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Revista Luz & Cena
Áudio básico
Gravação Acústica
Conselhos e Experiências
Manny Monteiro
Publicado em 01/02/2001 - 00h00
divulgação
 (divulgação)
Basta dizermos o termo "INSTRUMENTOS ACÚSTICOS" para que nos venham em mente, instantaneamente, alaúdes, bandolins, banjos e até mesmo cavaquinhos. Enquanto que, na verdade, qualquer instrumento capaz de produzir um som natural dentro de uma sala pode ser considerado um instrumento acústico.


 Passos Básicos

Vamos dar um exemplo?
Uma guitarra Stratocaster, plugada num Marshall dentro de uma sala reverberante, emitirá um som de características únicas. Por esse motivo pode ser encarado como um setup acústico, embora utilize componentes eletrônicos. Já se esta mesma guitarra for plugada num simulador de amplificadores, ela  não poderá ser encarada como um setup acústico.

A bateria é um instrumento acústico, embora tenha necessidades particulares de técnicas de microfonação que já foram discutidas em algumas matérias aqui mesmo na revista Música & Tecnologia. Inclusive por mim, como na matéria "Gravando Bateria", publicada na edição 108. A voz também é um instrumento acústico e, pensando nesses termos, uma orquestra inteira de jazz ou uma orquestra sinfônica pode ser tratada como um instrumento acústico.

E o que todas essas coisas têm em comum? Todas fazem com que o trabalho do engenheiro seja, objetivamente, capturar o som que está ocorrendo ao vivo dentro do estúdio.

Qualquer gravação acústica precisa incluir, necessariamente, os seguintes quatro passos básicos:
1° - Entre dentro do estúdio e ouça atentamente o som que está sendo produzido ao vivo pelo instrumento que você pretende gravar;

2° - Coloque um ou mais microfones que você julgue adequados para este instrumento, utilizando a técnica de microfonação mais apropriada;
3 ° - Entre dentro da técnica e ouça o som que está saindo pelas caixas;
4° - Se o som dentro da técnica não estiver igual ao som que você ouviu dentro do estúdio; mude alguma coisa!
 
Embora o conceito por trás desses quatro passos pareça simples, ele contém toda a base utilizada para a gravação de instrumentos acústicos com sucesso.
Tendo dito o óbvio, vou lhe oferecer algumas dicas que, na minha opinião, funcionam bem. Mas lembrem-se: são apenas dicas! O fator realmente determinante para que você faça uma boa gravação de instrumentos acústicos são seus ouvidos.

 

Escolha de Microfones


A primeira escolha para uma gravação de instrumentos acústicos deve ser um microfone capacitivo. Nós estamos procurando por uma representação precisa do som de uma sala natural, e nada faz isso melhor do que um microfone capacitivo. Eu gosto de utilizar microfones capacitivos com pequenos diafragmas para gravar instrumentos de frente como guitarras, bandolins, banjos etc. Além de violinos, violas e, às vezes, até piano.

Embora seja de prática muito comum a utilização de um diagrama polar cardióide em estúdios de gravação, a utilização de microfones capacitivos com diagrama polar omnidirecional ou panorâmico tenderá a capturar mais o som inteiro do instrumento. Além disso, com diagrama polar omnidirecional, o microfone capacitivo fica livre do efeito de proximidade, que tende a dar um ganho nas freqüências graves quando você posiciona o microfone muito próximo do instrumento. Assim sendo, podemos posicionar microfones capacitivos em diagrama polar omnidirecional muito mais próximos, ainda se obtendo um som natural.

 
O microfone U87, da Neumann

Eu gosto de utilizar microfones capacitivos que tenham um diafragma grande como o do U87, da Neumann, ou o C414, da AKG, para instrumentos maiores e com som mais alto. Talvez seja apenas uma ilusão, mas microfones grandes parecem ter um som grande. Os próximos microfones que eu consideraria utilizar em uma gravação de instrumentos acústicos seriam os de fita ou ribbon, como os antigos RCA 77DX.

Microfones capacitivos têm mais presença, enquanto os microfones de fita possuem um som aveludado e levemente granulado, tendendo a se misturarem melhor. Os microfones de fita têm um som gordo e parecem esconder as imperfeições. São excelentes para se conseguir aquele som antigo de instrumentos de sopro, como nas antigas big bands de swing. Mas quase tão importante quanto os microfones é a sala em si e, na verdade, ela tem muito mais a ver com o som do que a maioria das pessoas imagina.

Pense em Estéreo

Quando, ao gravar instrumentos acústicos, eu tento usar ao menos dois microfones para cada instrumento (e os gravo em tracks separados), pode parecer desperdício mas os resultados fazem com que isto valha a pena. É lógico que nem sempre há o luxo de poder "gastar" tantos tracks com instrumentos acústicos mas, com planejamento prévio, talvez se consiga encaixar todo mundo.
 
Esta técnica funciona melhor para alguns instrumentos do que para outros. Neste caso, a idéia aqui é fugir daquele som mono onde você grava um instrumento com apenas um microfone e no mix só pode colocá-lo num lugar determinado e único.

Muitas vezes eu uso dois microfones em lugares diferentes. Isso funciona muito bem com violões. Experimente colocar um microfone no final do braço e outro perto da ponte do violão, grave esses dois microfones em tracks separados e abra o pan em dois lugares diferentes no mix. O resultado será um som muito mais orgânico do que o que se consegue com um só microfone, e isso também funciona muito bem com instrumentos como banjo, bandolim, cavaquinho etc.

O grande segredo está em se utilizar os microfones certos, por isso você precisa gastar algum tempo experimentando. Vocês se lembram da Stratocaster e do Marshall? Então, esta técnica funciona muito bem também para amplificadores de guitarra. Para essa aplicação eu prefiro utilizar dois microfones dinâmicos colocando um bem perto e o outro mais distante dos alto-falantes. É importante lembrar que para uma boa gravação de amplificadores de guitarra, uma sala com características reverberantes adequadas é de extrema importância.

Metais (uma Noção Básica)    

A seguir, lhe darei algumas noções básicas sobre como gravar grupos de metais. Digo noções básicas porque este assunto poderia, facilmente, tomar o formato de um grosso livro.

Uma das técnicas para se gravar um grupo de metais é isolar cada um dos músicos separadamente. Esse método é familiar para a maioria das pessoas e, certamente, bem seguro, além de funcionar com pequenos grupos de metais como em música brasileira ou em jazz. Sem entrar em muitos detalhes, é possível colocar em uma boa sala os músicos próximos uns dos outros o suficiente para que se estabeleça um contato visual. E, ainda sim, utilizar tapadeiras com o intuito de garantir o isolamento necessário para que o som não fique com aquela característica de garagem causada pelo vazamento de um microfone com outro.

Infelizmente, muitos grupos não conseguem tocar desta forma. Os músicos, às vezes, estão tão acostumados a tocarem como num palco que qualquer coisa que se coloque entre eles afeta o balanço entre um e o outro a nível de entonação e afinação.


Os modelos C414 B-TL II e C414 B-ULS, da AKG

E o que fazer quando você tem um grupo realmente grande de metais?
A resposta está em colocá-los como se estivessem num palco, todos de frente para uma mesma direção, e microfoná-los individualmente. É lógico que irá ocorrer algum vazamento entre os microfones, mas o desempenho dos músicos será ótimo, já que eles estão acostumados a tocar nesta formação.  Mesmo assim é surpreendente o isolamento que se consegue com esta técnica! O detalhe importante para esse tipo de captação é que todos os microfones estejam olhando mais ou menos para a mesma direção, com o intuito de evitar cancelamento de fase entre eles.

Outra dica importante:
Utilizando os botões de pan da mesa, situe cada instrumento de acordo com suas posições no grupo, desta forma podemos conseguir uma gravação bastante próxima ao som original.

Uma outra forma de gravar grandes grupos de metais é a utilização de um par de microfones capacitivos com uma das técnicas de gravação estéreo, utilizando os microfones individuais apenas para empurrar para cima na mixagem instrumentos que estejam menos evidentes na captação. Desta forma, você começa a mixagem com os microfones em estéreo e sobe apenas os microfones necessários para corrigir o equilíbrio entre os instrumentos. Com certeza alguma experimentação será necessária.

Estas são algumas idéias que funcionam para mim, por isso espero que lhe sirvam de estímulo para a imaginação. Procure utilizá-las de forma original e adaptando-as para suas necessidades e gosto. Procure também sempre reservar um bom tempo para experimentações - esta é uma das chaves para que se possa obter os resultados desejados sem stress.

Bom play-rec e até breve!


Manny Monteiro é engenheiro de áudio, produtor e baterista. Formado no Institute of Audio Research (NY).
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.