Ferramenta de remixagem inspirada nos sintetizadores modulares das décadas de '60 e '70, o Filter Queen é mais um produto da Electrix nessa linha, denominada os "Mods". Trata-se de um filtro. Em termos simplificados, é um equalizador. Ou seja, atenua e/ou amplifica determinadas freqüências. Porém o faz de forma peculiar, gerando sensações auditivas únicas, como o popularíssimo Wah-Wah, e aquele outro efeito exaustivamente usado em remixagens que, aplicado à base toda da música, faz um som que vai do agudíssimo ao gravão, tipo "sssxxxxiiiiuuuummm". Porém sua aplicação não se limita a bases completas. Pode ser usado em naipes, vozes, ruídos, instrumentos isolados, sejam eles eletrônicos ou acústicos, e tudo que na imaginação couber.
Características
O visual moderno e atraente é, de fato, um convite à experimentação dos seus cinco botões e sete potenciômetros. E realmente é bem fácil de operar. Com dois minutos de teste eu já estava aplicando efeitos bem drásticos e úteis a uma remixagem ou mesmo a uma produção. Seu funcionamento pode ser dividido em quatro partes: filtro, seguidor de dinâmica, oscilador e misturador de efeito.
Filtro
Pode-se escolher, apertando o botão Filter Type, um dos seguintes quatro filtros: Low pass, High pass, Notch pass e Band pass. Cada um deles vai atenuar, radicalmente, freqüências que estiverem de fora da faixa de "pass". Esta faixa de freqüência é determinada pelo tipo de filtro e pelo ponto de corte escolhido no potenciômetro Frequency. A
figura 1 exemplifica um Low pass com ponto de corte em 300Hz. O último comando desse bloco denomina-se Resonance, e tem a função de amplificar ou atenuar a freqüência onde está o ponto de corte, para um efeito mais radical, e está demonstrado na
figura 2.
O Filter Queen, se estiver funcionando em mono, é capaz de cortar o sinal em 24dB por oitava a partir do ponto de corte em diante. A isso dá-se o nome de Four Pole filter, que se traduz num filtro bem forte. Two Pole filter é aquele que atenua 12dB a cada oitava, e, não tão radical, é o filtro que o aparelho aplica na fonte sonora quando funcionando em estéreo.
Seguidor de dinâmica
Essa parte tem por objetivo automatizar a freqüência de corte. Tal qual um compressor, ele "sente" o volume de entrada. Porém, ao invés de atuar no volume de saída, atua na freqüência de corte do filtro, aumentando-a em proporção à dinâmica. O botão Band define qual faixa de freqüência deverá o aparelho "sentir". Sete opções são dadas: High, Mid, Low, High+Low, High+Mid, Low+Mid e All. Isso é útil na hipótese de se querer que o efeito seja aplicado a uma fonte sonora de largo espectro (bateria, por exemplo), mas a automatização seja responsiva somente a um elemento que ocupe determinada faixa (bumbo, por exemplo). Para tanto basta escolher a faixa de freqüência do elemento em questão (no caso do bumbo, Low).
Pode-se ainda regular a velocidade em que a freqüência de corte, após ser aumentada seguindo a dinâmica, cai. Esse ajuste cabe ao potenciômetro Release.
Oscilador
O oscilador, como o seguidor de dinâmica, automatiza a freqüência de corte. A diferença é que, ao invés de ser controlado pela dinâmica, segue um ciclo próprio, que pode obedecer a cinco padrões de onda: senóide, onda quadrada (square wave), dente de serra (sawtooth), dente de serra invertido (inverse sawtooth) ou aleatório. Todos com a possibilidade de se controlar a velocidade da oscilação e sua intensidade.
Misturador de efeito
Além de um botão liga-desliga e um potenciômetro que regula a proporção entre o sinal seco e o processado, há um botão grande, denominado Momentary, que mantém o efeito atuante somente enquanto estiver apertado, possibilitando a alternância bem rápida (como uma tecla de sintetizador) entre o som com efeito e o puro.
Usando...
Aproveitei este teste para tirar a poeira do vinil do cantor, baterista e produtor Phil Collins, "Hello, I Must Be Going". Tasquei logo o sucesso "I Cannot Believe It's True" e comecei a mexer nas carrapetas. Antes de fazer qualquer pirotecnia sonora, no entanto, resolvi comparar o som dele desligado com o som dele ligado, mas com os comandos zerados. Revelou-se então a primeira "surpresa": mesmo com os comandos sem atuar, havia uma perda sonora, deixando o som mais velado. Nada muito gritante, mas claramente sensível.
Feitas as medições, comecei a brincadeira. E esta foi realmente divertida. O comando mestre é o potenciômetro Frequency, que no modo Low pass faz aquele som de remix Techno, principalmente com o Resonance por volta de quatro (imagino que a unidade em questão é dB, mas o manual não diz, pode ser um valor arbitrário). É realmente emocionante. A sensação é que os chocalhos e contra-tempos vão engolindo a caixa e a voz do Phil, que vão engolindo o baixo e o bumbo, que engolem a música toda. Pela drasticidade e responsividade do efeito, a impressão que se tem é que se está tocando um instrumento, e não aplicando um efeito.
Ligando-se o oscilador com o formato senóide aplicado no modo Notch Filter, tem-se um discreto efeito Phaser. legalzinho. Também não muito empolgante foi o uso do seguidor de dinâmica na música. O decay me pareceu um pouco duro, acontecendo em saltos. Tal problema não ocorreu quando pluguei a guitarra. Nela, o envelope funciona bastante bem. O mesmo para a voz. Porém nos principais timbres de teclado (piano, Rhodes, órgão e cama) o problema volta a ocorrer. A impressão que deu é que esse "bug" só ocorre quando a fonte sonora é de largo espectro. Como a guitarra e a voz funcionam mais no médio, nestes fica supimpa.
Sem tela de cristal líquido, o aparelho mostra suas regulagens através dos próprios potenciômetros. Isso possibilita que você veja tudo sem precisar navegar por telas, porém nos depara com uma limitação: não memoriza as regulagens. Além disso não tem entrada e saída MIDI, impossibilitando a gravação ou edição das execuções. Na verdade, segundo o próprio manual não só o Filter Queen, mas toda a série Mod's, é "designed to play live", ou seja, feita para tocar ao vivo. Isso enfatiza a idéia de que ele é um instrumento disfarçado de efeito.
Conclusão
Se você é um produtor, DJ ou instrumentista interessado em efeitos retro, o Filter Queen é uma boa opção de filtro. Nada de grande pureza sonora ou sutileza nos controles, mas com muitas opções destes, e fazendo, bem honestamente, o que promete. O preço de lista nos Estados Unidos é de US$299,00.
Pedro Mills é tecladista, arranjador, produtor e técnico de som.