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Revista Luz & Cena
Evento
Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já Morreu
Invenção de Dodô e Osmar Completa 50 Anos
André Luiz Mello
Publicado em 01/05/2000 - 00h00
André Luiz Mello
 (André Luiz Mello)
Dias antes do início do carnaval de 1950, o músico Osmar Macedo e o técnico em eletrônica Antônio Adolfo Nascimento, o Dodô, viram passar pelas ruas de Salvador o bloco pernambucano Vassourinhas. Extasiados com a marcação do frevo, tiveram a idéia de sair pela cidade sobre um Ford ano 1929 ("Fobica") entoando marchas de carnaval. Logo depois, Osmar inventou o bandolim (ou pau) elétrico, depois aperfeiçoado e chamado guitarra baiana (possui cinco cordas, afinação de bandolim e tem como seu maior instrumentista Armandinho Macedo). No ano seguinte, a Fobica foi trocada por uma caminhonete e a dupla ganhou o reforço do cavaquinista Reginaldo Silva. Não tardou para serem chamados de "trio elétrico". Ano 2000: 500 anos de Brasil, 50 anos de trio e... 25 anos da estréia de Moraes Moreira (na época recém-saído dos Novos Baianos) num trio elétrico. Mais uma data redonda foi lembrada: os 15 anos da axé music (contados a partir do sucesso nacional de Luís Caldas), apesar de uma certa queda do gênero.
Se antes executavam-se apenas temas instrumentais ou canções com a participação vocal dos foliões sem amplificação, foi em 1975 que Moraes ajudou a popularizar um dos maiores símbolos da Bahia: o trio elétrico. E nesta reportagem trazemos as experiências dos profissionais envolvidos nas inovações de alguns destes "palcos ambulantes": Tiranossauro Rex (Chiclete com Banana), Maderada (Ivete Sangalo), Margareth Menezes e Chame Gente (Moraes Moreira).
A comemoração múltipla foi em parte deslanchada por Flora Gil (mulher de Gilberto Gil), que idealizou o projeto "500 Anos de Brasil, 50 de Trio", no qual Moraes Moreira retornou vitorioso para o carnaval o qual foi obrigado a abandonar (entre 1995 e 1998, ele migrou para Recife por causa da predominância da axé music, e insatisfeito com o tratamento que vinha tendo). "A festa, agora, vai ser feita por gente que não precisou fazer música descartável", disse Moraes. Para o futuro, planos ambiciosos. Ele propôs aos políticos a criação de uma lei que prevê a cobrança de royalties pela utilização comercial do trio elétrico. O montante apurado seria dividido entre os herdeiros dos inventores e a outra parte, revertida para a criação e manutenção de uma escola de trio elétrico e música, a Escola Dodô e Osmar. "Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu..."

Chiclete Com Banana Monta P.A. Dianteiro Móvel
A trajetória do Chiclete Com Banana confunde-se com a história dos trios elétricos. Contratados pelo bloco Traz os Montes, os integrantes debutaram num trio em 1980. À frente da mixagem nestes 20 anos, o técnico de P.A. Wilson Marques (José Antonio é o técnico de monitor), irmão de Bell (violão, baixo e voz) e Wadinho (teclado), tem dado forma final ao som ao vivo de um dos grupos precursores do pop baiano com levada percussiva.
Antes de abordarmos o áudio dos trios, uma rápida explicação sobre caminhão e carreta. O primeiro é "preso" a uma carroceria; já no segundo, o "cavalinho de força" puxa uma carreta. O cavalinho e a carreta podem ser separados em caso de manutenção do veículo. O que muitos não imaginam é que esta diferença faz a diferença. Quem visita Salvador acaba compreendendo porque atualmente são poucos os grandes trios (Asa de Águia, por exemplo) que utilizam um caminhão. Boa parte das ruas são cheias de curvas, o que dificulta as manobras. Mais razões impulsionaram a mudança: a potência do cavalinho é bem maior que a do caminhão, tornando as viagens mais rápidas, e, em caso de quebra do motor ou algo parecido, o cavalinho pode ser desencaixado do restante da carreta e substituído por outro sem maiores conseqüências.
Mais um esclarecimento: um trio elétrico emite sons através de caixas acústicas instaladas em quatro locais: lados esquerdo e direito, frente e fundo. Em primeira análise pode parecer mais importante a concentração de potência nos lados do trio. Entretanto é na frente e no fundo que a situação se complica. Muitos blocos chegam a ter quatro mil componentes, que se distribuem (na frente a atrás dos trios) ao longo das ruas. Ou seja, as caixas acústicas de frente e fundo precisam ter maior eficiência sonora e "tiro longo" para alcançar esse público. O problema é ter alta eficiência numa área pequena como a frente (e fundo) de um trio. A única desvantagem de se incorporar um cavalinho (e uma carreta) são os cancelamentos de fase e microfonias gerados pelo rebatimento do som na traseira da cabine. Problemas semelhantes foram enfrentados pelo trio Maderada. A questão foi atenuada colando-se Sonex de 75mm atrás e em cima da cabine.
"Carreta para mim era um grande problema porque todas elas - sem exceção - têm problema de fase no P.A. dianteiro. Montamos a carreta mas tivemos que fazer modificações muito sérias", diz Wilson. A solução foi projetar um P.A. dianteiro móvel. Dessa forma, quando não está em uso, o sistema fica recolhido entre a carreta e a cabine. No dia da apresentação, o equipamento é ligado e automaticamente posiciona-se acima da cabine. O P.A. dianteiro do trio Walkstage (Asa de Águia) também foi montado sobre a cabine do caminhão, a diferença é que o sistema não é móvel.
"O cavalinho e a carreta têm movimentos diferentes. As caixas da frente vão acompanhar o cavalinho, então o som chegará primeiro que qualquer outra carreta quando está fazendo uma curva", comenta o técnico de som. Foram necessárias autorizações da Volvo (fabricante do veículo) e dos engenheiros do INMETRO. A carreta possui três eixos. Sua largura é de 3,85 m e o comprimento (com o cavalinho) chega a 23,50 m.
Em termos de equipamento foram adquiridos amplificadores Crest Audio (no fundo do trio) e o processador para gerenciamento de alto-falantes XTA DP-226. O restante do material é o mesmo de anos anteriores, incluindo as caixas acústicas com falantes Snake ESX-150 (grave), Selenium 1205 (médio-grave), Selenium D-400 (médio-agudo) e Selenium ST-300 (agudo). As laterais estão divididas em quatro vias: grave, médio, médio-agudo e agudo. Segundo Wilson, frente e fundo funcionam em cinco vias: "Grave, médio-grave, médio-agudo, agudo e uma outra freqüência no meio do analyzer, em torno de 1 kHz a 1.6 kHz, seria para responder voz", diz.
Ele justifica a utilização das mesmas caixas acústicas das laterais há mais de 15 anos: "Você não pode viver uma vida trocando, tem que viver uma vida pesquisando. A solução é tentar arrancar do equipamento o máximo possível para ter um rendimento maior a cada dia. Você nunca consegue arrancar todo o som de um sistema de uma vez só." Wilson não encara a situação como um receio de trabalhar com novas caixas: "Eu viajo o mundo inteiro e, por tocar com diversos tipos de sons, é muito mais fácil determinar o que eu quero. Talvez eu faça uma troca de caixas para o ano".
Quanto à monitoração, sua opinião é radical: "Não trabalhamos com muito retorno de palco, todo o som do trio vai para cima, exatamente para o músico ouvir o próprio som. São apenas duas caixas de retorno (Clair Brothers 12-AM) em cada lado com voz e violão e o retorno de bateria. Faço questão que os amplificadores de instrumentos (guitarra, baixo e teclado) sejam pequenos, eu quero ouvir o som do trio", comenta.

Entrevista com o Técnico Vavá Furquim sobre o Trio Chame Gente
Vavá Furquim, técnico de P.A. de Caetano Veloso, mixou o som do trio Chame Gente (com a assistência de Jackson Oliveira), comandado por Moraes Moreira e com participações mais do que especiais de Gilberto Gil e Caetano Veloso, entre outros. Tanto o Chame Gente quanto o Maderada foram sonorizados pela João Américo, empresa da qual Vavá é sócio.
Um (excelente) grupo de músicos foi arregimentado especialmente para a ocasião: Betão (baixo, filho de Paulinho Boca de Cantor - dos Novos Baianos), Davi (filho de Moraes), Jorginho Gomes (bateria, que acompanha Gil e é irmão de Pepeu), Chiquinho Chagas (teclado e acordeon), Leonardo Reis e Orlando Costa (percussão), Nicolau e Suzana Belo (vocais), Elias da Silva (trombone), Marcos Belchior (trumpete) e Roberto Stepson (sax).

M&T: Como nasceu o projeto do trio Chame Gente?
Vavá Furquim: Foi um convite do Kiki, que é gerente de trio e que trabalha com a Ivete, para fazer um "Maderada 2". O equipamento é o padrão que a João Américo tem para trio. Também tínhamos disponibilidade para fazer mais um trio (os outros dois são o Maderada e o Eva).

M&T: O que você pensa a respeito das freqüências graves? Aqui na Bahia é mais explo-rado, até pela música ser bastante percussiva.
Vavá: Acho um pouco exagerado essa tônica do grave excessivo, chega até a incomodar algumas vezes, não é o meu estilo de trabalho. Eu trabalho muito em P.A. com MPB, por isso mesmo já tenho outra característica. Já fiz trio com o Gil há dois anos atrás e trabalhei um tempão com Dodô e Osmar. Vou pela característica da música: se tiver que ter o grave, que é a característica do Axé, vou ter que fazer. Não tenho problema nenhum quanto a isso.

M&T: Fale sobre o alinhamento. Você o adapta de acordo com o local em que o trio está passando?
Vavá: O trio é dinâmico: ele tem que ocupar o espaço onde está. Esse jogo de dinâmica do volume tem que estar na sua mão. Mesmo que a música não tenha tanto essa dinâmica você tem que fazer a dinâmica do ambiente. O alcance mínimo de frente e fundo é o tamanho da corda em volta do bloco. Quando artista olhar para a frente e não vir a última pessoa da corda levantar a mão é preocupante.

M&T: Quais as maiores diferenças entre um trio e um P.A.?
Vavá: A grande diferença é que no P.A. você está operando a 30 metros de distância e no trio você está atrás do P.A., é muito sensitivo e muito tátil.

M&T: Você está usando um atenuador intra-auricular. Porquê?
Vavá: Saio de casa com o ouvido tampado e assim fico até acabar. Não trabalho em trio sem o protetor (da marca Ear Hi-Fi). É mais real, parecido com o ouvido aberto, apesar de uma atenuação maior - mais de 27dB.

M&T: E em relação aos microfones? Mixando o Caetano você utiliza alguns modelos de estúdio. E no trio? Prevalecem os microfones "duros" (dinâmicos)?
Vavá: A quantidade de microfones é sempre preocupante. Geralmente a bateria de um trio pode ser uma acústica triggada ou com pads. Gosto de microfones de diafragma largo. Graças a Deus, na João Américo temos uma variedade, incluindo alguns especiais com os quais tenho carinho e que não coloco em qualquer trabalho: Sennheiser 421, Electro-Voice RE-20...

M&T: Como você avalia a lapidação tecnológica pela qual passou o trio elétrico nos últimos 20 anos?
Vavá: A primeira coisa que mudou foi Moraes ter colocado a voz. Foi um passo decisivo. Até então o trio era basicamente instrumental. Havia músicas que o povo cantava junto com o trio, mas não era amplificado. Depois de Moraes, a música e a técnica se transformaram na Bahia. As pessoas tiveram que correr para poder proporcionar à arte o que a técnica tem que proporcionar...

M&T: Temos visto muitos trios - inclusive o Chame Gente - utilizando uma mesa de monitor, pois assim é possível fazer monitor (que precisa de muitas vias) e P.A. O que acha disso?
Vavá: Eu me sentiria mais tranqüilo se tivesse duas consoles, fica mais flexível para o técnico ousar. Você tem que dar atenção à banda, tem que ouvir o ambiente... Não é um trabalho simples para se fazer sozinho.

M&T: A monitoração é mais dinâmica?
Vavá: Em cima do trio você se vale muito do P.A. É uma interação: tem que ter os dois num equilíbrio perfeito, mas é muito importante a volta do som do trio.

M&T: Há dois anos, todos os músicos no trio do Gilberto Gil empregaram in-ear phones. E agora, somente o Moraes e o Gil utilizam este sistema. Você está notando muita diferença?
Vavá: Naquele ano foi perfeito porque o Leco (Mário Possolo, técnico do Gilberto Gil), que já trabalhava com o Gil há mais tempo, estava presente, quer dizer, foi tranqüilo. A banda que está no Chame Gente não é acostumada a tocar em trio. Todos vieram dispostos a trazerem o set que usam no palco, cheio de canais. Quanto mais canais, maior o risco de não ficar tão limpo e tão objetivo, então temos que ter cuidado com isso. Estou usando mais de 40 canais, a mesa tem 40 canais, mas tem vários canais splittados (percussão, overhead, hi-hat etc.) que não pudemos cortar.


O Trio na Visão de um Roadie
Num espaço tão pequeno como o de um trio, é essencial que todos os que estão trabalhando caminhem na mesma direção. Não há lugar para desavenças e muito menos desorganização. No meio de toda essa engrenagem está a figura do roadie, profissional cada vez mais atuante no universo do showbizz. Ele zela pela conservação do instrumento antes, durante e após o show, incluindo transporte, montagem, afinação, limpeza, manutenção e teste. Integrando a crew do Chame Gente, constavam os roadies Peter, Adriano e Jailton Pereira. Este último teve como função nº 1 cuidar das guitarras de Davi Moraes.

M&T: Como está configurado o set up do Davi Moraes?
Jailton Pereira: É uma pedaleira com 12 pedais, montada pelo Marcelo Coelho, ligada em dois JCM-900 Marshall. As guitarras são três Paul Reed Smith (PRS) com cordas .009 para serem uma substituta da outra, com a mesma afinação. O Davi quebra bastante .009, são mais ou menos sete ou oito cordas por hora de trio.

M&T: Ele não vai precisar de guitarras com outras afinações e timbres?
Jailton: Não, porque essa guitarra tem a facilidade de ter três timbres diferentes. Um knob te dá timbre de Fender, outro de Gibson e o terceiro um timbre da própria PRS, então vai depender do que ele estará usando na hora.

M&T: O fato de ser guitarrista o ajuda nesta tarefa?
Jailton: Facilita por eu já ter uma certa intimidade com o instrumento nas trocas de corda, tratamento, regulagem, timbragem...

M&T: Já havia trabalhado em trio antes?
Jailton: Este é o meu quarto ano consecutivo e o terceiro com o Moraes. A primeira vez foi com o Pepeu.

M&T: Quais as diferenças básicas - na visão de um roadie - de um show "normal" e de uma apresentação em trio elétrico?
Jailton: Aqui você tem que ter tudo muito agulhado. É um palco em movimento e não há condição de parar para procurar nada. A partir do momento que o trio vai para a rua, você tem que ter tudo aqui em cima.

M&T: Aqui não há backstage...
Jailton: É até interessante o fato de ser um palco ambulante, porque exige muito mais. Num teatro você pode fazer as coisas com mais calma. Aqui não há espaço para nada.

M&T: Você disse que é preciso ter tudo no trio, mas não dá para trazer a casa inteira...
Jailton: Mas você traz metade da casa e o que é mais importante. Deve ter o básico que te assista em tudo. A facilidade aqui é que existem mais dois roadies: o Peter, que cuida do Moraes, e o Adriano, que trabalha com o Gil, e também cuida da bateria e percussão. Além da guitarra, eu cuido do baixo e do teclado.

Augusto Menezes Sonoriza os Trios Timbalada e Margareth Menezes
Um dos acontecimentos mais importantes para a indústria nacional de áudio é o carnaval de Salvador. Imagine um teste de fogo: amplificadores e alto-falantes trabalham sob limites extremos durante horas a elevados níveis de potência. Não é um "teste ao vivo", pois num teste são admissíveis erros. Na verdade é uma forma de avaliar em situação real o desempenho do equipamento. A intenção é esmerar-se em desenvolver um produto para atender o cada vez mais concorrido e rigoroso mercado de sonorização. Daí o surgimento de várias parcerias entre locadores e as seguintes empresas: Ciclotron, Selenium, Snake, Studio R, Attack, Advance, entre outras. Um exemplo foi o acordo feito entre a paranaense Attack e a Augusto Menezes Sonorizações, responsável pelos trios Timbalada e Margareth Menezes.
Na visão de Augusto Menezes, que atua no mercado desde 1980 e possui dois sistemas de grande porte para cobrir 50 mil pessoas, a sonorização de um trio independente (nem todos os trios elétricos de Salvador são ligados aos blocos) esbarra em problemas como a indefinição da liberação de recursos por parte do governo e da prefeitura até os dias que antecedem o carnaval. "Muitas vezes damos andamento até sem recurso nenhum, por conta própria", afirma.
No Timbalada foram instaladas caixas de frente, fundo e lateral projetadas por Carlos Correia com alto-falantes Selenium. Compõem ainda o sistema dianteiro, uma orelha de cada lado com falantes Attack. Estas orelhas são retiradas em caso de viagem e atuam como reforço do sistema dianteiro. Os amplificadores da lateral são Advance Times One (RF-802, RF-702 e RF-602). As caixas traseiras e dianteiras são excitadas por três modelos da Attack: 8400, 6400 e 4400. Quebrando uma hegemonia da marca Soundcraft em trios, a Augusto Menezes Sonorização disponibilizou uma console Midas XL-250 modelo monitor. No entanto, o processador gerenciador de alto-falantes da frente e do fundo XTA DP 226 - ferramenta adotada em muitos trios - foi utilizado no Timbalada. As laterais foram controladas por crossovers Attack EP-432.
O trio de Margareth Menezes foi configurado com algumas modificações: um sistema de quatro vias da Attack foi instalado nas laterais, sendo que transdutores de subgraves (18") estrearam no evento. A caixa de duas vias (HM-2128) é composta por dois falan-tes de 12" e um driver. Caixas exponenciais de 15" respondem pelos graves. Amplificadores Times One foram colocados na frente e no fundo e Attack na lateral. Uma mesa Midas XL-200 P.A. foi utilizada. Para José Luiz Vendrametto, diretor industrial da Attack, e que esteve in loco acompanhado o carnaval baiano, a parceria com a locadora foi importante, principalmente sendo a primeira vez. "Vindo aqui e vendo a coisa funcionar é que a gente vê realmente como o trio elétrico é diferente de um P.A. normal".

"É importante escutar o som do instrumento antes de microfoná-lo"

Carlos "Kalunga" Branco, técnico de P.A. dos trios Maderada e Timbalada (Magoo é o sub de Kalunga na Timbalada e Kiko opera o monitor), diz que a principal diferença deste para os outros trios é a grande quantidade de instrumentos percussivos, o que requer atenção redobrada na hora da mixagem. "É importante escutar o som do instrumento antes de microfoná-lo. O (Carlinhos) Brown é muito exigente, não gosta de instrumento com som de papel", comenta.
A formação é bastante atípica: a ausência do baixo elétrico é compensada por dois surdos (de 24" e 22", microfones Shure SM-98). Nestes se faz necessário o uso de gate para o controle do release, ou seja, da intensidade do sinal de áudio gerado pelo instrumento. "Tem dias que não uso gate, vai depender da ambiência e do equipamento". Completam a formação percussiva os surdos de meio (20", com Shure SM-58), de afinação mais aguda, dois surdos de ponta, timbaus (microfonados por baixo com Shure SM-57) e as bacurinhas (Shure SM-57). Os únicos instrumentos convencionais são guitarra, teclado, metais e bateria (composta por caixa, bumbo [triggado], hi-hat e timbales), totalizando 33 microfones.
No Maderada foram mixados 36 canais. A maioria dos músicos (exceto quatro percussionistas) usaram in-ear phone. Kalunga levanta uma questão: "É fundamental um equipamento que favoreça a voz do artista. Os outros trios estão se preocupando muito com os graves, não têm inteligibilidade"
Para Lázzaro de Jesus (visite www.monitorland.cjb.net), que opera o monitor de Ivete Sangalo, a adoção do in-ear phone por todos os músicos melhoraria sensivelmente o resultado final: "É muito complicado o vazamento entre instrumentos e monitores num es-paço tão pequeno, principalmente quando chove e se é forçado a cobrir tudo com lona". Também diz que o uso dos in-ear phones deverá vir acompanhado de uma mesa de monitor com mais vias.
Lázzaro dá uma dica: "É muito útil o uso de uma particularidade do Shure PSM 600. Quem usa este sistema já deve ter notado um pequeno potenciômetro na lateral do bodypack, que é o Mix Mode. Com esta função, você pode mandar sinais distintos para os canais L/R, criando um mix mais detalhado para uma dupla de backing vocals. No canal L você cria um mix via uma mandada normal do console para cada unidade de in-ear phones com a base e os vocais no mesmo nível. Como cada backing adora ouvir sua voz alta, você irá alimentar o outro canal R com uma saída direct out de um canal com a dobra do canal do respectivo back usando o potenciômetro já citado. Assim, o backing vocal poderá botar mais ou menos voz a seu gosto no bodypack. Usando este artificio, com oito mandadas eu faço 10 vias".

De Carregador a Gerente de Trio
Você pode até tentar, mas todas as repostas serão negativas quando for procurar, durante o carnaval baiano (nos circuitos Campo Grande ou Barra - Ondina), alguém chamado Geonaldo Rufino de Santana. Procure Ivete Sangalo (isto é, se você conseguir se aproximar dela...) e pergunte sobre o Kiki. A resposta será outra. Nos trios Maderada, Chame Gente e Margareth Menezes, ele teve a incumbência de comandar a equipe de base: motorista, ajudantes, técnico de luz, técnico de gerador e eletricista. Como é gerenciar um trio? "É preciso ter amor por trio elétrico e jogo de cintura. É importante uma boa equi-pe", responde.
Quem o vê, agitado e em alguns momentos tenso e dando ordens a dezenas de pessoas, não imagina que em 1983 ele começou como carregador no trio Eva. No ano seguinte tornou-se assistente de Carlos Correia, o "Papa" dos trios elétricos. Em 1993, Kiki passa a ocupar o cargo de gerente. Ano passado, inaugurou dentro da própria Caco de Telha (produtora de Ivete Sangalo) a KJC Construção de Trios e Eventos junto com os sócios Jesus Sangalo e Cristiano Sena. Atualmente administra o trio Expresso 2222 (Ex - Chame Gente, deve rodar o país com Gil) e Maderada e planeja a montagem de um terceiro trio. E o que achou deste carnaval? "Sou um cara feliz da vida: fiz 40 anos e foi muito bom trabalhar com Gil e Moraes". 

Trio Tiranossauro Rex (Chiclete com Banana)
Console
Soundcraft Vienna II
Periféricos
2 equalizadores Klark-Teknik DN-360
4 compressores dbx 160-A
2 divisores BSS Omnidrive FDS-355
2 processadores XTA DP-226
Processador de efeitos Eventide H-3000 D/SX
Processador de efeitos Yamaha SPX-900
Processador de efeitos Yamaha SPX-990
Equalizador Klark-Teknik DN-360
2 compressores dbx 160-A
2 compressores dbx 166
Gate Klark-Teknik DN-800
Subharmonic 120-XP dbx
Microfones
AKG C-418
3 Electro-Voice D-408 A
5 Shure Beta 58
4 Shure SM-58
10 Shure SM-57
2 Shure SM-81
Alto-falantes
128 Snake ESX-150
64 Selenium WPU 1205
56 drivers Selenium D-400
88 tweeters Selenium ST-300
Monitores
2 Clair Brothers 12AM
Amplificadores de potência
8 Crest Audio CA-18
4 Crest Audio CA-12
2 Crest Audio CA-9
2 Crest Audio CA-4
10 Advance Times One RF702
10 Advance Times One RF701
4 Nashville NA-2200
Backline
amplificador Laney DB-150
amplificador Roland Jazz Chorus GT
amplificador Peavey KB-200

Trio Maderada (João Américo Sonorização)
Console
Crest Audio X-Eight 40 × 8 × 2 canais
Periféricos
2 processadores BSS FDS-318
2 processadores BSS FDS-355 Omnidrive
Processador XTA DP-226
6 equalizadores Klark-Teknik DN-360
2 Quad Auto Gate Klark-Teknik DN-514
2 Quad Auto Compressor/ Limiter Klark-Teknik DN-504
Processador de efeitos Yamaha SPX-900
Processador de efeitos Yamaha SPX-990
Microfones
2 Shure SM-58 sem fio
3 Shure Beta 58
7 Shure SM-58
8 Shure SM-57
4 Sennheiser MD421
Direct box
5 BSS
4 Whirlwind
Caixas acústicas frente/ fundo e laterais
40 caixas de graves JAS 215-GT com dois alto-falantes 15" Selenium cada
24 caixas de médios-graves JAS 212-MT com dois alto-falantes de 12" Selenium cada
32 cornetas com driver Selenium D-4400
32 caixas de graves JAS 215-G com dois alto-falantes de 15" Selenium cada
16 caixas de médios-graves, médios e agudos JAS 212-M com dois alto-falantes de 12" Selenium, 1 driver Selenium, corneta tipo 2343 e quatro tweeters Selenium cada
Monitores
10 caixas JAS 212-S com dois alto-falantes de 12" Selenium, driver e dois tweeters Selenium cada
Caixa JAS 215-C com dois alto-falantes de 15", driver e dois tweeters Selenium
Amplificadores de potência
19 Ciclotron TIP 5000
11 Ciclotron TIP 3000
11 Ciclotron TIP 1200
8 Crest Audio 7301
Outros
12 garras LP para microfones
11 pedestais para microfones
Transformador de AC de 5000 watts

Trio Chame Gente (João Américo Sonorização)
Console
Soundcraft SM-16, 40 × 12
Periféricos
2 processadores BSS FDS-318
3 processadores XTA DP-226
2 equalizadores Klark-Teknik DN-360
Equalizador XTA GQ 600
2 Quad Auto Gate Klark-Teknik DN-514
2 Quad Auto Compressor/ Limiter Klark-Teknik
Processador de efeitos Yamaha SPX-900
Processador de efeitos Lexicon PCM-80
Microfones
2 Shure SM-58 sem fio
3 Sennheiser 421
4 Shure Beta 58
6 Shure SM-58
9 Shure SM-57
3 Shure Beta 57
3 AKG C-418
2 Sennheiser E-604
Electro Voice RE-20
Direct box
3 Whirlwind
7 Klark-Teknik
Caixas acústicas frente/ fundo e laterais
40 caixas de grave JAS-GT de 15"
22 caixas de médios-graves JAS 212-MT com dois alto-falantes de 12" Selenium cada
4 caixas de médios-agudos com três drivers e três cornetas 2343 cada
6 caixas de médios-agudos com dois drivers e três cornetas 2343 cada
24 caixas de graves com dois alto-falantes de 18" RCF cada
16 caixas de médios-graves, médios e agudos JAS 212-M com dois alto-falantes de 12" Selenium, driver Selenium, corneta 23453 e quatro tweeters cada
Monitor
6 caixas JAS 212-S com dois alto-falantes de 15" e driver cada
2 caixas JAS 215-C com dois alto-falantes de 12" Selenium e driver cada
Amplificadores de potência
17 Ciclotron TIP 5000
11 Ciclotron TIP 3000
11 Ciclotron TIP 1200
8 Crest Audio 7301
Outros
12 garras LP para microfones
11 pedestais para microfones
Transformador de AC de 5000 Watts

Trio Timbalada (Augusto Menezes Sonorizações)
Console
Midas XL 250 52 × 18 × 02 canais
Periféricos
Crossover Attack EP-432
2 Crossovers Klark-Teknik DN-800
5 Equalizadores Klark-Teknik DN-360
Processador XTA DP-226
Equalizador XTA GQ-600
2 Quad Compressor/ Limiter Klark-Teknik DN-504
2 Quad Auto Gate Klark-Teknik DN-514
Processador de efeitos Lexicon MPX-1
Processador de efeitos Lexicon PCM-80
Processador de efeitos Yamaha SPX-990
Filtro de linha Zerotron
Microfones
Shure, Beyer, Electro-Voice, Sennheiser e AKG
Direct box
8 Klark-Teknik
Caixas acústicas (frente/ fundo e laterais)
32 caixas de grave corneta dobrada com dois falantes Selenium WPU 1502
24 caixas com dois falantes Selenium WPU 1201, corneta com drive Selenium D-400 e quatro tweeters Selenium ST-300 cada
32 caixas corneta exponencial com dois falantes de 15"cada
24 caixas com dois falantes de 12"e uma corneta com driver de Titânio cada
Amplificadores de potência
8 Advance Times One RF 802
6 Advance Times One RF 702
6 Advance Times One RF 602
Monitor
8 monitores com dois falantes de 12" e driver de Titânio
3 monitores com dois falantes de 15" e driver de Titânio
Amplificadores de potência
8 Attack 8400
6 Attack 6400
4 Attack 4400
8 Advance Times One
Backline
mixer Soundcraft 12 canais
amplificador Hartke Systems 5000 com caixas 1 x 15" e 4 x 10"
ampli
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