitorização por canal. A mesma mesa (Yamaha Digital) é usada para o pastor e para a banda. O padrão de equalização por canal é diferente. Não é de PA. Foi feita de uma forma que todos os operadores se acostumaram com o padrão técnico (referência, regulagem, compressor, multi-efeito). O operador praticamente só dá ênfase ao volume.
A parte de gravação no "estúdio/sala de operação" terá início praticamente este semestre. Entre o equipamento, se encontram um porta-estúdio AMT 4X da Yamaha e um gravador de MD. O estúdio será de grande utilidade nas obras sociais da igreja, já que estão sendo gravadas fitas cassete com a finalidade de serem vendidas e o dinheiro arrecadado será revertido na ajuda à população de Angola e a ex-viciados do Rio. Serão feitas também gravações de bandas e cantores. Todo o dinheiro revertido será utilizado nos projetos da igreja. Segundo Roque, é uma forma de se devolver o que foi gasto.
Operadores Técnicos × Remuneração
Um grande problema que os operadores enfrentam nas igrejas, segundo Roque, é a remuneração: "Infelizmente as igrejas não querem pagar um profissional. Quando pagam, é muito pouco. Os templos querem sempre variar o operador e isso dificulta o trabalho. No Domingo o som está bom, e chega na Terça o outro cara vai e mexe. Os operadores nunca têm o mesmo ouvido. Seria válido se as igrejas pudessem pagar um profissional, um técnico mesmo para manter o equipamento sempre equalizado, com as características do mixer e console sempre em ordem. Já que as igrejas não pagam um salário decente deveriam pelo menos pegar dois rapazes e pagar um curso para que seja dada qualidade ao equipamento."
Outro fator comum nas igrejas são os operadores voluntários. Mas se a situação continuar assim, a qualidade sonora que tanto se busca, ficará cada vez mais distante. Para que existem os profissionais de áudio? É comum pessoas leigas acharem bonito mexer nas peças do equalizador, puxar a freqüência sem saber, arriscando a queimar os drivers das caixas. Quando não ligam um compressor errado, depois do equalizador, comprimindo sinal.
Para finalizar, o operador do Centro Evangelístico deixa seu recado: " Os operadores que estão começando, devem procurar um curso. É muito bom estudar, abrir o conhecimento na parte técnica. Hoje em dia tudo muda. Você pega um compressor hoje e daqui a dois anos já não é a mesma coisa. Depois de terminar o curso, o ideal é que procure o sindicato para resolver a parte profissional." Para as igrejas, Roque sugere: " Invistam em som. Não tenham medo. Mas não deixem de investir no operador. Não adianta você colocar equipamento de qualidade e não saber mexer. Com investimento e confiança no operador, se alcança o sucesso."
A cabine de som, que também funciona como estúdio
Relação de Equipamentos
Templo principal:
House Mix
01 Console Yamaha 02R Version 2 (Adaptada 32 canais)
02 BBE Sonic Maximizer 862
02 Delays Symetrix 402
01 CD Player Denon DN2000F MKII
01 Tape Denon DN770R
02 Monitores Studio Apogee SSM-SX c/ Processadores
02 Power para monitores Soundtech Pl 205
P.A
02 EAW KF 850
06 Apogee SSm-Sx (Linha de delay)
01 Machine 4.0 SBX (Grave)
01 Soundtech 1300 (Médio)
01 Peavey IP 8.5 (Agudos)
02 Soundtech PS 800 (Delay)
01 Crossover Soundtech 4 vias estéreo
Palco
01 Console Tascam M2600 MKII
06 Processadores Apogee SSM-PV
03 Equalizadores Yamaha Q2031 A
03 Feedback Eliminator Behringer
01 Compressor DOD 866 II
02 Compressores dbx 166
04 Monitores EAW SM 155
04 Monitores ElectroVoice 12"
02 Monitores ElectroVoice 10"
02 Monitores GAD ST 152 (side fill)
02 Monitores GAD ST 122
04 Power Machine 2.8
02 Power Peavey IP 8.5
01 Monitor de ouvido Shure para Bateria
01 Cubo Marshall Baixo 15"
01 Cubo Crate/ Guitarra
Microfones
08 Mic Sennheiser E 845
06 Mic Shure Beta 58
02 Mic Shure Beta 58 A
Bateria
01 Kit Mic's Sennheiser
01 Mic Shure Beta 57 (resposta para caixa)
Percussão
02 Mic Audio Technica AT 815 B (over)
01 Mic Shure Beta 58 (Tumbadora)
Coral
02 Mic Crown LM 301A
02 Rádios Comunicadores Kenwood UHF
02 Rádios Comunicadores Motorola
Relação de Equipamentos (Salão Térreo)
01 Console Mackie 16/4
01 SPX 990 Yamaha
02 Power Machine 2.8 SBX
02 Caixas EAW 215
02 Monitores Soundtech 3 Vias 15"
01 Microfone Sem fio Shure Beta 58 com receptor Samson
03 Mic Shure Beta 58
Relação de Equipamentos de Estúdio (Ensaio e Gravação)
01 Console Mackie 16/4
01 Porta Studio Yamaha MT 4X
01 Processador Yamaha SPX 990
01 Cubo Marshall Valvulado para baixo
01 Cubo Crate para guita 2x12
01 Cubo Staner KB para teclados
02 Monitores Gad ST122
02 Monitores Apogee AE.5NC
01 Powerplay Behringer
04 Phones AKG K 141
06 Mic Beta 58
01 Monitor de ouvido Shure para bateria
01 Cubo Marshall Baixo 15"
01 Cubo Crate/ guita
Microfones
08 Mic Sennheiser E 845
06 Mic Shure Beta 58
02 Mic Shure Beta 58 A
Bateria
01 Kit Mics Sennheiser
01 Mic Shure Beta 57 (resposta para caixa)
Percussão
02 Mic Audio Technica AT 815 B (over)
01 Mic Shure Beta 58 (Tumbadora)
Coral
02 Mic Crown LM 301A
02 Radios Comunicadores Kenwood UHF
02 Radios Comunicadores Motorola
Relação de Equipamentos (Salão Térreo)
01 Console Mackie 16/4
01 SPX 990 Yamaha
02 Power Machine 2.8 SBX
02 Caixas EAW 215
02 Monitores Soundtech 3 vias 15"
01 Microfone sem fio Shure Beta 58 com receptor Sanson
03 Mic Shure Beta 58
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