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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Automações Atípicas
Enrico De Paoli
Publicado em 01/03/2014 - 00h00
Após inventada a tecnologia de gravação, creio que o maior avanço foi a possibilidade de gravar multi-track, e, muitos anos depois, o grande salto nas produções se deveu às automações. Porém, na era de fitas e faders, as automações das mesas limitavam-se a registrar movimentos de volume e mutes. Os engenheiros mais ousados muitas vezes "splitavam" um canal da fita em paralelo, usando alguns canais da mesa, de forma que, automatizando volume e mute, ele conseguia coisas como, por exemplo, automatizar momentos em que uma voz era enviada para delays ou reverbs diferentes, ou até mesmo equalizar o mesmo canal da fita de forma diferente nos múltiplos canais que chegavam à mesa, e automatizar mudanças de timbres usando somente volumes e mutes, já que qualquer outra função do console não era automatizável.

Como a humanidade funciona muito na base de paradigmas, tendo normalmente dificuldade para mudar seus costumes, até hoje, quando se fala em automação de mixagem, pensa-se quase que unicamente em volumes e mutes. Mesmo com os sistemas DAW (Digital Audio Workstation) permitindo, num click de mouse, automatizar praticamente qualquer função das mesas virtuais e seus plug-ins. Então, cito aqui algumas automações atípicas e úteis que podem resolver vários problemas comuns em uma mix:

- De-esser. Este plug-in que, na verdade, é um compressor atuando especificamente na faixa de frequência em que se situam os "esses" das palavras, muitas vezes tem seu ajuste muito difícil, ficando muito leve em alguns "esses" e muito forte em outros. Sim, o threshold deste plug-in é automatizável, e cuidar desses "esses" um a um é uma daquelas funções que te ajuda a chegar numa perfeição de acabamento de uma mix.

- HPF (high pass filter). Esta ferramenta, na maioria das vezes, aparece dentro de um plug-in de equalização que inclui a função "filtro passa altas". Sua função é filtrar as frequências abaixo do ponto ajustado. Porém, muitas vezes este ponto não deve ser fixo durante toda a música, como é o caso de uma voz que, nas palavras que começam com P, tendem a soprar um vento no microfone, que, por sua vez, gera uma baixa frequência demasiada na gravação. E se o engenheiro usar o filtro para eliminar esse "puf" desse momento com o filtro HPF, pode ser que em todo o restante da música a voz fique muito magra. Sendo assim, a automação da frequência do high pass filter pode vir a ser bem útil em muitas mixagens.

- EQ. Sim! Como eu disse acima, antigamente, para se automatizar mudanças na curva de frequências de um instrumento ou voz, tinha que alimentar o canal da fita com aquele instrumento em vários canais diferentes da mesa analógica. Equalizava-se, então, cada canal com uma curva diferente, e pilotando somente os faders conseguia-se gravar a automação do timbre. Hoje, é uma tarefa bem mais simples: abre-se um plug-in de equalização. Acha-se os pontos de frequência para cada banda, e, digamos, quando o cantor chega pra longe do microfone e sobe seu registro cantando, pode-se automar menos volume de frequências médias e mais volume de frequências graves no próprio equalizador.

Mostrei aqui que, com criatividade, as ferramentas estão todas nas mãos do engenheiro. Mixe sempre para a música, e não deixe passar nada que um dia você possa ouvir e se arrepender de não ter resolvido quando a mix estava ali, aberta na sua frente.

Boas mixes.


Enrico De Paoli é engenheiro de música. Produz, mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio. Conheça também sobre os treinamentos Mix Secrets visitando www.EnricoDePaoli.com ou entrando em contato através do site.
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.