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Revista Luz & Cena
Análise
Sennheiser Evolution Wireless
Triplo Teste da Nova Linha sem Fio
Sólon do Valle
Publicado em 01/05/2000 - 00h00
Sólon do Valle
 (Sólon do Valle)

Sempre associamos o nome Sennheiser a microfones de alta performance. Afinal, modelos como o MD421 e o MD441 estão em uso há décadas e isso não deve ser por acaso. Modelos como o MKH60 e o MKH70 se tornaram o padrão da indústria de TV e cinema. Mas a Sennheiser não fabricava e nem fabrica modelos "clássicos" de estúdio, perdendo nesta área para a AKG e a Neumann. Neumann? É alemã também! Porque não comprá-la? E assim o fizeram, tornando-se um dos mais poderosos grupos na área da captação sonora.
Microfones sem fio foram lançados e aprovados com enorme sucesso pelo mercado. Os modelos de cores diferentes usados pela apresentadora Xuxa, a partir do final dos anos 80, deixavam cheios de inveja (pelo menos dos microfones) os usuários de sistemas sem fio. Imaginem! Cada sistema custava milhares de dólares! Só mesmo a Xuxa poderia ter vários deles!
Assim, a Sennheiser brilhava pela qualidade, mas assustava pelo preço de seus produtos.
O recente lançamento da linha Evolution veio subverter a ordem reinante, com modelos de ex-celente desempenho vendidos a preços nada assustadores. E, dentro da nova ordem, digo, nova linha, os modelos sem fio quebraram qualquer resistência a ter-se microfones sem fio Sennheiser sem ter que gastar milhares de "verdinhas". Claro, a firma não descontinuou seus modelos maravilhosos, que continu-am a ser vendidos a quem está no topo - apenas decidiu, sabiamente, explorar todas as fatias do mercado.
Nesta análise, testamos nada menos que três dos sem fio Evolution. Conheça agora estes modelos, que vieram em três diferentes estilos.

Linha Evolution Sem Fio

A linha Sennheiser Evolution de microfones sem fio compreende três modelos: O ew100, o ew300 e o ew500. O transmissor pode vir nas versões handheld (de mão), beltpack (caixinha), plug-on (para ser usado com qualquer microfone). Há dois tipos de receptor: o fixo e o móvel. Cada um deles tem diferentes opções de tipos de cápsula, de modo que há todas as opções possíveis na série. Todos operam em UHF e os receptores fixos são do sistema diversity (duas antenas). As semelhanças de design e de de-sempenho são enormes - de fato, pequenas diferenças surgem de um modelo para o outro. Para esta análise, recebemos: 
- um beltpack SKM100, com microfone headset ME3 e receptor fixo EM100;
- um handheld SKM300, com cápsula supercardióide dinâmica MD845, e receptor fixo EM300;
- um beltpack SKM500, com cabo para instrumento e receptor fixo EM500.



 

Transmissor Handheld SKM300

Há, no entanto, várias opções, comuns aos três modelos. Os beltpacks podem vir equipados, além do headset ME3, com microfones de lapela ME2, omni, ou ME4, cardióide. Os handhelds podem vir também com cápsulas MD835 (cardióide dinâmica) ou MD865 (supercardióide condensador). Além dos receptores fixos com diversity EM100, EM300 e EM500, há os receptores móveis (bateria), sem diversity, EK100 e EK500. Há, ainda, os transmissores plug-on SKP100 e SKP500, em forma de caixinha quadrada que pode ser usada plugada em qualquer microfone (mesmo de outras marcas).
Todos os transmissores e receptores portáteis usam baterias de 9V. E têm um display LCD alfa-numérico e pequenos botões de controle, onde se pode mudar a freqüência de operação e o ganho de áudio - ambos visíveis no display. O display, dependendo do modelo, tem mais ou menos funções.

 
Display de freqüência no modelo handheld

Os receptores fixos são todos equipados com um display LCD alfanumérico, iluminado, que mostra vários dados de operação do sistema, como níveis de RF e de áudio, o nível de silenciamento (Squelch) e a freqüência/canal de recepção. Estas freqüências podem vir em cinco bandas diferentes. Para cada banda, a freqüência pode ser ajustada pelo usuário em intervalos de 25kHz. Há ainda LEDs indicando qual a antena ativa e se o squelch está ativo ("Mute"). Todos os modelos analisados vieram na banda "B", ou seja, ajustáveis entre 630 e 662MHz. As bandas são: A: 518 - 550MHz; B: 630 - 662MHz; C: 740 - 772MHz; D: 790 - 822MHz; E: 838 - 870MHz. Como se vê, a gama total de fre-qüências é enorme, possibilitando a melhor adequação na hora da compra, e depois, há 1280 opções! As antenas, de pequeno comprimento (por serem de UHF), ficam pequenas quando encolhidas.

  
 Display do receptor

Comparando os Modelos

As diferenças entre os transmissores beltpack são pequenas. Do ponto de vista técnico, eles são equivalentes, com características técnicas iguais, tanto que são intercambiáveis. O que muda, no ew300 e no ew500, é apenas, no display do transmissor, a barra indicativa do estado da bateria.
Os transmissores handheld também apresentam como única diferença a inclusão, nos dois modelos superiores, da barra indicativa de estado da bateria de 9V. Este indicador aparece, também, apenas no transmissor plug-on SKP500. Nos modelos 100, um LED, ao piscar, indica bateria.fraca.

Entre os receptores, apesar da grande semelhança entre eles, as diferenças são mais acentuadas. Além das características em comum, os modelos superiores têm saída balanceada XLR (o ew100 tem apenas saída balanceada ou não em jaque de 1/4") e a possibilidade de atribuir a cada sistema um nome de seis caracteres, facilitando a vida de quem lida com muitos sistemas, como é comum em cinema, TV e teatro. Não há dúvida que "Frejat" ou "Samuel" são mais reconhecíveis que "552.050" ou "CH 002".
Todos os comandos são aplicados mediante três mini-botões. No primeiro, escolhe-se o parâmetro; nos outros dois, aumenta-se ou reduz-se o valor. Chamam a atenção, na frente do EM500, o jaque de 1/4" e o controle de volume para headphones, inexistente nos outros modelos. Na traseira, apenas o EM100 difere por não ter a saída XLR.


Impressões no Uso

O primeiro a ser "pilotado" foi o handheld SK300, com cápsula supercardióide. O som de voz é espetacular, a presença é enorme. Além disso, a cápsula é quase imune à realimentação. Estas duas características fazem deste um microfone altamente recomendável para uso em shows, isso sem falar no custo acessível. O alcance das antenas é enorme. O locutor (ninguém menos que o barítono Carlos Pedruzzi), depois de andar por toda a casa, foi até a rua, onde andou até ser quase perdido de vista... sem maiores problemas de recepção. A freqüência foi inicialmente calibrada em 630,300MHz. Outros valores, aleatoriamente escolhidos, não mudaram o desempenho. Isto prova a conveniência e confiabilidade da região de UHF para o uso destes equipamentos.
O headset mostrou-se sensível demais ao ruído da respiração, produzindo ruídos graves e fortes. No entanto, sua sonoridade é ótima e a imunidade à microfonia é alta. O headset é confortável, chegando à boca pela direita do usuário. A Sennheiser precisa trabalhar mais este microfone, para reduzir a sensibilidade ao deslocamento de ar, para tornar este modelo ideal. O comportamento com a distância do belt-pack repetiu o do handheld.
Finalmente, o teste do beltpack com guitarra foi também bem sucedido, embora o autor desta matéria deva ter sido taxado de louco, tocando guitarra na rua, enquanto o som do instrumento era ouvido a enormes distâncias no bairro! Aliás, devo comentar que o sistema, usado com guitarra, é silencioso o suficiente para que o efeito overdrive seja usável, sem maior interferência do ruído do sistema sem fio. O som da guitarra fica melhor, pois o nível de saída do receptor excita melhor o amplificador!
Em qualquer dos três casos, a resposta plana de freqüências torna estes sem fio melhores que muitos cabos!

Misturando Tudo

A curiosidade, tendo em mãos três sistemas diferentes, foi ao ponto de os misturarmos para ver no que dava - no caso, sucesso. Qualquer um dos três transmissores funcionou perfeitamente com seus não respectivos receptores, mostrando que os três sistemas são do mesmo padrão de qualidade, diferindo apenas nos recursos extras. 

Medidas de Áudio

Não levantamos a resposta dos microfones, já que o interesse central deste artigo é a parte de rádio dos sistemas. Levantamos as características dos dois sistemas beltpack, que permitem a conexão de sinais na entrada do transmissor, ao contrário do handheld, que é fechado.
Os resultados das medidas foram bons e praticamente iguais para o ew100 (o mais barato) e o ew500 (o mais sofisticado), como veremos a seguir.

Resposta de Freqüências

A resposta de freqüências foi bastante plana, de 35Hz a mais de 19kHz ±3dB. Há uma elevação na região dos graves, o que contribui para "engordar" a voz masculina e instrumentos de cordas.

 
Respostas de freqüências iguais para dois modelos

Nível de Saída e Distorção Harmônica

A THD manteve-se abaixo de 0,5% nos níveis normais de operação, atingindo 1% a +5dBu de nível de saída. Ao nível máximo nominal de saída de +4dBu, correspondente ao máximo desvio de portadora, medimos distorção de 0,25% no ew500 e de 0,7% no ew100. Note que o manual especifica, nessa condição, 0,9% para ambos os modelos.

 
Baixa distorção para um sistema sem fio

Ruído

Para os dois modelos testados, obtivemos exatamente o mesmo resultado: quase 89dB de nível de ruído em relação a 0dB no medidor de nível. Como o máximo de saída para 1% é de +5dBu, a relação sinal/ruído é de 94dB, a mesma de um CD. Isto explica o desempenho como sistema para guitarra usando overdrive: o instrumento fica melhor do que conectado com cabo normal!

A ampla relação sinal/ruído se deve, em grande parte, ao ótimo compander HDX, capaz de melhorar em nada menos de 50dB a gama dinâmica.

 
Redução de ruído com HDX

O modelo ew300 não foi testado, mas não é difícil concluir que seu desempenho deve ser muito semelhante ao dos demais.

Equipamento de Teste

O seguinte equipamento foi utilizado para esta análise:
§ Analisador de áudio Neutrik A2D
§ Software Neutrik AS-04, rodando num K6 - PII 450MHz
§ Guitarra Fender Stratocaster
§ Amplificador Fender DeVille 212 valvulado
§ Caixa acústica biamplificada Mackie SRM450

Conclusão

Os microfones sem fio Sennheiser Evolution são uma ótima opção, competindo em desempenho com outros mais caros, e em preço com outros inferiores. Os manuais são muito completos e escritos em seis línguas, das quais, como de costume, não faz parte o português. Somos de opinião que o pessoal da Sennheiser no Brasil bem que já poderia ter feito a obrigatória tradução.
Os transmissores e receptores têm gabinetes metálicos muito resistentes, são bonitos e pequenos. Faz falta a maleta de transporte, provavelmente omitida para reduzir o custo de compra.


Agradecemos à SK Áudio pelo oferecimento destes equipamentos para a análise.


Sólon do Valle, engenheiro, consultor e projetista em Áudio, é o editor técnico de M&T.




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