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Edição #90
janeiro de 2007
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EVENTO: Lições de mestre
Iluminação cênica é tema de encontro com Aurélio de Simoni em Curitiba
por Ligia Diniz 16/01/2007
De 30 de outubro a 1º de novembro, Curitiba sediou um dos mais importantes eventos sobre iluminação cênica do país. Parceria entre a Abric-PR (Associação Brasileira de Iluminação Cênica) e a Fundação Cultural de Curitiba, o encontro "Sob a Luz de Aurélio de Simoni" teve como objetivo principal levar à capital paranaense a experiência em teatro do iluminador.

Organizado em duas partes - para interessados em geral e para profissionais da área, que se dividiram entre os turnos da tarde e da noite -, o evento foi sucesso de público, que encheu o auditório, com capacidade para 60 lugares, do teatro Novelas Curitibanas, reinaugurado no último semestre de 2006 depois de seis anos fechado.

Para os iniciantes, Aurélio explicou desde como funcionam os diferentes tipos de refletores até o processo de montagem de um espetáculo teatral. A garotada - estudantes de teatro, em sua maioria - tirou dúvidas sobre assuntos como "o que é um mapa de luz?", "qual a diferença entre celofane e gelatina?" ou "posso fazer meus próprios gobos?".

Com talento para professor e uma vivência em teatro incrível (são 27 anos de profissão), o "emendador de fios e acendedor de lampadinhas", como costuma se apresentar, deu suas lições, com exemplos de trabalhos mas também de documentação (mapas, relações de luz, roteiros de operação). E repetiu sempre: "A diferença entre um leigo e um profissional é a nomenclatura! Ninguém pode sair daqui chamando corda de corda! Corda em teatro é manobra!".  Outra dica para os iniciantes e operadores de luz: "vocês têm que perguntar o porquê de tudo. Como não existem faculdades de iluminação, o negócio é colar com quem faz e perguntar o porquê de cada escolha, de cada ato".

Mas o público gostou tanto das lições quanto das histórias. "Qual a maior gafe que você cometeu em teatro?", perguntaram na tarde do segundo dia a Aurélio. A resposta veio logo: "Em 1982, fazendo Lágrimas Amargas de von Kant, eu cometi uma gafe terrível. Na última cena, Fernanda Montenegro subia em uma espécie de divã e, de costas para o público, abria os braços. No meio da cena, eu tinha que cortar a luz. Nessa hora, o público estava arrebatado, às lágrimas. Em seguida, eu deveria acender a luz para os aplausos. Nesta hora, a Fernanda já deveria estar de pé, de frente para o público. Cortei a luz no momento certo. O problema foi que, enquanto preparava a luz para os agradecimentos, esqueci um submaster ligado. Conclusão: iluminei a Fernanda Montenegro descendo com dificuldade do divã, uma perna já no chão, a outra dobrada [ele imita o gesto; é mesmo uma posição constangedora]. Depois ela entrou na cabine com uma cara..."

Aurélio contou outras histórias, de muitos jeitinhos que já teve que dar ou observou em anos de experiência. "Já vi usarem uma carcaça de lâmpada PAR em uma casca de coco amassada com alumínio, e uma lâmpada alógena dentro. Quando eu perguntei o que era aquilo, me disseram que era uma lâmpada ímpar", lembra. A experiência foi há alguns anos em um espetáculo dos Smurfs, no circo Thiani.

Conhecendo a falta de estrutura - e de dinheiro - do teatro independente, deu dicas de como economizar. Sem deixar de explicar que os produtos profissionais são os mais indicados, ensinou, por exemplo, como usar celofane no lugar de gelatina - "amasse bem antes de colocar no refletor; assim, quando a luz esquentar e dilatar o papel, ele vai ter uma folga e não vai rasgar no meio do espetáculo". Outra dica: se não puder comprar cinefoil, pinte papel alumínio com tinta opaca preta.

Aos jovens estudantes, Aurélio explicou ainda, passo a passo, o processo de criação de um mapa de luz, cuja função, segundo ele, é o registro do desenho de luz de um espetáculo, para a operação e a documentação. Ele falou ainda do roteiro de operação - muito mais simples quando o operador tem à disposição uma mesa digital, com memórias.

Uma reflexão sobre o trabalho no teatro

No turno da noite, o debate ia mais fundo; afinal, o público era formado por iluminadores em atividade, arquitetos e outros profissionais de teatro. Aurélio faz questão de ressaltar a presença de Beto Bruel, iluminador curitibano vencedor de prêmios Shell, que na época trabalhava com o diretor Felipe Hirsh, na montagem de Avenida Dropsie, que chegava à capital curitibana.

Na noite, também foram sido discutidas questões profissionais: "Quanto vale uma luz?". Para Aurélio, isso varia muito. "Já trabalhei de graça porque acreditava no projeto." Também explicou, no primeiro dia, como era seu processo de criação. Para ele, tudo começa com a leitura do texto. "O mais difícil é iluminar o texto de um autor brasileiro contemporâneo", diz ele, que, no fim do ano passado, fez o desenho de luz para o musical Império, de Miguel Falabella, que conta com 22 atores, 14 músicos e cerca de 200 refletores.

Depois de ler o texto, Aurélio diz que os passos seguintes são ler as rubricas, que determinam o movimento e as passagens de tempo e conversar com o diretor. A primeira pergunta a fazer a ele é, segundo o iluminador, se há uma proposta cenográfica. Aurélio comentou, e os iluminadores presentes concordaram, que é raríssimo um iluminador participar da montagem de um espetáculo desde o início do processo de montagem. "Fiz minha primeira luz em 1979, e de lá pra cá devo ter sido chamado só umas quatro vezes pra primeira leitura de um texto. E criar junto faz muita diferença no resultado final", disse o palestrante.

Ainda sobre o processo de criação teatral, Aurélio afirmou que "tudo informa a luz, ela é a última coisa a vestir o espetáculo. Se vêm o cenógrafo e o figurinista e dizem que deu errado, é preciso refazer tudo. É importante trocar informações e opiniões com todo mundo, do diretor aos atores", diz ele, lembrando da participação de José Wilker no desenho de luz de Assim é se lhe parece, em 1985. Citou também a montagem de Fedra, nos anos 80, que em uma hora e 42 minutos tinha 38 movimentos de luz.

Sempre no campo das experiências e dicas, Aurélio fez questão de frisar a importância de nunca se guiar pelo óbvio na hora de escolher uma luz ou uma cor. "Morte não tem que ser vermelha", exemplificou. "Pode ser de qualquer cor. Não importa a morte em si, mas o que ela representa na dramaturgia." O iluminador lembrou uma experiência, na peça A Tragédia do Rei Christophe, em que matava o ator negro com luz verde. "Luz verde é muito difícil de ser usada, principalmente sobre o tom de pele negro, fica muito feio, mata o ator em cena. E nesse caso era o que eu precisava, afinal era o momento em que o povo percebia que o rei era um tirano."

Nos quase 30 anos de profissão, Aurélio diz que foi aperfeiçoando e modificando seu modus operandi. O ensaio técnico, terceira etapa da criação da luz, por exemplo, não "tortura" mais os atores: "agora eu filmo e fico repetindo quantas vezes quiser, sem torturar o resto da equipe". A última fase é a de passar a luz. "Eu gostaria de inserir os operadores na parte artística da equipe", diz ele, que sempre opera em noite de estréia.

Um dos assuntos mais discutidos, tanto à tarde quanto à noite, foram as dificuldades encontradas em teatros pelo país, como a falta de estrutura ou de apoio. Aurélio citou uma sala localizada em um shopping center no Rio de Janeiro, em que a primeira vara de luz fica já dentro do palco. "A luz corta o proscênio. Temos que usar os nichos, puxar manobras, encaixar varas, prender no alto, sobre a platéia."

O encontro foi encerrado com um debate sobre prática e ética no teatro brasileiro, com a participação dos iluminadores Beto Bruel, Nadia Luciani, Luiz Nobre (presidente da Abric) e Aurélio de Simoni, o produtor Rodrigo Fornos, o dramaturgo Enéas Lour, o diretor de palco Cleverson Cavalheiro e o professor e ator Enio Carvalho.

Parceria com secretaria de Cultura

A parceria da Abric com a secretaria de Cultura de Curitiba, através da Fundação Cultural, não é nova - já rendia os encontros chamados Manhãs Iluminadas, realizados durante do Festival de Teatro de Curitiba, desde 2004. Por isso a escolha da associação para reinaugurar o teatro Novelas Curitibanas, que foi transformado em centro de referência da fundação. "A idéia é que este seja um espaço destinado à informação continuada", afirma Beto Lanza, diretor de ação cultural da fundação. Ele acrescenta ainda que em 2007 a parceria continua, embora ainda não haja definição sobre os eventos a serem realizados (o calendário seria definido neste mês).

Segundo Lanza, a idéia é que o Novelas Curitibanas seja um centro de referência para tudo o que tiver a ver com teatro. Daí a escolha do encontro com Aurélio de Simoni. "O objetivo foi transcender a informação técnica e promover a transferência de know-how", disse. Ele afirmou ainda que o teatro era ideal para realizar um evento de iluminação por causa de sua estrutura - reformada com consultoria da própria Abric -, que conta com varas móveis, janelas e salas de apoio com linhas de energia.

O Novelas Curitibanas está aberto para quem quiser ocupá-lo, explica Lanza, "desde que haja um contrapartida de informação". Assim, se um grupo de teatro montar um espetáculo no local, deverá, por exemplo, promover workshops de atuação ou direção durante a temporada.   
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